sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Novo livro de "Maria do Mar" acaba de ser lançado


A Kingpin Books lançou recentemente um novo livro ilustrado de Sónia Sousa Ell que, desta vez, conta com ilustrações de Osvaldo Medina.

Denomina-se Maria do Mar e o Calendário Que Nunca Mais Chegava a Julho e é já o segundo volume da série Maria do Mar, que é indicada para públicos de todas as idades.

Mais abaixo deixo-vos com a nota de imprensa da editora e com algumas imagens promocionais.

Maria do Mar e o Calendário Que Nunca Mais Chegava a Julho, de Sónia Sousa Ell e Osvaldo Medina

Depois do sucesso do primeiro volume da colecção Maria do Mar, a autora e educadora ambiental Sónia Sousa Ell apresenta o seu segundo livro: “O calendário que nunca mais chegava a Julho”, lançado oficialmente no Amadora BD 2025. 

Maria do Mar adora recortar letras e números das folhas arrancadas do calendário da cozinha, reutilizando-as em seguida para criar as suas próprias histórias. Todos os anos, a sua ansiedade aumenta com o aproximar de Julho, o seu mês favorito. No entanto, este ano, Maria do Mar recusa-se a arrancar a folha de Junho, deixando todos perplexos. Ninguém entende a razão desta birra tão improvável!

Entre mistérios, a ternura das relações familiares e os desafios de quem está a crescer, aos poucos, o verdadeiro motivo da relutância de Maria do Mar será enfim desvendado!

Com ilustrações do conhecido Osvaldo Medina, autor de álbuns de BD como Kong The King ou Fojo, este livro reflecte uma cumplicidade criativa rara. Desta vez, Sónia deu um passo além: pintou com aguarela os desenhos originais do ilustrador, num gesto de confiança, partilha e emoção. Com design e edição de Mário Freitas, o livro reforça o propósito que atravessa toda a coleção Maria do Mar: unir gerações, imaginação e consciência ambiental, mostrando que cada gesto — cada +1 — pode mudar o mundo.

Mais do que um conto infantojuvenil, esta nova obra é uma celebração do tempo, da memória e da herança afectiva; e um lembrete poético de que o passado pode, sim, proteger o futuro e ajudar-nos a crescer. A história, ambientada no universo da curiosa Maria do Mar, convida leitores de todas as idades a revisitar o tempo da infância. O livro transforma o simples acto de marcar os dias numa viagem sensorial, entre o ontem e o amanhã.

“Um calendário pode parecer banal. Mas, sem darmos conta, é ele que orienta as nossas vidas. Este livro nasceu do desejo de resgatar as memórias que nos formam — aquelas que, se não forem contadas, desaparecem.”

— Sónia Sousa Ell

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Ficha técnica
Maria do Mar e o Calendário Que Nunca Mais Chegava a Julho
Autores: Sónia Sousa Ell e Osvaldo Medina
Editora: Kingpin Books
Edição, legendagem e design: Mário Freitas
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 22,5 x 22,5 cm
PVP: 17,99€

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Análise: A Bela Casa do Lago #2

A Bela Casa do Lago #2, de James Tynion IV, Álvaro Martínex Bueno e Jordie Bellaire - Devir

A Bela Casa do Lago #2, de James Tynion IV, Álvaro Martínex Bueno e Jordie Bellaire - Devir
A Bela Casa do Lago #2, de James Tynion IV, Álvaro Martínex Bueno e Jordie Bellaire

O segundo e último(?) volume da mini-série A Bela Casa do Lago, editado recentemente pela Devir, retoma a história do primeiro volume que nos tinha apresentado uma casa luxuosa que funcionava como último reduto da humanidade, contendo mais de uma dezena de convidados a estar ali por um misterioso anfitrião. Neste segundo volume, o grupo de amigos, isolado na tal luxuosa e inquietante casa junto ao lago, começa a perceber que o seu anfitrião, Walter, não é exatamente quem aparentava ser. A aparente segurança que inicialmente lhes tinha sido concedida rapidamente se transformou numa prisão de luxo, e a linha entre proteção e manipulação torna-se cada vez mais ténue. O leitor é colocado, pois, e desde o início, perante uma atmosfera de incerteza e de desconfiança.

