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segunda-feira, 23 de maio de 2022

Análise: Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva
Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs

O ritmo de lançamento de livros novos por parte da Gradiva tem sido tão rápido e tão assíduo nas várias séries do seu catálogo que, quando dou por mim, já a editora lançou o livro seguinte antes que eu tivesse lido o anterior. Foi o caso deste Lonesome, do autor Yves Swolfs. Quando, na minha grande pilha de livros de bd para ler, chegou a vez de Lonesome #2 – Os Ruffians, dei conta que já tinha o volume #3, intitulado, Os Laços do Sangue, disponível para leitura. Assim sendo, li os dois de seguida e trago-vos uma análise a ambos os álbuns.

Depois de uma primeira boa impressão, com o álbum número um da série, A Pista do Pregador, devo dizer que, ao fim de três tomos, me mantenho agradado com esta série, bem como com a aposta da Gradiva nela. Trata-se de um bom western, bastante clássico na forma, que enverga um argumento globalmente bem encetado por Yves Swolfs. Autor este que também assegura o desenho, que é muito competente, e nos dá vários momentos de rara beleza.

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva
A história do segundo volume, Os Ruffians, continua os eventos do primeiro álbum, em que temos o nosso protagonista na pista do Pregador Markham e da sua horda de fanáticos que andam a espalhar o terror nas localidades por onde passam, assassinando famílias inteiras de forma atroz.

Os acontecimentos do álbum anterior levaram a que o nosso cavaleiro anónimo – por enquanto anónimo, melhor dizendo – se mantenha preso. Mas com engenho – e alguma ajuda - rapidamente essa contrariedade é anulada por ele, levando-o a regressar ao seu objetivo primordial de encontrar Markham, com quem tem contas a ajustar. Nisto, acaba por se juntar ao grupo dos “Ruffians” que é contra os movimentos anti-escravagistas e, portanto, também persegue o Pregador Markham.

No entanto, várias reviravoltas vão alterar o curso natural da história, levando a que novas faccões e grupos depressa se desfaçam, em prole dos objetivos de cada personagem. Isso está bem conseguido por parte do autor, o que nos causa uma leitura atenta e não tanto linear assim. Não diria que os volte-faces desta história nos deixem de “boca aberta”, mas, muitas vezes, acontecem numa altura não tão expetável assim. Nota positiva para essa vertente, portanto.

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva
Este segundo tomo também tem a mais-valia de abrir um pouco o jogo relativamente ao passado do nosso protagonista. Poderá ser um passado algo clichet, parecendo que já o vimos noutras histórias, livros ou filmes, mas não deixa de ser marcante e de causar empatia pelo nosso protagonista que, enquanto criança, assistiu a acontecimentos trágicos que, naturalmente, lhe moldaram a vida e o crescimento.

E se o protagonista começa este segundo tomo feito cativo, lá mais para o meio do livro isso volta a acontecer. Uma coisa interessante e que, por ventura, dá verosimilhança a este Lonesome é que o seu protagonista, ao contrário de muitos heróis de outros westerns, não é daquelas personagens unilaterais que nunca comete erros e que é infinitamente superior aos seus vilões. Não. Neste caso, vemos, em várias vezes, o nosso protagonista à beira da morte e depois, por um motivo ou outro, lá se consegue safar. Isso é bom, pois permite que sejamos surpreendidos mais vezes.

No terceiro tomo, que eu julgava, erradamente, que fechava este primeiro ciclo, temos uma alteração no tipo de cenários, já que a ação se passa em Nova Iorque. Ou seja, aquelas planícies áridas e solarengas que normalmente associamos às histórias de cowboys, são substituídas pelas ruas agitadas e sujas de uma Nova Iorque que se tornou no centro político-financeiro de toda a América do Norte. Fez-me lembrar a narrativa do videojogo Red Dead Redemption 2, que também começa nas regiões cobertas de neve mas que, depois, evolui a sua história para ambientes mais citadinos.

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva
Em termos de desenho, acho que esta alteração para um ambiente mais urbano é bem-vinda, já que nos dá cenários muito diferentes dos dois livros anteriores e afasta-se um pouco daquela noção de “western clássico”. Já em termos de história, devo dizer que o argumento neste terceiro tomo poderia estar um pouco mais limado, uma vez que, por vezes, parece que os eventos se sucedem com pouca fluidez ou de modo menos bem explanado. A trama torna-se ainda mais política neste terceiro tomo – com um plot twist algo expetável, diga-se - embora isso não signifique que não haja um bom número de momentos de ação.

