TOP 15 – As Melhores BD’s portuguesas de sempre
Ui! Este TOP não será certamente consensual. E ainda bem que assim é. Nem eu, nem ninguém, é dono da verdade e qualquer opinião, por mais conhecedora e formada que seja, é sempre passível de ser contrariada pelos demais.
Vasculhando a minha biblioteca pessoal, e mesmo tendo noção de que a maioria dos meus livros é, compreensivelmente, de origem estrangeira, a verdade é que já li quase duas centenas de livros portugueses de banda desenhada.
E, como tal, achei que faria sentido fazer este TOP 15. Desta vez, como a minha escolha era muita, não são 10, mas sim um lista com os 15 melhores. E até porque, quanto maior vai sendo a oferta no mercado, mais difícil se torna a escolha e, por esse motivo, mais importantes são estes TOPs para aqueles que estão indecisos em apostar em autores/livros novos. Claro que este TOP 15 deu-me imensas “dores de cabeça”, por ter que deixar de fora algumas coisas que também adoro. Obras como as de José Carlos Fernandes, Luís Louro ou muitos lançamentos da Escorpião Azul. E, também, obras como Jardim dos Espectros, O Baile, Assembleia das Mulheres ou Amadeo, por exemplo, quase entraram neste TOP. E já agora, Portugal, de Cyril Pedrosa, iria ocupar uma posição cimeira neste TOP, pois eu achava que ele tinha dupla nacionalidade portuguesa e francesa. Mas depois de investigar, verifiquei que eu estava equivocado e que o autor, embora filho de pais portugueses, é unicamente francês e, por uma questão de coerência, vi-me forçado a retirá-lo do TOP.
Mesmo sendo um dos TOPs mais difíceis que já fiz, no derradeiro momento, a minha escolha é sempre efetuada com base nisto: se as minhas estantes de bd estivessem em chamas e eu só pudesse salvar 15 livros de bd portuguesa… quais seriam?
Esses livros seriam estes:
(de Paulo J. Mendes | Editora: Escorpião Azul | Lançamento: 2020)
De todos os livros que já li de autores portugueses, publicados pela Escorpião Azul, este O Penteador, é o meu preferido. É um livro “estranho” na sua génese, pois tem uma arte bastante séria, simples mas eficaz na narração da história, mas depois, tem igualmente um argumento completamente louco e divertido. Estou farto de dizer que não me considero uma pessoa de gargalhada fácil quando leio humor. Se sorrir, já é bem bom. Mas com O Penteador dei por mim a rir várias vezes perante a história de Mafaldo Limparrim nas terras de Poço Redondo. Para ser melhor, só faltaria, a meu ver, que não houvesse tanta repetição na segunda parte do livro e que o livro fosse a cores. Com cores, a arte interessante de Paulo J. Mendes ainda conseguiria sobressair mais, estou certo. Mesmo assim, é um livro muito bem conseguido! Uma autêntica surpresa!
(de André Oliveira e Bernardo Majer | Editora: Polvo | Lançamento: 2019)
Desta minha lista, esta é a minha leitura mais recente. E vou ser sincero: inicialmente, a arte de Bernardo Majer até não me abriu muito o apetite para a obra. Mas claro, muitas vezes, quando vencemos o preconceito, somos agradavelmente surpreendidos. E é o caso. Toutinegra tem um arte original e diferente, que consegue abraçar a narrativa da melhor forma possível. E que narrativa incrível é essa! Pois mesmo sendo verdade que arte de Majer serve bem a história, o que mais sobressai nesta obra é o fantástico argumento de André Oliveira, que nos sabe levar e embalar, ao sabor de um texto inspirado e um tema sensível. André Oliveira é mestre nas palavras e nas reflexões que as mesmas sabem levantar e este Toutinegra é a sua consolidação como um dos melhores argumentistas de banda desenhada em Portugal.