À medida que a narrativa avança, o argumentista James Tynion IV conduz-nos por um jogo psicológico intenso. As personagens questionam não apenas o que aconteceu ao mundo exterior, mas também a própria natureza da realidade em que vivem. E porque é que estão ali. O tempo parece distorcido, os laços de amizade são postos à prova e as revelações sobre Walter levantam dúvidas éticas e existenciais profundas. Este segundo volume foca-se, portanto, menos na catástrofe global e mais na dimensão humana - e inumana - da experiência, num crescendo de tensão e de paranoia.

A Bela Casa do Lago #2, de James Tynion IV, Álvaro Martínex Bueno e Jordie Bellaire - Devir
O enredo, apesar de fascinante e vertiginoso, peca por uma execução que nem sempre acompanha a força da premissa. A ideia de um apocalipse filtrado através de uma experiência controlada e artificial é incrivelmente promissora, mas Tynion parece hesitar entre desenvolver o mistério ou resolvê-lo. Essa indecisão faz com que a narrativa deste segundo volume oscile ainda mais do que no primeiro, perdendo por vezes o ritmo e a coerência emocional que o primeiro volume havia estabelecido com mais solidez. Lembro-me que, quando acabei a leitura do primeiro tomo ter achado que esta seria uma obra que poderia afirmar-se como "excelente" com este segundo volume, já que os dados estavam lançados. Todavia, tenho que dizer que fiquei algo desiludido.

De facto, parte do encanto do primeiro tomo residia no suspense, no mistério e na sensação de descoberta constante. Neste segundo livro, a história parece mais preocupada em dar respostas, mas acaba por fazê-lo de uma forma incompleta. As revelações chegam, sim, mas nunca na proporção do que foi prometido, fazendo com que o leitor termine a leitura com a impressão de que o autor preferiu manter o mistério vivo a oferecer um verdadeiro clímax narrativo. Por um lado, compreende-se isso, pois fica óbvio que embora este ciclo da narrativa acabe fechado, a série continuará com A Bela Casa da Praia. Por outro lado, o desenvolvimento deste A Bela Casa do Lago #2 apresenta-se curto.

A confusão narrativa é outro dos problemas do livro. As múltiplas subtramas, aliadas ao elevado número de personagens (algumas delas visualmente semelhantes, o que é outro problema, não obstante a beleza do desenho de Bueno), tornam difícil acompanhar todos os desenvolvimentos. Mesmo um leitor atento pode perder o fio condutor. Tynion IV joga com o caos e com a fragmentação, mas por vezes parece perder-se, ele mesmo, nesse mesmo labirinto por si criado. A complexidade, que poderia ser uma virtude, transforma-se em obstáculo.

Ainda assim, é impossível negar que o livro se mantém como um thriller empolgante. A estrutura fragmentada e o ambiente opressivo mantêm o leitor preso à leitura. E mesmo quando a história se torna confusa, há uma tensão constante que sustenta o interesse. James Tynion IV é perito em criar atmosferas de desconforto e em explorar as fragilidades humanas sob circunstâncias extremas.

A Bela Casa do Lago #2, de James Tynion IV, Álvaro Martínex Bueno e Jordie Bellaire - Devir
Além do suspense da obra, outro dos seus trunfos é, sem dúvida, o trabalho gráfico de Álvaro Martínez Bueno. O seu traço é impressionante: realista, detalhado e simultaneamente estilizado, capaz de fundir o quotidiano com o sobrenatural de forma harmoniosa. As expressões faciais, os interiores e até o desenho da própria casa - que funciona quase como se de uma personagem se tratasse - são tratados com um rigor e uma sensibilidade raros.

E, claro, as cores de Jordie Bellaire complementam perfeitamente essa visão. Vibrantes e contrastantes, ajudam a sublinhar tanto a beleza ilusória da casa como a tensão latente que permeia cada cena. As tonalidades saturadas e luminosas tornam o ambiente simultaneamente atraente e inquietante, intensificando a sensação de irrealidade que a história pede. Visualmente, o livro é uma autêntica obra de arte que muito me atrai, devo admitir.

Nota ainda, positiva, para a planificação das pranchas, que embora seja um pouco mais clássica neste volume, contribui para um maior controlo narrativo do suspense por parte dos autores. Esta planificação e utilização de planos de câmara fechados transmite claustrofobia, refletindo o aprisionamento psicológico a que as personagens estão sujeitas. 

A edição da Devir apresenta capa dura baça, bom papel brilhante no miolo e um bom trabalho ao nível da impressão e da encadernação. Como conteúdo extra, temos um texto, aparentemente direcionado a Chris Conroy, em que James Tynion IV explica o conceito da série. Há ainda uma página que serve como "Guia das Personagens". 

