Rubricas

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Análise: Berserker: Exilado

Berserker: Exilado


Berserker: Exilado
Berserker: Exilado, de Jeff Lemire e Mike Deodato Jr. 

Esta obra da autoria de Jeff Lemire e Mike Deodato Jr., traz consigo uma premissa muito original e, quiçá, corajosa! Um guerreiro bárbaro oriundo de um mundo de fantasia, duma época semelhante à idade média, é enviado através de um portal para uma metrópole moderna do nosso tempo atual. Aí, é encontrado e ajudado por um sem-abrigo solitário, Joe Cobb, que o vai auxiliar, como pode, a ambientar-se neste mundo moderno, enquanto Berserker combate o seu velho inimigo, um Feiticeiro, que dizimou toda a aldeia do protagonista, incluindo a sua mulher e filha e que, de alguma forma, conseguiu passar pelo mesmo portal para aniquilar de vez, o herói Berserker. 

Se àqueles que me lêem e nunca tinham ouvido falar deste Berserker: Exilado, a história pode parecer um pouco louca e nonsense, devo dizer que esta é uma obra que acaba por funcionar bastante bem. Na verdade, funciona tão bem que a minha única “queixa” é que a mesma poderia ser maior em dimensão. Sendo um livro auto-conclusivo não explora tão bem certas "janelas criativas" que o seu argumento abre. Todavia, também acaba por ser um interessante exercício narrativo de ambos os autores e uma boa proposta para os leitores que apreciam uma leitura fácil e que gostam de ser surpreendidos por conceitos novos. 

Berserker: Exilado
As cenas de ação são muitas e magnificamente bem elaboradas, mas a verdade é que esta obra também tem muitas partes calmas e de reflexão, que ajudam a acalmar o ritmo frenético das batalhas travadas e dão à obra uma certa profundidade que é bem-vinda. 

E uma coisa que achei muito interessante foram os diálogos entre Joe Cobb e Berserker. Como falam em línguas diferentes, as personagens acabam por não ter diálogos em conformidade. Um fala em “alhos” e o outro responde em “bugalhos”. Só o leitor do livro percebe totalmente o que cada um quer dizer. E isso cria um interessante jogo de diálogos, muito bem conseguido e explorado por Lemire. Acaba por ser um curioso exercício de metacomunicação do autor, que nos leva a situações de diálogo algo caricatas, mas, também, cheias de profundidade. E quando finalmente os diálogos em línguas díspares se cruzam perfeitamente, ficamos diante de um momento intenso e muito bem conseguido. De facto, se lutas e cenas de guerra há, que são espetaculares, foi efetivamente o jogo de diálogos que mais me cativou no argumento. E esta é uma história que consegue provar que mesmo quando dois seres humanos são de dois tempos e dois espaços completamente diferentes, falando idiomas opostos, vestindo-se e agindo de formas completamente díspares, conseguem, ainda assim, encontrar pontos em comum e alicerçar uma relação de camaradagem e amizade. E essa é a grande valência deste argumento, a meu ver. 

Berserker: Exilado
Mas também é impossível falar de Berserker: Exilado sem fazer uma eloquente referência à arte visual da obra. A arte de Mike Deodato Jr. é o que mais brilha nesta obra! Um desenho cuidado, com bastante detalhe, com uma representação física e facial magnífica. É uma daquelas artes que considero que já valem por si só. Mesmo que um analfabeto pegue neste livro, terá certamente muito prazer em observar uma obra gráfica tão bem executada. Realce-se também a quantidade de planos diversos e dinâmicos. A divisão das páginas por vinhetas também que mereceu muita atenção do autor. Por vezes temos grandes ilustrações divididas em vinhetas que acabam por formar um “mosaico” gráfico impressionante. E a dinâmica é tanta que quase nenhuma página é igual a outra, relativamente à planificação. Verdadeiramente majestoso o trabalho do autor neste cômputo. 

Um destaque deve ser igualmente atribuído ao colorista Frank Martin. As cores aqui utilizadas são quentes, estilizadas e fazem uma “vistaça”, de tão bem aplicadas que são. Sinceramente, e puxando bem pela cabeça, não me consigo lembrar de uma outra banda desenhada que tenha uma cor e uma luz tão bem conseguida como aquela feita neste álbum, para ilustrar as conversas nocturnas de Berserker e Joe Cobb, à luz de uma fogueira. Espantosas. Lindas. 

Por todos estes motivos, e não descurando a boa e criativa ideia de Jeff Lemire para esta obra, é na força gráfica impressionante que este livro detém, que está a sua maior qualidade. 

Berserker: Exilado
A Editora responsável por este livro é a G. Floy e, uma vez mais, dá-nos um objeto físico muito bem feito. Capa dura, papel brilhante, que realça bem a arte e as cores fantásticas desta obra e, como extra, um conjunto de capas alternativas e estudos das personagens a preto e branco, por parte do ilustrador. Junte-se a isto uma capa bem bonita e temos um objeto físico muito apetecível. 

Concluindo, o que está aqui feito, está muito bom. Eventualmente, a história poderia ter sido maior em dimensão, com o conceito a ser mais bem explorado por Lemire. Tanto quanto investiguei, não está previsto - para já - a continuação desta história pela dupla de autores. Ainda assim, admito que gostei bastante desta obra, com uma parceria muito interessante entre a dupla criativa e gostaria de ler mais histórias de Berserker

No final, a sensação é mesmo essa: este é um bom livro. A arte ilustrativa é magnífica. Das melhores do ano. Ainda assim, sabe a pouco e acaba por parecer mais um exercício narrativo por parte de Lemire do que uma história "a sério", não obstante um final que é satisfatório e auto-conclusivo. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.5 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/- 

Berserker: Exilado
Ficha técnica 
Berserker: Exilado 
Autores: Jeff Lemire e Mike Deodato 
Editora: G. Floy 
Páginas: 136, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Julho de 2020

Sem comentários:

Enviar um comentário