Rubricas

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Análise: Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas)

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre

A série Verões Felizes está de volta para tornar o nosso verão (ainda) mais feliz! Este é o terceiro volume duplo que a Arte de Autor publica em Portugal – e que reúne o 5º e 6º tomos. Desta forma, a série fica integralmente publicada em Portugal. O que é algo digno de valor!

Já muito se escreveu sobre esta série maravilhosa que, na primeira edição dos VINHETAS D’OURO - galardões que premeiam a melhor banda desenhada publicada em Portugal - arrecadou mesmo o prémio de Melhor Álbum Estrangeiro de 2020. Portanto, pelo menos entre críticos da especialidade parece ser comummente aceite que Verões Felizes é uma série fabulosa.

Os autores Zidrou e Jordi Lafebre convidam-nos a conhecer as férias dos Faldérault, uma família belga que todos os anos regista peripécias, acontecimentos marcantes, desenvolvimento pessoal e crescimento natural, sempre que vai de férias. Tem um tom leve e divertido embora traga consigo o levantamento de questões mais adultas e sérias.

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

Regresso, portanto, às minhas próprias palavras quando, na análise ao primeiro álbum duplo da série referi que “quando, em 2019, li este Verões Felizes pela primeira vez, mal queria acreditar no que tinha em mãos. Com uma arte visual maravilhosamente desenhada e colorida, bem típica do que de melhor se faz no franco-belga, equilibrando um estilo de ilustração algures entre o cartoonesco e o semi-realista; e com uma história profundamente nostálgica e real que, tem o condão de nos remeter para o passado feliz da nossa infância, bem... a minha certeza foi uma: estávamos perante um clássico instantâneo da banda desenhada.”

Verões Felizes tem muitas boas cartadas em mãos que justificam que seja uma série tão aclamada pelos leitores e pela crítica. Senão vejamos: 1) a história consegue ter a capacidade de nos fazer viajar no tempo, não só para as experiências passadas das personagens como, também, para as nossas próprias experiências do nosso passado, algures repousadas no nosso livro de memórias pessoal. 2) Por outro lado, o conjunto de personagens que Zidrou criou para a família Faldérault conquista facilmente cada leitor. Todas as personagens são muito bem construídas, ao ponto de um leitor atento já conseguir prever como reagirá determinada personagem face a determinado estímulo. Isso só acontece, porque as personagens foram criadas e desenvolvidas com profundidade e de forma muito personalizada. Mas há mais! 3) As ilustrações de Lafebre - e as cores que as povoam - são maravilhosas, dando um aspeto irresistível à componente visual da série. Portanto, se a história e as personagens são excelentes, as ilustrações não ficam nada atrás!

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

Tendo em conta que a temática de cada número gravita sempre em torno das férias desta família belga, há um certo risco e/ou necessidade de fazer-se algo novo, do ponto de vista do argumento, para que cada volume não seja mais do mesmo. E, neste terceiro volume, Zidrou volta a fazê-lo de forma airosa e criativa. Especificamente no tomo que abre o livro.

Assim, em A Fuga, não estamos no quente mês de Agosto mas sim em Dezembro, na quadra natalícia. Isto gerou em mim uma certa confusão se tivermos em conta que o título da série, quer em português, quer na língua original (Les Beaux Etés), evoca o verão. Ora, localizando temporalmente na quadra natalícia uma história de uma série ambientada no verão pode parecer um autêntico non sense, certo? É claro que, lendo a história, compreendemos e aceitamos (?) a opção dos autores pois, mesmo em pleno inverno, é possível termos férias com sol e praia, não é verdade? Talvez não o consigamos no sul de França, na Côte d’ Azur mas vá, diria que, não sendo muito verossímil se aceita. Até porque, como muitas vezes a série nos tem mostrado, não é o destino de férias a coisa mais importante numa viagem, mas sim a jornada, propriamente dita. 

