Estive no Amadora BD, durante a inauguração e o primeiro fim de semana, e acho que, mesmo estando o evento ainda a decorrer, enquanto escrevo estas palavras, já é possível opinar sobre o mesmo. Faço aqui o meu apanhado geral sobre aquele que ainda é o maior evento dedicado à banda desenhada em Portugal.
Há um novo espaço e uma nova equipa na organização. A nova direção já organizou o festival em formato digital no ano passado e, agora, pela primeira vez, preparou um evento presencial. Portanto, por estes dois motivos, o novo local e a nova direção, considero este o "ano zero" do Amadora BD. E, por "ano zero", quero dizer que estamos num período de novidade, de transição. E há que ver, desde o início, se estamos a caminhar para o sítio certo ou não. E acho, honestamente, que estamos a caminhar para um bom porto. A nova equipa é jovial, acessível e parece-me ter vontade de fazer mais e melhor. Além de que - e isso talvez seja o melhor elogio que posso fazer à nova direção - esta nova equipa não parece ser teimosa e obtusa mas, antes, está de olhos e ouvidos abertos para saber o que não está tão bem para, depois, poder corrigir. A questão do problema das senhas nos autógrafos de sábado, é apenas um exemplo da disponibilidade da direção para melhorar o que não está bem, como falarei mais abaixo.
Portanto, e repetindo que considero este o "ano zero" do evento, estou bastante satisfeito com a globalidade do novo Amadora BD. Há algumas coisas menos positivas, em que estou a tentar ser um pouco mais benevolente. Não é sê-lo só porque sim. É sê-lo porque quando mudamos algo nas nossas vidas, também é natural que existam, depois, certas coisas a limar melhor. E deve haver, na minha opinião, alguma benevolência em relação aos primeiros passos. Geralmente, algo cambaleantes.
Portanto, mais abaixo, dou-vos a conhecer a minha opinião sobre o Amadora BD nos seus mais diversos vetores. Tento também, além disso, sugerir alternativas/ideias/dicas em relação àquilo que, em edições futuras, poderia ser melhor. As críticas são construtivas, naturalmente. Não o sei fazer de outro modo.
Sobre a nova localização do eventoSim, isto é aquilo que salta mais à vista de todos. Depois de largos anos a vermos o Amadora BD a ocorrer no Fórum Luís de Camões, este ano decidiu-se que o festival de BD passaria a ser no antigo Ski Skate Parque, situado algures entre a Damaia e a Amadora.
Posso dizer que, de um modo geral, a mudança foi para melhor. Os acessos de carro são bastante fáceis (logo à saída do IC-19) e o estacionamento também é bem mais fácil do que no antigo espaço.
Em termos de transporte público, chegar ao Amadora BD não é tão simples como ir por transporte próprio, embora a organização tenha disponibilizado autocarros que saem a partir da estação de comboios da Reboleira. Coisa que aplaudo.
Acho que, em termos da nova localização, estamos bastante bem. Foi para melhor!
Sobre o espaço do Ski Skate ParqueO espaço divide-se agora em dois pavilhões: um pavilhão "fixo", que já lá estava, que é dedicado às exposições de banda desenhada, e um pavilhão móvel - uma grande tenda - onde podemos encontrar o auditório; um espaço para as sessões de autógrafos; e o espaço comercial.
Sobre o Pavilhão de ExposiçõesQuanto ao espaço das exposições, acho que a opinião unânime será que houve uma extrema e fantástica melhoria nesta edição. Ao contrário das edições anteriores, onde as exposições eram feitas num parque de estacionamento(!) sombrio e sem luz natural, este ano as exposições receberam o destaque e respeito que merecem. Se queremos que a banda desenhada seja tratada como uma forma de arte respeitável, também temos, todos nós, que começar por dar o exemplo. E foi isso que a Organização do Amadora BD fez, e muito bem. Este novo pavilhão comporta as 10 exposições e é um espaço bastante agradável. Ficamos com a ideia que estamos dentro de um museu dedicado à 9ª arte e não num mísero parque de estacionamento propenso à prática de atividades ilícitas.
