terça-feira, 19 de outubro de 2021

Entrevista a Lucio Oliveira - "A ideia de criar Edibar, surgiu depois que presenciei um bêbado entrando no meio de uma missa para acender o cigarro na vela do altar"




Há uns dias publiquei uma interessante entrevista com o autor brasileiro Marcello Quintanilha. E, durante os próximos tempos, continuarei a publicar entrevistas com alguns dos autores que terão novos livros publicados por cá nos próximos tempos, aproveitando o hype que o Amadora BD sempre gera.

Um desses autores é Lucio Oliveira, autor do mirabolante Edibar, cujo segundo volume até já tive oportunidade de analisar há uns meses. O autor verá os volumes 3, 4 e 5 de Edibar, publicados pela editora Polvo. Três livros de uma só vez é obra e dou os parabéns à editora e ao autor pela aposta!

Estou muito contente com esta notícia pois gosto muito desta série!

O autor estará presente nos dois fins de semana do Festival da Amadora. A sessão de apresentação Edibar / Novidades acontecerá no dia 24, às 15h00, e as sessões de autógrafos serão nos dias 23, 24, 30, 31/10 e 01/11 das 16 às 19h00.

Por agora, fiquem com esta interessantíssima conversa que tive a oportunidade de ter com o simpatiquíssimo autor.


Entrevista



1. Sentes que Edibar, juntamente com a tua pessoa, enquanto autor, recebem de Portugal uma dose especial de carinho? Como é essa tua relação com o povo português e como sentes a aceitação da tua obra por parte dos portugueses?
Pisámos em terras portuguesas pela primeira vez em 2016, no Festival de Banda Desenhada de Beja. A organização dirigida pelo competentíssimo Paulo Monteiro, recebeu-nos com muito carinho, presenteando-nos com uma linda exposição dedicada ao personagem. Para nossa surpresa, muitos portugueses que compareceram ao evento já tinham intimidade com o personagem Edibar, coisa que presenciámos nos relatos de cada um dos fãs nas sessões de autógrafos. Monteiro ainda destinou o Festival de Beja em homenagem aos nossos três filhos, que ficaram no Brasil recebendo notícias de nossa viagem pela internet. Como não amar um país tão receptivo e carinhoso?

2. E como tem sido a relação com a editora Polvo?
A Editora Polvo recebeu Edibar com os oito braços abertos. Trabalhar com o editor Rui Brito tem sido muito importante para o nosso trabalho. Seu compromisso, dedicação e profissionalismo fizeram o personagem ganhar mais notoriedade para o mundo dos quadrinhos, coisa que infelizmente não acontece no Brasil. Os dois primeiros livros da coletânea “Edibar”, lançados pela Polvo em 2019, trouxeram ainda mais fãs para o lançamento no Festival Internacional de BD da Amadora. Sucesso de vendas nas livrarias portuguesas, “Edibar” (vol. 1) ganhou o prémio de “Melhor Publicação de Humor”, no XVII Troféus Central Comics 2020. Nossa relação com a Polvo está consolidada.


3. Considero-me um verdadeiro fã de Edibar. Não só pelo humor, que facilmente consegue causar-me boas doses de gargalhadas, mas, também, por considerar que Edibar é uma personagem com um humor verdadeiramente livre. Numa altura em que o “politicamente correto” tem, cada vez mais, uma expressão forte na nossa sociedade, consideras que é importante fazer-se humor sem filtro?
Infelizmente o politicamente correto anda ao derredor, bramando como um leão, procurando alguém para devorar. Acho que na hora do intervalo desse leão, ele pega um livro de Edibar para ler e dá boas gargalhadas para fugir do estresse.

4. E, com base nisso, tens sentido que Edibar enfrenta várias críticas negativas por ser tão machista e egocêntrico ou, pelo contrário, até achas que Edibar é uma lufada de ar fresco num mundo cada vez mais cinzento? Há quem não goste de Edibar?
Por incrível que possa parecer, com quinze anos de estrada, Edibar conseguiu ganhar a antipatia de três sogras, alguns cartunistas e uma ex-amiga. Estes tentaram rotulá-lo como um personagem machista. Como chamar o Edibar de machista se ele só apanha da mulher? Acabam jogando as críticas ao vento, apagadas pelas gargalhadas de milhares de fãs.