(de Ricardo Cabral | Editora: ASA | Lançamento: 2007)
Este é um álbum verdadeiramente simples de banda desenhada. Conta-nos a aventura de João Garcia, o famoso alpinista português, que escalou o Evereste. É uma história linear, contada na primeira pessoa, e com arte e argumento do português Ricardo Cabral. Embora as páginas com cenas nocturnas tenham uma iluminação que considero deficiente e que eclipsa a boa arte do autor, se tirarmos esses raros exemplos nocturnos da equação, este é um livro muito bem ilustrado e com uma história muito bem ritmada e explanada. Não é novidade para ninguém que Ricardo Cabral é um ilustrador fantástico. Mas infelizmente – para mim, pelo menos – este autor não mais publicou álbuns, no sentido clássico da palavra “álbum de banda desenhada”. É verdade que tem estado ativo com as suas participações nas The Lisbon Studio Series, ou nos seus Sketchbooks, mas admito que gostaria muito de ler um “álbum completo” de Ricardo Cabral. Sempre fui admirador dos feitos de João Garcia e da arte de Ricardo Cabral portanto guardo este Evereste como um dos meus álbuns favoritos de bd portuguesa.
(de Fernando Dordio, Osvaldo Medina e Mário Freitas | Editora: Kingpin | Lançamento: 2014)
Eu sou daquelas pessoas – raras? - que acompanhou os primórdios da Kingpin desde os seus primeiros livros publicados. As revistas C.A.O.S. são um desses exemplos e ainda as guardo com carinho na minha coleção privada. No entanto, foi apenas passados alguns anos, e com a introdução de Osvaldo Medina na equipa – aquele que, na minha opinião, estará entre os 3 melhores ilustradores de banda desenhada em Portugal – que a série C.A.O.S., assinada também por Fernando Dordio e Mário Freitas, deu o merecido e desejado salto qualitativo. E este é um livro extremamente bem feito. A arte de Osvaldo Medina é fantástica, sabendo ilustrar este policial com um traço descontraído e solto, pormenorizado nas partes em que interessa pormenorizar. O argumento também está muito dinâmico, pesado e maduro, fazendo com que o Inspector Franco e Companhia se assumam como verdadeiros heróis verossímeis a operar na cidade de Lisboa. Gosto especialmente desta obra por ter a qualidade de um thriller policial americano, mas sendo um trabalho profundamente português.
(de Duarte e Henrique Gandum | Editora: Mudnag | Lançamento: 2020)
À semelhança do anterior Franco: Caos e Ordem, eu não admiraria tanto este Congo II, se não tivesse conhecido os primórdios desta série, assinada pelos irmãos Duarte e Henrique Gandum. Imaginem o que é um jogador de futebol, que é simplesmente “jeitoso”, mudar-se do Varzim para o SL Benfica, para o FC Porto, ou para o Sporting CP, e jogar ao mais alto nível. Ou um músico amador de bar, passar a ser integrado na E Street Band, do Bruce Springsteen. Do primeiro para o segundo livro, a qualidade do output criativo dos irmãos Gandum, também melhorou de uma forma assim grandiosa! E abre fortes expetativas para o terceiro volume desta saga, que é ambientada nos confins africanos e nos conta as aventuras de Afonso Ferreira, um explorador português, que lidera uma expedição por uma região inóspita e habitada por inúmeras criaturas monstruosas, que parecem saídas de outro tempo e de outro lugar. O salto qualitativo de Congo 1 para Congo 2, quer em termos de arte, por parte de Henrique, quer em termos do argumento de Duarte, impressiona por ser tão exacerbado. E faz-me apontar, sem receios, que os irmãos Gandum têm potencial para virem a ser dos autores mais influentes na banda desenhada nacional. Sou fã.
