Não há nada que enganar: para aqueles que apreciam uma história bem escrita, com personagens profundas e bem desenvolvidos, assente numa trama de cariz noir, muito bem construída, Criminal é uma série de bd obrigatória!
Já por aqui o disse várias vezes, nas análises que fiz aos volumes Dois, Três e Quatro e volto a afirmá-lo nesta análise ao Livro Cinco - Um Verão Cruel, publicado recentemente pela G. Floy Studio (e que deixa os portugueses a par com tudo aquilo que já foi publicado nos Estados Unidos, relativamente a esta fantástica série): Ed Brubaker é um escritor fantástico! Na verdade, até vou mais longe e digo o seguinte: o texto e as histórias são tão boas e tão bem construídas que, mesmo que fosse eu o ilustrador da série – e não o Sean Phillips - Criminal continuaria a ser maravilhoso. Mais! Mesmo que só lêssemos o guião destas histórias, continuaria a ser uma leitura muito boa.
Dizer isto assim até pode parecer que estou a menosprezar o trabalho nas ilustrações de Sean Phillips. Sim e não. Por um lado, reconheço que Phillips tem a capacidade de concretizar visualmente as ideias de Brubaker e fá-lo bem, sabendo construir um universo noir com bastante personalidade própria. Por outro lado, há que ser sincero e admitir que a estrela da companhia é mesmo Ed Brubaker. A meu ver, é o autor de bd que melhor consegue (re)criar estas histórias negras, com personagens negras, com vidas negras, num ambiente hostil e negro. É negritude por todo o lado, apesar das cores garridas que os desenhos trazem consigo! Dito por outras palavras: neste género de banda desenhada noir, policial, violenta e madura, Ed Brubaker é o melhor argumentista no ativo.
E porquê? Porque a escrita de Brubaker é fabulosa. Tal como são as suas personagens e a linha entrelaçada de histórias e vivências que o autor vai depois tecendo, fazendo com que estejamos sempre a saber mais sobre as personagens deste universo. Até o podem ser mas a verdade é que as histórias desta série não parecem ser “mais do mesmo” porque têm a sua própria diversidade e há sempre algo de novo em cada um dos contos de Criminal.
E, neste Livro Cinco - Um Verão Cruel, há até que admitir que estamos perante a história mais ambiciosa de toda a série até agora. Ao contrário dos volumes anteriores – que incluem, pelo menos, duas histórias – este quinto volume tem apenas uma história do princípio ao fim do livro, o que permite ao autor explorar interessantes opções narrativas e desenvolver ainda com mais profundidade as personagens.
A história envolve o já conhecido Teeg Lawless que, no verão de 1988, regressa a casa para começar a planear o maior assalto da sua carreira. Mas o seu filho, Ricky, e os seus amigos, estão também a aventurar-se no mesmo percurso negro e desastroso que os seus pais estão a trilhar. E, como se não bastasse, Teeg Lawless que nos habituou à sua agressividade e frieza, encontra, pela primeira vez, o amor da sua vida. E embora Lawless tenha ficado profundamente apaixonado, isso não parece tê-lo amolecido – por completo – e a história, que tem várias linhas condutoras, vai depois caminhar para uma apoteose marcante, fazendo com que este verão seja, de facto, o pior das vidas destas personagens.
O texto continua vívido, inspirado e marcante, bem como as personagens são muito bem trabalhadas pelo autor, revelando-se profundas e com backgrounds bem pensados. Uma verdadeira maravilha para ler.
Em termos de ilustrações – e sei que também já o disse – considero o trabalho de Phillips aceitável e competente mas que poderia brilhar mais. É verdade que neste livro há páginas onde a inspiração do autor aparenta estar em altas. Mas, na grande maioria dos casos, acho que um maior detalhe nas expressões das personagens e nos ambientes, poderia ter elevado (ainda mais) esta banda desenhada. Poderão até dizer que é uma implicação minha mas acho sinceramente que é a arte ilustrativa de Phillips que não me faz dar nota máxima à série. Seja como for, o autor consegue cumprir com a sua parte e assegurar que esta é uma boa obra. Até mesmo na componente ilustrativa.
Quanto à edição da G. Floy Studio, a editora mantém a qualidade que nos deu ao longo de toda a série. Capa dura, bom papel brilhante e boa encadernação e impressão. No final há ainda espaço para as capas da série original e algumas bonitas ilustrações selecionadas por Phillips. Brubaker assina ainda um posfácio em que nos dá conta de como esta história de Criminal #5 foi uma ideia que precisou de amadurecer. Tudo apelativo para o leitor.
Uma nota de louvor deve ainda ser dada à G. Floy Studio por terminar (pelo menos até à data) mais uma série. E logo esta! Uma série com tanta qualidade (e com tantas páginas) que, diria, estará facilmente entre as melhores obras da editora! Faço vénias, pois são mais que merecidas!
Em conclusão, acho que posso dizer que, por muito que eu goste de todos os outros volumes de Criminal, este número 5 consegue a proeza de ser o melhor (ou, pelo menos, está “taco a taco” com o Livro Três). É denso, muito bem escrito e marcante para todos os que apreciam uma boa história rija, agressiva e violenta. Mesmo que a violência mental seja, muitas vezes, superior à violência física. Assim é a violência mais impactante, claro está.
NOTA FINAL (1/10):
9.2
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Criminal: Livro Cinco - Um Verão Cruel
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 288, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2021
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