5. Edibar faz-te rir também a ti? Ou sendo tu o seu criador tens uma postura mais séria e auto-crítica perante o resultado do teu trabalho?
Para conseguir filtrar uma tira depois de pronta, analiso o trabalho com a perspectiva de um fã, e não de um cartunista. Se ela me fizer rir, faço a postagem nas redes sociais e envio para os jornais que tenho parceria no Brasil. Uma tira que não me faz rir, vai para o lixo.

6. É difícil para ti obteres inspiração para tantas tiras humorísticas? Ou é algo que te ocorre facilmente?
Não preciso estar de bom humor para criar algo com humor. Às vezes a própria tira eleva meu humor e consigo dar luz a mais tiras. É uma coisa inexplicável. Sempre começo rascunhando o Edibar numa folha de sulfite, ora andando, ora segurando sua inseparável lata de cerveja, para só assim surgir um cenário e uma história. Para ajudar no processo, algumas vezes recorro a uma música zen relaxante, aquelas com som de flautas de madeira, flautas indígenas, riacho e sons da floresta tocando no computador.

7. Onde obtiveste inspiração para a criação de Edibar e das personagens que habitam à sua volta? Inspiraste-te em alguma pessoa da vida real?
A ideia de criar o personagem como o Edibar, surgiu depois que presenciei um bêbado entrando no meio de uma missa para acender o cigarro na vela do altar. Diante da paralisia atônita do padre e dos fiéis que também presenciaram a cena, acendeu a lâmpada sobre a minha cabeça.


8. A meu ver, Edibar faz-me lembrar uma versão brasileira de Homer Simpson, que também adoro. Concordas com esta comparação ou nem por isso? E foi algo pensado ou aconteceu naturalmente?
Edibar não tem nenhuma relação com o personagem americano. Assemelham-se no gosto pela mesma bebida, mas é só isso. Edibar é o típico brasileiro, frequentador do boteco da esquina, aposentado, que sempre dá um jeito de beber cerveja tendo dinheiro ou não, gosta de sinuca, cansado do casamento, da sogra e dono de um fusca caindo aos pedaços. Homer é casado, trabalha, gosta da mulher e tem filhos. É de longe diferente das histórias do Edibar.

9. Já agora, és fã dos Simpsons?
Eu me lembro de assistir os primeiros episódios de Simpsons na TV na época de garoto. Depois disso nunca mais me interessei em acompanhar o desenho, por simplesmente não gostar de televisão. Gosto de ler livros que se tornaram filmes e séries, mas não fico por nada desse mundo em um sofá com um controle remoto nas mãos. Quando minha esposa me “obriga” a assistir um filme com ela, geralmente durmo em 15 minutos.

10. Relativamente à ilustração, uma coisa que salta à vista no teu trabalho é a presença de vários detalhes nas ilustrações e uma preocupação com as cores que, muitas vezes, não se verifica noutras tiras humorísticas famosas. Quão importante é para ti, além do gag humorístico, que Edibar apresente uma arte cuidada e apelativa?
Desde criança me entregava religiosamente à leitura diária de quadrinhos da Disney. A riqueza com os detalhes que os artistas da Disney empregavam nas histórias enchiam meus olhos. Isso me inspirou a seguir o mesmo estilo com meus desenhos. Não consigo desenhar um quadro só com um personagem ao centro falando algo. Se eu desenho o ambiente de uma sala em um quadrinho, vou desenhar também os móveis, cortinas, objetos de decoração e ainda outro cenário surgindo através de uma janela aberta, dando mais dimensão a cena. Os fãs gostam disso, pois ficam observando os detalhes por bastante tempo depois de concluir a leitura da tira. A culpa é dos quadrinhos da Disney.

11. Quanto tempo gastas, em média, com a criação de uma tira?
Geralmente levo três horas para finalizar um tira. Gasto muito mais tempo na conclusão dos detalhes do que na própria criação, mas recuso-me teimosamente a mudar de estilo.

9 comentários:

  1. Parabéns, Lúcio, você já entrou na história! :)

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    1. É incrível o trabalho de Lucio com Edibar, sim! :)

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  2. Adoro o Edibar e as situações cômicas vividas por ele.

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  3. Conheci Edibar num jornal que é distribuído no metro em São Paulo no ano de 2013 e nunca mais deixei de acompanhar.

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  4. Adoro o trabalho do Lúcio. Bem haja e que continue assim.

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