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quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Análise: Astérix e o Grifo

Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya

Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya
Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad

O lançamento de um novo álbum de Astérix é sempre um acontecimento à escala mundial! Afinal, esta continua a ser a série mais vendida de banda desenhada em grande parte do planeta. E Portugal, especificamente, não é exceção.

Uma das razões para que Astérix continue a ser um sucesso de vendas é que há uma legião de fãs que, seguindo a série há longas décadas, continua a comprar os álbuns dos célebres heróis gauleses, criados originalmente por Uderzo e Goscinny. Mas, depois, e creio que ninguém fala disto, mas que vale a pena relembrar, parece-me Astérix é a série de banda desenhada que mais faz para a atração de novos leitores para o género. E isso é uma tarefa importantíssima que deveria receber, até, a meu ver, mais louvores, por parte de toda a gente. Isto porque, sendo uma série que (também) apela aos mais novos, e tendo aquela tal fanbase já conquistada em muitas décadas, é uma série que continua a ser (bem) reintroduzida nas camadas mais jovens. De uma forma muito simples: os adultos continuam a comprar estes livros para si próprios mas, também, para os oferecer aos mais novos. Por conseguinte, renova-se um público que, de outra forma, dificilmente seria introduzido na 9ª arte. Quando o tema sobre a fraca implementação da banda desenhada, junto das camadas mais jovens, começa a revelar-se, cada vez mais, uma ameaça a médio prazo para o género em Portugal, e não só, acho relevante que se olhe para exemplos como Astérix que, de uma forma coesa, continuam a apresentar números de vendas impressionantes e a trazerem novos leitores para a bd.

Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya
Toda esta introdução para dizer que Astérix é um nome, uma marca, que já vende por si só. Não fico, por isso espantado que recentemente a ASA até tenha apostado no lançamento de um livro de receitas de Astérix. Falando concretamente deste Astérix e o Grifo, e assumindo que é sempre uma boa notícia (para milhares de leitores) o lançamento de mais uma aventura dos Irredutíveis, é, manifestamente, um álbum mais fraco do que algumas das tentativas mais recentes de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad, a dupla de autores que tem continuado o legado de Uderzo e Goscinny.

Mas comecemos pelo mais positivo: o desenho! Olhando de uma forma objetiva e, portanto, colocando de lado todo o nosso gosto pelo trabalho seminal de Uderzo na série, há que dizer que Didier Conrad faz um trabalho de excelência no que ao desenho diz respeito. O desenho das personagens, as expressões faciais, a planificação, as cenas de ação, os momentos cómicos… pode-se dizer que Conrad assegura de forma perfeita o legado de Uderzo. 

Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya
Na minha opinião, em termos de arte visual, este Astérix e o Grifo é perfeito. Porque, para além de honrar e replicar tudo aquilo de bom que Uderzo deu à serie, Conrad até consegue modernizar ligeiramente algumas coisas, com a aposta em algumas vinhetas mais exuberantes, onde nos são dadas bonitas paisagens ou uma sensação de grandeza em relação às aventures dos gauleses e companhia. Acresce ainda que Thierry Mébarki, o autor responsável pela aplicação das cores, faz um ótimo trabalho também, dotando este livro de um cariz, quiçá, mais moderno do que um Astérix clássico, mas, por outro lado, não rompendo em demasia com o aspeto clássico das obras originais da série. As cenas nocturnas ou a atmosfera gélida onde a aventura se passa, apresentam cores que são um mimo para os olhos. Portanto, em termos visuais, este Astérix é maravilhoso. Vou até mais longe e digo que, provavelmente, até é melhor do que muitos álbuns clássicos de culto desta série. (Desculpem lá por esta afirmação, virgens puristas do original e do “antigamente é que era”).

Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya
Todavia, em sentido contrário, e por muito que me custe, tendo em conta que não me considero minimamente um velho do Restelo no que à banda desenhada diz respeito, há que dizer que, em termos de argumento, a ausência de Goscinny faz-se sentir - possivelmente mais do que nunca - neste Astérix e o Grifo. Isto porque o argumento até aparenta ser sumarento. Mas, bem espremido, além de algumas referências interessantes, este argumento não tem tanto sumo assim. 