Falando deste novo espaço de exposição, tenho apenas uma pequena observação menos positiva a fazer: acho que cada uma das salas deveria ter uma saída/entrada que daria para o corredor central para, desta forma, se ter uma melhor circulação. Assim, como está, parece um circuito Ikea: entramos na sala da Comic Heart e quase só conseguimos sair através da sala de Verões Felizes. Nada contra esse circuito implícito. Até gosto de seguir o percurso previamente pensado. Mas também é bom - e até por uma questão de segurança, em caso de evacuação - que cada sala da exposição permita facilmente o acesso ao corredor central. Não é nada de "grave" mas é um pormenor que pode ser melhorado.
Falando, agora, das exposições, concretamente, posso dizer que, de um modo geral, estavam todas bem conseguidas. Naturalmente, umas mais inspiradas, e onde o detalhe era maior, do que noutras, mas não posso dizer que tenha sentido que havia uma exposição manifestamente má. Todas tinham coisas interessantes. Destaco as minhas preferidas que foram as exposições Lucky Luke, Verões Velizes, O Corvo e Mulher Maravilha.
Sobre as exposições, assinale-se ainda que decorrem, à margem do evento no Ski Skate Parque, 3 outras exposições: uma, dedicada à obra Desvio, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho, na Bedeteca da Amadora, e outras duas, dedicadas aos autores Jorge Miguel e a Marcello Quintanilha, no Auditório Artur Bual. Percebo a ideia da organização de tentar que se respire banda desenhada em vários pontos diversos da cidade e não apenas num só espaço. E também aplaudo o facto de se ter disponibilizado transporte gratuito entre estes 3 lugares. Mas, sinceramente, acho este um esforço inglório, sem grandes proveitos na prática, e que acaba por ser uma maneira de gastar energias e recursos, sem grande vantagem porque tenho sempre a sensação que 95% dos visitantes do certame (para não dizer 100%) não visita (e, por ventura, nem sabe que existem) estes espaços adicionais.
Nem de propósito: enquanto escrevo estas palavras, neste exato momento, recebi uma mensagem de um leitor que diz que, este ano, quer, pela primeira vez, ir ao Amadora BD porque adora a nova banda desenhada Umbigo do Mundo, de Penim Loureiro e Carlos Silva, mas está confuso com a questão dos 3 espaços de exposição. Ora, penso que, tendo em conta a dimensão do nosso mercado, faz mais sentido concentrar tudo num só espaço. Menos trabalho em simultâneo para a organização e menos confusão para o público. E mesmo que a Câmara queira utilizar o Auditório Artur Bual e a Bedeteca para a promoção da banda desenhada poderá - e deverá - fazê-lo fora do calendário do Amadora BD, promovendo exposições de bd ao longo do ano nesses espaços. Fica a sugestão.
Sobre o Pavilhão do Auditório, Autógrafos e Espaço ComercialNo segundo pavilhão do Ski Skate Parque foi montada uma tenda que engloba todos estes espaços: o auditório, a zona de autógrafos e as lojas de bd.
Antes de tudo, compreendo e defendo que estas três vertentes devam coexistir no mesmo espaço. Porque, se separássemos o auditório da área comercial e da área dos autógrafos, teríamos, certamente, a plateia do auditório muito vazia em várias ocasiões. A organização decidiu então manter estas 3 áreas num só espaço e considero que foi uma boa ideia. O pavilhão tem uma parede com um "balcão" onde temos os autores a autografar e as outras 3 paredes são ocupadas por lojas de bd. No centro, em formato de ilha oval, temos um pequeno auditório com a capacidade para 20/30 cadeiras. É verdade que, por vezes, o ruído do espaço era um pouco mais elevado do que o esperado, complicando a possibilidade de ouvir aquilo que os autores, que estavam em palco, iam dizendo mas, entre ter um auditório barulhento que, desta forma, pelo menos, consegue captar muito mais gente do que aquela que captaria caso estivesse num local à parte, ou ter um auditório mais sereno, em que se ouve tudo muito bem, mas está "às moscas", prefiro a primeira opção. Aquela que a organização tomou. E bem. Talvez se possa melhorar as condições de som e colocação de colunas na próxima edição mas gostei.