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

E a história de A Fuga é capaz de ser a menos linear em toda a série. O ano de 1979 não foi especialmente bom para a família devido a diversas coisas que lhes foram acontecendo: Madô não gosta do seu trabalho; a filha mais pequena, Pêpete, esteve doente; as férias de verão na Bretanha foram um fracasso, com chuva sempre presente; e a Pierre é feita a proposta de desenhar uma série de bd da qual ele está farto. Ora, face a tudo isto, os Faldérault decidem celebrar o Natal ao sol, viajando “rumo ao sul”! Mas as coisas não acontecem como planeado. 

Julie-Jolie a filha mais velha, tem que estudar para os exames e Louis, que tinha comprado viagem e bilhete para ver os Pink Floyd em Londres, não fica nada entusiasmado com esta ideia de férias inesperadas. E decide então fugir a meio da viagem! Como já disse, e talvez a par do terceiro tomo, Menina Esterel, este A Fuga é possivelmente o álbum onde Zidrou se afasta mais da premissa base da série. Por um lado, isso é bom, pois oferece-nos diversidade. Por outro lado, talvez não ofereça (tanto, vá!) aquilo que os fãs da série estariam mais à espera. Seja como for, e depois de algumas reviravoltas na história, o tom fraterno e amoroso da história mantém-se bem presente. Mais não seja porque, à medida que os filhos vão crescendo e desenvolvendo gostos, vocações e novas relações, a noção clássica de momentos em família acaba por ser alterada. E, para os pais, nem sempre é fácil de lidar com isso. E é precisamente isso que sucede neste quinto tomo. No final há ainda um pequeno conto de 7 páginas, escrito em prosa e adornado com ilustrações de Lafebre que traz consigo (mais) uma interessante abordagem às personagens.

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

Depois, no tomo seguinte, intitulado As Giestas andamos para trás no tempo, até ao ano de 1970, e já temos aquilo que considero um álbum "mais clássico" de Verões Felizes.

É verão e a família inicia a sua viagem “rumo ao sul” na sua Renault 4L, carinhosamente apelidada pela família como “Menina Esterel”. Mas, a meio da viagem, um pequeno acidente com o carro faz com que este não possa prosseguir viagem até que fique totalmente consertado pelo mecânico. Felizmente, os Faldérault têm a sorte de ser acolhidos por Esther e Estelle, duas lindas mulheres que dirigem a quinta “As Giestas”, ali nas proximidades. Portanto, desta vez as férias não são na praia, mas sim na quinta, com as crianças a adorarem esta experiência junto dos animais e ambiente rural. Este tomo traz consigo o tema da sexualidade e como o mesmo era compreendido pelas crianças – e não só – no início da década de 70. A história é mais do que isso, mas não deixa de ser pertinente que os autores tenham sabido trazer esta temática para a história. Funcionou muito bem, a meu ver.

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

Acima de tudo, é no carinho e nas relações tão profundas e marcantes que desenvolvemos com a nossa família face aos grandes e pequenos acontecimentos da vida, onde esta série mais sabe conquistar os leitores. E, em seis vezes, os autores foram bem sucedidos nessa demanda.

Em termos de ilustração Lafebre mantém-se muito inspirado neste 3º volume. Tudo o que já era bom nos volumes anteriores também o é aqui. Na verdade, até me parece que, em determinados momentos, Lafebre nos oferece neste livro algumas das suas melhores vinhetas de toda a série. O louvor ao autor que tenho assinalar novamente, pois já escrevi o escrevi no passado é que “para além de ser um ilustrador completo, com uma grande capacidade de desenho de objetos, ambientes, veículos, paisagens... penso que é na construção das personagens que o seu trabalho mais impressiona. O tal estilo franco-belga que (…) é semi-realista e cartoonesco, encaixa que nem uma luva nesta história e nestas personagens. Outra coisa onde diria que Lafebre está entre os melhores, é na caracterização das expressões das personagens. É que, sendo esta uma série emotiva, as personagens presenteiam-nos com as mais variadas expressões: cómicas, tristes, interrogativas, pensativas, etc. E ainda por cima, com tantas crianças, que são sempre muito expressivas, o desafio de ilustração era grande. Mas isso, é passado de forma sublime para as páginas do livro, através de uma grande capacidade de ilustração de expressões. Não raras vezes, o leitor fica com o mesmo sorriso terno perante um momento terno, com a mesma cara pateta perante um momento pateta ou com o mesmo nó na garganta perante um momento que deixa as personagens com um nó na garganta. Lafebre é um especialista em desenhar “expressões verdadeiramente expressivas”, passo a redundância.”

