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sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Análise: Tango #2 – Areia Vermelha

Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva

Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz

A Gradiva tem apostado fortemente nesta série. Em poucos meses, já lançou três álbuns. O que me faz antever que as vendas assim o justificam. E vender-se bem banda desenhada – seja ela qual for – é sempre uma boa notícia para nós, amantes de bd. Significa que há leitores compradores, o que, consequentemente, pode levar a uma maior aposta das editoras em novos lançamentos. Fico, portanto, feliz que Tango esteja, aparentemente, a ter sucesso.

Olhando para este segundo tomo, devo admitir que senti alguma desilusão com a obra, após um primeiro tomo, já aqui analisado, que, não sendo perfeito, acalentou as minhas esperanças numa banda desenhada com várias boas ideias. Este Areia Vermelha é um livro que se lê bem, mas que poderia ser muito melhor. Especialmente em termos de argumento.

Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Neste segundo tomo, continuamos a acompanhar a personagem carismática de John Tango que, desta vez, fazendo-se acompanhar pelo seu amigo Mário, visita o seu avô a uma pequena ilha das Caraíbas. O encontro entre neto e avô dá-se com satisfação e surpresa do mais velho. E embora pareça que o avô de John Tango viva num autêntico paraíso tropical, depressa se verifica que os poucos habitantes daquela pequena ilha enfrentam sérios problemas devido ao seu lugar ter começado a ser cobiçado por traficantes de droga, que querem utilizar a ilha com ancoradouro para o seu tráfico de droga. 

John Tango vê-se assim - e novamente - forçado a intervir. Entretanto, existe uma rapariga na ilha, Alma, com quem Tango não estava há muitos anos e que, com o passar do tempo, se tornou numa bela e mulher. E pronto, basicamente, são estas as bases do argumento traçado por Matz neste Areia Vermelha.

Mas é tudo feito de uma forma tão superficial que chega a fazer-me alguma confusão. Os eventos e, especialmente, os diálogos são bastante pobres, denotando pouca inspiração por parte do autor. Considero até que há um subaproveitamento das páginas do livro com eventos não tão importantes assim a receberem mais destaque do que mereciam. Por exemplo, quando, logo no início do livro, Mário faz uma curta paragem na viagem de barco para ir a um bar e conhecer uma mulher, isso não traz absolutamente nenhuma mais valia à história, propriamente dita, e são 3 páginas inteiras do livro que se gastam com um não-acontecimento. Nem sequer essa mulher ou essa experiência de Mário trazem nada de especial ao enredo, exceptuando uma pequena graçola – não muito espirituosa – no final do livro. 

Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
No entanto, quando mais à frente morre uma personagem na história – que não digo qual é, para não fazer um spoiler a ninguém – a maneira como as outras personagens reagem a esse acontecimento, parece-me demasiado afastada e fria, não batendo a "bota com a perdigota", entre as consequências de um acontecimento e a forma como as personagens reagem a esse acontecimento. 

Há, portanto, uma superficialidade na forma como o argumentista trabalha as personagens. A própria obrigatoriedade de Tango ter, novamente, um episódio romântico parece-me, mais uma vez, bastante forçada. Dá a ideia de que as coisas acontecem só porque sim, como se fosse para “cumprir calendário”. 

Se formos a ver bem, já no primeiro tomo, eu registei algumas dúvidas quanto à banda desenhada. No entanto, nesse caso, a meio do livro houve todo um regresso ao passado da personagem de John Tango, que achei inspirado e mais profundo e que, de certa forma, salvou esse primeiro livro, tornando-o muito melhor do que este segundo tomo. Como neste Areia Vermelha não há um regresso ao passado ou uma qualquer outra tentativa de character building mais inspirada como houve no tomo anterior, isso leva a que a história seja manifestamente inferior.

Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Quanto à arte ilustrativa, temos um livro em linha com aquilo que já nos tinha sido dado no tomo anterior, pelo autor Philippe Xavier. Num traço franco-belga que nos remete para outras séries clássicas como Largo Winch ou XIII, os desenhos de Xavier cumprem a tarefa de nos contar a história de forma satisfatória. Repito, por isso, aquilo que escrevi por altura de Tango #1: "embora as ilustrações de Xavier tenham um aspeto geralmente bem apelativo, se formos ao pormenor, encontraremos a falta disso mesmo: de pormenores. Com efeito, é verdade que as personagens são bastante bem desenhadas e que, no cômputo mais direto, este é um daqueles livros que, quando abertos, parecem ter desenhos espetaculares. Um olhar atento permitirá ver que talvez não sejam espetaculares, mas lá que são globalmente bem conseguidos, lá isso são. Penso que se os cenários fossem, por vezes, mais detalhados, estaríamos perante uma experiência ainda mais impactante, em termos da nossa imersão nas ilustrações do autor Xavier. Não obstante, e com a arte ilustrativa ajudada por uma boa aplicação de cores, que oferece ao conjunto total um cariz moderno, acho justo admitir que, visualmente falando, e mesmo sem ser deslumbrante, Tango consegue ser apelativo."

Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva
Olhando para a edição da Gradiva, o trabalho também está em linha com aquilo que a editora tem vindo a lançar nos seus livros de banda desenhada franco-belga: capa dura e baça, papel brilhante de boa gramagem, boa encadernação e boa impressão. Nada a apontar. Ao contrário do primeiro livro da série, aqui não há um pequeno dossier de extras.

Insisto também no facto da legendagem desta banda desenhada, com balões que ocupam espaço a mais nas vinhetas, letras demasiado grandes e um espaçamento muito alargado entre palavras, me fazer uma certa confusão. Parece feito propositadamente para pessoas com problemas de visão. E não estou a fazer nenhuma piada, dizendo isto. É mesmo o que me parece. De qualquer maneira, como já é o segundo álbum da série, também compreendo que agora não se vá mudar esta questão. Foi uma opção, vá.

Em conclusão, este segundo tomo de Tango fica uns furos abaixo do primeiro volume que apresentou algumas boas ideias e, acima de tudo, a criação de um protagonista emblemático. Pelo lado positivo, destaca-se o bom comprometimento da Gradiva nesta série que, em pouco tempo, já vê 3 dos seus 6 volumes publicados em Portugal.


NOTA FINAL (1/10):
6.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Tango #2 – Areia Vermelha, de Philippe Xavier e Matz - Gradiva

Ficha técnica
Tango #2 – Areia Vermelha
Autores: Philippe Xavier e Matz
Editora: Gradiva
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2021

2 comentários:

  1. " o bom comprometimento da Gradiva nesta série que, em pouco tempo, já vê 3 dos seus 6 volumes publicados em Portugal."

    Isso não quer dizer nada ja houve editoras a cancelar series no penúltimo volume,seria bom a Gradiva fazer o mesmo com outras series paradas no volume 2.

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    1. Pois, de facto, não "quer dizer nada" mas acho que, ainda assim, é um bom sinal. Sejamos otimistas! :)

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