Em relação às lojas, há uma boa seleção de livros com praticamente todos os títulos lançados em Portugal a marcarem presença, bem como algumas edições mais independentes ou de origem espanhola, francesa e inglesa. Não falta nada!
O que falta é algum espaço. Nas alturas em que havia mais gente neste pavilhão, a circulação ficava muito congestionada e as lojas ficavam facilmente cheias o que levou, certamente, a que vários stands tivessem perdido a oportunidade de fazer mais vendas a potenciais interessados. Sei de muita gente que optou por nem sequer comprar nada devido à enchente.
Sei que as limitações do espaço eram algumas - já lá irei - mas acho que seria benéfico se os stands fossem um pouco maiores. Como fazê-lo? Aumentando o tamanho da tenda.
Faço também uma outra sugestão, desta vez, aos editores/lojas: parecem-me muito mais viáveis - e com melhores possibilidades comerciais - os stands que optaram por estar configurados de forma a que o público possa entrar dentro do stand. Espaços como os da Kingpin, da Dr. Kartoon, da ASA, da Comic Heart (são os maiores, eu sei) mas também o da Arte de Autor ou o da Polvo, ao permitirem que as pessoas entrem dentro do espaço, fazem com que as mesmas possam mexer nos livros. Isso é bom para a) os interessados, que assim podem folhear os livros e, possivelmente, acabar por comprar mais títulos e, naturalmente, b) para as próprias lojas/editoras que vêm as suas probabilidades de fazer negócio a aumentarem. Falando por mim, enquanto consumidor, há probabilidades muito superiores de eu comprar um livro de bd, caso o possa manusear e folhear. Houve outras lojas/editoras, como a Ala dos Livros, a Devir, a Escorpião Azul, a Cult, e mais umas quantas, que optaram por ter uma "montra"/balcão" que mostrava muitos livros, é certo, mas que não permitia, com facilidade, a entrada dos visitantes no seu espaço comercial. São opções, naturalmente, mas acredito que será benéfico para todos que o espaço permita a entrada dos interessados. Não obstante, e apesar de eu ter formação superior em gestão de marketing e especialização em publicidade, reconheço que os editores/lojas saberão mais da sua poda do que eu. Portanto, no fim de contas, a escolha é deles e não minha.
Por fim, neste pavilhão, existe o "balcão" reservado aos autógrafos. Ainda que eu tenha saído do evento no sábado à tarde, por volta das 15h30, antes de se gerar mais confusão, foi-me dito depois que no sábado houve bastante caos e desorganização relativamente à gestão dos autógrafos.
E aqui tenho que dar uma palavra de apreço à organização que teve o bom senso de ouvir os editores e demais intervenientes sobre como deveria alterar a situação no dia seguinte. E, sem surpresas, diga-se, no domingo a questão dos autógrafos decorreu com muito mais rigor e serenidade. Há um sistema de senhas - que me parece justo - que procura não sobrecarregar em demasia nenhum dos autores. Há alguma confusão, sim, mas parece-me ser esta a forma correta de fazer isto. Não será perfeito mas é, parece-me, o melhor possível. Bem jogado, organização.
A única coisa que me parece que deve ser revista nesta tenda é tentar, na próxima edição, aumentá-la, em área, até aos limites físicos possíveis. Não sei se o terreno tem forma de ter ali uma tenda um pouco maior (mas acho que sim) ou que custos adicionais isso acarretará para a organização. Mas, mesmo que sejam apenas alguns metros a mais, poderão fazer a diferença entre ter um espaço mais airoso, em que se circula melhor, em que as filas para os autógrafos não deixam o espaço tão congestionado e em que os stands possam ter mais espaço para colocarem os seus livros à venda. Exemplo concreto: se, no próximo ano, abdicassem daquele deck/varanda atrás da zona de autógrafos que, sempre que lá fui, estava deserto, poderiam ter alguns metros adicionais a mais para o espaço indoor da tenda.
