Análise: Tango #1 - Um Oceano de Pedra

Tango #1 - Um Oceano de Pedra, de Philippe Xavier e Matz

A Gradiva apostou recentemente numa nova série de banda desenhada que dá pelo nome de Tango. E ainda que o primeiro livro, que aqui analiso, só tenha chegado às livrarias na última semana de Agosto, no momento em que vos escrevo já se pode encontrar o segundo volume da série, Tango Vol. 2 - Areia Vermelha à venda. Creio que isso será, portanto, uma boa notícia para os amantes desta banda desenhada. Recorde-se que, em França, esta série, da autoria de Philippe Xavier e Matz, já conta com 6 volumes publicados. Se a Gradiva continuar com este rápido ritmo de publicação, espera-se que a série fique toda publicada em Portugal num curto espaço de tempo. O que é sempre algo positivo e que merece louvores.

Esta era uma série que eu apenas conhecia de nome. Assim, olhando por alto para ela, remete-me facilmente para uma série de grande sucesso na bd franco-belga que é XIII (Treze). Para os fãs dessa saga de Vance e Van Hamme, diria que este Tango é praticamente obrigatório. Embora, claro, tenha as suas diferenças.

Tango conta-nos a história de um personagem carregado de mistério. Ele é John Tango e parece um James Bond, já que tem o charme, o sucesso com as mulheres e os skills de combate do agente 007.

Neste primeiro tomo, intitulado Um Oceano de Pedra, John Tango encontra-se escondido e camuflado junto da longínqua cordilheira dos Andes. Começamos por não saber ao certo aquilo que levou o protagonista desta história a procurar esconderijo, mas vamos percebendo, à medida que a história se vai desenrolando, que haverão certamente muitos adversários à sua procura. Mesmo que, primeiramente, não conheçamos quais serão as razões para tal.

E a verdade é que John Tango até se ambientou bem às gentes locais durante os 4 anos que ali passou. Todos sabem que ele é estrangeiro, mas todos o tratam com respeito e aceitação. Como não podia deixar de ser, ele até já tem um romance com a sensual Agustina, da taberna local. 

Mas, ao que tudo indica, toda a gente daquele vilarejo aparenta ter um segredo que o/a levou a procurar refúgio naquele local. E será, por isso, que vários eventos ocorrerão em catadupa, a partir do momento em que alguns homens armados começam a atacar algumas gentes locais e John Tango se vê forçado a intervir, pondo em causa o seu anonimato.

Opto por não revelar mais da história para não estragar o prazer da leitura aos que me lêem. De qualquer maneira, devo dizer que, sendo um livro cujo argumento não encanta muito nas primeiras páginas, lá mais para o meio, quando a história começa a ser revelada, e passamos a conhecer finalmente quem é John Tango, a história transforma-se subitamente em algo muito mais interessante. Até este ponto eu até nem estava muito convencido com o argumento, mas, a partir daqui, comecei a gostar mais da história que nos é dada. Pode não ser nada de muito marcante ou fantástico, mas parece-me bem pensado, face ao género de bd em questão. A sensação final foi de satisfação perante a história que é assinada pelo argumentista Philippe Xavier, em parceria com o ilustrador Matz.

Quanto à arte, temos um desenho que vai beber bastante a influências como, o já referido, XIII ou Largo Winch. Aquilo a que chamo a “escola clássica realista do franco-belga”. Mesmo assim, e embora as ilustrações de Matz tenham um aspeto geralmente bem apelativo, se formos ao pormenor, encontraremos a falta disso mesmo: de pormenores. Com efeito, é verdade que as personagens são bastante bem desenhadas e que, no cômputo mais direto, este é um daqueles livros que, quando abertos, parecem ter desenhos espetaculares. Um olhar atento permitirá ver que talvez não sejam espetaculares mas lá que são globalmente bem conseguidos, lá isso são. Penso que se os cenários fossem, por vezes, mais detalhados, estaríamos perante uma experiência ainda mais impactante, em termos da nossa imersão nas ilustrações do autor Matz. Não obstante, e com a arte ilustrativa ajudada por uma boa aplicação de cores, que oferece ao conjunto total um cariz moderno, acho justo admitir que, visualmente falando, e mesmo sem ser deslumbrante, Tango consegue ser apelativo.

A edição da Gradiva é em capa dura, com papel de boa qualidade, boa encadernação e boa impressão. Há ainda 6 páginas de extras onde se insere um diário de viagem elaborado pelos autores, aquando a sua visita à Bolívia. O logótipo da editora - que enervava tanta gente - passou a ser substituído pelo logótipo oficial da Gradiva. Acho que foi uma boa opção. 

Normalmente não comento legendagem, mas, desta vez, tenho que dizer que achei as legendas e balões demasiado grandes – por vezes a cobrir porções absurdas das ilustrações – e a própria fonte muito grande e demasiado espaçada. Não é isto que estraga o prazer da leitura, mas é algo que poderia ter sido melhor.

Em suma, a aposta da Gradiva nesta série Tango parece-me bem conseguida por parte da editora. John Tango é um carismático protagonista que, não sendo totalmente original, vai deixar muitos fãs de banda desenhada franco-belga satisfeitos e ávidos para que a totalidade da série seja publicada em Portugal.

NOTA FINAL (1/10):

8.4

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnica

Tango #1 - Um Oceano de Pedra

Autores: Philippe Xavier e Matz

Editora: Gradiva

Páginas: 64, a cores

Encadernação: Capa dura

Lançamento: Agosto de 2021