Análise: Tomie (Série Completa)

Tomie (Série Completa), de Junji Ito

Depois de lançar a coleção Best of Best de Junji Ito, a quem muitos chamam o Mestre do Terror do mangá, a Devir decidiu - e bem - lançar uma das obras mais célebres e clássicas do autor japonês. Falo de Tomie que foi originalmente lançada em 1987 e que, depois, foi recebendo novos capítulos - ou contos, uma vez que as histórias aqui presentes são relativamente independentes entre si - ao longo dos anos, até ter sido finalizada em 2000.

Este lançamento integral desta obra em dois volumes por parte da editora Devir, acaba, portanto, por ter um valor especial por esta ser uma obra com um pendor muito seminal na carreira que, depois, Junji Ito acabou por prosseguir. Considera-se, assim, que este é um lançamento assinalável, quer pelo valor histórico, quer pelo cariz didático da própria obra.

No fundo, Tomie é uma antologia de vários contos de terror, mas onde o destaque vai sempre para a protagonista de todas as histórias, a maquiavélica Tomie. Ela é, com rigor, a verdadeira estrela desta saga, pois a sua conduta malvada, dissimulada, mentirosa e retorcida, conjugada com a sua beleza a quem ninguém consegue ser indiferente, acaba por impactar os leitores desta obra. E os próprios poderes sobrenaturais da personagem que, vez após vez, a ajudam a conseguir fintar a morte e a voltar ainda mais forte, aumentam ainda mais o carisma doentio da personagem. Tomie é a personificação do mal.

Sendo uma jovem mulher que possui uma beleza sobrenatural, Tomie é capaz de enfeitiçar qualquer pessoa que a encontre. No entanto, por detrás da sua aparência angelical, Tomie é uma criatura maligna que causa desgraça e destruição por onde passa. E, como se não bastasse, a personagem ainda é capaz de se regenerar completamente de qualquer ferimento ou morte, o que só amplifica a sua natureza sinistra.

Cada um dos contos que a obra nos dá, apresenta-nos uma nova situação onde Tomie entra na vida de pessoas comuns e desencadeia uma série de eventos macabros e perturbadores. Seja manipulando pessoas para os seus próprios propósitos, provocando ciúmes e obsessões, ou simplesmente revelando a sua verdadeira persona horrível, Tomie é uma personagem profunda e enigmática que incita medo e fascínio.

Além disso, a narrativa de Junji Ito muitas vezes mergulha-nos em temas como a obsessão, a inveja, o desejo e a natureza da beleza, explorando os aspetos mais sombrios da psique humana. A presença constante de Tomie como uma figura que seduz e corrompe aqueles ao seu redor também pode ser percecionada como uma alegoria para as tentações e perigos que podem surgir quando cedemos aos desejos mais profundos e obscuros.

O desenho de Junji Ito é bastante eficiente na forma como nos vai narrando visualmente as inúmeras situações de terror. 

É um estilo de mangá bastante clássico, em termos de desenho, e não deixa de ser impressionante a forma como o autor vai conseguindo transmitir através do seu desenho, as diversas situações de horror psicológico vividas pelas personagens que têm que interagir com Tomie.

De tempos a tempos, pareceu-me que a arte de Junji Ito - pelo menos à luz da atualidade - já se apresenta algo datada, mas também há que ter em conta que este trabalho começou a ser feito há mais de 30 anos. E, por outro lado, isto também sublinha o cariz de clássico obrigatório da obra. Além de que também é verdade que acaba por ser agradável verificarmos que, de história para história, e com a passagem dos anos, o traço do autor foi ficando mais refinado, confiante e capacitado para a ilustração das mais diversas situações onde Tomie se vê metida ou, com mais rigor, nas situações onde as personagens à sua volta se veem metidas.

Na prática, são quase 800 páginas que a editora Devir decidiu publicar em dois volumes com capa mole e sobrecapa. São edições com bom aspeto, embora eu confesse que teria gostado que o papel do milo fosse um pouco mais espesso de forma a que não se vislumbrasse as ilustrações da página seguinte. Contudo, considero que é uma boa edição e o formato maior em relação àquilo que estamos habituados a ver em relação aos livros publicados pela Devir, também enaltece a própria edição.

Em suma, é com bons olhos que vejo esta tentativa da Devir em publicar mangás para um público mais maduro que, com este Tomie, tem aqui mais uma bela ocasião para dar uma oportunidade à banda desenhada feita na terra do sol nascente. E, então, se for adepto do género de terror psicológico, ainda melhor!

NOTA FINAL (1/10):

8.4

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Fichas técnicas

Tomie #1

Autor: Junji Ito

Editora: Devir

Páginas: 376 páginas, a preto e branco

Encadernação: Capa mole

Formato: 17 x 24 cm

Lançamento: Setembro de 2023

Tomie #2

Autor: Junji Ito

Editora: Devir

Páginas: 376 páginas, a preto e branco

Encadernação: Capa mole

Formato: 17 x 24 cm

Lançamento: Janeiro de 2024