Ah, e já agora, dupliquem ou tripliquem o número de casas de banho.
Sobre os autoresAcho que a programação deste ano me parece bem conseguida. Esta edição conta com nomes relevantes da banda desenhada internacional como Achdé (Lucky Luke), Marcello Quintanilha, Juanjo Guarnido (Blacksad), Philippe Thirault (Shanghai Dream), Mawil (Lucky Luke), Georges Bess (Drácula, O Lama Branco, Juan Solo), Lucio Oliveira (Edibar), Frank Pé (A Fera), Alain Ayrolles (O Burlão nas Índias), Marc Bourgne e Benjamin Benéteau (Michel Vaillant), entre outros. E mais um bom número de autores portugueses relevantes como Luís Louro, Jorge Miguel, Derradé, Penim Loureiro, Pedro Brito, João Fazenda, Osvaldo Medina, André Oliveira, Paulo Monteiro, entre muitos outros.
Se calhar já houve anos com um conjunto de nomes mais célebres mas acho que não podemos ser injustos dizendo que, neste cômputo, este foi um mau ano. Porque não o foi. Bom trabalho, intervenientes.
Sobre os prémios PGDA
Caso ainda não saibam, os vencedores dos PBDA (Prémios Nacionais de Banda Desenhada da Amadora) foram:
- Melhor Obra de BD de autor português: Balada para Sophie, de Filipe Melo e Juan Cavia
- Melhor Obra Estrangeira de BD: O Burlão nas Índias, de Ayroles e Guarnido
- Melhor fanzine/publicação independente: Bestiário de Isa, de Joana Afonso
- Prémio Revelação: Planeta Psicose, de Ricardo Santo
- Melhor Edição portuguesa de BD: Procura-se Lucky Luke, de Matthieu Bonhomme, pela editora A Seita
Ora, quanto aos vencedores, não farei nenhum tipo de comentário, além de dar os parabéns aos mesmos. Posso dizer que nenhuma destas atribuições me choca particularmente e até concordo com quase todas. Não posso dizer o mesmo, porém, em relação à seleção de nomeados. Houve, desde o momento em que os nomeados foram anunciados, uma estupefacção geral (e que eu partilho) sobre a inclusão d'
A Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse, nesta categoria. Ora, mesmo admitindo que o Regulamento não consegue ser claro o suficiente - e isso também é algo que devia ser revisto e melhorado - não consigo compreender, por mais que me esforce, como é que este
A Vida de Adulta consegue entrar nesta categoria que procura premiar o bom trabalho de edição. É uma obra interessante, que até teve um parecer positivo da minha parte quando lhe fiz uma
análise, relembro. No entanto, não traz consigo nada de assinável
relativamente à qualidade da edição. Mais! Consigo pensar em 10 ou 20 obras com um trabalho de edição superior ao deste livro. Soube também que a obra
Bottoms Up tinha sido incluída, por erro, na categoria de
fanzine. Errar é humano, bem sei. Mas não se compreendem as ausências de certas obras em várias nomeações. Se querem que os prémios sejam levados a sério, têm que mudar algo na próxima edição. Mesmo. Porque não aumentar o número de jurados?
Não obstante o que já referi, há algo de extrema importância, e que é totalmente positivo, que também tem que ser referido. Pela primeira vez, há um prémio monetário (de 5.000€!) para a categoria Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português. Penso que isto merece bastante destaque pois permite um apoio direto (e generoso) aos autores vencedores.
Acho que seria positivo que outras categorias - especialmente as de obra revelação e as de fanzine - obtivessem, também, algum tipo de prémio, mesmo que fossem prémios com valores mais baixos. Mas, lá está, é melhor esta iniciativa do que aquilo que tínhamos no passado - que era zero! - e, nesse sentido, acho que foi a grande surpresa positiva dos prémios desta edição. Não sei quem se mexeu para que isto acontecesse mas acho que foi uma excelente ação e merece mil vénias por tal.
