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quinta-feira, 31 de março de 2022

Análise: O Último dos Moicanos

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo

O Último dos Moicanos, a adaptação para bd da célebre obra de James Fenimore Cooper, é o livro da Coleção Clássicos da Literatura em BD, que a Levoir lançou em parceria com a RTP, que faltava analisar aqui no Vinheta 2020. Todas as restantes 13 obras da coleção, já receberam o seu próprio artigo por aqui. Relembro também que, para todos os que gostaram de colecionar esta coleção, há boas notícias, já que a editora Levoir anunciou recentemente que se prepara para lançar uma segunda série para esta Coleção dos Clássicos da Literatura em BD.

Esta adaptação de O Último dos Moicanos é da autoria de Marc Bourgne e Marcel Uderzo. São dois autores com algum currículo na banda desenhada franco-belga. Marc Bourgne é o autor responsável pela Nova Temporada da série Michel Vaillant, cujo último volume, curiosamente, aqui analisei há poucos dias. O prolífico ilustrador é Marcel Uderzo que, embora tenha na sua carreira um considerável número de livros de banda desenhada, talvez seja mais famoso por ter sido irmão do célebre Albert Uderzo, um dos criadores de Astérix. Ambos os irmãos faleceram recentemente.

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
Mas se os autores que adaptam a célebre obra de O Último dos Moicanos têm um vasto currículo e experiência na banda desenhada, isso não faz com que este livro tenha a qualidade que poderia (deveria?) ter. Há aqui algumas coisas interessantes, especialmente ao nível de (algumas) ilustrações, mas a verdade é que este livro pareceu-me ter o carimbo de “obra encomendada”. Mas já lá irei.

Olhando para a história de O Último dos Moicanos, a mesma passa-se no período da colonização norte-americana, em que os colonos ingleses procuraram, junto das tribos de indígenas, impor a sua cultura e os seus costumes. É um romance carregado de referências deste importante capítulo da América e que, por isso, tem um grande valor histórico para a forma como hoje podemos analisar o processo de colonização do continente norte-americano (e não só!) e como esse processo teve marcas nos intervenientes que, ainda hoje, estão presentes.

E, claro, para além de toda esta reflexão histórico-social, o enredo coloca-nos dentro dos inúmeros conflitos entre ingleses, franceses e as diferentes tribos de índios. Em termos de adaptação para a banda desenhada, quer-me parecer que Marc Bourgne fez os mínimos olímpicos. Sintetiza a história da obra, mas sem grande brio ou cuidado, parecendo, não raras vezes, que se limita a ir despejando acontecimentos, mas sem o cuidado de os saber “arrumar” entre si. Dito de outra forma, esta é uma daquelas adaptações para bd que falha em sintetizar, de forma conveniente e assertiva, a história original. Se alguém não conhecer a obra original não é com a leitura deste livro que passará a resolver essa questão. Claro que, obviamente, a leitura desta adaptação dá algumas luzes sobre o que se passa. Mas fiquei pouco convencido nesse cômputo.

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
E também relativamente às ilustrações, os sentimentos foram mistos. Por um lado, vê-se, aqui e ali, que Marcel Uderzo sabe desenhar. Adotando um estilo semi-realista, o autor revela-se mais talentoso no desenho das paisagens, da florestação, dos rios, dos acampamentos índios. Um bom paisagista, portanto. Se essa é a parte boa, a parte má será que o tratamento das personagens, quer ao nível facial, quer ao nível físico, bem como as cenas de ação, a sensação de movimento ou os próprios enquadramentos, não constituem momentos tão bem conseguidos por parte do autor.

E, na verdade, o trabalho de Marcel Uderzo deixa bastante a desejar. Persiste a dúvida se o autor não é capaz de fazer mais e melhor – por incapacidade técnica - ou se, por oposição, este é um daqueles “trabalhos encomendados”, onde o autor se limitou a fazer o minimamente aceitável. A cumprir com os mínimos. Quem mais perde, claro, é a obra em si já que não passa disso mesmo: “minimamente aceitável”.

O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP
Nota ainda para a colocação das cores, por Ott, que me pareceu pouco feliz. A um tal nível, que cheguei a pensar se o problema não seria da impressão do livro! Por exemplo, logo nas páginas 9 e 10, na cena da cascata, é inexplicável a presença daqueles tons em azul nas caras das personagens. Se o desenho já não era fenomenal, a maneira como as cores são aplicadas no mesmo, ainda tornam o todo mais amador.

Quanto à edição da Levoir, tudo muito bem feito para um preço tão simpático como 10,90€. Capa dura, papel de boa gramagem, boa encadernação, boa impressão. Como aqui tenho vindo a dar conta, o dossier de extras é um forte complemento à obra. Nem demasiado grande, nem demasiado pequeno, reúne um conjunto de informações úteis que contextualizam o autor, a obra e o período histórico da mesma.

Em suma, esta adaptação até teria potencial para ser um pouco melhor do que a média das restantes obras da coleção. Mas o pouco brio e cuidado que os autores depositaram na sua feitura, leva-me a considerar este título como um dos mais fracos duma coleção que já não é, por si só, muito forte.


NOTA FINAL (1/10):
6.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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O Último dos Moicanos, de Marc Bourgne e Marcel Uderzo - Levoir e RTP

Ficha técnica
O Último dos Moicanos
Autores: Marc Bourgne e Marcel Uderzo
Adaptado a partir da obra original de: James Fenimore Cooper
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2021

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