sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Histórico! Hoje passa a ser o Dia Nacional da BD Portuguesa!


Pela primeira vez desde sempre, Portugal passa a ter um dia do seu calendário anual dedicado à Banda Desenhada Portuguesa!

aqui vos tinha contado, em primeiríssima mão, como foi conseguido tal feito.

Depois do artigo que aqui publiquei, e tal como eu tinha previsto, a proposta apresentada pelo partido LIVRE na Assembleia da República Portuguesa, para que fosse implementado o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa, foi aprovada por unanimidade!

Passados uns dias, o processo foi publicado no Diário da República.

Entretanto, este enorme feito, do qual eu tenho orgulho de dizer que fiz parte, fez eco na comunicação social em diversos artigos. E que bom que se fale de BD em sítios onde normalmente não se fala!

Destaco o artigo da agência Lusa que, infelizmente, e bem ao jeito da habitual tacanhez portuguesa, mais do que sublinhar a importância da banda desenhada nacional, centra a discussão em torno da escolha da data.

aqui foi dito o porquê desta data e, por isso, não vou - nem sequer isso seria necessário - justificar a razão para a escolha do dia 18 de Outubro.

Quanto a mim, que não tenho qualquer benesse com isto além da felicidade de ver a banda desenhada a merecer o carinho e destaque que merece, qualquer dia era válido para este dia. Importava apenas que fosse um dia que não assinalasse já outros eventos ou temas importantes. Por exemplo, se o dia escolhido fosse o 25 de Abril, ou o 1 de Maio, ou o 25 de Dezembro, ou o 1 de Janeiro... ou qualquer feriado nacional, talvez o destaque que este dia procura dar à banda desenhada se perdesse. Mas não foi isso que aconteceu. Portanto, reitero: qualquer dia teria seria relevante.

O que interessa, isso sim, é a carga simbólica que o dia traz à banda desenhada nacional, aos autores e editores portugueses. Se isso ajudar a que nas escolas, nas televisões, nas rádios, nos jornais, na internet deste país se fale mais da banda desenhada portuguesa... então a iniciativa foi um sucesso.

Agradeço a todos os que se juntaram a esta iniciativa, fazendo com que o sonho de tanta gente se tornasse realidade!

Parabéns a toda a comunidade!

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Mais de 100 novidades no Amadora BD 2024!


No dia em que arranca a 35ª edição do Amadora BD, aquele que é o maior evento de banda desenhada realizado em Portugal, há que não esquecer uma das coisas que (também) fazem os interessados em banda desenhada deslocarem-se ao evento: a compra de novos livros! Ou o contacto com os mesmos, pelo menos, se a carteira não permitir o acesso a todos os desejos bedéfilos.

E este ano, são mesmo muitas as novidades que poderemos encontrar na área comercial do Amadora BD, que engloba as lojas/editoras: A Seita, Ala dos Livros, Arte de Autor, Cult., Devir, Dr. Kartoon, Escorpião Azul, Gradiva, Kingpin Books, Levoir, Leya, Penguin e Polvo.

No total, contabilizam-se em mais de 100 as novidades que este ano poderemos encontrar no Amadora BD! Não se tratam, claro está, de 100 "lançamentos", mas de "novidades", isto é, de livros que estão há menos de três meses no mercado, tendo sido lançados de Agosto para cá. 

Quais as obras que me estão a deixar mais empolgado? Bem, é sempre difícil de o dizer. Naturalmente, estou sempre empolgado com as novas obras de autores nacionais. Quero lê-las a todas!

Além disso, em termos de obras de autores estrangeiros, posso admitir que das obras que ainda não li - algumas já li e são altamente recomendáveis, acedam à secção de Análises do Vinheta 2020 para saberem mais sobre as minhas opiniões - as que me estão a deixar mais entusiasmado para ler são: Harlem, Na Cabeça de Sherlock Holmes, O Abismo do Esquecimento, Maltempo, ShiLucky Luke - Os Indomados, Jonas Fink - O Livreiro de Praga e Chumbo. Entre muitos outros livros que, naturalmente, também me estão a deixar com altas expetativas.

Enfim, é um conjunto muito forte de obras e o difícil mesmo será escolher o que não comprar. Haja carteira!

Fiquem então a conhecer, mais abaixo, as mais de 100 novidades que poderão encontrar no Amadora BD 2024, cuja inauguração ocorre no dia de hoje:


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Análise: A Bibliotecária de Auschwitz

A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca - Fábula - Penguin Random House

A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca - Fábula - Penguin Random House
A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca

O tema do holocausto e das atrocidades cometidas pelos nazis perante os judeus, durante o período da Segunda Guerra Mundial, tem sido bastante explorado ao longo dos anos. No cinema, na literatura e, também, na banda desenhada. É verdade que, mais recentemente, na literatura, este é um assunto que tem regressado com renovado destaque, após a publicação com sucesso de alguns livros como O Tatuador de Auschwitz, entre outros, e, por esse motivo, talvez algumas pessoas já comecem a torcer um pouco o nariz a novos livros sobre Auschwitz. Porque pode soar a "mais do mesmo" ou ser sintoma de uma certa tentativa de capitalizar um tema. Não digo que não. Mesmo assim, também não deixa de ser verdade que o assunto do holocausto ainda tem muito para nos revelar e para aumentar o nosso conhecimento sobre esse período negro da história mundial. Mais não seja pela partilha dos testemunhos dos sobreviventes e pela sempre relevância político-social para o tempo atual.