Sobre a "cerimónia" dos prémios
Se houve uma iniciativa que foi, claramente, o "patinho feio" deste Amadora BD, foi a "cerimónia" (sim, tenho que usar aspas na palavra "cerimónia") de atribuição dos prémios. Embora eu tenha ido a mais de 20 edições do Amadora BD ao longo dos anos, esta foi a primeira vez em que assisti a esta "cerimónia". Algumas das pessoas com quem falei - e que sabem mais do assunto do que eu - disseram-me que esta "cerimónia" era sempre algo fraquinho. Mas "fraquinho" é dizer pouco. Um understatement. Eu senti vergonha alheia enquanto ali estive.
Esta "cerimónia" decorre no auditório dos Recreios da Amadora. Mais uma acontecimento à margem do Ski Skate Parque. O que faz, naturalmente (obviamente! expetavelmente! indubitavelmente!) com que o auditório esteja vazio para assistir a esta "cerimónia", que devia ser um dos pontos altos do evento. Acho que é fácil de compreender que não faz qualquer sentido ter-se o Ski Skate Parque no seu horário nobre, a um domingo, cheio de gente, com apresentações a acontecerem, e promover-se, à mesma hora, num outro lugar, que pressupõe a utilização de um transporte, uma "cerimónia" de entrega de prémios. Seria o mesmo se a SIC transmitisse os seus Globos de Ouro na mesma altura em que decorria a cerimónia dos Oscars. Incompreensível por mais compreensivo que eu tente ser.
Mas não ficamos por aqui! As poucas pessoas que estavam na sala para assistir a esta "cerimónia" eram alguns dos editores nomeados (mas não todos) e alguns dos autores nomeados (mas não todos). Julgo que não havia nenhum elemento da imprensa ou algum blogger, à exceção da minha pessoa. A culpa é dos ausentes? Claro que não! Não se pode cantar e assobiar ao mesmo tempo! Já muito glório foi, a meu ver, o esforço dos presentes que lá foram.
O apresentador da "cerimónia", coitado, entre vários erros que deu (nomeadamente em nomes mal pronunciados ou em troca de autores de obras) lá repetia as mesmas piadas secas sobre o facto da sala estar vazia, sublinhando, ainda mais, o momento constrangedor. O próprio vereador andava ali para a frente e para trás sem muita noção do que estava ali a fazer. Mas há mais! O autor vencedor do concurso de BD não estava presente quando o seu nome foi anunciado porque estava a trabalhar... (imagine-se!) no Ski Skate Parque! A culpa não é do rapaz. É da organização. Só pode ser. Não faz qualquer sentido organizar esta "cerimónia" de uma forma tão pouco profissional, que em nada dignifica a banda desenhada ou o Município. Se é para isto, mais vale anunciar os vencedores dos prémios através de uma nota de imprensa e não fazer qualquer "cerimónia"! Senti-me num filme dos Monty Python ou num sketch dos Gato Fedorento. Parte de mim queria rebentar em risos enquanto a outra parte estava em estado de choque. Acredito que a associação de estudantes de uma escola preparatória organize melhores "cerimónias" do que esta.
Acho que a ideia é boa mas tem mesmo que ser alterada. Como não me considero uma daquelas pessoas que só sabe apontar o dedo, deixo algumas sugestões que, mesmo sendo, acho eu, de common sense, talvez tenham escapado à organização:
Em primeiro lugar, esta cerimónia não pode acontecer durante a tarde de um domingo!!! Não pode, não funciona, esqueçam! Se a Organização quer manter o espaço do auditório, que é simpático, admito, tem forçosamente de organizar este evento numa outra altura. Quando? É muito fácil. Um dia antes do arranque oficial do festival. Em vez de se fazer aquele tri-evento de inauguração às 18h no Auditório Artur Bual, seguido de um evento às 19h, com jantar, na Bedeteca, e o evento de inauguração no Ski Skate Parque às 21h, porque não fazer, na véspera da inauguração do Ski Skate Parque, um evento direcionado a um público profissional? E em que a parte da Inauguração do Ski Skate Parque era substituída pela cerimónia de prémios?