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

A edição da Arte de Autor acompanha aquilo que a editora já fez nos dois volumes anteriores. Capa dura brilhante, bom papel baço e boa qualidade de encadernação. Tudo bem feito. Nada negativo a apontar. Nota positiva para a pertinência da editora em utilizar para capa a imagem da capa do 6º volume e não a do 5º volume que remeteria para o natal. Tendo em conta que o livro foi agora lançado neste mês de Agosto, acho que foi uma decisão certa e lógica.

Disse-o em relação ao primeiro volume, mas posso dizê-lo sobre toda a série: Verões Felizes “é um daqueles casos raros em que o livro é recomendável para toda a família. Para crianças com 8 anos e para idosos com 88 anos. Para toda a gente. Porque, afinal de contas, quem de nós não gosta de aproveitar uma viagem às memórias de um passado feliz? Algo correu mal na vida de alguém que me diga que não aprecia nada neste livro. Será que, simplesmente, não tem coração? Tenho 35 anos e adoro esta série. Sei que daqui a 30 anos continuarei a adorar esta série. Adorá-la-ia se a tivesse lido com 10 anos. E é por isso que é um clássico instantâneo. A partir do momento em que a lemos.”

Em suma, e depois de 6 tomos, Verões Felizes lembra-me aquela máxima do futebol: “em equipa que ganha, não se mexe”, senão vejamos: o argumento continua fantástico; as personagens continuam irresistíveis; as referências culturais aos anos em que as histórias se desenrolam são ricas e deixam-nos nostálgicos; os desenhos e as cores são lindos; e a edição da Arte de Autor mantém-se ótima. A pergunta sacramental para todos aqueles que ainda não leram(!) esta série é apenas uma: “De que é que estão à espera para o fazer?”


NOTA FINAL (1/10):
9.5



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas), de Zidrou e Jordi Lafebre - Arte de Autor

Ficha técnica
Verões Felizes - 3 (A Fuga | As Giestas)
Autores: Zidrou e Jordi Lafebre
Editora: Arte de Autor
Páginas: 112, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2021

2 comentários:

  1. já comprei Verões Felizes - 3 logo no início de agosto mas só hoje o li. E se achei normal e interessante a 1ª história (a fuga), apesar de já ser só mais do mesmo acho que daria um bom fim de de série.
    Agora a 2ª história (as giestas) se bem que seja uma história bem feita e engraçada, torna-se completamente absurda, depois de 5 histórias com o casal com 4 filhos, pôr agora a mulher grávida da quarta filha não lembra ao diabo.
    Se fosse o caso do que o Hugo diz "andamos para trás no tempo, até ao ano de 1970," não teríamos uns pais completamente envelhecidos por comparação daqueles apresentados no 1º volume de verões felizes. Apesar de todos os elogios feitos, acho que não houve o devido respeito pelos leitores que seguem e compraram a coleção desde o início e diria mesmo, não foi feito o devido trabalho de casa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo comentário. Mas pode desenvolver? Não percebi muito bem a crítica que faz ao tomo 6. Relembrando que os autores andam para a frente e para trás em termos cronológicos (o que é um gancho narrativo que permite muitas coisas) parece-me que faz sentido que se escolha um verão em que a 4ª filha ainda estava por nascer. De resto, também concordo que o volume 5 terminaria bem a série. Mas fico feliz que a mesma tenha continuado. E se mais volumes surgirem no futuro, fico feliz.

      Eliminar