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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Análise: Homem-Grilo

Homem-Grilo, de Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues - Flávio C. Almeida – FA


Homem-Grilo, de Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues - Flávio C. Almeida – FA
Homem-Grilo, de Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues 

Aqueles que são adeptos da banda desenhada independente, com todas as características clássicas inerentes que isso pressupõe, têm fortes probabilidades de gostar deste Homem-Grilo. Do projeto, em si. Afinal, este super-herói tem todos os ingredientes que uma publicação independente de banda desenha costuma ter. 

Diga-se que o Homem-Grilo, criado pelo brasileiro Cadú Simões, com desenhos de Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues, já tem um período de vida assinalável. Na verdade, comemora 20 anos de existência. Começou no ano 2000 sendo, primeiramente, uma banda desenhada publicada na internet. Mais tarde, teria o seu primeiro lançamento em formato físico. Em Portugal, chegou-nos há umas semanas, pelo selo editorial independente Flávio C. Almeida – FA, numa edição que procura assinalar os 20 anos do herói. 

Homem-Grilo, de Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues - Flávio C. Almeida – FA
Por detrás deste super-herói está a personagem Carlos Parducci, que era um jovem banal até que acabou mordido por um grilo radioativo, que lhe conferiu super-poderes. Começa então a combater o crime e a proteger os vulneráveis na sua terra natal, Osasco City. Onde é que já leram isto, certo? Os autores servem-se à vontade dos clichets das histórias dos super-heróis norte-americanos utilizando, com sátira, alguns dos momentos e frases que ficaram mais célebres no género, sendo que, possivelmente, os heróis mais visados são O Homem-Aranha, Batman, ou o Super-Homem, entre vários outros. 

E, reconheça-se, algumas piadas, mesmo sendo expectáveis, funcionam bastante bem, mantendo o leitor divertido. É uma obra que não se leva muito a sério e isso é um claro trunfo para que a mesma fique mais credível nos seus intentos. Como não parece passar de uma banda desenhada jocosa, ao invés de uma bd com pretensões narrativas mais elevadas, acaba por afirmar-se bem, com o seu registo light, e algumas das suas fraquezas acabam mais desculpáveis pelo registo de brincadeira que assume. 

Homem-Grilo, de Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues - Flávio C. Almeida – FA
Em termos de arte, como há vários ilustradores ao serviço do Homem-Grilo, com uma parte da obra a ser ilustrada por Ricardo Marcelino e a outra por Alex Rodrigues – e onde até o próprio Flávio C. Almeida faz uma “perninha” no segundo capítulo-, o estilo de traço e acabamento das ilustrações sofre várias alterações ao longo do livro, o que, consequentemente, não contribui tanto para a homogeneidade e fluidez da obra. Mesmo assim, o estilo de traço mais presente é derivante do estilo comics, com algumas influências do mangá. Destaque positivo para a planificação de algumas páginas, com bastante dinamismo. Várias cenas de ação também estão muito bem ilustradas, mesmo que, várias vezes, se sinta que essas ilustrações mereciam mais algum polimento na arte final. Acredito também que, se em vez de ser a preto e branco, o livro fosse editado a cores, essas pranchas mais dinâmicas, ganhariam em qualidade. 

A ação da narrativa é rápida o que também é característico das obras clássicas de super-heróis. No entanto, a passagem entre sequências de ação nem sempre apresenta um bom seguimento, denotando-se uma certa falta de experiência dos autores na gestão sequencial do argumento. 

Homem-Grilo, de Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues - Flávio C. Almeida – FA
Quanto à edição, se olharmos para este lançamento, comparando-o com os lançamentos das editoras profissionais, veremos que esta edição carece de algum profissionalismo no trato da obra. A qualidade da impressão e da encadernação do livro, não sendo má, também não é, propriamente boa. É aceitável. Mas lá está, como disse acima, isso é uma característica comum nas bandas desenhadas mais independentes e pode até ser algo que é apreciado por vários amantes deste tipo de bd mais indie, como referi no começo desta análise. 

Também em termos de revisão, me parece que os textos deveriam ter recebido mais cuidado na correção de erros ortográficos que, aqui e ali, povoam a obra. Se os custos de produção podem obrigar um editor independente a lançar uma obra com uma edição mais humilde, a questão da revisão do texto e da correção dos erros ortográficos já não é algo que acarrete, obrigatoriamente, custos monetários e, por esse motivo, é mais dificilmente desculpável. 

Não obstante o que referi, se olharmos para esta edição como uma edição independente e amadora – afinal de contas, estamos a falar de uma edição de autor – talvez alguns dos pequenos erros e imperfeições deste Homem-Grilo sejam mais aceitáveis. Se há bastantes coisas a melhorar em lançamentos futuros, também é verdade que considero que devemos saber acarinhar os autores e os editores mais independentes. Há que começar por algum lado, afinal de contas. 


NOTA FINAL (1/10): 
5.0 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Homem-Grilo, de Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues - Flávio C. Almeida – FA
Ficha técnica 
Homem-Grilo 
Autores: Cadú Simões, Ricardo Marcelino e Alex Rodrigues 
Editor: Flávio C. Almeida 
Páginas: 58, a preto e branco 
Encadernação: Capa mole 
Lançamento: Setembro de 2020

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