(de Zé Burnay | Editora: A Seita | Lançamento: 2020)
Zé Burnay é o Kelly Slater da ilustração. Ou o Cristiano Ronaldo. Ou o Tony Hawk. Ou o Roger Federer. Ou _________ (inserir nomes de desportistas que levaram a sua técnica ao extremo, aperfeiçoando a sua arte e técnica para algo incrível, e sendo exemplos a seguir e a admirar pelos demais). Em termos de ilustração, Zé Burnay apresenta-nos um trabalho tão perfeito, tão magnífico, tão intenso, que chega a arrepiar. Eu, pelo menos, fico arrepiado e maravilhado quando observo as páginas de Andrómeda, uma obra ímpar, poética e especial, lançada numa edição de luxo, de qualidade superior, pela editora A Seita. Narrativamente até pode não ser uma obra para todos, reconheço, pois leva-nos numa viagem por um universo paralelo onírico... mas é uma viagem soberbamente bem ilustrada por Zé Burnay, que certamente não deixará nenhum leitor indiferente. Inolvidável.
(de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho | Editora: Planeta Tangerina | Lançamento: 2020)
Desvio é uma obra muito bem escrita por Ana Pessoa, com ilustrações modernas e interessantes por parte de Bernardo P. Carvalho, e convida-nos a entrar nas vivências de um adolescente que parece não conseguir encontrar o seu lugar neste mundo. O que fazer? Como fazer? Com quem fazer? Quando fazer? Estas e muitas outras perguntas inundam a cabeça de Miguel, o protagonista deste Desvio. O texto de Ana Pessoa revela profundidade, boa utilização de palavras, bom ritmo e uma muito bem conseguida reflexão. Uma obra bem sucedida em todos os seus cômputos. E julgo que a principal valência deste livro é a capacidade de ir por terrenos inexplorados na banda desenhada nacional. Este tipo de novela gráfica, direcionada para jovens mas que pode (e deve) ser lida por adultos, com um estilo de ilustração moderno e urbano, e que traz uma reflexão pausada e profunda sobre a atualidade, é algo que praticamente não existia em Portugal até este Desvio. Outra coisa: se há títulos certos para obras de bd e aquilo que elas mesmas podem ser, então “Desvio” é dos títulos mais bem conseguidos. Porque é isso mesmo: um desvio. Para algo que é bom e (quase) inexplorado.
(de Osvaldo Medina | Editora: Kingpin | Lançamento: 2015)
Kong The King é quase que uma masterclass sobre arte sequencial. Um exemplo, uma prova das qualidades de Osvaldo Medina enquanto ilustrador e enquanto narrador – mesmo que, para narrar, Osvaldo não precise de palavras escritas neste livro. Majestoso nos seus intuitos e na sua arte, Kong The King é uma reinterpretação do clássico King Kong e conta-nos a história, já bem conhecida, de como uma equipa de filmagens captura um gigante de uma ilha e o leva para Nova Iorque, montando, depois, todo um circo à sua volta. Mas em vez de ser um gigante gorila, nesta obra temos a história de um gigante indígena, o que até acaba por tornar a história mais humana. E a arte de Osvaldo Medina é uma maravilha para os olhos! Fantástica da primeira à última página! Por último, a edição deste livro é, também ela, uma masterclass de como editar um livro fantástico de forma fantástica. Tudo está fantástico em Kong The King. Adoro!
(de Luís Louro | Editora: ASA | Lançamento: 1995)
Todos nós temos a introdução a algo através de algo, certo? Temos o primeiro disco que nos marcou verdadeiramente. Temos o primeiro filme, o primeiro livro, o primeiro brinquedo, o primeiro amor. Há uma primeira vez para tudo. E Alice, de Luís Louro, mesmo não sendo a minha introdução à banda desenhada, pois já antes da edição desta obra eu consumia muita BD, foi, ainda assim, a minha introdução à banda desenhada feita por portugueses. Ou, pelo menos, aquela que me marcou pela primeira vez. E, para primeira vez, quem não desejaria alguém com as protuberâncias mamárias de Alice? Alice é uma reinterpretação bastante livre do clássico de Lewis Caroll, Alice no País das Maravilhas, e foi um clássico instantâneo da banda desenhada portuguesa. A obra, que faz este ano 25 anos, e que terá uma reedição, com nova capa - e algumas surpresas?! -, pela editora Ala dos Livros, é um daqueles livros que resistirá à passagem do tempo. Luís Louro é dos mais importantes autores de bd em Portugal e séries como Jim del Mónaco ou O Corvo também poderiam figurar nesta lista mas, quanto a mim, é mesmo Alice a obra-prima de Louro. Um fantástico livro, com um argumento seco, maduro, cómico, mas com um certa melancolia inerente, por detrás de tantas ancas e mamas voluptuosas. Luís Louro consegue neste trabalho uma maturidade e uma poesia que são raras. Uma obra-prima!
