Ermal – Ómega e Alfa é o quarto e último volume da saga bélica de Miguel Santos, que nos coloca no seio de um conflito militar por terras africanas.
O conceito que o autor fabricou para esta saga é bastante interessante e apresenta uma certa frescura na forma como nos faz olhar para os conflitos militares a envolver portugueses em África. E ainda que a ligação direta que façamos quanto ao ambiente que o autor nos dá, seja em relação à Guerra do Ultramar, aqui o autor subverte os conceitos. Na verdade, o 25 de Abril nunca aconteceu e uma guerra nuclear destruiu o Hemisfério Norte. E, resultante disso, os europeus procuram encontrar refúgio nos países africanos. O que, naturalmente, vai ajudar a criar (mais) conflitos numa África já tão faccionada, onde as várias forças lutam entre si.
Como já referi, o argumento parece-me interessante e com um ponto de partida bastante original e cativante. Mesmo sem ser uma narrativa muito linear, com várias conotações e possíveis mensagens a retirar, acaba por ser uma leitura desprendida, marcada por muita ação, ao longo das histórias.
Neste 4º volume, concretamente, o protagonista tenta mover a sua família para um sítio mais seguro, já que a mesma se encontra ameaçada. Mas, entretanto, vê-se forçado a voltar à Cidadela para “ajudar a construir aquilo que ajudou a destruir”. E a ação vai arrancando por aí, levando-nos a mergulhar em questões que põem em causa o próprio conflito armado, per si. Este é, pois, como que um capítulo que tenta fechar a história. A ação frenética está fortemente presente e, no final, temos uma cena muito bem encetada pelo autor.
Para quem não acompanhou a história até este 4º volume, diria que se torna um pouco difícil mergulhar na trama da narrativa. Parece que está muita coisa a acontecer ao mesmo tempo, sem que haja um fio condutor claro. Daí que se recomenda que os álbuns anteriores sejam lidos para melhor compreensão deste último volume.
Em termos de diálogos, gostei bastante do trabalho do autor pois consegue que as suas personagens digam frases marcantes, o que é algo tão difícil para tantos outros argumentistas. Por outras palavras, há frases neste livro que têm força, o que proporciona que o texto seja bastante quotable, como dizem os ingleses. E isso é sempre apreciável.
Em termos de arte, se é verdade que algumas das expressões das personagens, especialmente, os olhos – e olhares – das mesmas, carecem de alguma emotividade na caracterização – e talvez seja por isso, que a personagem principal possua sempre uns óculos de sol “cheios de estilo” –; também é verdade que há muitas cenas de ação bem conseguidas em termos de conceção artística, que permitem que sejamos (bem) transportados para o meio do conflito militar.
É de referir que, depois de lançado um primeiro álbum a cores, é pena que os restantes três tenham sido a preto e branco. Isto porque, a meu ver, a arte visual simplista de Miguel Santos ganha mais, sendo colorida, do que a preto e branco. Por vezes, parece-me que certas vinhetas estão demasiado vazias em conteúdo ilustrativo.
Editado pela Escorpião Azul, este é um livro em capa mole num formato algo raro de encontrar na banda desenhada. Permitam-me dizer que este formato horizontal - em vez de vertical - não me agrada muito, pois torna o próprio livro em algo menos fácil de manusear. Além de que, para os colecionadores de banda desenhada, não é tão facilmente "arrumável" numa coleção. No entanto, e colocando de parte o meu gosto pessoal, também é legítimo dizer que é um formato que prima, pelo menos, pela originalidade. E isso também pode ser um ponto positivo. Se uns não gostarão, outros poderão gostar muito.
Em conclusão, sinto que esta obra poderia, por ventura, ser um marco na banda desenhada nacional se algumas das coisas aqui presentes tivessem sido mais bem aprimoradas. Nomeadamente, se a arte fosse um pouco mais polida ou a história um pouco mais fluída. Ainda assim, e apesar de na parte gráfica existirem algumas limitações, é com bastante satisfação que vejo o autor a terminar uma obra em banda desenhada, com um estilo independente, e que tem, nada mais, nada menos, do que 4 volumes(!). Não é para todos, seguramente! E, nesse sentido, a editora Escorpião Azul também está de parabéns. Talvez, quem sabe(?), no futuro possamos ver uma edição integral da obra, a cores e com capa dura?
NOTA FINAL (1/10):
6.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Ermal - Ómega e Alfa
Autor: Miguel Santos
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 108, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Lançamento: Agosto, de 2020
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