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sexta-feira, 2 de abril de 2021

Análise: Tex - A Chicotada

Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita


Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita
Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano

A aposta da editora A Seita nos lançamentos da editora italiana Bonelli sedimenta-se ainda mais em 2021, com o arranque de uma nova coleção. Depois da coleção Aleph que já reuniu um bom número de títulos de Dylan Dog e Dampyr, é a vez da personagem mais famosa da casa italiana, Tex, ter uma coleção inteiramente dedicada às suas aventuras.

Mas não é uma coleção qualquer. A Seita optou, e a meu ver, muito bem, por publicar uma coleção de histórias auto-contidas, criadas para o formato franco-belga e a cores. É um Tex de cara lavada e mais jovial que, creio, irá conquistar novos fãs das suas aventuras que, de outra forma, poderiam não o ser. E como são histórias auto-contidas, mesmo que se trate de um leitor que nunca leu um livro de Tex, conseguirá apreciar a história facilmente.

Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita
A coleção, originalmente intitulada Tex Romanzi a Fumetti, arranca com este A Chicotada, com argumento de Pasquale Ruju e ilustrações de Mario Milano. E, em poucas palavras, pode dizer-se que é um título que funciona muito bem, não comprometendo negativamente em nenhum cômputo, e oferecendo-nos uma leitura simples, fácil e com um doce travo às aventuras clássicas de cowboys.

A história, que decorre no México, apresenta-se-nos rápida e sem espinhas, de forma linear e sem que se perca tempo com muitas nuances narrativas. O holofote da obra centra-se na personagem de Diego Portela, que foi marcado na cara (e na dignidade) por valentes chicotadas, que lhe deixaram mazelas emocionais para sempre. E o verdadeiro culpado desse martírio foi (?) Don Alvarado. E agora, Diego Portela sente que é a altura certa para a sua vingança. Por coincidência, Tex Willer e Kit Carson também se encontram no México no encalço de um bando de traficantes. E, eventualmente, acabam por se envolver na disputa entre Diego Portela e o clã Alvarado. Sendo uma história clássica de vingança, diria que, pelo menos de forma aparente, não é muito imaginativa. No entanto, há alguns twists na narrativa que surpreendem o leitor e que tornam a história mais interessante de ler.

Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita
Como ponto menos positivo, pareceu-me que a obra beneficiaria se tivesse mais algumas páginas para melhor desenvolver a trama. Claro que compreendo que talvez não fosse esse o objetivo prévio. Nem da editora, nem dos autores. Não obstante, teria sido bom desenvolver melhor as personagens de Diego Portela e de Blanca Alvarado. Personagens essas que, mesmo sendo abordadas “ao de leve”, são as verdadeiras estrelas deste A Chicotada. É óbvio que a presença de Tex Willer, acompanhado pelo seu fiel amigo Kit Carson, ajuda a moldar os acontecimentos da história. No entanto, é na negritude de Diego Portela e no ar misterioso de Blanca que o trabalho do argumentista Pasquale Ruju mais brilha.

Em termos de arte ilustrativa, este é um álbum muito bonito e bastante bem executado, com um excelente trabalho do autor Mario Milano, cujo traço aparenta ter semelhanças com o de Jean Giraud na clássica série Blueberry. Os grandes planos que desenha das personagens – especialmente de Diego Portela –, bem como várias cenas de ação, estão extremamente cinematográficos e impactantes.

Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita
Um destaque merece ser dado à planificação das pranchas que será, possivelmente, aquilo que mais salta aos olhos quando comparamos um álbum clássico de Tex com este A Chicotada. Neste caso, o fomato maior permitiu que a componente gráfica tenha adquirido um cariz muito mais cinematográfico, com uma dinâmica mais volátil, que proporciona vários tipos e tamanhos de vinhetas diferentes e um ritmo mais desenfreado da história.

