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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Análise: Spy x Family #1

Spy x Family #1, de Tatsuya Endo - Devir

Spy x Family #1, de Tatsuya Endo - Devir
Spy x Family #1, de Tatsuya Endo

Já no final de 2021, a editora Devir apostou numa nova série de manga, da autoria de Tatsuya Endo, e que dá pelo nome de Spy x Family. Esta é uma série relativamente recente, que começou a ser publicada no Japão em 2019 e que, neste momento, já conta com 7 volumes publicados no país de origem. Por cá, a Devir prepara-se para editar, neste mês de janeiro, o segundo volume da série.

Não sendo eu um leitor muito batido no universo dos mangás, tenho que admitir que a leitura deste primeiro volume de Spy x Family se revelou bastante gratificante para mim. E talvez mesmo por esse mesmo motivo de eu não ser tão batido assim no género.

A história é deveras original. Acompanhamos o experiente agente secreto Crepúsculo, a quem é dada uma nova missão – a mais difícil de sempre – que consiste em infiltrar-se numa escola particular para poder chegar ao seu alvo, Donovan Desmond, que pertence ao Partido de União Nacional. Mas, claro, para que a infiltração de Crepúsculo na escola ocorra da melhor forma – e sem levantar dúvidas –, o agente secreto precisa de ter um filho(a) inscrito(a) na escola onde Desmond também tem o seu filho. O único problema é que Crepúsculo não é pai nem sequer tem alguma relação amorosa. Resultado: para que a missão possa ser levada a cabo, o protagonista terá que “arranjar” uma esposa e um(a) filho(a). E é desta forma que resgata de um orfanato Anya e que casa com Yor.

Spy x Family #1, de Tatsuya Endo - Devir
Se, até aqui, a premissa já parece deveras cómico-trágica e sui generis, deixem-me dizer-vos ainda que, logo por azar – ou nem tanto – a criança que Crepúsculo adota é telepata, conseguindo saber aquilo que os outros pensam, e a sua nova esposa, Yor, é assassina nas horas vagas. E Crepúsculo não sabe disto. São daquelas coincidências da vida. Ou dos mangás, vá.

A premissa deste shonen (um mangá para crianças a partir dos 8 anos) é bastante divertida. Não se leva muito a sério e, portanto, assume uma postura cómica na forma como aborda a história que, convenhamos, até poderia ser mais obscura e pesada. Mas não, é bastante leve. Por esse motivo, é recomendada para crianças, até.

Depois temos as coisas clássicas deste tipo de mangás: boa disposição, um certo exagero nas situações que sucedem às personagens e na forma como as mesmas personagens reagem aos eventos com que se deparam. Tudo isto é pontuado por um enredo leve e divertido que coloca o agente secreto Crepúsculo a lidar com inúmeras situações de stress, pois parece que até um agente com tanta experiência e missões bem-sucedidas no passado encontra, finalmente, as suas fraquezas, ao ter que lidar com uma missão tão diferente e singular. E isso é particularmente bem conseguido em termos de história: Tatsuya Endo explora bem o facto do seu protagonista encontrar as maiores dificuldades na tarefa que supostamente seria mais fácil. A de ter uma família. A de ser pai. Pelo menos, comparando com missões de alto risco que Crepúsculo resolveu no passado. Tantos de nós que somos pais e mães. Mas quantos de nós somos talentosos agentes secretos e mestres da espionagem? Spy x Family parece querer, por isso, prestar um certo tipo de louvor ao homem e à mulher comum. Mesmo que o faça em tom leve e de brincadeira.

