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quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Análise: Sapiens #1 e #2



Sapiens #1 e #2 de Yuval Noah Harari, David Vandermeulen e Daniel Casanave

Sapiens: História Breve da Humanidade, da autoria do israelita Yuval Noah Harari, é um livro que se tornou num dos maiores bestsellers da última década. De facto, estou certo que foi o enorme sucesso da obra, que fez com que o Harari unisse os seus esforços com os autores David Vandermeulen e o ilustrador Daniel Casanave, para criar a adaptação para banda desenhada dessa obra. Assim, surgiu a série de bd Sapiens. Espera-se que sejam quatro os volumes até a mesma estar concluída. No ano passado saiu o primeiro volume, A Origem da Humanidade e, este ano, no passado mês, saiu o volume dois, que dá pelo nome de Os Pilares da Civilização. Aproveitei para ler os dois livros de uma leva e trago-vos hoje a minha análise a ambas as obras.


Tal como a obra original, este Sapiens procura mostrar-nos, de forma inteligente, original e criativa, e numa linguagem extremamente simples e de fácil compreensão, as origens da humanidade. Desde os tempos da pré-história, até à forma como o Homem – ou deverei dizer o Homo Sapiens? – foi evoluindo, até formar as sociedades mais complexas que hoje conhecemos. Desde os tempos em que mal podia sobreviver num mundo carregado de animais perigosos, até à forma como foi ocupando um lugar de primazia na cadeia alimentar, enquanto se expandia para todos os continentes do planeta, descobrindo a agricultura, a caça e a própria linguagem - a grande chave do seu maior e melhor sucesso, face às demais espécies. Dito assim, este Sapiens pode não ser muito apelativo e soar a uma aula de história e geografia. Mas garanto-vos que o livro está construído e pensado de uma forma que facilmente agrada a qualquer pessoa. Até mesmo àqueles que não têm por hábito ler banda desenhada.

Não é, pois, de admirar que, no ano passado, o primeiro volume de Sapiens tenha ocupado a primeira posição nos livros mais vendidos do ano, segundo dados partilhados pela gigante cadeia FNAC. De facto, esta é uma série adequada a crianças, a jovens e a adultos. A fãs e a não-fãs de banda desenhada.


Não julguem, porém, que vão encontrar nesta série o livro das vossas vidas. Todavia, estou certo que será uma leitura muito agradável e carregada de muitos conhecimentos, que são dados de forma simples.

No meu secundário, lembro-me de ter tido uma professora de história que, por ser aborrecida e monocórdica na forma como falava, tornava a matéria chata e fazia quase todos os alunos dizerem que não gostavam da disciplina de história. Contudo, no ano seguinte, chegou um outro professor que, por nos falar de uma forma tão apaixonada e dinâmica, e de nos passar a matéria não como um fardo ou uma obrigação, mas sim como algo verdadeiramente útil e interessante, conseguiu uma revolução naquela turma: fez com que toda a gente passasse a gostar da aula de história. Não é um feito que toda a gente consiga fazer, infelizmente. Mas os autores desta série Sapiens, e em particular Yuval Noah Harari, conseguem, sem qualquer sombra de dúvida, atingir essa proeza!

A informação é-nos dada de muitíssimas formas: ou as personagens assistem a um filme, ou lêem revistas de comics, ou vão a conferências, ou simplesmente conversam entre si, levantando as dúvidas e as questões - que também se formam na cabeça do leitor – e dando as respostas. Acaba por ser uma autêntica aula de história e que, para além de passar factos científicos para o leitor, também o coloca a pensar e a compreender outras coisas que, numa primeira instância, não pareciam estar interligadas com acontecimentos históricos.


E, para além de tudo isto, a informação é-nos dada com uma constante presença de humor, que nos deixa com um sorriso na cara, enquanto vamos colocando o nosso “tico e teco” a relacionarem coisas entre si.

O primeiro volume começa por abordar as seis espécies diferentes de humanos que caminhavam no planeta, há cerca de cem mil anos, e como a espécie Homo Sapiens conseguiu tornar-se o rei do mundo, ao passo que as restantes cinco espécies pereceram. Aborda também como foi a extinção dos mamutes e dos tigres de sabre, e as descobertas que, pouco a pouco, os Sapiens foram adquirindo.

O segundo volume, continua a história do Sapiens que, entretanto, funda as primeiras cidades, desenvolve a agricultura, inventa a economia e cria a noção de família. Bem como, a linguagem e a escrita. Explica-nos também, sempre com humor, mas também com responsabilidade e sentido crítico, como a guerra, as epidemias, a fome e a desigualdade social se tornaram, para sempre, uma parte da condição humana.


Não façam o erro que eu fiz, que optei por ler os dois livros seguidos. É que, mesmo sendo simples e de fácil leitura, o total dos dois volumes perfaz um texto de carácter educativo com 500 páginas seguidas. O que talvez se torne em algo mais cansativo de ler. Portanto, a minha sugestão é que leiam um volume e, depois, mais tarde, leiam o outro. Ambos merecem ser lidos. Até porque um livro continua a história do Sapiens no exato momento em que o livro anterior a deixou.

Em termos de desenho, Daniel Casanave, o ilustrador, oferece-nos desenhos simples, rápidos e que servem bem o propósito desta banda desenhada. O traço é linear, com cores vivas, mas até é verdade que, por vezes, o autor permite-se a liberdade de nos oferecer uma vinheta ou uma prancha com mais detalhe, com maior dimensão, e que permite ao todo respirar um pouco melhor. E isso acaba por ser importante para que a informação seja dada ao leitor de forma doseada. É claro que não são desenhos “lindos” na sua forma. Ou “portentos da ilustração técnica”. Mas também não creio que fosse isso o expetável para um livro deste género. Mesmo assim, e porque sei que Casanave é capaz de o fazer, gostaria que ambos os livros tivessem mais destes momentos, em que a sua arte é mais detalhada e exige que a apreciemos melhor. É pena que aconteça poucas vezes.

Quanto à edição, estamos perante um bom trabalho da Elsinore (20|20 Editora). Os livros têm capa dura, papel baço de boa espessura, e uma encadernação e impressão boa. No volume 2, o subtítulo “Novela Gráfica” foi mal escrito, lendo-se “Nova Gráfica” na lombada do livro. Um erro pequeno, mas que, infelizmente, é muito visível. No entanto, nota positiva para o facto destas edições terem acompanhado a data da edição mundial. É sempre de louvar que as editoras se esforcem para que Portugal não fique à espera daquilo que sai antes, lá fora.

Em conclusão, posso dizer que dentro do estilo da “banda desenhada educativa”, a série Sapiens é uma autêntica vencedora e não me espanta nada que esteja a ter o sucesso comercial que tem tido. É simples, divertida, de fácil leitura e oferece muitos e interessantes conceitos e conhecimentos. Uma verdadeira vitória de todos os envolvidos.


NOTA FINAL (1/10):
8.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Fichas técnicas
Sapiens: A Origem da Humanidade (Novela Gráfica, vol. 1)
Autores: Yuval Noah Harari, David Vandermeulen e Daniel Casanave
Editora: 20|20 Editora (Elsinore)
Páginas: 248, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2020


Sapiens: Os Pilares da Civilização (Novela Gráfica, vol. 2)
Autores: Yuval Noah Harari, David Vandermeulen e Daniel Casanave
Editora: 20|20 Editora (Elsinore)
Páginas: 256, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2021

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