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terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Análise: Blake e Mortimer: O Último Espadão

Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen - ASA

Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen - ASA
Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen

[Antes de avançar nesta análise, permitam-me uma nota pessoal: estou bem ciente de como nos últimos tempos tenho escrito menos análises de banda desenhada aqui no Vinheta 2020. Sei que as análises de bd são a principal razão de ser deste blog, bem como o primordial motivo para as muitas visitas que o Vinheta 2020 recebe, diariamente. Não pensem que tenho lido menos bd nos últimos tempos. Na verdade, até tenho lido mais banda desenhada do que noutras alturas do ano. Mas, simplesmente, por vários motivos, em que destaco o lançamento do novo disco de uma das minhas bandas (Alves Baby) mas, também, e principalmente, a preparação da Gala dos VINHETAS D'OURO, que me tem ocupado muitas horas, não tenho tido tanto tempo para escrever. Mas, não se preocupem, tenho muitos livros já lidos e prontos a serem analisados. E espero voltar ao meu normal durante os próximos dias. Obrigado pela compreensão. Passemos, agora, à análise ao mais recente livro da série Blake e Mortimer.]

Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen - ASA
Depois do último volume de Blake e Mortimer, O Grito do Moloch, da autoria de Jean Dufaux, Christian Cailleaux e Étienne Schréder, que aqui analisei, há cerca de um ano, e que considerei medíocre, tendo-me deixado profundamente desiludido com a obra, confesso que não estava com um apetite muito voraz para este novo lançamento da série Blake e Mortimer. Mas, felizmente, devo confessar que fiquei amplamente convencido com este regresso da série.

Antes de mais, há que dizer que também é normal que a experiência de leitura entre este O Último Espadão e O Grito de Moloch seja diferente, se tivermos em conta que as equipas criativas também são outras. Mesmo assim, confesso que não estava à espera de uma diferença qualitativa tão grande entre ambas as obras. É que, se O Grito de Moloch foi verdadeiramente medíocre, com uma história mal concebida e desenhos preguiçosos, O Último Espadão, é totalmente o oposto, com uma história simples, mas lógica e bem estruturada, e um desenho que faz uma boa homenagem à série originalmente criada por Edgar P. Jacobs.

E note-se que a premissa base deste livro, de servir como continuação para o álbum inaugural da série, O Segredo do Espadão, até me fez franzir a testa inicialmente, pelo simples facto de me parecer uma abordagem algo gratuita e totalmente focada na vertente comercial, por parte dos autores. Estava errado. E ainda bem! Sendo uma boa homenagem ao livro original da série, este 28º livro traz algumas ideias próprias, conseguindo um balanço muito interessante entre o clássico e o moderno. E, embora sejam invocados alguns eventos de O Segredo do Espadão, a verdade é que este livro funciona bem, se lido sem conhecimento prévio do primeiro livro. Algumas coisas poderão não ser tão bem assimiladas pelos leitores que não conheçam a obra seminal, mas a grande maioria da história será bem-apanhada, sem dificuldades.

Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen - ASA
A história arranca com uma boa cena, bastante cinematográfica, quando, algures numa estrada em Inglaterra, um veículo circula em direção ao aeroporto militar de Hasley e, no seu interior, encontra-se o major Rupert Humbletweed, a quem o governo britânico confiou uma missão secreta. Enquanto isso acontece, também o capitão Francis Blake confia ao Professor Philip Mortimer uma operação da mais alta importância: deslocar-se ao Paquistão para alterar o código de ativação dos cinco Espadões estacionados na base de Makran, de forma a permitir a sua transferência para Inglaterra. 

Entretanto, a organização IRA prepara um ataque sem precedentes a Londres, procurando estabelecer parcerias com velhos inimigos da dupla Blake e Mortimer. Com efeito, estamos perante uma história bem arquitetada por Jean Van Hamme. Pode não ser maravilhosa ou ser um livro que nos vai marcar para o resto da vida – não o é, seguramente – mas é indiscutível que é um dos bons livros da série Blake e Mortimer. Quiçá, um dos melhores dos últimos anos. E, então comparado com O Grito do Moloch, este O Último Espadão é poesia a todos os níveis: no da história, no da narrativa e até no do desenho.

Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen - ASA
O desenho, de Teun Berserik e Peter Van Dongen, é extremamente bem conseguido para os adeptos do estilo de linha clara, com uma boa dose de pormenores, de Edgar P. Jacobs. É simples e clássico, mas, ao mesmo tempo, e talvez por ser um estilo não tanto utilizado nos dias de hoje, traz uma certa sensação de frescura e modernidade, embora, claro está, não deixe de ser fiel ao estilo original da série – como deveria ser. As cores também o tornam um bonito álbum. Os fãs da série vão adorar, certamente.

Claro que, depois, e gostemos ou não, temos todas as idiossincrasias que poderíamos esperar de um livro de Blake e Mortimer: a balonagem, o excesso de texto por prancha, o tipo de planos utilizados, o comportamento demasiado "british" das personagens, etc. Se bem que, não esqueçamos, há algumas vinhetas de maior dimensão que os autores utilizam muito bem para deixar a história e o texto respirarem um pouco. É, por ventura, um dos traços de maior modernidade deste livro.