(de Filipe Melo e Juan Cavia | Editora: Tinta da China | Lançamento: 2010-2013)
Quando o português Filipe Melo e o argentino Juan Cavia se estrearam na produção de banda desenhada, lançando a série Dog Mendonça e Pizzaboy, eu mal podia acreditar que esta série fosse produzida em Portugal! Porque o output, extremamente profissional, parecia de outras paragens, que não as portuguesas. E dizer isto, não é desvalorizar a produção nacional de forma alguma. É simplesmente ter sentido crítico, conhecimento e perspectiva em relação ao que se faz(ia) em Portugal e no resto do mundo, relativamente à produção de bd. A arte incrível de Cavia, muito estilizada e arrojada, parecia vinda diretamente dos estúdios norte-americanos de bd. Não foi por isso surpreendente que esta série chegasse às publicações da editora norte-americana Dark Horse. Dog Mendonça é uma série de ação e fantástico, com uma generosa pitada de comédia, que nos apresenta o detective Dog Mendonça e os seus fiéis e hilariantes ajudantes que, numa declarada homenagem a Dylan Dog e a tantos clássicos do cinema, nos vai levar por uma Lisboa habitada por monstros e figuras do fantástico. Neste TOP 15, decidi colocar a série principal toda, que reúne 3 volumes, mesmo que o segundo volume, tenha sido aquele onde narrativamente, a história não me cativou tanto. Mesmo assim, olho para os três volumes como um todo. E já agora, o primeiro e terceiro volumes são especialmente magníficos e claros marcos na banda desenhada nacional.
(de Rui Lacas | Editora: ASA | Lançamento: 2007)
Do autor Rui Lacas que já nos deu boas obras de banda desenhada, este Obrigada, Patrão é um livro sensacional que apresenta um argumento muito original e bem trabalhado pelo autor. Como se fosse uma fábula, uma parábola, a história vai-se revelando aos poucos, muito lentamente, aumentando o interesse e as questões dos leitores até que, no final, nos dá uma verdadeira revelação, surpreendente, que nos deixa um sorriso na face, perante a boa gestão do argumento, por parte do autor. O desenho de Rui Lacas, de traço grosso e rude, é muito bem esclarecido e encaixa que nem uma luva nesta fábula portuguesa. Há uma certa poesia nesta obra que a torna única. Já não é um livro muito fácil de encontrar nas lojas, o que me faz lamentar pelos amantes de banda desenhada que não tiveram/terão a oportunidade de conhecer este trabalho, com um argumento excecional, que certamente merecia um filme. Um livro magnífico!
(de Filipe Melo e Juan Cavia | Editora: Tinta da China | Lançamento: 2016)
A minha primeira leitura desta obra de Filipe Melo e Juan Cavia, responsáveis por Dog Mendonça e Pizzaboy, não foi tão positiva e maravilhada como foi, certamente, a da restante crítica nacional. Toda a gente pareceu adorar e aclamar esta obra. Na altura, gostei mas não parecia adorar tanto como o restante público e crítica. E tal era explicado – e em parte, ainda hoje se mantém – pelo facto de algumas das personagens presentes nesta obra serem, em termos gráficos, demasiado parecidas entre si, o que dificulta a boa fluidez da leitura e, também, pelo facto do argumento de Melo me parecer algo “indeciso” nos seus intentos. No entanto, a minha opinião foi mudando gradualmente. Na segunda leitura pareceu-me melhor. Na terceira pareceu-me ainda melhor e, na quarta leitura, percebi que é uma das melhores obras da banda desenhada nacional! Contando-nos a história de um grupo de soldados portugueses na Guerra Colonial, mais propriamente na Guiné, revela-se-nos como uma história de busca por rendenção, após o contacto com eventos que transtornam um ser humano e o corroem por dentro. E como um daqueles vinhos que no primeiro contacto parece rude e amargo mas que, à medida que o vamos saboreando, se vai abrindo e revelando o seu real e requintado sabor, este Os Vampiros é uma obra magnífica. Um trabalho de qualidade elevada, quer no argumento, no texto, nas ilustrações, nas cores, ou na fantástica edição da Tinta da China.
