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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Análise: Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1

As Novas Aventuras de Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1, de Aymon e Bollée


As Novas Aventuras de Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1, de Aymon e Bollée
Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1, de Aymon e Bollée
 

Passeando um pouco pelos fóruns e blogs dedicados a banda desenhada – não só em Portugal como, também, noutros países – um dos heróis de bd que mais carinho parece reunir por parte do público é Bruno Brazil. Tendo ainda aparecendo no final da década de 60, esta banda desenhada encantou os jovens dos anos 70 e dos anos 80, deixando a sua marca. 

Por este motivo, quando, em 2019 foi anunciado que a editora Le Lombard iria publicar As Novas Aventuras de Bruno Brazil, foi uma notícia maravilhosa para um grande número de admiradores da série. E não passaram muitos meses até que a editora Gradiva, de forma oportuna, editasse a obra por cá. 

Esta nova incursão pelo universo de Bruno Brazil é recriada por Laurent-Frédéric Bollée e por Philippe Aymon. Denomina-se As Novas Aventuras de Bruno Brazil. Este primeiro álbum destas novas aventuras é Black Program e pega na história a partir do momento em que a série antiga foi terminada pelos autores originais Greg e Vance. 

As Novas Aventuras de Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1, de Aymon e Bollée
O trabalho de Aymon e Bollée faz justiça à obra deixada pelos autores originais. Há, no entanto, que ter algo em conta: esta é uma série já com muitos anos e quem a leu na sua juventude, terá hoje mais de 40/50 anos de idade. Assim sendo, parece-me que este "novo" Bruno Brazil aponta para um público mais maduro, que vem aqui alimentar a sua fome nostálgica de um herói, do qual já não existiam novas histórias, há décadas. 

Se isso é um facto e não tem problema nenhum, pois é bom e positivo que possam existir produtos para todas e quaisquer franjas de mercado, há no entanto que ter a noção que dificilmente este é um álbum que vai chegar a um público muito jovem. E é pena, porque estamos perante um herói, a la James Bond, que tem carisma e carácter para entreter e influenciar muitos leitores porque, se formos justos, as mesmas características base que fizeram as delícias dos jovens dos anos 70 e 80, continuam neste Black Program

Os tempos mudam. Sim, é verdade. Hoje em dia, talvez certas características desta obra possam parecer obsoletas. Diria que um herói de cabelo branco e vestido com fato azul bebé não será, propriamente, o protótipo de um herói da atualidade em que vivemos. 

As Novas Aventuras de Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1, de Aymon e Bollée
Não obstante, também é verdade que houve um certo esforço – muito bem equilibrado, diga-se – entre uma tentativa de modernizar a série aos nossos dias, mas mantendo-a fiel aos seus primórdios e à sua primeira geração de fãs. Não é fácil alcançar este equilíbrio, mas diria que os autores o conseguiram. Assim, existem algumas expressões que as personagens utilizam e que são mais utilizadas nos dias de hoje e a aplicação das cores – muito bem conseguidas, diga-se – nesta banda desenhada, obedece a um modus operandi e a um resultado mais em linha com a atualidade. Mas em relação à história, ao ritmo da mesma e ao próprio desenho… é um Bruno Brazil muito fiel ao original. 

Bruno, o protagonista que ainda comanda a Brigada Caimão, e que no início da obra está desintegrada, exceptuando a presença de Gaúcho, surge nesta história como um homem mais maduro, que está a tentar ultrapassar as suas mazelas emocionais, causadas pela morte de antigos agentes da Brigada Caimão, entre eles, Billy, o seu irmão mais novo, ao mesmo tempo que aparenta ter uma vida familiar que caminha para um fim triste. A história arranca com uma cena de muita ação que depois nos remete para um flashback, bastante grande em duração, que, basicamente, nos explica o porquê das cenas de ação iniciais. Trata-se de uma nova ameaça à segurança nacional. E Bruno terá que reunir e encontrar os antigos agentes que estão desaparecidos: Whip e Nómada. Só assim conseguirão descobrir quem é o autor do assassinato do seu inimigo de sempre, localizar um operacional da NASA que acabou desaparecido e encontrar a verdade acerca da súbita e estanha fuga da prisão, por parte da sensual vilã Rebelle. Aparentemente todas estas coisas estão relacionadas entre si mas é uma resposta que este primeiro volume ainda não nos dá, deixando-nos num cliffhanger na última página do livro. A vontade de desvendar as muitas questões levantadas é grande, garanto. Mas terá que ficar para um segundo tomo. 

As Novas Aventuras de Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1, de Aymon e Bollée
Quanto à arte ilustrativa, Aymond faz, a meu ver, tudo bem. A sua aptidão para desenhar ambientes, objetos, personagens e as respetivas expressões faciais, a boa utilização dos “planos de câmara”, a dinâmica nas cenas de ação, nada falha nesta obra. As cores dão um ar sofisticado ao todo e talvez sejam a componente da parte visual que mais tenta ser moderna. Mesmo não o tentando de forma muito clamorosa, diga-se. Poder-se-á dizer que Aymon é demasiado fiel à arte de Vance – exceptuando na planificação, onde arrisca menos – não tentando dar um cunho seu a esta obra. Se isso pode não ser muito positivo, há um lado positivo do outro lado da moeda, pois é uma arte que também não desilude alguns dos leitores que certamente poderiam não gostar que o autor tivesse reinterpretado esta série. No meu caso, acho que o seu trabalho não me merece nenhum comentário negativo. Cumpre excelentemente o seu papel. 

Em termos de edição, esta é uma obra em grande formato, com bom papel e uma capa bem dura. Há, no entanto, algo que é difícil de aceitar. Todos, repito!, todos os N’s que aparecem no texto estão invertidos. E isso é inadmissível e atrapalha em muito a leitura. Lá para o meio a pessoa habitua-se a ter que lidar com estes N’s mas é um esforço que não devia ser pedido ao leitor. Não sei se as pessoas responsáveis pela legendagem queriam, de uma forma que carece de subtileza, fazer passar a ideia que são da claque dos No Name Boys do Benfica e que, portanto, utilizam N’s invertidos. Mas, graçolas à parte, esta é uma opção ou um erro que custam caro à obra e que, colocam uma sombra nesta aposta tão interessante da Gradiva. 

Em conclusão, os fãs de Bruno Brazil vão adorar este regresso da personagem pois todos os ingredientes que tornaram esta série famosa estão cá: ação inebriante, conspirações, rapidez na narrativa, mistério… tudo isso habita este Black Program. É o regresso da Brigada Caimão em grande. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.4 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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As Novas Aventuras de Bruno Brazil – Black Program – Vol. 1, de Aymon e Bollée
Ficha técnica 
As Novas Aventuras de Bruno Brazil vol. 1: Black Program 
Autores: Aymond e Bollée 
Editora: Gradiva 
Páginas: 60, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Fevereiro de 2020

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