Isso é, aliás, algo comum a todos os tomos: belas cenas de ação e tiroteios em que o autor se mostra um autêntico mestre no desenho. Desenho esse que é bom a todos os níveis: nas personagens, nos ambientes e nas cenas de ação (conforme acabo de referir). É feita ainda uma planificação bastante dinâmica onde, por vezes, alguns dos elementos saem dos limites das vinhetas, o que ajuda a uma sensação de frescura e a um ritmo bastante rápido.

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva
Em termos de desenho, onde Swolfs se demonstra exímio, tenho apenas duas pequenas queixas: a primeira é que as personagens, por vezes, se parecem algo semelhantes entre si. O autor tenta dar-lhes alguns elementos diferenciadores, mas como a matriz de “homem com barba, cabelos cumpridos e alourados” é bastante utilizada, há três ou quatro personagens que se confundem um pouco. Não é nada de gritante, mas é uma pequena fraqueza, quanto a mim. E a segunda coisa que não me agradou tanto é que, especialmente no desenho do protagonista da história, Swolfs utiliza muitas vezes o mesmo plano/enquadramento. É possível que, se nos dermos a esse trabalho, encontremos, espalhadas pelos três álbuns, vinhetas com um grande plano da personagem que são praticamente iguais entre si. Quer na expressão e pose da personagem, quer no desenho. Mais uma vez, não é nada de muito grave porque, afinal de contas, o desenho até é bastante bom. Mas acho que o autor poderia ter-se repetido menos nesta questão.

Mas, lá está, tal como referi há umas semanas, a propósito do volume 1 da série, mantenho a mesma opinião em relação a estes 2 tomos: “Quer no desenho, quer no argumento – que inicialmente pareceu-me demasiado clichet, mas que, ao longo da leitura, e mesmo não sendo perfeito, me foi surpreendendo pela positiva – Lonesome é daquelas obras que faz tudo com uma boa dose de qualidade. Nada está “estragado”, por assim dizer. Talvez não seja a série mais marcante de ler – e ficará aquém do maravilhoso O Último Homem…, também publicado pela mesma editora – mas assegura-se que Lonesome é uma boa leitura, especialmente recomendada para os amantes de histórias do faroeste.”

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva
A edição da Gradiva mantém-se com boa qualidade: capas duras e brilhantes, papel com brilho – mas sem grandes exageros no brilho, o que é bom – e boa encadernação e impressão. Julgo que a editora deveria colocar uma breve sinopse sobre cada um dos livros e não uma sinopse igual e genérica em todos os livros da série. Serve para apresentar a série, bem sei, mas acho que faria mais sentido uma breve sinopse que apresentasse cada um dos tomos. Como, aliás, costuma ser feito noutras séries.

Outra pequena nota, menos positiva, prende-se com as constantes menções, através de asterisco, aos tomos anteriores, à medida que vamos lendo os livros. Compreendo que quando as personagens se referem a eventos passados, que aconteceram no(s) álbum(ns) anterior(es) é normal que isso seja feito. Mas sendo uma coisa bastante comum em séries europeias, principalmente, diria que em Lonesome isso foi levado a um extremo que me causou uma certa irritação. “Ok, já percebi que para ler este volume 3, deveria ter lido os volumes 1 e 2. A primeira chamada de atenção bastou-me para o saber. Não seriam necessárias 6 ou 7 menções a isso.”

Bem, mas olhando para o todo e não tanto para a parte, acho que, em suma, posso dar os parabéns à Gradiva por mais uma boa aposta que muito agradará, certamente, aos adeptos de um bom western em bd. Aplaudo também o ritmo de publicação super-rápido (cerca de 3 meses) com que a editora portuguesa editou os três tomos que constituem esta série até ao momento. Agora é aguardar pelo quarto tomo que talvez só saia em França no próximo ano.


NOTA FINAL (1/10):
8.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva

Fichas técnicas
Lonesome #2 - Os Ruffians
Autor: Yves Swolfs
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Dimensões 31,30 x 23,30 cms
Lançamento: Abril de 2022

Lonesome #2 e #3 - Os Ruffians e Os Laços do Sangue, de Yves Swolfs - Gradiva

Lonesome #3 – Os Laços do Sangue
Autor: Yves Swolfs
Editora: Gradiva
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Dimensões 31,30 x 23,30 cms
Lançamento: Maio de 2022




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Mais abaixo, deixo o convite para a leitura da análises ao álbum anterior da série:



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