(de Nuno Duarte, Osvaldo Medina e Ana Freitas – Editora: Kingpin | Lançamento: 2008)
Se muitas vezes, os leitores do Vinheta 2020 me lêem a comentar a qualidade de certas “premissas” é porque considero que uma boa “premissa”, um bom conceito, pode, por si só, ser a alavanca para uma obra de arte excecional. E A Fórmula da Felicidade é um desses casos! A premissa de se descobrir uma fórmula matemática da felicidade não só é profundamente relevante, original e inteligente para a condição humana como é, além disso, um conceito complexo e audaz, quando aplicado ao tema central de um livro... de bd(!). Como se esta ideia não fosse já sobejamente maravilhosa, ainda temos um livro (mais um!) maravilhosamente ilustrado por Osvaldo Medina, num estilo que, à semelhança de uma das minhas bandas desenhadas preferidas, Blacksad, utiliza animais antropomorfizados como personagens. Ou seja, corpos humanos mas com cabeças de animais. Desenhar isto com mestria não é seguramente para todos. Mas Osvaldo Medina prova que o consegue fazer com uma qualidade invejável. Infelizmente, devo dizer que o segundo volume desta história, que totaliza dois tomos, ficou um pouco aquém das minhas expectativas. Quer dizer, continua a ser um livro bastante interessante, com uma arte igualmente impressionante mas aqui, parece-me que a premissa do primeiro álbum, esse conceito maravilhoso, acabou por não ser tão bem explorado e as questões filosóficas levantadas pelo protagonista não ficaram tão bem aproveitadas. Não obstante, isso não anula que esta obra, especialmente o primeiro tomo, seja o meu terceiro álbum preferido da banda desenhada portuguesa. Magnífico!
(de Filipe Pina e Filipe Andrade | Editora: ASA | Lançamento: 2009)
Se há coisas que por vezes, nas noites quentes de Julho, me fazem ter insónias e dar voltas e voltas na cama, tentando encontrar uma boa posição para dormir que me faça esquecer esta mágoa, é o facto da banda desenhada BRK, da autoria de Filipe Pina e Filipe Andrade, ter ficado incompleta! Como é possível!? Porquê! Porquê, tristeza agonizante? Porquê, injustiça divina? Que projetos pessoais e rentáveis destes autores incríveis são esses, que não os possibilitam de continuar e/ou terminar esta história? O que é que eu tenho que fazer para que isto aconteça? Como posso ajudar? Deixando as graçolas e eloquência de parte, a verdade é que BRK é um livro soberbo, com uma qualidade de desenho maravilhosa, que saltita entre os géneros de comics americanos e o mangá oriental, com uma planificação audaz, um ritmo narrativo bem intercalado entre cenas de ação e momentos mais calmos - à boa maneira franco-belga -, e com personagens memoráveis que destilam personalidade. O argumento assenta na história de David, um adolescente com uma forte consciência social – e de si mesmo – que se junta a um grupo de outros jovens que pretendem causar alterações na sociedade pelas suas próprias mãos. Passa-se em Almada, Lisboa e Porto e é uma história com muito fulgor, bem pensada, e que pode agradar, quer a um público adolescente, quer a um público mais maduro. Mais que não seja pela qualidade que a obra apresenta. Não é de admirar que Filipe Andrade tenha sido contratado pela gigante Marvel. Este BRK era, até há bem pouco tempo, o meu livro de banda desenhada portuguesa preferido.
