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quinta-feira, 21 de julho de 2022

O "porquê" e o "como" das notas dadas nas análises do Vinheta 2020


Sim, por vezes, parece que sou "baleado" pelos meus leitores, face às notas que dou nas minhas análises a livros. E não pensem que isso me aflige minimamente. Quase sempre até coloca um sorriso na minha face. Sou daqueles que prefere uma reação negativa do que uma "não-reação".

E já há muito tempo que estava para fazer um artigo em que explico (ou tento explicar) o meu processo de atribuição de notas às obras que analiso aqui no Vinheta 2020.

Claro que, quando estamos a fazer uma coisa para nós mesmos, tudo parece mais fácil e compreensível - mesmo que seja apenas na nossa própria cabeça. Porém, quando fazemos algo que atinge um domínio mais público, como é o caso deste blog, que rapidamente conquistou alguns milhares de leitores assíduos, talvez seja mais conveniente explicar o "porquê" e o "como" de certas coisas.

E faço isto porque, desde o início do lançamento deste blog, me pareceu que o meu processo não era claro para muitas pessoas que me lêem e que, aliás, tiveram a gentileza de mo dizer.

Com efeito, já alguns leitores me têm dito que as minhas notas são demasiado "benevolentes" e/ou que raramente eu dou notas abaixo da nota 5.0. Isso é verdade. Em parte. Mas não tem a ver com o facto de eu ser - ou não - benevolente, mas sim pela forma como olho para a escala de 0.0 a 10.0. Não olho como se estivéssemos na escola ou na universidade, em que o 5.0, por exemplo, seria o satisfaz, o 50%, o suficiente.

Mais abaixo, deixo uma legenda em que explico o que significa cada uma das "classes" de livros que atribuo. Sim, porque, na minha opinião, as obras de arte, e a banda desenhada em particular, também se podem subdividir por classes.

Antes, permitam-me dissipar ainda algumas dúvidas recorrentes por parte de alguns leitores.

Muitas vezes os meus leitores dizem-me "oh, atribuíste um 5.5. Isto quer dizer que é um satisfaz? Um 55%?". Outros dizem-me: "Mas como és bonzinho e deste um 5.5, essa obra deve ser horrível, não?". 

Bem, para responder a essas questões é preciso ter em conta que eu divido os livros que leio enquanto pertencentes a classes, como já escrevi mais acima. É mais fácil perceber isto pensando em automóveis. É ridículo comparar um jipe com um carro super-desportivo ou com um carro utilitário, certo? Porquê? Porque são de classes diferentes. Mas isso não invalida que um utilitário não receba uma nota máxima por tudo aquilo que faz enquanto utilitário. Esse utilitário não será nunca tão bom ao ponto de ser melhor do que um carro super-desportivo mas poderá ser, ainda assim, espetacular enquanto utilitário, certo? Ou seja, um livro que recebe a nota de, imaginemos, 9.2 é como se fosse um carro super-desportivo (classe 9) mas que até não recebeu uma nota tão elevada assim (subclasse 2). Pertence ao grupo dos "super-livros" mas não marcou assim tanto a minha vida, enquanto leitor. Por oposição, se um outro livro receber uma nota de 8.9, imaginemos, até podendo não pertencer à classe máxima dos "super-livros" mas apenas à dos "livros muito bons" pode, ainda assim, receber uma nota alta (.9) para a classe onde se insere. Estão a perceber? Bem, talvez se eu tivesse inicialmente escolhido as classes enquanto letras e as subclasses enquanto números isto fosse mais fácil de perceber. Mas agora também já não vou mudar o meu processo. 

Um Ferrari Dino até pode ser um dos piores Ferraris de sempre mas, mesmo assim, é um super-carro. Pertence a esse gueto. Ao contrário de muitos leitores e crítica, a obra Watchmen não é um livro tão especial assim para mim e até lhe consigo apontar alguns defeitos que perturbam a minha leitura. Mas, mesmo assim, tenho que reconhecer que é um "super-livro" e por isso recebeu nota 9.0. O "9" é porque se trata indiscutívelmente de um grande livro, relevante para a banda desenhada mundial e que todos devem ler. O "0" é porque apesar da relevância da obra, não é uma obra que me dê assim tanto prazer ler. Percebem?

