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quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Análise: O Caderno da Tangerina - Integral

O Caderno da Tangerina - Integral, de Rita Alfaiate - Escorpião Azul

O Caderno da Tangerina - Integral, de Rita Alfaiate - Escorpião Azul
O Caderno da Tangerina - Integral, de Rita Alfaiate

A editora Escorpião Azul reeditou recentemente a obra da autora portuguesa Rita Alfaiate que já tinha sido lançada, pela mesma editora, com os livros No Caderno da Tangerina, em 2017, e Tangerina, em 2019. O nome desta reedição integral passou a ser O Caderno da Tangerina e, para além de reunir esses dois volumes supramencionados, tem também o mérito de incluir uma pequena história, a cores, que é um é ótimo acrescento à história global, bem como uma nova e bela capa.

Desde que analisei as duas obras em conjunto que defendi que a leitura de ambos os livros, ainda que pudesse ser feita de forma independente, ganhava mais se feita de forma conjunta. Recuperando, por isso, o que escrevi por altura dessa análise que fiz aos dois livros, este é, portanto, um daqueles “casos clássicos em que 1+1 não são dois. São três. A soma de ambas as narrativas é algo verdadeiramente interessante. Porque ambos os livros andam à volta da mesma história e das mesmas personagens, mas apresentam diferentes pontos de vista para o mesmo argumento. E que bom, isso é!”

O Caderno da Tangerina - Integral, de Rita Alfaiate - Escorpião Azul
Este livro é pois um daqueles exercícios narrativos que funciona muito bem pois permite ao leitor uma visão mais ampla e alargada dos mesmos eventos e, consequentemente, uma melhor e mais profunda imersão na história que nos é dada por Rita Alfaiate.

Na primeira parte do livro, a história centra-se em Spike e na forma, infrutífera, como ele tenta estabelecer uma relação de amizade com a sua nova colega de escola, Tangerina. Porém, a sua nova colega de carteira, parece ser alguém diferente dos demais colegas de Spike, pois está sempre agarrada ao seu caderno, onde faz desenhos de horríveis criaturas. E, eventualmente, esses monstros passam do caderno de Tangerina para a realidade(?), com Spike a observá-los pelos sítios onde passa.

Na segunda parte do livro, a história passa a centrar-se na personagem com o mesmo nome. Ou seja, a perspetiva é a oposta em relação à primeira parte da história, em que havíamos experienciado a história vista pelo lado de Spike. Mas, a partir deste ponto, a história passa a ser vista pelo lado de Tangerina. Se, na primeira parte, a aura negra da história parecia residir na rapariga Tangerina, no segundo livro vemos a coisa do outro lado do espelho e as revelações são bastante chocantes até. O que é ótimo do ponto de vista de argumento.

Há uma coisa de que gosto muito neste livro. É que o mesmo traz consigo um exercício muito interessante por parte da autora: é que se ficamos com uma ideia concreta quando lemos o primeiro livro… essa ideia muda (drasticamente?) após a leitura da segunda parte do livro. Aplicando isto à realidade, não estará a autora a dizer-nos que para uma mesma história há várias verdades? Várias formas e possibilidades de olharmos para a mesma coisa?

O Caderno da Tangerina - Integral, de Rita Alfaiate - Escorpião Azul
E, ainda por cima, não ficamos por aqui. Conforme já disse mais acima, esta nova edição traz consigo uma breve história com apenas 9 pranchas. Funciona como interlúdio entre a primeira e a segunda parte do livro e dá-nos uma visão da vida de Yara, a professora de Spike e Tangerina, e da forma como a mesma reage ao sucedido com a sua aluna Tangerina. É mais uma maneira de Rita Alfaiate nos mostrar como consegue trazer à tona da sua história um lado dramático e pungente dos eventos. E, visualmente falando, este interlúdio está um verdadeiro mimo para os olhos onde se percebe, sem dúvidas, que a autora tem evoluindo bastante a sua técnica de desenho. Já para não falar das cores que são muito, muito belas! Deixa-nos com a vontade de ler um novo livro da autora a cores. Espero que tal possa acontecer num futuro próximo.

Relativamente às duas outras partes do livro, as ilustrações são a preto e branco e apresentam, tal como escrevi anteriormente, um estilo “claramente marcado pelo mangá, revelando uma autora com um traço muito confiante nesse estilo. 

O Caderno da Tangerina - Integral, de Rita Alfaiate - Escorpião Azul
Os detalhes da caracterização dos ambientes, especialmente os espaços fechados, são quase inexistentes, com as personagens a receberem o grande destaque da autora. Curiosamente [na segunda parte] este estilo de ilustração mangá é menos óbvio, com a autora a demarcar-se da ilustração mais clichet do género. Compreende-se a decisão, mesmo tendo em conta que as suas ilustrações no primeiro livro também são muito boas. Mas, claro, a autora certamente pretendeu evoluir o seu traço em busca de um estilo de ilustração mais pessoal. E, admita-se, conseguiu.”

Quanto à edição da Escorpião Azul, estamos perante um lançamento à sua própria imagem, com capa mole com badanas, bom papel baço e boa encadernação e impressão. Destaque ainda para o generoso caderno de extras, com 16 páginas, que inclui belos esboços da autora. Considero que esta edição – até pelo preço de 27,00€ que apresenta - deveria ser em capa dura, dado o cariz premium do livro.

De qualquer maneira, acho que a editora e a autora merecem uma palavra de apreço pela forma inteligente, com um bom sentido de oportunidade, como repescam esta obra numa bela edição definitiva e apetecível, que consegue o feito de explanar (ainda mais) a narrativa imaginada pela autora, de forma muito convincente. É um excelente livro da banda desenhada nacional que se recomenda, está claro!


NOTA FINAL (1/10):
8.5


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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O Caderno da Tangerina - Integral, de Rita Alfaiate - Escorpião Azul

Ficha técnica
O Caderno da Tangerina - Integral
Autora: Rita Alfaiate
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 192, a cores e a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 17 x 24 cm
Lançamento: Maio de 2022

2 comentários:

  1. Confesso que gosto da arte da Rita Alfaiate mas falta a Escorpião Azul alguém que faça a curadoria e a edição das capas das suas publicações. Bons exemplos não faltam por aí...

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