Rubricas

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Amadora BD apresenta os Nomeados aos PBDA (e há polémica, claro!)


A Organização do Amadora BD anunciou ontem os nomeados para os Prémios de Banda Desenhada da Amadora (PBDA).

Apresento-vos esses nomeados, aproveitando para congratular, desde já, todos os envolvidos: autores e editores.

Mais abaixo, deixem-me tecer algumas merecidas críticas.



MELHOR OBRA ESTRANGEIRA DE BD EDITADA EM PORTUGAL
- Pele de Homem, de Hubert e Zanzim, Edição: A Seita
- Churubusco, de Andrea Ferraris, Edição: Escorpião Azul
- O Relatório de Brodeck, de Manu Larcenet, Edição: Ala dos Livros
- Eu, Mentiroso, de A. Altarriba e Keko, Edição: Ala dos Livros
- A Fera: Uma História Verdadeira do Marsupilami, de Zidrou e Frank Pé, Edição: A Seita



PRÉMIO REVELAÇÃO
- Os Besteiros de Serpa, de Luís Guerreiro, Edição: Município de Serpa
- O Crocodilo, ou o Extraordinário Acontecimento Irrelevante, de Francisco Valle e Rui Neto, Edição: LoboMau Produções
- O Reino de Alvarinho, de Márcio da Rocha, Edição: Zero a Oito - Edição e Conteúdos, Lda



MELHOR FANZINE OU PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE
- A Little Girl, de André Caetano
- Le Scorpion et la Grenouille" / "O Escorpião e o Sapo, de Francisco Daniel Teixeira Dias
- Ditirambos: Fauna, de Joana Afonso, Ricardo Baptista, André Caetano, Nuno Filipe Cancelinha, Diogo Carvalho, Raquel Costa, Francisco Ferreira, Sofia Neto, Sónia Mota e Carla Rodrigues
- Histórias à Sombra do Montado, de Ana Margarida de Carvalho, Ana Bárbara Pedrosa, Afonso Cruz, Luís Afonso, Joana Afonso, João Maio Pinto, Marta Teives e Nuno Saraiva
- Daqui à Escola são 2.000 Passos, de Ana Conceição



MELHOR OBRA DE BANDA DESENHADA DE AUTOR PORTUGUÊS
- Pardalita, de Joana Estrela, Edição: Planeta Tangerina
-Estes Dias, de Bernardo Majer, Edição: Polvo
- CoBrA - Operação Goa, de Marco Calhorda e Daniel Maia, Edição: Ala dos Livros
- O Caderno da Tangerina (edição integral), de Rita Alfaiate, Edição: Escorpião Azul
- UMBRA Nº3, de, Filipe Abranches, David Soares, Simon Roy, Pedro Moura, Ricardo Baptista e Bárbara Lopes, Edição: Umbra



MELHOR EDIÇÃO PORTUGUESA DE BD
- Umbigo do Mundo vol. 1: Alma Mãe, de Penim Loureiro e Carlos Silva, Edição: A Seita e Comic Heart
- Tu És a Mulher da Minha Vida, Ela a Mulher dos Meus Sonhos, de Pedro Brito e João Fazenda,, Edição: A Seita e Comic Heart
- Mercenário #3 - As Provas, de V. Segrelles, Edição: da Ala dos Livros
- Blacksad #1 - Algures entre as sombras, de Diaz Canales e Guarnido, Edição Ala dos Livros
- Juventude, de Marco Mendes, Edição: A Seita e Turbina Associação Cultural

-/-

Olhando para esta lista, há algumas considerações a retirar.

Se, por agora, já há duas coisas que enalteço - para além da existência da própria iniciativa com um belo prémio pecuniário - que são o anúncio com alguma antecedência dos nomeados e a passagem da "cerimónia" de entrega dos prémios dos Recreios da Amadora para o Ski Skate Park, há, no entanto, algo, menos abonatório, que merece ser dito e comentado. Não me importo de ser o único a fazê-lo, se tiver que ser.

Sabem que não tenho por norma denegrir o que os outros fazem - ou tentam fazer. Seja ao nível das obras, seja ao nível dos eventos, seja ao nível dos prémios. E, regra geral, até acredito na boa fé das pessoas. Como tal, e não obstante, é-me difícil, mais uma vez, compreender os nomeados para algumas das categorias dos PBDA.

E permitam-me que deixe uma coisa bem clara: eu não sou partidário. Não sou "amiguinho" deste ou daqueloutro. Tenho um bom relacionamento com todos os editores e com todos os autores portugueses. Todos eles são, de certa forma, meus heróis e bons para comigo. Mas não coloco relacionamentos pessoais à frente das minhas análises e escolhas de banda desenhada. Oxalá todos fossem assim. Portanto, que fique bem claro que as palavras que se seguem não resultam de uma posição partidária. Resultam de uma posição de bom senso.