Cada nota que dou é como se fosse dividida em duas notas. O número antes do ponto e o outro número depois do ponto. Por exemplo, se eu atribuo um 8.7 não quer dizer que a minha nota seja um 87% numa escala de 0 a 100%. Quer dizer, isso sim, que eu considero aquele livro da classe dos 8. E que, dentro dessa classe, o facto de ter o número 7 a seguir ao ponto, reflete que está mais próximo da classe 9 do que da classe 7. Muito confuso? Na minha cabeça é algo linear mas, como já disse, até reconheço que para os que me lêem pode não ser assim tão simples.

Portanto, dito por outra palavras, a primeira parte da minha nota (o número antes do ponto) será a nota mais objetiva, enquanto que a segunda parte da minha nota (o número depois do ponto) será a parte mais subjetiva. Com base nos meus gostos pessoais.

Dito isto, também é normal que todo este processo não seja uma ciência exata e que muitas vezes as minhas opiniões não sejam consensuais. E é por isso que tento, pelo menos, justificar o porquê das minhas observações. Não sou dono da razão - ninguém é - mas também não deixa de ser verdade que não dou opiniões aleatórias sem as justificar. E acho até que essa é uma das razões pelas quais recebo cada vez mais feedback dos leitores, dizendo que confiam nas minhas análises e que optam por comprar ou não comprar determinado livro com base naquilo que eu escrevi sobre o mesmo. Aumenta o meu sentido de responsabilidade e, a eles, o meu muito obrigado.

Acreditem que dar notas é, por vezes, uma dor de cabeça. Seria bem mais fácil fazer um texto em que divagava sobre o livro e depois não dava nota final nenhuma. Como outros fazem. Ou, em oposição, estar a dar notas quantitativas ao argumento, à edição ou às ilustrações, mas sem explicar o porquê dessas notas ou se o livro é bom ou não. Como outros também o fazem. Cada um faz as coisas à sua maneira e assim é que está bem. E esta é a minha maneira. Não tenho quaisquer problemas em expor os meus gostos e referências, portanto acredito que a nota também é importante para, pelo menos, o leitor enquadrar a obra nas tais classes e subclasses de que falo acima.

Bem, este texto que deveria ser curto já vai bem longo. Resta-me deixar-vos com a "legenda das classes de livros" que defendo. Desta forma, da próxima vez que lerem uma análise minha, já perceberão melhor a escolha da nota. E, também, porque é que sou tão "benevolente". Ou não.

E lembrem-se: não levem demasiado a sério aquilo que lêem aqui (ou em qualquer outro lugar). Classificar a arte pressupõe subjetividade. 




ESCALA DE AVALIAÇÃO DO VINHETA 2020

10.0
– Este Livro é uma autêntica obra-prima! Perfeito em tudo aquilo que procura atingir. Um livro tão relevante para mim que há-de haver sempre um exemplar na minha estante. Se o perder, se mo roubarem ou se se estragar…. Irei comprá-lo no dia seguinte! Daqueles livros dos quais serei inseparável e que mudaram a minha vida para melhor! OBRIGATÓRIO!

9.0 – Esta é uma grande obra de banda desenhada e que considero recomendada para todos! Daqueles livros que todos devemos ler e que deve constar numa boa estante de banda desenhada. ALTAMENTE RECOMENDADO!

8.0 – Este é um excelente livro de banda desenhada que, não sendo perfeito, merece ser lido e reconhecido por todos. RECOMENDADO!

7.0 – Este é um bom livro de banda desenhada. Aqui e ali poderia ser melhor, mas, mesmo assim, é uma boa leitura. Não diria que seja um livro para todos, porém. RECOMENDADO COM ALGUMAS RESERVAS.

6.0 – Este é um livro interessante, mas que tem algumas fraquezas que o impedem de ser melhor e mais marcante. RECOMENDADO APENAS PARA OS INTERESSADOS PELO GÉNERO/TEMA.

5.0 – Este é um livro que apresenta várias fraquezas que, infelizmente, fazem com que a sua leitura fique aquém do esperado. Lê-se, ainda assim, mas poderia ser muito melhor!

4.0 – Livro com bastantes fraquezas em que parece que há mais pontos negativos do que positivos. Muita coisa deveria ter sido feita de outra maneira para que o livro pudesse ser melhor.

3.0 – Livro fraco e a evitar, e cuja leitura se torna pesarosa para aqueles que nela se aventurarem. Não recomendado.

2.0 – Livro muito fraco. Não houve ninguém – nem a própria dignidade do autor? – que lhe tenha dito “não devias ter lançado este livro assim”?

1.0 – Porra… isto nem merecia ser editado! Vade retro!

0.0 - Como é que eu posso recuperar o tempo que perdi nesta coisa nojenta a que alguém chamou livro de bd?

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