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quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Análise: Heartstopper #2 – O Nosso Segredo

Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman - Cultura Editora

Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman - Cultura Editora

Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman

Passados apenas 6 meses desde o lançamento da série Heartstopper em Portugal, da autora Alice Oseman, a editora portuguesa Cultura lançou o segundo volume da série que, originalmente, já conta com quatro volumes. Esta é uma franquia que tem conquistado um enorme sucesso mundial, junto das camadas mais jovens - e não só - e que até se prepara para receber uma série de televisão, assinada pela Netflix, que comprou os direitos de Heartstopper.

Neste segundo volume, continuamos a acompanhar a história de Charlie e Nick. Agora, tudo parece estar maravilhoso e perfeito na relação de ambos os jovens. Como Nick se encontra ainda bastante inseguro face à sua sexualidade, o namoro das personagens mantém-se em segredo numa primeira fase. Charlie aceita o pedido de secretismo de Nick, sem quaisquer problemas. Mas, toda a gente, eventualmente, tem a necessidade de se afirmar e, por isso, também o próprio Nick sente a vontade de partilhar o seu romance com outras pessoas. 

Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman - Cultura Editora

Isto não traz o drama e desespero que eu estaria à espera, mas, ao invés, demonstra uma certa "normalidade" nas reações das personagens face à revelação que Nick faz. O que pode, por ventura, ser um próprio statement da autora Alice Oseman, que também procura(rá?) desmistificar o próprio preconceito dos homossexuais em relação à sociedade que os rodeia e que, pelo menos nos países mais ocidentais, talvez(?) não seja tão homofóbica como um homossexual possa pensar. Ou não. No entanto, e mesmo que a aceitação seja cada vez maior, há sempre alguns dogmas e preconceitos que subsistem em muita gente e isso acaba por ser explorado na personagem de Harry, o amigo de Nick, que goza de forma jocosa com a homossexualidade de Charlie. Mas, lá está, este parece ser o comportamento atípico em Heartstopper.

E, nesse sentido, transcrevo o que eu próprio escrevi na análise ao primeiro volume da série: “era fácil partir-se por aquele caminho expetável do “ah... a sociedade ainda considera tão errado e estranho ser-se homossexual e ninguém vai aceitar estas personagens e, portanto, pode-se explorar essa dificuldade que elas sentem”. Mas não. Não é por aí que Heartstopper aparenta querer ir. É certo que nos apercebemos de algum bullying por parte dos colegas de escola, quando Charlie se assume como homossexual; e sentimos a dor de Nick quando se questiona se será mesmo homossexual. Mas, por outro lado, temos um Charlie que parece ser totalmente aceite pela sua família; temos a mãe de Nick que parece dar conta do quão mais feliz e solto este parece ser, na presença de Charlie; e temos uma história que é apresentada de forma límpida, suave e terna, sem lugar para a autocomiseração.”

Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman - Cultura Editora

Quanto à arte ilustrativa da autora, está tudo em linha com o que já referi no primeiro volume. A autora “detém um traço com fortes influências no estilo mangá, com as personagens a apresentarem olhos extremamente expressivos, narizes simplistas e cabelos revoltos. Algumas características dos comics americanos também podem ser encontradas aqui e ali. Não obstante, é justo dizer que a autora consegue incrementar o seu próprio estilo. Por vezes gostaria que os cenários e os corpos das personagens fossem feitos com mais rigor e detalhe. No entanto, também percebo que para o tipo de leitura que temos em mãos, que utiliza mais os desenhos como um instrumento para ilustrar a história do que para ser um livro com ilustrações belas, acaba por funcionar bem. E mesmo admitindo ser verdade que o desenho de corpos e cenários seja algo básico e quase adolescente por parte da autora, há que admitir que Alice Oseman é exímia na forma como consegue ilustrar os sentimentos vários que as suas personagens experienciam ao longo da narrativa. Se a expressão facial de uma personagem deve ser inequívoca relativamente ao sentimento que se pretende passar para o leitor, então o trabalho de Alice Oseman é digno de louvores.”

Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman - Cultura Editora

A minha única “queixa” é que me parece que a história se mantém algo pobre em termos de eventos que, propriamente, acontecem. São mais de 300 páginas, mas, lendo este segundo volume, deparamo-nos com tão poucos "eventos", propriamente ditos, que até podem ser facilmente enumerados: 1) a reação de medo - que, descobre-se depois, era infundado - de Charlie face à saída abrupta de Nick na festa do liceu – que finalizou o álbum anterior; 2) o início do namoro entre as duas personagens; 3) a apresentação de Nick aos amigos de Charlie que, expectavelmente corre muito bem; bem como, por outro lado, 4) a apresentação de Charlie aos amigos de Nick. Os amigos deste, assumindo que Nick é heterossexual, não recebem tão bem Charlie, o que fará com que Nick tome ações. E depois, já no final, 5) Nick assume a sua bissexualidade perante a sua mãe. Como vêem, até não são grandes acontecimentos – em número – para um livro de 300 páginas. E foi algo que lamentei enquanto lia este segundo livro, pois estava à espera de alguns dramas, desencontros e dificuldades inerentes a uma relação homossexual durante a adolescência. E não é que aquilo que nos seja dado não seja interessante pois, de facto, é fácil criar uma relação de empatia com Charlie e Nick. Simplesmente, me pareceu que Alice Oseman estava a "espremer" em demasia a relação deles.

Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman - Cultura Editora

É certo que se tivermos em conta que o género desta banda desenhada tem ligações ao estilo slice of life, então será natural que a ação seja algo lenta e com poucas coisas relevantes a acontecer. Não obstante, acho que a história poderia ter explodido mais em termos de emoções e dificuldades. Sem cair no drama fácil que não é, como já referi, o apanágio de Heartstopper, mas explorando mais as personagens e aquilo que elas enfrentam. Assim, parece um relato mais mundano do dia-a-dia de dois adolescentes homossexuais. Tudo ainda muito naïve e muito simples no trato narrativo. Como se a autora estivesse, acima de tudo, a procurar atingir um público mais infantil e menos juvenil.

Quanto à edição da Cultura, temos um livro em capa mole que, pelo formato, aspeto e papel, se aproxima mais de um livro de literatura do que de banda desenhada. Isto até ser aberto, claro está. Como traz consigo um tipo de leitura escorreita e rápida, que procura mais contar uma história recorrendo a ilustrações do que, propriamente nos fazer parar para observar atentamente cada ilustração, compreende-se o porquê desta opção da autora. Destaque para o facto deste Heartstopper #2 conter uma história curta de 10 páginas, intitulada A Sala de Música, que nos conta uma breve história de como Tara e Darcy, duas amigas de Charlie e Nick, que também são homossexuais, se conheceram.

Em conclusão, Heartstopper neste segundo volume continua a cativar bastante, não só pela sua história entre dois adolescentes homossexuais (ainda bastante disruptiva nos tempos que correm) mas, acima de tudo, pela boa construção e emotividade nas personagens que, em pouco tempo, cativam a nossa simpatia. Fica um pouco abaixo do primeiro volume só porque me pareceu que há menos para contar neste volume. Ainda assim, é uma boa experiência e agradável de ler.


NOTA FINAL (1/10):
8.0


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Heartstopper #2 – O Nosso Segredo, de Alice Oseman - Cultura Editora

Ficha técnica
Heartstopper #2 – O Nosso Segredo
Autora: Alice Oseman
Editora: Cultura
Páginas: 320, a preto e branco
Encadernação: capa mole
Lançamento: Julho de 2021

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