Mais! Acho que nunca critiquei a justiça de um prémio que é dado. Como sempre digo, o verdadeiro prémio é a nomeação... pois é a nomeação que diz: "olha, nesta categoria, estes foram os melhores do ano". E, ao dizer isso, tem que haver algum decoro, profissionalismo e seriedade da parte de quem o diz. Caso contrário, não passamos da cepa torta. Isto é um ciclo: se uma das partes não é profissional, isso fará com que todo o ciclo não o seja. Se queremos prémios de banda desenhada feitos com profissionalismo não podemos cometer, voluntária ou involuntariamente, certo tipo de erros.

Portanto, não tendo, no ano passado, criticado os vencedores dos PBDA, repesco as minhas palavras dessa altura, quando analisei o evento, para constatar que, este ano, as escolhas dúbias e sem nexo se mantêm:

"Ora, quanto aos vencedores, não farei nenhum tipo de comentário, além de dar os parabéns aos mesmos. Posso dizer que nenhuma destas atribuições me choca particularmente e até concordo com quase todas. Não posso dizer o mesmo, porém, em relação à seleção de nomeados. Houve, desde o momento em que os nomeados foram anunciados, uma estupefacção geral (e que eu partilho) sobre a inclusão d' A Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse, nesta categoria. Ora, mesmo admitindo que o Regulamento não consegue ser claro o suficiente - e isso também é algo que devia ser revisto e melhorado - não consigo compreender, por mais que me esforce, como é que este A Vida de Adulta consegue entrar nesta categoria que procura premiar o bom trabalho de edição. (...) Errar é humano, bem sei. Mas não se compreendem as ausências de certas obras em várias nomeações. Se querem que os prémios sejam levados a sério, têm que mudar algo na próxima edição. Mesmo. Porque não aumentar o número de jurados?"

Isto para dizer que, mais uma vez, na edição deste ano não se compreendem as escolhas para nomeados às categorias Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal e, principalmente, Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português.

A sério que os jurados consideraram que Churubusco e Eu, Mentiroso são obras de banda desenhada mais relevantes e melhores do que MonstrosA Vingança do Conde SkarbekArmazém CentralO Combate Quotidiano ou A Bomba? A sério? Digo isto sem desprimor para Churubusco ou Eu, Mentiroso, que são bons livros... agora se os consideramos como nomeados a melhores, quer dizer que desconsideramos outras obras, certo?

Continuando...

A sério que os jurados consideraram que Pardalita ou Umbra #3 são obras de banda desenhada portuguesa mais relevantes e melhores do que  Dante, O Fogo Sagrado ou O Coração na Boca? A sério? Mais uma vez, digo isto sem desprimor para Pardalita ou Umbra #3, que são bons livros... agora se os consideramos como nomeados a melhores, quer dizer que desconsideramos outras obras, certo?

"Ah e tal, os gostos são subjetivos". "Sim" e "não", respondo-vos eu. De facto, há sempre uma subjetividade neste tipo de escolhas mas também há mínimos garantidos. 


Gostos são subjetivos mas se consideramos que as melhores marcas de carros do ano são a Ferrari, a Bugatti e a Dacia e, depois desconsideramos a Porsche ou a Lamborghini... algo está errado. Nada contra a Dacia mas há que haver bom senso, não? Ou se consideramos que as mulheres mais bonitas portuguesas do ano são a Sara Sampaio, a Catarina Furtado e a Maria Vieira e, depois, desconsideramos a Diana Chaves ou a Luísa Beirão... algo está errado. Nada contra a Maria Vieira mas há que haver bom senso. 


Se o resultado das escolhas fosse o resultado de uma votação de um conjunto alargado de jurados - como acontece, por exemplo, com os VINHETAS D' OURO -, poderíamos até achar que os jurados tinham maus gostos mas, pelo menos, haveria uma democratização das escolhas. Agora, nos PBDA, os jurados são - salvo erro - apenas três e só um desses jurados é que é um especialista em banda desenhada. Quando num conjunto de 3 jurados, só um é que especialista e, portanto, está em minoria, temos o perigo das escolhas serem totalmente enviesadas. Se me pedirem para ser um jurado num concurso de projetos de física quântica ou engenharia aeroespacial... é normal que eu não faça um bom trabalho. Das duas uma: ou se escolhem novos jurados na próxima edição ou se aumenta o número de jurados para termos mais representatividade e democratização nas escolhas. Já o disse o ano passado. Digo-o, mais uma vez, este ano.

Respeito e enalteço a subjetividade das escolhas mas, por favor, não ousem faltar à honestidade intelectual apoiando-se nesta questão da subjetividade porque, e volto a dizê-lo, não é bem a escolha do vencedor que me incomoda - acredito que, no final, os vencedores até sejam "legítimos" - mas sim a escolha dos nomeados. Se todos os nomeados forem muito bons... compreendo que não possam entrar todos. Agora... quando há livros que são "apenas bons" mas que tiram o lugar a livros unanimemente considerados como muito bons... fica difícil compreender a lógica de toda a iniciativa. Não brinquem comigo. Ou não brinquem com os leitores. Porque se o fazem, estão a fazer-lhes um "des-serviço".



