Análise: Carnificina: Preto, Branco & Sangue

Carnificina: Preto, Branco & Sangue, de vários autores

Quando em análise àquilo que tinham sido as vendas da editora G. Floy Studio, durante o ano de 2021 em Portugal, a editora me tenha dito que Wolverine: Preto, Branco & Sangue tinha estado entre os livros mais vendidos da editora durante o ano, não me admirei muito. Bem, por um lado Wolverine é um dos super-heróis mais aclamados da Marvel. Mas, por outro lado, isso não quer dizer tudo – até porque há outros livros da Marvel publicados pela G. Floy Studio que não obtiveram tão boas prestações em termos de vendas. Com efeito, a verdade é que a premissa de reunir um conjunto de autores e fazer pequenas histórias sob a égide de utilizar apenas as cores preto, branco e vermelho, é uma coisa que, pura e simplesmente, funciona bem. Visualmente é uma maravilha para os olhos. Falo com base no meu gosto, claro, mas a verdade é que parece que há (muitas) mais pessoas que concordam com isto.

Talvez por isso, a série original, Black, White & Blood, esteja a ser um êxito para a Marvel e até já conte com volumes dedicados a Wolverine, a Carnificina, a Elektra e a Deadpool. Olhando para este Carnificina: Preto, Branco & Sangue, que é o segundo álbum que a G. Floy publica em Portugal, posso dizer que supera em todos os níveis o volume dedicado a Wolverine. Especialmente no que ao argumento concerne.

Se, visualmente, o livro de Wolverine é muito gratificante, a verdade é que o considero um pouco fraco nos argumentos das suas mini-histórias. Tal como escrevi na altura, “É, porém, na questão do argumento, onde a grande maioria das histórias me parecem um pouco mais pobres. Bem sei que conseguir construir uma boa história em tão poucas páginas é uma tarefa difícil. Mas isso não invalida que não seja possível.”

Assim, a minha expetativa para a antologia dedicada a este Carnificina, quando peguei nela pela primeira vez, não era muito diferente. Pensei: “eis um livro que deve ter ilustrações espetaculares, mas que as histórias hão-de ser fraquinhas”. E estava errado. Bem, não estou a dizer que as histórias deste livro sejam histórias que vão mudar as vossas vidas ou que são a coisa mais espetacular de sempre. No entanto, há aqui muitas histórias bem pensadas, que apresentam esta personagem malévola de formas muito interessantes e originais. E, nesse ponto, supera em muito o anterior livro da série dedicado a Wolverine, onde os argumentos me pareceram meros pretextos para justificar a arte. 

O terror psicológico associado à personagem de Carnificina acaba por ser bem trazido à tona, especialmente nas belas histórias Fim do Caminho, Tubarão Carnificina, Mar de Sangue, O Fim da Humanidade, e, possivelmente na melhor de todas elas, As Minhas Mãos Vermelhas, que nos apresenta as linhas gerais para um excelente filme de cinema dedicado a Carnificina ou, quem sabe, a um livro grande dedicado ao vilão. Muito boa. Só é pena que seja uma história curta.

As abordagens e as opções narrativo-gráficas são inúmeras. Desde a ficção científica, passando por western até a uma história de piratas! Há para todos os gostos. Até chega a haver uma proposta deveras original e fora da caixa na história, Tu és o Carnificina, que convida o leitor, através da utilização de um dado, a fabricar a sua própria história, consoante a sorte que o seu dado vai ditando. Como se de um jogo se tratasse. A proposta é, realmente, original embora me pareça que não funciona totalmente bem. Mas vale, lá está, pela proposta sui generis.

Quanto às ilustrações, e aqui já não me parece tanto que seja melhor ou pior do que Wolverine, este livro apresenta uma força gráfica enorme e onde os vários artistas dão asas às suas criações, dando-nos propostas variadas, mas todas elas demarcadamente impactantes. Creio que não houve uma única história em que eu não admirasse as ilustrações. Claro que, naturalmente, há umas de que gostamos mais ou menos das ilustrações, por questões de gosto pessoal. Mas, na generalidade dos casos, vê-se que são artistas bons que desenharam este conjunto de histórias.

São 12 histórias no total, e os artistas presentes são Tini Howard, Ken Lashley, Benjamin Percy, Sara Pichelli, Al Ewing, John McCrea, Donny Cates, Kyle Hotz, Chip Zdarsky, Marco Checchetto, Ram V, Javier Fernandez, Dan Slott, Greg Smallwood, Karla Pacheco, Chris Mooneyham, Alyssa Wong, Gerardo Sandoval, Ryan Stegman, Joe Bennett, Declan Shalvey, Stephen Mooney, Ed Brisson, Scott Hepburn e mais uns quantos. Alguns destes nomes eram-me completamente desconhecidos, reconheço.

A edição da obra, por parte da G. Floy Studio está muito boa, tal como a do livro anterior, dedicado a Wolverine. O papel brilhante é de boa qualidade, a capa é dura e a qualidade da impressão e encadernação, está muito boa, atribuindo ao livro o cariz de coleção. Há ainda uma extensa galeria de capas alternativas como extra. Falando nisso, eu teria escolhido outra ilustração para a capa do livro. Mas são gostos.

Em suma, se gostaram de Wolverine: Preto, Branco & Sangue, ainda vão gostar mais deste livro dedicado a Carnificina. A força visual de maravilhosos desenhos a preto, branco e vermelho mantém-se muito impactante e, ainda por cima, temos nesta antologia um conjunto de melhores argumentos, mais estruturados e cativantes, que desenvolvem bem a personagem enigmática e violenta de Carnificina. A ler!

NOTA FINAL (1/10):

8.2

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnica

Carnificina: Preto, Branco & Sangue

Autores: Vários

Editora: G. Floy Studio

Páginas: 152, a preto, branco e sangue

Encadernação: Capa dura

Lançamento: Novembro de 2021