A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca - Fábula - Penguin Random House
Com efeito, também em banda desenhada são vários os livros sobre o tema. À cabeça, surge-nos o obrigatório Maus, de Art Spiegelman, mas poderíamos nomear muitas outras obras que nos transportam até ao tempo dos campos de concentração controlados pelos nazis. Ainda este ano, por exemplo, a Gradiva editou O Fotógrafo de Mauthausen que, curiosamente, tem como autor Salva Rubio, que também é o argumentista deste A Bibliotecária de Auschwitz, publicado recentemente pela chancela Fábula, da Penguin Random House, que hoje vos trago.

Este é um livro que se baseia no romance original de Antonio Iturbe que, por sua vez, é baseado na história real de Dita Adlerova, uma sobrevivente do holocausto.

Dita Adlerova era uma jovem checa que, com apenas 14 anos, e juntamente com a sua família e tantos outros judeus, foi levada para um dos mais célebres e mortíferos campos de concentração nazis: Auschwitz.

É verdade que Dita e aqueles que a rodeavam tiveram a sorte de irem para uma ala "menos má" de Auschwitz, que deixava as famílias juntas, sem uniforme de prisioneiro, com o intuito de mostrar às entidades externas que os prisioneiros judeus não tinham uma vida assim tão má. Não obstante, a vida de Dita e da sua família foi, como é fácil de imaginar, repleta de privações e de um trauma crescente.

A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca - Fábula - Penguin Random House
Apesar disso, e como Dita era, duplamente, uma ávida amante de livros e uma corajosa ativista pela cultura, passou a exercer uma importante tarefa no campo de concentração: a de bibliotecária. Função essa que, se descoberta, a levaria à morte. Reunindo um pequeno punhado de livros, Dita arriscou a vida para que crianças e adultos pudessem escapar, nem que fosse por breves momentos, ao terror experienciado no campo de concentração. Logicamente, os livros eram proibidos, portanto, caso fosse descoberta, a morte seria o destino óbvio de Dita. E, ainda por cima, Josef Mengele, o anjo da morte, que fazia experiências atrozes com os judeus do campo - e sobre o qual a editora Levoir também publicou recentemente o muito recomendável O Desaparecimento de Josef Mengele, de Matz e Jörg Mailliet - parecia ter uma especial atenção em Dita.

A história é centrada na ideia de que a literatura pode ser uma forma de resistência. Tornando-se bibliotecária de um pequeno acervo de livros no campo, Dita simboliza a luta pela preservação da cultura e da identidade, mesmo em face da desumanização.

A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca - Fábula - Penguin Random House
Salva Rubio, o argumentista deste A Bibliotecária de Auschwitz, consegue aqui um belo feito de, por um lado, conseguir adaptar de forma satisfatória a obra original - ainda que resumindo-a à sua essência, claro está - e, por outro lado, logrando fazer deste livro uma leitura adequada para jovens leitores. E adultos, claro. É verdade que o tema é pesado e que, devido a isso mesmo, este livro apresenta imagens que têm alguma violência. Mesmo assim, a abordagem do ponto de vista textual e narrativo tenta ser um pouco mais leve, de forma a que a história possa chegar aos mais jovens sem dramatizar de forma excessiva. Considero que não é um equilíbrio fácil, mas que é algo bem conseguido neste livro.

Já as ilustrações de Loreto Aroca, também foram uma agradável surpresa. A autora tem um traço moderno, semi-caricatural, de estilo europeu, que capta muito bem a expressividade necessária para esta obra, sendo também - e em consonância com o argumento - de fácil acesso por qualquer leitor. Os desenhos intensificam as emoções e os temas tratados, mas sempre de uma forma acessível. É verdade que, tal como já referido, há algumas ilustrações que poderão impressionar leitores mais jovens mas, lá está, estamos a falar de um livro sobre Auschwitz, portanto não podemos esperar que seja uma história do estilo dos Ursinhos Carinhosos. Não será um livro para crianças abaixo dos dez anos, mas, quanto a mim, extremamente adequado para pré-adolescentes e adolescentes.

A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca - Fábula - Penguin Random House
Loreto Aroca também é bem sucedida ao dar-nos uma planificação que tenta não se repetir, de modo a oferecer-nos uma boa fluidez de leitura, enquanto que os diversos momentos de medo e pesadelos vivenciados por Dita também permitem diversidade à componente visual do livro. Pode não ser uma obra que consideremos graficamente "linda", mas também não lhe podemos apontar defeitos. De um modo geral, está tudo bastante bem feito. 

