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terça-feira, 27 de julho de 2021

Análise: Monstress #5 – Filha da Guerra

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda

A série de enorme sucesso mundial Monstress está de volta às livrarias portuguesas com o lançamento do quinto volume pela editora Saída de Emergência. Se se torna óbvio o appeal desta série para tanta gente, com um grande número de prémios conquistados, não deixa de ser verdade que, quando descascada cada uma das suas camadas, a série tem algumas fraquezas. Especialmente em termos de argumento. Mas já lá irei.

Juntando a um ambiente fantástico, com criaturas de variadas espécies, uma trama complexa, de cariz político-estratégico que, depois, recebe desenhos muito cativantes por parte da ilustradora Sana Takeda, que transformam todo este universo em algo único, é fácil concordar que o “guisado” que aqui é cozinhado funciona bastante bem.

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

O argumento que este volume 5, Filha da Guerra, traz consigo pega a história aonde a mesma tinha sido deixada no volume anterior. Já tínhamos presenciado uma guerra de vasta dimensão em números anteriores, mas agora, parece que a chama entre os Humanos e os Arcânicos renasce e novo embate bélico se prepara. Continuamos a acompanhar a personagem Maika – Meio Lobo – na sua procura pelo conhecimento de si mesma e pela força que habita dentro dela. Os flashbacks são uma constante para que possamos obter algumas respostas, mas, acima de tudo, servem para acrescentar mais algumas questões ao enorme rol de questões que já haviam sido deixadas por responder nos livros anteriores.

E é face a este novo conflito, que tem por génese um cerco à cidade de Ravenna, que Maika terá que tecer novas parcerias e alianças para conseguir resistir a esta investida por parte do exército da Federação.

A trama é bastante complexa, com muitas personagens – que infelizmente, por vezes, se confundem visualmente entre si – muitas fações e pontos de vista. Naturalmente, isso torna Monstress numa série bastante complexa e rica em termos de conteúdo. Embora, não raras vezes, esta característica também torne a ação um pouco all over the place, como dizem os ingleses. Por outras palavras, são muitas as questões que são lançadas para o ar sem que sejam suficientemente trabalhadas/aproveitadas pela argumentista Marjorie Liu.

No fundo considero que há muita “palha” em Monstress. Bem sei que estas séries vivem muito da relação que vão tendo com os leitores, que acabam por ficarem fiéis seguidores das personagens que as habitam. Mas considero, mesmo tendo isso em conta, que poderíamos ter mais coisas a acontecer realmente em Monstress. Parece que as personagens ocupam quase todo o tempo a dizer que vai acontecer algo. E que se perde demasiado tempo e páginas com isso. Atente-se que nas primeiras 90 páginas(!) praticamente só temos páginas com diálogo algo oco e que não causa a tensão que, eventualmente, poderia causar no leitor.

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Há muitos diálogos, muita preparação do leitor para o tal cerco à cidade de Ravenna mas depois, quando a ação realmente acontece, sabe a pouco. A montanha pariu um rato. Dizer isto não é sugerir que a série deveria ter mais ação, ou que não aprecio diálogos ou histórias longas. Não, mesmo! Quantas vezes escrevo aqui no Vinheta 2020 que certas bds precisavam de mais espaço (leia-se páginas) para poderem desenvolver e amadurecer as suas ideias? Mas em Monstress, o meu sentimento é totalmente o inverso. Julgo que são demasiadas páginas para “o pouco” que acontece realmente. Se bem que também é verdade que em volumes anteriores a ação era mais non stop e agora talvez as autoras tenham pretendido, neste quinto volume, ter menos ação em detrimento de uma narrativa mais pausada. Mesmo assim, isso também acaba por não ser aproveitado para grandes introspeções.