Em suma, a premissa de A Bela Casa do Lago prometia mais do que aquilo que acabou por oferecer. A ideia de uma casa como refúgio e prisão, construída por um ser enigmático num mundo em colapso, é riquíssima em potencial simbólico e filosófico. Contudo, Tynion prefere sugerir do que explorar. É o retrato de um criador de conceitos brilhantes, mas que nem sempre consegue traduzi-los em histórias inteiramente satisfatórias. No fim, ficamos divididos entre o fascínio pelo universo criado e a frustração de perceber que ele talvez não tenha tanto para dizer quanto, inicialmente, parecia.


NOTA FINAL (1/10):
7.0

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Bela Casa do Lago #2, de James Tynion IV, Álvaro Martínex Bueno e Jordie Bellaire - Devir

Ficha técnica
A Bela Casa do Lago #2
Autores: James Tynion IV, Álvaro Martínez Bueno e Jordi Bellaire
Editora: Devir
Páginas: 184, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 18 x 27,5 cm
Lançamento: Agosto de 2025



Análise: A Fera #2

A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé - A Seita

A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé - A Seita
A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé

Há livros que se leem como quem regressa a casa. A Fera 2, que a editora A Seita publicou recentemente, é um desses regressos. Não apenas ao universo que Zidrou e Frank Pé inauguraram no primeiro volume, mas também a uma certa forma de fazer banda desenhada: humanista, poética, bela e profundamente europeia. 

Este é o segundo e último livro da abordagem dos autores ao universo da personagem Marsupilami, criada pelo mítico autor André Franquin. O enredo, relembro, transporta-nos à cidade de Bruxelas dos anos 50, chuvosa e cinzenta, onde um animal exótico se vê prisioneiro de um mundo que não o compreende. Criatura de força desmedida e ternura inesperada, este animal é o espelho da diferença numa Europa que ainda lambe as feridas de uma II Guerra Mundial, em que os antagonismos entre os humanos ficaram mais realçados do que nunca.

Embora a história retome o fio do primeiro tomo, sente-se, logo à partida, que o ritmo narrativo será outro. Com efeito, se o primeiro volume se deteve mais no retrato e na construção do ambiente, A Fera 2 ganhou no movimento, na dinâmica e no sentido de urgência. Há ação, perseguições, e uma tensão que cresce página a página, sem nunca abdicar da delicadeza que Zidrou sabe imprimir aos seus argumentos. O leitor sente que neste segundo tomo a história desperta como se, de súbito, o animal mítico começasse a correr dentro do próprio livro, arrastando consigo todas as outras personagens.

A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé - A Seita
Não obstante, apesar da maior energia narrativa, a simplicidade da história permanece. Este é um conto de amizade, de coragem e de compaixão. São todos ingredientes clássicos, sem dúvida, mas que são tratados com a maturidade de quem sabe que estas histórias com apelo a um público mais jovem são, no fundo, histórias para adultos disfarçadas. As personagens, mesmo as mais caricaturais, ganham espessura. Zidrou escreve-as com ternura e ironia: o riso até nos pode surgir, mas quase sempre como disfarce de algo mais fundo, de um vazio ou de uma memória difícil. A personagem de Boniface é um exemplo perfeito disso.

Há um perfume de infância a pairar sobre estas páginas, e é talvez por isso que este livro me remeteu, claro, para as bandas desenhadas mais clássicas da escola Spirou, mas também para outros clássicos da literatura e do cinema, como King Kong ou E.T. de Steven Spielberg. Tal como o extraterrestre do filme,  Marsupilami é um ser de "outro mundo", alvo da cobiça e do medo humano, mas também capaz de despertar num rapaz, o impulso mais puro de proteção e amizade. Essa relação é o centro emocional da narrativa, que cria alicerces na aliança tácita entre a inocência e a necessidade de proteção daqueles que mais se ama. 