A edição da Fábula (do grupo editorial Penguin Random House) apresenta capa dura baça, bom papel baço no interior, e um bom trabalho ao nível de impressão e encadernação. O livro vem acompanhado ainda de um belo dossier de extras, com dez páginas, onde nos são dadas mais informações sobre os campos de concentração controlados pelos nazis e sobre algumas das personagens reais que aparecem no livro, bem como esboços de personagens ou a demonstração da criação de uma página, desde o guião, até à arte final. Extras que são muito bem-vindos. Mesmo assim, como nota negativa, há que realçar que se lamenta que a edição portuguesa tenha dimensões mais pequenas do que as versões espanhola e, especialmente, francesa da obra.

Em suma, A Bibliotecária de Auschwitz é uma banda desenhada que surpreende pela positiva, ao conseguir um bom equilíbrio com a sua abordagem leve a um tema tão pesado como o holocausto. Mais do que uma história sobre a brutalidade da guerra, é uma celebração da resiliência do espírito humano, convidando os leitores a refletir sobre a importância da literatura, da memória e da amizade, mesmo nas situações mais sombrias.


NOTA FINAL (1/10):
8.5




Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020





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A Bibliotecária de Auschwitz, de Salva Rubio e Loreto Aroca - Fábula - Penguin Random House

Ficha técnica
A Bibliotecária de Auschwitz
Autores: Salva Rubio e Loreto Aroca
Adaptado a partir da obra original de Antonio Iturbe
Editora: Fábula (Penguin Random House)
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 240 mm
Lançamento: Outubro de 2024

Análise: Taruje! #2

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito
Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

A revista Taruje era um projeto que, até há bem pouco tempo, eu só conhecia de nome. Sem que a tivesse lido. Mas recentemente, e após o lançamento do segundo volume desta iniciativa editorial, tomei contacto com a publicação.

E posso dizer que fiquei agradado com o estilo de "série B" desta revista de super-heróis à portuguesa que nos é proposta. Na verdade, e fazendo lembrar um pouco - mas com as devidas diferenças - o estilo de publicações da editora independente Gorila Sentado, Taruje reúne um conjunto de histórias de autores nacionais que são publicadas em continuação de uma revista para outra. É um tipo de publicação que já quase não existe em Portugal e que procura trazer de volta aquele gosto do leitor em acompanhar uma série que é deixada a meio, muitas vezes com a história a oferecer ao leitor um cliffhanger que só será resolvido aquando da publicação do número seguinte da revista.

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito
A característica mais diferenciadora de Taruje é, além deste tipo de publicação em formato revista, que a temática subjacente às várias histórias que nos são dadas, seja a dos super-heróis portugueses que têm, através de uma mutação, o poder de algum tipo de animal. Seja o poder de uma mosca ou de uma aranha, o de uma osga ou de uma tarântula, ou de uma outra qualquer criatura. Mas, invariavelmente, são histórias de e com mutantes.

Neste segundo número da revista, contamos com o contributo dos autores Henrique Pirote, que assina a primeira história, The Magnificent Môscáranha, e que também é o mentor/editor do projeto; Inês Pires e Henrique Gandum, autores da história Taranto & Gecker, e Pedro Brito, responsável pela história Underbase.

Todas as histórias têm em comum essa característica de versarem sobre super-heróis, e de terem bastantes cenas de ação, mas cada uma delas tem o seu próprio estilo, a sua própria vibe. Quer em termos de argumento, quer em termos de ilustração. Gostei especialmente do humor que impregna algumas das histórias e do facto de os autores não se levarem demasiadamente a sério. Não estou a dizer que este não é um trabalho sério - certamente o é - mas gostei da forma descomprometida, de humor audaz, que encontramos especialmente na primeira e terceira histórias.

Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

Quanto à segunda história, a de Inês Pires e Henrique Gandum, em lugar do humor temos um conto, quiçá mais adulto, que, estando ainda no primeiro capítulo, lança as bases para um enredo que, bem aproveitado, pode ser bastante interessante.

Os estilos das três histórias em termos de ilustração também divergem bastante. Henrique Pirote oferece-nos um desenho de forte inspiração no mangá; Henrique Gandum mantém-se fiel ao seu registo mais realista, com belas cores, que o autor já nos deu na bela série Congo;e Pedro Brito brinda-nos com um estilo de ilustração mais tosco e peculiar nas formas, mas que apresenta uma dinâmica e um acelerado ritmo narrativo interessante.

A edição da revista apresenta um aspeto cuidado, com uma boa encadernação e impressão. As páginas, em formato A4, são agrafadas e detêm um decente papel brilhante. 

Ainda que cada um dos números de Taruje nos dê apenas um breve vislumbre das histórias e arte dos autores, posso dizer que me diverti e entretive bastante a ler esta segunda revista.

Taruje respira independência criativa por todos os seus poros e é, portanto, uma obra especialmente recomendada para os apreciadores de banda desenhada descomprometida, bem disposta e independente. Como um filme "série B".


NOTA FINAL (1/10):
6.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Taruje #2, de Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito

Ficha técnica
Taruje #2
Autores: Henrique Pirote, Inês Pires, Henrique Gandum e Pedro Brito
Edição de Autor
Páginas: 40, a cores
Encadernação: Capa mole (com agrafos)
Formato: A4
Lançamento: Julho de 2024