E olhando para este volume, Filha da Guerra, é visível que a argumentista parece ter ficado sem algumas ideias depois dos números anteriores. O próprio regresso da guerra parece um lugar comum, na falta de melhor ideia. E caminhando no mesmo sentido, os diálogos também surgem menos inspirados do que em números anteriores. No entanto, admito que gosto da dualidade com que Marjorie Liu pinta as suas personagens. Nenhuma delas é o que parece à primeira vista. E isso será até, por ventura, a grande mais valia do trabalho da autora. Tal como em Game of Thrones, onde ninguém é o que aparenta ser e, quase sempre, há agendas secretas a envolver cada um dos protagonistas.

A arte de Sana Takeda consegue ser verdadeiramente espetacular e refrescante, ao mesmo tempo! De forte inspiração mangá, também tem influências claras dos comics americanos, mas consegue, acima de tudo, ter características próprias. Ter personalidade. Com um traço expressivo e eloquente, Takeda oferece-nos personagens memoráveis e muito bonitas em termos de ilustração. É verdade que, por vezes, algumas dessas personagens são algo confundíveis entre si, mesmo que a autora tente dotar cada uma delas com algum traço ou acessório único. Um destaque também deve ser dado ao cariz duplamente art-déco e vitoriano que envolve os cenários e as personagens e suas indumentárias. Original e (mais) um complemento que funciona bem.

E a maneira como Takeda planifica as suas pranchas também é bastante dinâmica - e, por vezes, positivamente complexa - e, nesse sentido também merece os seus louvores.

Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Só lamento que o enorme talento da artista não seja verificável em todas as situações porque também é verdade que há muitas vinhetas, especialmente de planos de vista mais afastados, que parecem ter sido feitas muito à pressa e que carecem de qualquer detalhe. Takeda parece, pois, que vai do 8 ao 80 em várias ocasiões. Isto é, acaba por ser uma daquelas artistas que, quando "quer", consegue ilustrações maravilhosas, cheias de detalhe e com uma técnica apurada. Mas nem sempre o "quer", aparentemente. Mas quando o quer, ou nas maravilhosas capas de cada capítulo da série, também, a autora é inegavelmente uma virtuosa e a sua arte é gratificante. E o processo das cores também para isso contribui, criando uma ambiência que consegue mesmo transportar o leitor para este universo paralelo. Sem Sana Takeda, estou certo que Monstress não seria o sucesso que é. Marjorie Liu pode (e é) importante por ter criado e imaginado este universo complexo. Mas é graças a Takeda que o mesmo ganhou uma vida própria e personificada.

Em termos de edição, e à semelhança dos restantes livros desta coleção da Saída de Emergência, a encadernação, de boa qualidade, é em capa mole, com papel brilhante, de boa gramagem, e apresenta uma impressão bem conseguida. Como pontos menos positivos, é pena que alguns balões, mais perto do centro do livro, sejam menos legíveis devido a estarem demasiado próximos do interior do livro. Acho que uma margem entre a mancha de impressão e o interior do livro teria resolvido esta questão. Nota ainda para a presença de um erro demasiado presente e que cortou o prazer da minha leitura mais vezes de que o desejável. A palavra “demais” é sempre substituída pelas palavras “de mais”. Espero que este erro constante possa ser revisto nas próximas edições.

Confesso que, compreendendo o porquê do sucesso da série, que assenta num universo do fantástico em que uma intrincada trama lhe dá vida, e que traz consigo maravilhosas ilustrações, não partilho do entusiasmo geral. Simplesmente porque acho que uma leitura (verdadeiramente atenta) encontra variadas imperfeições ou pontas soltas. No entanto, é um produto interessante e que é especialmente aconselhado para um público mais feminino e jovem – embora, naturalmente, possa ser apreciado por qualquer pessoa – que goste do género do fantástico.


NOTA FINAL (1/10):
7.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Monstress #5 – Filha da Guerra, de Marjorie Liu e Sana Takeda - Saída de Emergência

Ficha técnica
Monstress #5 – Filha da Guerra
Autores: Marjorie Liu e Sana Takeda
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 176, a cores
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Julho de 2021

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