Mas, convém dizer, o argumentista Zidrou não se fica pela ternura fácil. Há em A Fera 2 uma sombra que paira, uma melancolia que recorda os traumas da guerra e os seus ecos na geração seguinte. Até porque, convém não esquecer, a Bélgica dos anos 50 ainda tinha nas consciências do seu povo as cicatrizes da ocupação nazi. E é nesse contexto que a relação do protagonista François e Fut Fut surge. Colocados em lados opostos pela guerra - o pai de François era soldado alemão, enquanto que o pai de Fut Fut perdeu a vida às mãos do exército alemão - a relação das duas personagens começa por ser extremamente negativa, assente numa clara relação de bullying estudantil, mas com o tempo acaba por florescer para uma verdadeira amizade, ultrapassando ressentimentos herdados. Zidrou sugere, com subtileza, que talvez as crianças tenham mais a ensinar aos adultos do que o contrário. E nesse ponto, a obra também me remeteu para o Spirou de Émile Bravo.

As referências à banda desenhada clássica, em particular a Hergé e a Tintin, também atravessam o livro, sendo algumas vezes óbvias e, noutros casos, meras sugestões para os mais atentos. 

A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé - A Seita
A escrita de Zidrou tem essa rara qualidade de parecer familiar sem nunca ser previsível. Usa arquétipos, sim (o cientista obcecado, o órfão sensível, o animal prodigioso) , mas modifica-os ligeiramente, fazendo com que nós, leitores, tropecemos nas nossas próprias expectativas. Onde, em várias situações, poderíamos esperar o conforto de um clichet, somos surpreendidos com algo de inesperado, havendo resoluções que surpreendem, e até algumas que nos deixam desconcertados. Mas essa desconstrução do “final feliz” é talvez o maior mérito de Zidrou: lembrar-nos que a vida raramente termina em harmonia perfeita. Gosto especialmente dessa vertente do autor. Tal como gosto que o autor não tenha medo de "mentir" nas suas criações, de forma a torná-las mais realistas e a desconcertar os seus leitores, como o faz aqui quando afirma que existiu mesmo um animal com as características de Marsupilami ou quando, por exemplo, em Naturezas Mortas, publicado pel' A Seita e pela Arte de Autor, levou os leitores a considerarem como real a existência do pintor Vidal Balaguer i Carbonell.

Como menos positivo, considero que há certas pontas soltas no argumento que talvez pudessem ter sido melhor aproveitadas, e que há algo de ligeiramente forçado no fecho da narrativa. Não por ser um mau final, mas por me parecer algo apressado. Ainda assim, mesmo esse final apressado tem o mérito de manter viva a inquietação: fechamos o livro, mas a fera continua a respirar dentro de nós, enquanto que nos permite obter uma sensação de ciclo fechado, como se esta obra tivesse sido feita antes da criação de André Franquin.

O trabalho de Frank Pé é, como sempre, deslumbrante. A sua mestria no desenho animal é inquestionável: o Marsupilami move-se com uma graça selvagem, mistura de felino e símio, e cada movimento da sua enorme cauda parece uma extensão do próprio traço do autor. Frank Pé desenha com amor e uma exatidão impressionante, pois sente-se que conhece os músculos e os ossos de cada bicho que cria. As expressões humanas, caricaturais e vivas, equilibram a intensidade naturalista dos animais, criando um contraste de rara beleza. Já os cenários com que o autor nos brinda, são outro ponto alto. Bruxelas ganha corpo e textura neste livro: ruas húmidas, becos, praças, o cheiro do carvão e do fumo. Cada vinheta é uma janela para um tempo perdido, com Frank Pé a transformar a cidade numa personagem tão presente quanto o próprio Marsupilami. 

A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé - A Seita
O traço deste autor tem algo de monumental e, ao mesmo tempo, de profundamente terno. Há uma energia vital em cada linha, como se os seus desenhos respirassem por si só. Além de que o autor também domina o espaço e o movimento com uma sensibilidade cinematográfica, quase coreográfica. Com efeito, é impossível não sentir, ao folhear A Fera 2, que o desenho se move, como se Marsupilami saltasse literalmente da página para o olhar do leitor, num jogo de ritmo e fluidez que poucos artistas conseguem alcançar.

E não menos majestoso é o uso da cor. Elvire de Cock oferece ao livro uma paleta luminosa, de tons suaves e com um cariz algo moderno e clássico, ao mesmo tempo, que assenta no desenho de Frank Pé que nem uma luva.