Eu explico melhor: fazia-se à mesma o evento de inauguração do Ski Skate Parque - que, já agora merece um comentário positivo meu, por todo o espetáculo que os Custom Circus deram, embora nada tivesse a ver com banda desenhada - mas, em vez de ser na quinta-feira, às 21h, como foi, era na sexta-feira à mesma hora. E, na quinta-feira, os convidados do evento eram profissionais e não público em geral (falo de expositores, autores, bloggers, comunicação social, etc). A presença da Presidente da Câmara Municipal da Amadora e, até mesmo (porque não?) da Ministra da Cultura ou do Secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media seria relevante. Até mesmo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que é conhecido por dizer "sim" a muitos eventos culturais, poderia ter estado neste evento. Será que a organização o convidou, sequer? É que se queremos que a televisão, a rádio, os sites falem do evento também é bom que a organização saiba (como) cativá-los.
Assim, voltando à minha sugestão, nessa dia reservado ao público profissional, para além das inaugurações das exposições do Auditório Bual e da Bedeteca, organizar-se-ia, de forma decente, uma cerimónia de prémios em que já estariam presentes todos os players que importam do sector. O próprio jantar volante até poderia ser no piso de cima do auditório dos Recreios da Amadora, em vez de ser naquele espaço ao lado da Bedeteca. Estarei a ter alucinações ou isto é uma coisa relativamente simples de fazer, que até nem traz custos acrescidos e que daria a esta "cerimónia" o peso e o valor que a mesma merece? Por favor, organização, se alguém me está a ler, mudem alguma coisa em 2022 relativamente à "cerimónia". Invistam algum tempo e planeamento e façam com que a "cerimónia" perca as aspas e se torne na iniciativa que merece ser. É possível e faz falta. Mas façam-no em condições. Não sei se Juanjo Guarnido, um autor consagrado, já alguma vez esteve numa "cerimónia" de prémios mais deprimente do que esta... mas custa-me a crer que sim.
Dois pontos positivos: gostei do trio de jazz que deu à "cerimónia" alguns momentos musicais interessantes e a sala também é acolhedora. Pouco mais de positivo há a dizer desta iniciativa, desculpem a sinceridade.
Sobre o site
Sim, eu sei que as informações relativamente às exposições, ao programa, aos convidados e aos workshops só começaram a ser carregadas para o site mais em cima da hora do evento e isto é algo patológico na organização do Amadora BD que pode e deve ser alterado para melhor.
A organização deste evento precisa de saber que quanto mais depressa conseguir anunciar e publicar o evento, bem como os autores presentes e o respetivo programa, mais potenciais interessados conseguirá atingir e, consequentemente, terá mais visitantes no evento.
De qualquer maneira, tenho que dizer que, possivelmente, este é o melhor website de que me lembro do Amadora BD. Está simples, apelativo, intuitivo, de fácil utilização e consegue reunir a informação que interessa, de forma bastante clara. Por favor, repliquem este site em edições futuras. Está ótimo!
Uma última nota
Este ano o Amadora BD tem sido anunciado como um evento que decorre no Ski Skate Parque da Amadora. E isso faz, certamente, sentido porque era para isso - para o ski(!) e para o skate - que o espaço foi originalmente concebido. E tendo em conta que é a primeira vez que o Amadora BD ali se desenrola, faz sentido que se comunique que o evento decorre no Ski Skate Parque.
No entanto, surgiu-me uma ideia que, julgo, fará todo o sentido. Acho que era positivo se a partir de agora, o espaço fosse rebatizado como BD Parque de Amadora (ou outra coisa qualquer, que remeta para a BD), em detrimento de Ski Skate Parque. É que, se já não se faz ali ski, nem skate, e se o espaço é utilizado para o Amadora BD, é isto que faz sentido, certo? Desde que esta ideia me surgiu, já a partilhei com várias pessoas que prontamente concordaram comigo. Partilho-a aqui para, depois, mais tarde, quem sabe, poder dizer: "Vêem, fui eu o primeiro a falar nisto!". Eheheh. Piadolas à parte, acho que faz todo o sentido.
