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quinta-feira, 3 de março de 2022

Análise: Lonesome #1: A Pista do Pregador

Lonesome #1: A Pista do Pregador, de Yves Swolfs - Gradiva

Lonesome #1: A Pista do Pregador, de Yves Swolfs - Gradiva
Lonesome #1: A Pista do Pregador, de Yves Swolfs

O primeiro trimestre de 2022 está, para já, a demonstrar algo inequívoco: a forte aposta da editora Gradiva no lançamento de nova banda desenhada que, em pouco tempo, lançou 6 novos livros de bd, enquanto reeditou mais dois livros. É mais do que aquilo que a mesma editora lançou durante outros anos inteiros. Portanto, enquanto leitor, é com muita satisfação e apreço que dou conta desta nova abordagem à banda desenhada, por parte da editora portuguesa.

Lonesome é uma série western, da autoria de Yves Swolfs, que conta, para já, com três álbuns editados na sua língua original. Se a Gradiva continuar com o mesmo ritmo estonteante de lançamentos, talvez esta série venha a apanhar os lançamentos originais franceses em pouco tempo. Eu bem gostava que isso acontecesse, pois, depois de lido este primeiro álbum, fiquei com bastantes boas indicações sobre Lonesome.

Lonesome #1: A Pista do Pregador, de Yves Swolfs - Gradiva
Vou começar por dizer algo taxativo: Lonesome não inventa – ou reinventa – nada. Para quem já leu muitos westerns em bd, até pode ficar com uma certa sensação de déjà vu. No entanto, quando aquilo que nos é dado detém imensa qualidade, quem se pode mesmo queixar?

Quer no desenho, quer no argumento – que inicialmente pareceu-me demasiado clichet, mas que, ao longo da leitura, e mesmo não sendo perfeito, me foi surpreendendo pela positiva – Lonesome é daquelas obras que faz tudo com uma boa dose de qualidade. Nada está “estragado”, por assim dizer. Talvez não seja o livro mais marcante de ler – e ficará aquém do maravilhoso O Último Homem…, também publicado pela mesma editora – mas assegura-se que Lonesome é uma boa leitura, especialmente recomendada para os amantes de histórias do faroeste.

A história ambienta-se no Kansas, no final do século XIX, por altura em que o governo norte-americano, para fazer face ao contexto tenso entre o norte e o sul do país, criou dois novos Estados: o próprio Kansas e o Nebrasca. Em pleno conflito por questões raciais e da abolição – ou não – da escravatura, este período desencadeou autênticos combates de guerrilha entre as várias fações que tentavam fazer prevalecer os seus interesses socioeconómicos.

Lonesome #1: A Pista do Pregador, de Yves Swolfs - Gradiva
O protagonista desta história é um cowboy anónimo que, não nos mostrando exatamente ao longo de todo este primeiro livro quais são as razões para as suas motivações de vingança, procura encontrar o pregador Markham, bem como ao seu pequeno exército de fanáticos religiosos que andam a espalhar o terror nas fronteiras do Missouri, assassinando, roubando e violando famílias indefesas.

Há ainda uma particularidade no nosso protagonista que merece ser referida: o seu poder sobre-natural de, tocando numa pessoa, conseguir visualizar o passado dessa mesma pessoa. Lembram-se do Comissário Ricciardi que aqui analisei há uns tempos? Não sendo um poder igual, aquele que ambas as personagens possuem, tem bastantes semelhanças, vá. E é um daqueles poderes especiais que, bem utilizado, pode servir como uma boa “bengala” narrativa para nos aprofundar o passado e a essência de alguns dos personagens que circundam à volta da trama principal. E o autor Swolfs faz isso bem. Não é um argumento demasiado complexo ou que nos faça refletir muito, mas também não é uma história oca e vazia de cowboys que andam aos tiros entre si. Não, é bem mais do que isso.

Lonesome #1: A Pista do Pregador, de Yves Swolfs - Gradiva
E quanto às ilustrações, de que Swolfs também se encarrega, posso dizer igualmente que o resultado é muito bom. Oriundo de uma escola de desenho franco-belga realista e clássica, os seus desenhos são muito bem executados, com os personagens a apresentar boas expressões faciais e uma boa linguagem corporal. Também os cenários naturais – que aqui são pontuados por um extenso pano de neve que está sempre presente –, bem como os animais, as armas, as vestes e os restantes cenários estão muito bem executados. 

A filha do autor, Julie Swolfs, é responsável pela bonita paleta de cores que, ora assumindo tons mais azulados e gélidos para os cenários ao ar livre, ora assumindo tons mais amarelados e quentes para os cenários indoor, ainda torna a obra mais agradável ao olho. 

A planificação é bastante dinâmica e os enquadramentos e utilização de câmara, não sendo inovadores, são feitos com grande destreza técnica. Um destaque deve ser dado, ainda, às cenas de ação e tiroteio. Podem não ser muitas e o livro até ser calmo em grande número de páginas, mas quando há cenas de ação, Swolfs demonstra-se exímio nos desenhos e na sensação de dinâmica, ritmo e velocidade.

A boa edição da Gradiva é em capa dura, com papel brilhante, de boa gramagem, e boa encadernação e impressão. Nada mais a objetar.

Em suma, digo “bem-vinda” a esta nova série Lonesome que, em boa altura, recebeu aposta por parte da Gradiva. Uma série bastante bem feita aos mais variados níveis: argumento, desenho e cores. Não será a obra mais fantástica ou obrigatória de sempre, repito, mas, bem vistas as coisas, é muito boa. E recomenda-se vivamente.


NOTA FINAL (1/10):
8.9


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Lonesome #1: A Pista do Pregador, de Yves Swolfs - Gradiva

Ficha técnica
Lonesome #1: A Pista do Pregador
Autor: Yves Swolfs
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2022

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