Quanto à edição d' A Seita, estamos perante um dos melhores trabalhos do ano. O livro apresenta uma espessa e vigorosa capa dura baça, com detalhes a verniz e, no miolo, o seu papel é baço e de extrema qualidade. A encadernação e impressão também são de primeira categoria. Além de tudo isto, a edição portuguesa desta obra é, até à data, a melhor do mundo, apresentando um conjunto de extras que mais nenhuma outra edição tem. Inclui Lange Staart, uma história curta de oito páginas a preto e branco, que nos oferece mais um capítulo sobre as personagens da obra e, como cereja no topo do bolo, brinda-nos com o dossier À Descoberta da Bruxelas de Frank Pé... em que o ilustrador da obra nos faz uma visita pela cidade de Bruxelas, evocando memórias antigas, inspirações para o desenho deste livro e desvendando-nos easter eggs que, naturalmente, nos deixam com vontade de relermos o livro. A acompanhar estes comentários do autor, estão as vinhetas onde podemos conferir aquilo que ele nos revela. É uma edição de primeira linha aquela que A Seita preparou para esta obra. Parabéns aos envolvidos. 

Em conclusão, Fera #2 completa de forma deslumbrante este "Marsupilami de autor", em que o desejo de reencontrar a pureza, a empatia e a compaixão num mundo que as perdeu, se transforma numa parábola sobre o medo do diferente e sobre a ternura como forma de resistência. O animal Marsupilami, criatura inventada e impossível, torna-se o símbolo do que ainda resta de inocência em nós. E talvez seja essa a maior força da obra: lembrar-nos que a verdadeira fera nunca é o animal, mas o homem que o tenta capturar.


NOTA FINAL (1/10):
9.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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A Fera #2, de Zidrou e Frank Pé - A Seita

Ficha técnica
A Fera #2
Autores: Zidrou e Frank Pé
Editora: A Seita
Páginas: 224, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 274 xx 290 mm
Lançamento: Setembro de 2025

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Prémio Nacional da Banda Desenhada já tem regulamento!



Depois de aqui anunciado que o Governo português iria criar um Prémio Nacional da Banda Desenhada, foi ontem publicado o Regulamento oficial no Diário da República!

Deixo-vos aqui um resumo sobre o que realmente interessa:

O prémio será anual e atribuído pela DGLAB (Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas) e tem o valor total de 31.500€. 

O Prémio é atribuído nas seguintes categorias:

1) Prémio Carreira que distingue uma pessoa, nacional ou residente em Portugal, com percurso reconhecido no setor da banda desenhada e que tem um valor pecuniário no valor de 10.000€.

2) Prémio Obra do Ano que distingue uma obra de banda desenhada original publicada em Portugal no ano anterior ao concurso, da autoria de criadores portugueses ou residentes em Portugal e que tem um valor pecuniário no valor de 10.000€, acrescidos de 1.500€ "destinados a apoiar uma deslocação ao Festival de Banda Desenhada de Angoulême do ano seguinte ao da atribuição do Prémio".

3) Prémio Inovação em BD que distingue obra, projeto ou trajetória que, no período a que respeita o concurso, demonstre contributo excecional para a inovação na banda desenhada portuguesa, entendida como progresso formal, narrativo, tecnológico, processual, editorial ou de mediação, com impacto comprovado na criação, circulação ou fruição da BD e que tem um valor pecuniário no valor de 10.000€.

O anúncio dos vencedores deverá ocorrer no Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa, 18 de Outubro, e será ainda apresentada uma exposição dedicada aos vencedores.

Posso dizer-vos que esta é uma iniciativa muito importante para o setor, pois não só valoriza e dá destaque ao bom trabalho feito na banda desenhada portuguesa, como ainda o premeia monetariamente. E, tendo em conta que o prémio do Amadora BD tem o valor de 5.000€, este novo Prémio Nacional da Banda Desenhada passa a ser o mais importante prémio da banda desenhada nacional.

Destaco ainda, com satisfação, o esforço da iniciativa em levar a melhor obra nacional portuguesa à maior mostra e mercado europeu que é o Festival de Angoulême. Bem pensado.

Olhando para as categorias, parece-me que todas elas são bem-vindas, se bem que o Prémio Inovação em BD me parece aquele que pode ser menos transparente, uma vez que premiar "obra, projeto ou trajetória" na mesma categoria pode levar a situações algo desiguais, pois são coisas diferentes que serão avaliadas de igual para igual. Seja como for, parece-me uma categoria importante.

Quanto ao júri, este será constituído por "duas personalidades de reconhecido mérito na área da banda desenhada e um representante da DGLAB". Não se sabe, para já, quem serão essas "duas personalidades de reconhecido mérito". Aguardemos por mais novidades.

Consultem o Regulamento completo, aqui:
https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/despacho/13281-2025-945197525