O facto da planificação ser mais dinâmica, com ilustrações que saem dos limites das vinhetas ou com vinhetas que se sobrepõem umas às outras, permite a tal sensação de frescura e a tal modernidade que Tex, na sua forma mais clássica, (já) não consegue ter. Ou melhor, já não conseguia. Porque este novo Tex está mais atual que nunca.

E para que a série se apresente de cara lavada, muito contribuem as cores muito bem conseguidas de Matteo Vattani, que melhoram ainda mais a arte de Mario Milano, oferecendo-lhe a luz e a cor certas, e tornando o ambiente e as personagens mais verossímeis e esteticamente mais apelativas. É um álbum bonito, cujas ilustrações são agradáveis para observar.

Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita
Embora o formato seja maior quando comparado com o formato a que Tex nos habituou, confesso que ainda gostava que fosse maior. Dentro do universo franco-belga ainda é um pouco “pequeno”. Mas, claro, há que reconhecer que já é um formato que permite muito mais, em termos de possibilidades narrativas e de planificação da história.

A meu ver, este formato clássico franco-belga funciona muitissimo bem neste Tex, tornando-o mais atual e mais em linha com outros grandes westerns que a bd franco-belga nos tem dado. Parece-me que é uma aposta ganha. Por parte da editora italiana, claro, que conseguirá alcançar novos mercados, mas também por parte da editora portuguesa A Seita que, inteligentemente, aposta nesta vertente de Tex, apontando para um maior número potencial de leitores: 1) os que já são fãs do famoso ranger mas, também, 2) aqueles que, gostando do género western franco-belga, se têm mantido um pouco à margem de Tex. Esta linha editorial parece reunir consenso junto dos dois públicos.

Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita
Quanto à edição da obra, o trabalho é muito bem conseguido por parte d' A Seita. E é com alegria que vejo que as editoras portuguesas têm cada vez mais cuidado com o objeto-livro que põem cá fora. Aos leitores de bd isso também importa. Assim, para além de um bom trabalho de encadernação, com capa dura e bom papel, destacam-se as entrevistas com os autores, os estudos de capa e um desenho original de Tex, feito propositadamente por Mario Milano para a edição portuguesa. Assinale-se ainda o bom sentido de oportunidade da editora portuguesa que edita este livro para o mercado português passados apenas alguns meses do seu lançamento original em Itália.

Em conclusão, este é o Tex certo para que todos aqueles que sempre olharam de soslaio para a série possam, finalmente, mergulhar nela. De forma simples, rápida, despretensiosa e agradável. Pode não ser um livro que marque uma vida mas é um livro bem conseguido de uma ponta à outra. Para os fãs de western? Recomenda-se! Para os fãs de Tex? Recomenda-se! Para os fãs do franco-belga? Recomenda-se também!


NOTA FINAL (1/10):
8.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Tex - A Chicotada, de Pasquale Ruju e arte de Mario Milano - A Seita

Ficha técnica
Tex - A Chicotada
Autores: Pasquale Ruju e arte de Mario Milano
Editora: A Seita
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2021

4 comentários:

  1. Mais uma excelente análise a uma (excelente) obra de Tex, que espero seja a primeira de muitas por parte d'A Seita!
    Por fim, também considero que este volume tem tudo para agradar a gregos e a troianos, ou melhor, aos fãs de Tex e aos não fãs também ;-)
    Parabéns e que venham novas análises a volumes de Tex pel'A Seita e pela Polvo já que seria um sinal cada vez mais evidente que a aposta em Tex é uma aposta ganha!

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    Respostas
    1. Caro Zeca!

      Muito obrigado pelo comentário! Um forte abraço

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  2. Não sendo fã deste personagem, comprei no entanto este volume para atestar da sua tão grande fama e para avaliar a edição da Seita. Passou em ambos os testes e só mesmo o escasso número de páginas lhe impedem uma avaliação mais alta. Mas gostei e quem sabe tenha sido o primeiro de alguns outros.

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