Por fim, e o meu texto já vai longo, gostaria de dar os parabéns à nova direção do evento que demonstra a predisposição para ouvir sugestões e melhorar o seu trabalho. Como "ano zero", acho que podem estar orgulhosos do seu trabalho. Há coisas a melhorar (especialmente a "cerimónia" dos prémios) mas acho que, de forma global, este é um evento bem conseguido.
Quem ainda não foi lá, tem até ao dia 1 de Novembro para o fazer. E olhem que, para quem gosta de banda desenhada, é mais que obrigatório!
Li com a máxima atenção a sua apreciação e gostei muito. Sou do tempo da primeira iniciativa sobre BD que está na origem do Festival. Visitei todos. Quanto à entrega dos prémios tem toda a razão. Foi uma pena. Assisti a muitas cerimónias, com casa cheia, sem lugar para mais, com muito bons espetáculos pelo meio. Muito bons mesmo. No fim havia jantar volante no piso superior, onde os autores convidados estavam presentes. Era sempre para o fim do Festival. Nos últimos anos tudo se modificou. A sua ideia de ser no princípio é ótima. Parabéns pelo seu texto.
ResponderEliminarCara Maria Pinto. Muito obrigado pelas suas palavras e pelo seu testemunho.
Eliminar👏👏👏👏👏
ResponderEliminarUm abraço, Diogo.
EliminarFui sem grandes expectativas visitar o "novo" espaço da Amadora BD. Infelizmente confirma-se o espaço "provisório" acanhado, com poucas condições, as exposições sem brilho e a exiguidade da zona comercial / debate / autores. Muito pobre, muito pouco para uma evento com mais de 30 anos de existência - um pouco mais de ambição, precisa-se!
ResponderEliminarCaro António. Não fiquei com um sentimento tão pessimista, assim. Concordo que a zona comercial/autores/autógrafos deve ser aumentada, como referi no texto. E sim, ambição é algo que, a meu ver, deve estar sempre incluído no pensamento da organização.
EliminarConcordo com a maior parte do que foi dito, acrescento/discordo no seguinte:
ResponderEliminar- concordo que o espaço das entrevistas seja no mesmo espaço dos autografos e editores mas discordo em absoluto que seja nos moldes em que estava este ano. Por um lado, quem estava a tentar ouvir tinha de por vezes fazer um esforço sobrehumano para perceber o que se estava a dizer, por outro, foi ocasionalmente visivel alguma dificuldade de articular pensamento pelo ruído á volta, e por fim, quando havia alguém que falava perto do micro, ou quando aumentaram o volume durante a entrevista ao José Ruy, era insuportável, ao ponto do Mawil que me estava a assinar um autógrafo se ter queixado, o que foi normal já que eu e outros que estavamos ali tinhamos comentado o mesmo. Sendo boa ideia ser no mesmo espaço, deveria ser recolocado junto a um dos lados e mais resguardado.
- Outra nota em relacao a disposição do espaço, é o facto dos autores estarem a assinar durante horas a levar com o sol nas costas. A luz natural é uma boa ideia, mas talvez se pudesse tapar a parte tranparente da tenda até meio para evitar esta situação. A partir de certa altura foram colocados alguns guarda-sol (sóis?) que minoraram o problema (ou talvez já lá estavam mas com o sol mais alto nao fizeram efeito até mais tarde).
-A questão das senhas foi um caos no sabado - não estive no domingo, ainda bem que corrigiram - e a rapaziada da organizacao nao teve autoridade para corrigir o problema. Tinha a senha 26 para o Guarnido e com "Pode sair da fila" "é melhor ficar na fila" acabei por estar mais de 2 horas na fila e por pouco não tinha o livro assinado. As senhas sao uma boa solucao, só complementar que se tivessem um sistema daqueles monitores com o numero de senha era perfeito.