(de Filipe Melo e Juan Cavia | Editora: Tinta da China | Lançamento: 2020)
Alcançámos a perfeição! Chegámos lá! Obrigado, Filipe Melo e Juan Cavia! Estes autores já tinham andado lá bem perto, diga-se, mas agora ficou consumado. Disse-o categoricamente aquando a análise da obra e digo-o novamente: este é o melhor álbum da banda desenhada portuguesa! As ilustrações, cores, planificações e abordagens estéticas de Juan Cavia estão melhores do que nunca e o argumento de Filipe Melo é maravilhoso, ao colocar-nos perante uma história madura, bem construída, e com tantos momentos inesquecíveis. É uma história de vida que é contada com o ritmo certo, e que nos faz refletir sobre a vida, como um todo. Porque, à semelhança de Julien Dubois, o pianista irremediavalmente insatisfeito, que protagoniza esta história, também todos nós – músicos ou não – lutamos contra os nossos próprios adversários, vendendo, por vezes, a alma ao diabo e caminhando para uma existência desviante em relação aos nossos planos de vida iniciais. Mas, eventualmente, encontraremos redenção, na obra que conseguimos deixar. No nosso legado. Seja ele qual for. A leitura de Balada para Sophie causa, portanto, um arrebatamento no leitor. Não é surpresa que a obra esteja a ser tão bem recebida pelos leitores, pela crítica, pela indústria. Na verdade, a primeira posição deste TOP 15 foi a posição que menos dúvidas e inseguranças me causou. É fácil considerar – não apenas subjetiva mas também objetivamente – Balada para Sophie como o melhor álbum da banda desenhada portuguesa. Realmente, trata-se de um dos melhores álbuns de banda desenhada que já li. Uma obra-prima.
Faltam duas obras seminais: O Diário de K., do Filipe Abranches, e O Amor Infinito que te tenho, do Paulo Monteiro, a bd mais traduzida e premiada da bd portuguesa. E outras obras de autores como o Miguel Rocha ou o José Carlos Fernandes.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário! E excelentes sugestões que dá! Todos esses autores que menciona têm obras de extrema importância para a bd nacional, sem dúvida.
EliminarObrigado da parte que me toca.
ResponderEliminarPenso que é um bom resumo das intenções de fazer o segundo CAOS da forma que foi.
Uma dinamica à lá americana mais genuinamente portuguesa.
Concordo com a globalidade das escolhas e se não conheceres experimenta (se ainda não está esgotado) a Pior Banda de Jazz do Mundo se bem que o JCF por vezes tem um estilo que não é do agrado de todos.
Obrigado
Caro Fernando,
EliminarMuito obrigado pelo comentário. Sim, este "Franco: Caos e Ordem" é uma perfeita maravilha para os meus gostos. Um livro que, volta e meia, volto a pegar e a mergulhar nesta trama, bem pensada e desenhada. Adoro!
Sim, conheço JCF e admiro o seu trabalho, claro. Abraço.
Boa tarde, agora vamos ao top estrangeiro, mais difícil, mas não menos interessante. Parabéns pelo blog. Um abraço.
ResponderEliminarCaro Pedro! Obrigado pelo comentário! Esse é o grande desafio dos TOP's. Eventualmente, lá chegarei. Mas fique atento porque nos próximos tempos, outros TOP's, de vários temas relacionados com BD, serão feitos. Um abraço.
EliminarNão leve a mal a crítica, mas o título deste top não é honesto. Estes são os 15 livros de BD portuguesa preferidos do Hugo Pinto. Dizer que são as 15 melhores BDs portuguesas de sempre, revela não só uma enorme arrogância como também imensa ignorância. Quem observar este top, tal qual o título o designa, poderá julgar que a BD nacional só existe desde há 25 anos, que só tem surgido na forma de livro, que autores nacionais incontornáveis como Rafael Bordalo Pinheiro, Stuart Carvalhais, E.T. Coelho, José Ruy, Artur Correia, Vitor Mesquita, Fernando Relvas, Nuno Saraiva, João Fazenda, Diniz Conefrey, José Carlos Fernandes, Miguel Rocha, Filipe Abranches, Paulo Monteiro ou Francisco Sousa Lobo (para nomear apenas 15 entre tantos) nunca existiram ou fizeram obras de menor importância, enfim... Seria melhor ponderar o título destas listas antes de publicá-las, a bem da informação e da qualidade que, julgo, pretende do blog.