Spy x Family #1, de Tatsuya Endo - Devir
Quando, finalmente, Crepúsculo consegue encontrar a filha e esposa ideais, passamos para a parte em que os três terão a difícil missão de levar a escola mais exclusiva do país a aceitar Anya enquanto sua aluna. Julgo que aqui, devido aos (muito) caricatos eventos que se sucedem, a série assume um tom ainda mais exagerado e infantil que, no meu caso, me fez torcer um pouco o nariz, pois estava a adorar a premissa inicial do livro. Ainda assim, e relembrando que este é um livro aconselhado para jovens adolescentes, é justo dizer que é compreensível que, aqui e ali, a narrativa fique um pouco mais infantil. Mas, seja como for, não escondo que, apesar desse lado menos adulto, continuei a gostar bastante de história até ao final do livro. E, quando se chega ao fim do mesmo, a vontade imediata é saber o que acontece, a seguir, às personagens.

Quanto à componente ilustrativa, estamos perante um livro clássico de manga. O estilo de ilustração inconfundível está muito em linha com aquilo a que já nos habituámos neste tipo de livros. A expressividade (por vezes exagerada, mas assim é um bom e clássico mangá) das personagens, a dinâmica muito rápida na sequência narrativa, a utilização de uma planificação muito diversificada que também ajuda ao tal ritmo rápido de narração, está cá tudo.

Spy x Family #1, de Tatsuya Endo - Devir
Devo dizer que gostei particularmente de algumas vinhetas que nos mostram cenários lindíssimos e muito detalhados e, também, da maneira muito dinâmica e bem conseguida como o autor ilustra as poucas cenas de ação do livro. E, claro, todas as personagens também estão exemplarmente desenhadas. Tatsuya Endo pode ser um autor que não traz inovações para o género, mas não deixa de ser verdade que é um perfeito executante do melhor que já todos conhecemos neste estilo de ilustração japonesa. Tudo muito bem feito.

Se há algo que posso lamentar é que o livro seja a preto e branco. Bem sei que essa é a norma e o expetável neste tipo de livros, mas eu adoraria ver este livro totalmente colorido. Aliás, as primeiras três páginas do livro, que são coloridas, dão-me razão, mostrando o quão mais bela (ainda) seria a arte ilustrativa deste livro, se o mesmo fosse totalmente a cores. Mas claro, também sei que isso teria outras implicações para a série, nomeadamente no custo dos livros e na própria rapidez com que os mesmos são criados pelos autores de manga. Mas é um desejo que mantenho, pronto. Seja como for, e colocando os meus desejos pessoais de parte, graficamente falando, este Spy X Family #1 é um livro muito bem executado.

Spy x Family #1, de Tatsuya Endo - Devir
Quanto à edição da Devir, temos um trabalho bem conseguido, em linha com os outros mangás da editora. O livro respeita o pequeno formato e sentido de leitura original japonês, ou seja, é lido de trás para a frente. De resto, tem capa mole e brilhante (que emana uns belos brilhos metálicos a verde, diga-se) e papel baço de qualidade decente. Aquilo a que a editora já nos habituou nos seus lançamentos de mangás, diga-se. Ainda que quase toda a gente (já) não tenha problemas em efetuar uma leitura no formato original japonês, de trás para a frente, acho sempre positivo que, na última página do livro, a editora explique o sentido certo de leitura para que a mesma seja feita sem problemas. Isto porque - nunca se sabe! - um novo leitor, que dá de caras com o livro, pode não estar familiarizado com o formato original e esta breve explicação é muito esclarecedora.

Em suma, este Spy X Family demonstrou ser uma história com uma premissa bem original, que mantém o leitor colado à narrativa, que acaba por ser bastante divertida. Os desenhos, à semelhança dos melhores mangás clássicos, são espetacularmente bem executados. Pelo cariz mais terra-a-terra da história, até diria que é uma boa porta de entrada no universo dos mangás para aqueles que estão menos acostumados ao género. Recomenda-se, sem dúvida.


NOTA FINAL (1/10):
7.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Spy x Family #1, de Tatsuya Endo - Devir

Ficha técnica
Spy x Family #1
Autor: Tatsuya Endo
Editora: Devir
Páginas: 216, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2021

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