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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Análise: O Fado Ilustrado

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel

Desde que as editoras A Seita e Arte de Autor juntaram esforços para lançar obras de banda desenhada em conjunto, já recebemos três livros de banda desenhada da autoria do português Jorge Miguel. O primeiro foi Shanghai Dream, que me conquistou totalmente, o segundo foi Sapiens Imperium que, não sendo isento de algumas lacunas, também me agradou. Desta feita, estamos perante o terceiro livro do autor que ambas as editoras lançam.

Na verdade, este O Fado Ilustrado até já havia sido lançado por cá, em 2011, pela editora Plátano. Portanto, estamos perante uma reedição. Que tem, também, a particularidade de ser uma obra em que Jorge Miguel assume o argumento e a arte.

Confesso que, aquando o seu lançamento original, este trabalho passou por mim sem que por ele eu tivesse dado conta. Com a sua crescente raridade no mercado e com um maior conhecimento e interesse dos leitores portugueses pela obra do autor, parece-me que esta é uma aposta muito bem pensada por ambas as editoras e que faz sentido ter sido relançada. Estamos perante um daqueles livros que consegue o feito de ter potencial intrínseco para agradar a um grande conjunto de pessoas.

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
O Fado Ilustrado
é uma obra em que Jorge Miguel se baseia em factos reais que marcaram a História de Portugal, na viragem do século XIX para o século XX, enquanto lhes acrescenta factos ficcionais, que unem bem a história entre si e que dão o “sal” necessário a tornar este livro numa experiência de leitura leve e muito agradável.

O autor parte do célebre quadro de José Malhoa, O Fado, para construir uma narrativa à volta do processo de criação dessa pintura, enquanto nos vai mostrando os momentos marcantes dessa época, como o fim do periclitante reinado de D. Carlos I ou a relevância de Eça de Queiroz e de Ramalho Ortigão na mudança da consciencialização político-social vivida à época. E isto enquanto monárquicos e republicanos brigam entre si. Assim, vamos conhecendo todas as peripécias, imaginadas por Jorge Miguel, que o pintor José Malhoa há-de ter passado até conseguir pintar os seus quadros mais célebres: O Fado e Os Bêbados.

Parece-me que o autor foi bastante inteligente ao juntar as tais figuras e acontecimentos históricos à feitura do quadro para lhe dar mais consistência. Se o livro fosse apenas centrado no mestre José Malhoa talvez ficasse demasiado fechado em si mesmo. Assim, desta forma, o livro assume a função, bem conseguida, de ser um retrato de época. É certo que é tudo feito de forma bem leve e suave mas, quanto a mim, não acho que isso belisque em nada a boa leitura que nos é oferecida.

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Gostei especialmente da portugalidade com que o autor traça toda esta obra. Quer nas personagens e no modo como as mesmas interagem entre si, quer, claro está, nos próprios desenhos. 

E isto permite-nos também afirmar que a obra assume um cariz de documento histórico. Que me leva, aliás, a considerar que uma edição deste livro em inglês venderia que nem Galos de Barcelos nas lojas de souvenirs portuguesas. Deixo a sugestão para, quiçá, uma reimpressão futura da obra na língua inglesa.

Em termos de ilustração, temos algo bastante diferente se pensarmos na já mencionadas obras Shanghai Dream ou Sapiens Imperium, que tinham um traço bem mais realista. Aqui, em O Fado Ilustrado, Jorge Miguel oferece-nos um estilo bastante mais caricatural, de traço mais rápido, mas onde é claro um óbvio talento em tornar expressivos e eficazes os seus desenhos. 

O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Em termos de estilo, este tipo de desenho lembrou-me bastante de Chiqui de la Fuente, que tanto marcou a minha infância com a sua adaptação do álbum Tom Sawyer, e que sempre admirei muito. Para além dos desenhos de Jorge Miguel, também gostei bastante das cores, da autoria de João Amaral, que vivem numa boa relação de harmonia com o estilo de ilustração com que Jorge Miguel nos brinda.

A edição da Arte de Autor e d’ A Seita é bem conseguida. Comparando com a edição original, percebem-se alterações na capa, tornando-a mais atual – e quiçá mais comercial. No final, há uma breve linha cronológica para melhor ambientar os leitores no período histórico retratado no livro. De resto, a edição é em capa dura, com bom papel baço, boa encadernação e boa impressão.

Em conclusão, é notória a forma despretensiosa e leve com que Jorge Miguel se nos revela neste seu O Fado Ilustrado, dotando a obra de uma grande acessibilidade para um vasto público: os que gostam de banda desenhada; os que gostam do fado enquanto estilo de música e corrente artística; e os que gostam, simplesmente, de História. A todos eles, este livro presta um belo serviço. Por tudo isto e muito mais, é um belo livro que se recomenda.


NOTA FINAL (1/10):
8.2



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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O Fado Ilustrado, de Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor

Ficha técnica
O Fado Ilustrado
Autor: Jorge Miguel
Editoras: Arte de Autor e A Seita
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 21 x 28,5 cm
Lançamento: Maio de 2022

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