ResponderEliminarNão levo a mal a sua crítica e até a agradeço, caro leitor!
EliminarAdmito que o título do top pode não ter sido muito sensato da minha parte. Na verdade, não pretendo ser arrogante ou presunçoso com o título de "Melhores BD portuguesas de sempre".
Não obstante, também é verdade que o Vinheta 2020 é um espaço de opinião pessoal que reflete os meus gostos enquanto leitor de bd. Se eu digo que alguma coisa é "a melhor", não estou a dizer que reuni uma comissão de honra, devidamente creditada e imparcial, que me permita sustentar essa afirmação. Estou apenas dizer que, PARA MIM, para o VINHETA 2020, essa determinada coisa é "a melhor". Isto é um blog, um espaço de opinião da minha pessoa, e talvez não devemos atribuir tanta importância àquilo que uma pessoa, isoladamente, publica. Mantenho que, à data de hoje, esta minha lsita reúne as bandas desenhadas portuguesas melhores de sempre, TENDO EM CONTA:
1) os meus gostos pessoais;
2) que não li todas as bandas desenhadas já publicadas em Portugal e, por esse motivo, este TOP pode sermpre carecer de um horizonte de conhecimento mais alargado da minha pessoa;
Além de que, certamente, este top será modificado, de ano para ano, conforme eu vá conhecendo mais obras que sejam lançadas e/ou outras do passado, como algumas que refere, e bem, que, lamentavelmente ainda não tive oportunidade de desbravar.
Ignorância, talvez. Desonestidade e arrogância, não.
Caro Hugo julgo que o título mais indicado para este post seria "As minhas melhores BD (os acrónimos não têm plural...) portuguesas dos últimos 10 Anos". De resto ainda está por escrever uma obra compreensiva e completa sobre esta forma de arte em Portugal e sobre os seu imensos e talentosos autores, quase desde o despertar do género. Como todas as listas, são falíveis e inevitavelmente pessoais e por isso não me pronuncio. Há aqui, no entanto, obras que não conheço e quero conhecer e outras que nunca me chamaram à atenção. Deixo-lhe uma "dica" - revista "Visão" publicada nos idos anos 1975-76, reeditada em parte no livro "Revisão : Bandas Desenhadas dos anos 70" da Chili com Carne. Abraço.
ResponderEliminarCaro António. Muito obrigado pelo comentário.
EliminarNão é a primeira pessoa que me corrige sobre o plural utilizado no acrónimo. Reconheço o erro. Mas é um daqueles que, infelizmente, estou sempre a cometer. Talvez pelo mau vício de, na oralidade, dizer "BD's".
Obrigado pela sua dica. Conheço mas ainda não li esse reedição da Chilli com Carne. Espreitarei.
Um abraço
Achei interessante a sua selecção, mas falta aquele que é o melhor álbum de bd 100% nacional alguma vez editado: Eternus 9, de Vítor Mesquita.
ResponderEliminarObrigado pelo comentário! Já estive para ler o Eternus 9 várias vezes mas, lamentavelmente, acabei por nunca o fazer. Falha minha, reconheço.
EliminarAqui a versão digital em formato CBR: https://disk.yandex.com/d/0TBdmro1-ii_Lg
EliminarNa minha modesta opinião todas as 15 melhores BD portuguesas de sempre que já li são anteriores a 1986. Talvez a minha sensibilidade esteja pouco apurada visto que ainda só devo ter lido cerca de 2000 BD.
ResponderEliminarEheheh! Acho que todas as opiniões são válidas. Afinal de contas, é uma lista muito subjetiva. Posso dizer que à data em que escrevo estas linhas, o meu próprio TOP 15 já sofreu alterações. O que é natural. Talvez um dia, se arranjar tempo para isso, eu refaça este meu TOP.
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