A história coloca Astérix, Obélix, Ideafix e Panoramix a rumarem ao leste europeu para recuperarem uma bela mulher do povo Sármata, que havia sido raptada pelo exército romano, com o objetivo de guiar o mesmo até ao local onde fosse possível capturar um grifo para o fortalecimento da importância do Imperador César, junto do seu povo. As paisagens gélidas e cobertas de neve são, pois, o local onde se desenrola esta aventura.

Nota para o facto de haver um esforço de Ferri em dar destaque a temas dos tempos atuais em que vivemos: como as fake news, as teorias da conspiração dos terra-planistas, ou a relevância das mulheres, que aqui são apresentadas com os papéis inversos àquilo que, historicamente, se podia esperar de uma história deste teor. Em Astérix e o Grifo são as mulheres as guerreiras, que defendem o seu povo, e são os homens que ficam na aldeia a tomar conta das crianças. O escritor francês Michel Houellebecq faz aqui uma aparição, através da personagem de Desorientadus, e o músico Charles Aznavour volta a marcar presença embora, desta vez, seja num pequeno cameo de uma só vinheta.

Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya
Aquilo que me pareceu é que, tentando o argumentista Ferri introduzir tantos elementos, acabou por perder o fio à meada e fazer um álbum sem uma história coesa e que aparenta ser uma manta de retalhos narrativos. Porque o facto de o autor pretender colocar, para além da demanda dos heróis, tantas referências e gags humorísticos, acabou por deixar muitas pontas soltas, apresentado-nos uma história sem o brio desejável. Ok, foi encontrado um tema e um destino para Astérix e Obélix mas o enredo, por assim dizer, é bastante insuficiente e pouco trabalhado. E, como em cima disso, existem as tais referências à nossa realidade atual ou as passagens cómicas que, tirando a divertida vinheta em que Obélix opta por correr com o cavalo ao colo de forma a chegar mais rápido ao seu destino, quase nunca me fizeram esboçar um mero sorriso. A própria tristeza de Obélix associada ao desaparecimento de Ideafix me pareceu muito forçada, a ocupar demasiadas páginas e sem qualquer humor ou verdadeira relevância narrativa.

Quando chegamos ao fim do livro a ideia que fica é que o mesmo serviu apenas para nos entreter um pouco, estando longe de figurar como uma aventura marcante ou inolvidável.

Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya
Quanto à edição da ASA nada há a dizer. Está boa e ao nível daquilo a que a editora nos tem habituado, ao longo dos anos, no que concerne à série Astérix: capa dura brilhante, papel brilhante de boa qualidade. A impressão e a encadernação também apresentam uma boa qualidade. Houve nas redes sociais um "zunzum" sobre uma prancha inédita que serve como uma introdução à viagem de Astérix e Obélix. Esta prancha não aparece no livro já que, desta vez, na primeira página onde damos de caras com os nossos heróis, os mesmos já se encontram em plena viagem rumo ao leste. Alguns leitores manifestaram-se desagradados com a não introdução da prancha no álbum. Convém, no entanto, dizer - e deixar bem claro - que a dita prancha não faz parte do álbum! Simplesmente foi um método utilizado para a promoção do mesmo. Não compreendo o porquê de certas atitudes ultrajadas com esta situação que vi nas redes sociais. É como irmos ao cinema e ficarmos chateados pelo facto do trailer do filme que vamos ver, não aparecer imediatamente antes ou depois do filme. Não faz sentido. Uma coisa é a obra. Outra coisa é a promoção da obra. 

Em conclusão, regresso ao que já disse: mesmo que um novo álbum de Astérix seja sempre motivo de alegria por parte dos muitos fãs do herói gaulês, a verdade é que este Astérix e o Grifo apresenta um argumento bastante menos inspirado do que aquilo a que a série já nos habituou. Incluindo até - pasmem-se alguns - vários livros da dupla Ferri/Conrad. Embora também mereça ser dito que, em termos de desenho, este novo álbum não peca em nada e é um prazer para os olhos.


NOTA FINAL (1/10)
6.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Astérix e o Grifo, de Jean-Yves Ferri e Didier Conrad - ASA - Leya

Ficha técnica
Astérix e o Grifo
Autores: Jean-Yves Ferri e Didier Conrad
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2021

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