Em termos de edição, toda ela está ao nível dos padrões a que a editora ASA já nos habituou nas suas séries de banda desenhada. E em especial na de Blake e Mortimer: capa dura com acabamento em verniz, bom papel baço e boa encadernação e impressão. Nada a objetar, portanto. Nota para o facto da edição da loja FNAC ter, como já vem sendo hábito, uma capa exclusiva. 

Em conclusão, finalmente passados tantos anos de "tiros ao lado", li um Blake e Mortimer que me encheu as medidas. História simples, mas interessante, narrativa com bom ritmo e um desenho muito bem conseguido. Tudo bem feito, de forma a prestar uma boa homenagem ao legado de Jacobs. Não será, repito, um livro magnífico ou perfeito… mas é um bom livro para juntarmos à série. Ideal para os fãs de Blake e Mortimer e bastante indicado como porta de entrada para novos leitores, que não conheçam a série e tenham curiosamente em conhecê-la.


NOTA FINAL (1/10):
8.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Blake e Mortimer: O Último Espadão, de Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen - ASA

Ficha técnica
Blake e Mortimer: O Último Espadão
Autores: Jean Van Hamme, Teun Berserik e Peter Van Dongen
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2021

2 comentários:

  1. Permito-me discordar.
    Ainda não foi desta vez que as novas aventuras de Blake e Mortimer estiveram à altura das originais. Acho que foi mais um "tiro ao lado".
    Admiro muito o trabalho de Jean Van Hamme, mas nesta história o argumento deixa muito a desejar.
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    *** spoiler alert ***
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    A história até vai razoavelmente bem até à página 53, mas daí para a frente surgem uma quantidade de situações incoerentes e sem justificação que deitam abaixo tudo o que se conseguiu:
    - a "evasão" de Mortimer: como se explica que o nazi que andou a matar até aí todas as testemunhas (inócuas) da sua presença e participação na conspiração, deixe escapar as personagens que mais o poderiam prejudicar, com meios para o identificarem e ao local onde se encontra? E inclua nessa evasão Olrik, que uma páginas antes mandou prender (na mesma cela que Mortimer!) com o agrumento que este venderia a sua identidade a alguma autoridade? Mesmo que a razão apresentada de darem à notícia do atentado a credibilidade referida, havia certamente outros modos de o fazer sem cair em total contradição...
    - o "atentado" com a bandeira: quando e como foi substituída a bomba atómica que o Espadão iria transportar pela bomba "de carnaval"? Se o foi nos três dias que o piloto teve para se familiarizar com o aparelho e verificar o armamento, que meios teve à sua disposição e porque não se apropriou logo do Espadão e abortou a missão? (e haverá alguém que não tenha adivinhado que seja Blake aos comandos do Espadão nesta altura?) E aqui surge a questão mais crítica: o que levou Blake a concretizar a missão? Na própria história é justificado porque não são dados os comandos a Mortimer (p.45) e porque foi sustituído o Selfridge (p.64), mas se Blake se vê sozinho no cockpit do Espadão, porque não o desviou logo para Scaw-Fell? Não o terá feito por uma quantia elevada, nem pela ameaça do rapto da esposa ou de um filho (p.46), terá sido só para dar credibilidade ao I.R.A.? Não tem explicação...
    E se a aventura d'O Segredo do Espadão tivesse sido lida com atenção, até havia lá pistas para dar outro rumo a este argumento, pois o Espadão originalmente seria dotado de um dispositivo-robot e só a urgência obrigou a que este fosse substituído e instalado um cockpit para um piloto (p. 65 do 2.º vol de 2 ou p.36 do 3º vol de 3) (o que também contradiz a necessidade de vários meses para formação de um piloto, sustentada n'O Último Espadão), e depois de terminada a guerra os Espadões já poderiam ter sido concluídos conforme o plano original, e haveria aqui material para desenvolver bem uma trama que levasse ao mesmo cenário de ameaça...
    Quanto aos desenhos estão bons, sendo o facto mais notável resultarem do trabalho de dois artistas que fizeram cada um a sua série de páginas e não se distigue o traço um do outro.
    Mas o melhor de tudo é o desenho da capa - da edição normal, e não a capa exclusiva da FNAC - na minha opinião a melhor de todas as capas pós-Jacobs, e aqui sim, a única razão para o Blake levar a cabo o atentado...

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    1. Caro Ricardo Cabrita,
      Muito obrigado pelo comentário. Mais que bem explanado e que merece ser lido. Na generalidade, até concordo com tudo o que diz. As críticas que aponta têm legitimidade. No entanto, também me parece que são "falhas" ou, diria, "facilitismos de argumento" aceitáveis. E que se coadunam, até, com o espírito original da série de Jacobs onde certos "facilitismos de argumento" também eram praticados. Mas, como já disse, compreendo perfeitamente os pontos que refere e concordo também com o facto da capa (a original e não a da FNAC) estar muito boa.

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