Caro Meco73. Obrigado pela partilha da sua opinião, com reparos muito úteis.
Eliminar- De facto, também senti essa dificuldade no auditório em alguns momentos de "barulheira". A ideia de colocar o auditório num dos lados pode fazer sentido, sim. Embora isso acarrete um redesenho da planta do pavilhão que pode, depois, trazer outros problemas.
- Quanto à questão dos autores estarem a assinar horas ao sol, compreendo que não seja muito agradável mas também há que ter em conta que o bom tempo que se fez sentir não é muito normal e comum para a altura do ano em que o Amadora BD acontece. A luz natural é uma coisa muito boa - até para os autores que assim podem desenhar com uma boa luz - e não sei como se poderia alterar esta situação.
- Pois, de facto, sei que no sábado a questão dos autógrafos esteve um bocado "mal-parada". Mas parece-me que, dentro do possível, foram feitas correções logo no domingo. Vamos ver como corre no próximo fim de semana.
Viva,
ResponderEliminarSendo o meu primeiro comentário aqui, começo por dar os parabéns pelo blogue. Não só pela apresentação apelativa e pelos conteúdos informativos, mas, sobretudo, pela postura construtiva de quem está, verdadeiramente, a ser útil a quem lê.
Sobre o Amadora BD, estive no sábado, e concordo com a grande maioria do que se refere na análise e comentários. Há, sem dúvida (e sempre) muito a melhorar, mas pareceu-me uma boa estratégia começar com nomes “seguros”, de grande público. A partir daqui, haverá tempo e oportunidade para avaliar e melhorar: o Festival deve saber dar melhor resposta às sessões de autógrafos de autores que atraem multidões, às apresentações que as pessoas querem mesmo ouvir, etc. Haverá, certamente, melhorias nas próximas edições. O novo espaço é agradável e tem potencial.
Nos aspetos negativos, lamento que este “ano zero” seja tão “apagão” do que a Amadora, ao longo de mais de 30 anos, vinha construindo: desapareceu uma aposta mais forte e diferenciadora na cenografia das exposições, desapareceram as exposições com verdadeiro sentido (e circuito) expositivo, etc. Naquilo que me impressiona mais pela negativa, desapareceu a memória das edições anteriores: quando na página do Facebook do Festival, se diz “O Amadora BD recebe este ano pela primeira vez uma exposição exclusivamente dedicada ao Manga” ignora-se que o Festival promoveu uma exposição exclusivamente dedicada ao manga em 1996 (com – pela primeira vez – a presença de autores japoneses no evento). E quando se diz “Marcello Quintanilha marca a sua primeira presença no Amadora BD com a apresentação de ‘Escuta, formosa Márcia’”, é porque já nem há memória dos anos mais recentes... Penso que esta recuperação de memória também é um aspeto a melhorar.
Abraços,
Pedro Mota
Obrigado pelas simpáticas palavras, caro Pedro. Não tinha dado conta dessa ruptura com o passado, por parte da Organização mas, de facto, é algo a lamentar. Essa tal "recuperação de memória" precisa mesmo de saber melhorada, concordo. Um abraço
EliminarSem dúvida que a principal lição que o festival deve retirar deste ano é a forma como desaproveitou a sexta feira. Organizar os prémios nessa noite, já com autores e aberto ao público é uma excelente ideia. Uma das razões pela qual a vinda do Guarnido correu mal foi terem-no levado sexta feira à tarde para estar sozinho no parque das roulotes do festival ao frio… Tudo porque este tempo não foi articulado com a organização, ninguém anunciou que ele estaria presente. Claro que depois ele ficou chateado.
ResponderEliminarTenho ouvido várias pessoas a dizerem que o Guarnido estava insatisfeito ou desagradado mas a verdade é que no domingo tive a oportunidade de estar com ele, para uma entrevista, durante mais de 1h, e pareceu-me muito feliz por estar cá.
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