15 comentários:

  1. Só posso falar do que li, e dos nomeados para Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal, li "Pele de homem" e a "A Vingança do Conde Skarbek". Devo admitir que o segundo é infinitamente melhor do que o primeiro. Não há sequer comparação, por mais subjetivos que sejam os gostos. Cada vinheta de "A Vingança do Conde Skarbek" é uma obra-prima, e o argumento é simplesmente genial. O facto de "A Vingança do Conde Skarbek" não estar sequer nomeado é incompreensível. "Pele de Homem" é, e podem odiar-me à vontade, uma obra que consiste numa amálgama de temas "fratutantes" e da ordem do dia explorados de forma superficial e genérica num enredo e numa narrativa que não impressionam, muito menos deslumbram, e cujo desfecho é simplesmente "underwhelming", para usar uma palavra inglesa que resume e expressa tão bem o que senti ao terminá-la.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Desde já retifico o erro das primeiras linhas do meu comentário, pois, de facto, "A Vingança do Conde Skarbek" não está nomeado para Melhor Obra Estrangeira de BD editada em Portugal. Mas as duas que mencionei foram as duas obras que li, e reitero que "A Vingança do Conde Skarbek" deveria ter sido ao menos nomeada, senão vencedora.

      Eliminar
    2. D. Dawkins, obrigado pelos comentários. Toca no ponto importante e que mencionei no meu texto. A minha estupefação nem assenta tanto em quem ganhará o prémio. Se A Vingança do Conde Skarbek merecia ganhar o prémio? Talvez. Se outras obras também o merecem? Também. Agora... o facto de não estar, sequer, nomeada - essa e outras - é que me deixa mesmo incrédulo.

      Eliminar
  2. A Vingança do Conde Skarbek é sinceramente do melhor que por cá já se editou. A não consideração para sequer figurar nos eleitos para um prémio diz tudo sobre os amadores da Amadora. Por isso não ligo nenhuma a esse prémio. Melhor os teus prémios que os da Amadora. Pelo menos mais justos ;)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelas palavras, caro Nuno. Não se compreendem estas escolhas, sinceramente. :/

      Eliminar
  3. Quando vi os nomeados, pensei o mesmo. Não fui tão eloquente nos meus pensamentos, no entanto. Há nomeações que não dão para entender por qualquer perspectiva que se tente...sai tudo ao lado.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo comentário, Olga. Sim, é mesmo como diz: "Há nomeações que não dão para entender por qualquer perspectiva que se tente...sai tudo ao lado." :/

      Eliminar
  4. Já agora, é óbvio que na lista de melhores, é chocante o Monstros não estar, a Vingança não li.

    Este ano as editoras estiveram de parabés e editaram grandes livros, como o Monstros, a Pele de Homem, o Relatório.

    E já agora, melhor edição? Há uma melhor edição que a do Relatório? E a do Monstros?

    ResponderEliminar
  5. Obrigado pelo comentário, Fernando. Sim, é como dizes. A questão do Caderno da Tangerina é impensável, também. Concordo que ninguém faz por mal... aliás, acredito na boa vontade das pessoas. Mas, caramba, acho que a organização tem que melhorar os seus procedimentos. Escolher melhor o júri, alargar o número de jurados... enfim, algo que funcione. Quanto à questão das comparações... foi apenas ilustrativo. Mencionei mulheres unanimemente consideradas como belas. Nem quer dizer que sejam os meus gostos.

    ResponderEliminar
  6. Estava a brincar em relação às mulheres. Mas é o que digo, a subjectividade dos prémios é algo que nunca se poderá controlar e é algo que o Amadora BD normalmente faz mal. Ou os livros melhores são livros que toda a gente leu (como os do Filipe Melo por ex.), ou ficamos com estas situações.

    No entanto, a título pessoal acho que ainda podem ganhar os que mais gostei do ano, o que não deixa de ser curioso.

    ResponderEliminar
  7. FYI o filme "2001: A Space Odyssey" nem shortlist para Oscar foi. Isto para dizer que o assunto não é novidade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois. Ou o Ennio Morricone só ganhou um oscar com o The Hateful Eight em 2016. Já tinha ganhado aquele oscar honorário em 2007 onde claramente a Academia se tentou "limpar". Os prémios valem o que valem, bem sei. E, volto a dizer, não é bem quem vence que me enerva. Tem que cair para um lado, eu compreendo. O que me enerva é que entre os nomeados persistam obras ok e algumas obras unanimemente consideradas muito boas... nem aparecem. Mas é o que temos.

      Eliminar
  8. Sim, eu acho que os vencedores se calhar até serão "legítimos", se é que posso usar essa palavra. Os nomeados é que não.

    ResponderEliminar