sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Aí está mais uma novidade da Ala dos Livros!




Aí está uma série que a Ala dos Livros recupera e que deixará muita gente satisfeita, estou certo!

Trata-se da série O Gato do Rabino, de Joann Sfar, que em Portual havia sido publicado até ao número 5 pela editora ASA e que, agora, é recuperado, especificamente, a partir do volume 6. 

Estará à venda já neste fim de semana no Amadora BD.


Abaixo, deixo algumas imagens promocionais e a sinopse da obra.


O Gato do Rabino #6 - Não terás outro Deus além de mim, de Joann Sfar

O gato está desesperado: a sua dona, Zlabya, está grávida… O que irá acontecer? 

Continuará a prestar-lhe atenção? Continuará a receber as suas carícias e a estar com ela quando lhe apetecer? Qual será agora o seu papel? Talvez tenha chegado a altura de procurar um outro lar… 

Com O GATO DO RABINO, Joann Sfar criou um dos seus personagens mais acarinhados pelo público, o qual regressa à companhia dos leitores portugueses com esta nova história cheia de ternura.

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Ficha técnica
O Gato do Rabino #6 - Não terás outro Deus além de mim
Autor: Joann Sfar
Editora: Ala dos Livros
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 16,00€

Análise: Hercule Poirot - Os Crimes do ABC

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon

Julgo já o ter dito aqui, numa outra análise a um dos livros que compõem a Coleção Agatha Christie, publicada pela Arte de Autor, mas vou-me repetir: quando, há uns anos, conheci esta série com o volume Crime no Expresso no Oriente, não fiquei muito bem impressionado. Não que tivesse achado que se tratava de uma má obra mas sim porque tinha ficado vários furos abaixo das minhas expetativas. Todavia, à medida que fui lendo os outros volumes (Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca, Os Beresford – Mister Brown, e Hercule Poirot - Morte no Nilo e O Misterioso Caso de Styles) a minha opinião sobre a série foi-se alterando e hoje até acho que posso dizer que fiquei fã. Saliente-se que cada volume é feito por autores diferentes. E talvez isso justifique que a qualidade da adaptação e das ilustrações, embora relativamente nivelada entre os vários livros, vai recebendo, ainda assim, alterações. E olhando para este Os Crimes do ABC, até posso dizer que a série nunca me agradou tanto! É o melhor, até agora, a meu ver. A par do Morte no Nilo, de que gostei muito, também.

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

A história deste Hercule Poirot - Os Crimes do ABC coloca Hercule Poirot, a personagem principal perante um vilão verdadeiramente curioso e original. Dá pelo nome de ABC porque associa os seus crimes às letras do abecedário num estranho e macabro modus operandi. Começa por assassinar uma vítima cujo nome começa pela letra “A” e numa cidade inglesa com o nome a começar, também, pela letra “A”. A seguir, faz o mesmo com a letra “B”. Depois, com a letra “C”. E por aí diante. Os crimes têm todos uma assinatura em comum: ao lado de cada cadáver é sempre deixado um livro-guia de transportes denominado “ABC”. Como se isto já não fosse macabro o suficiente, este assassino ainda trata de escrever uma carta dirigida a Hercule Poirot, desafiando-o e comunicando onde será feito o próximo crime, antes que o mesmo seja praticado. Uma ideia excelente em termos de argumento, diga-se.

Caberá depois, a Poirot, tentar descobrir o mistério que envolve esta senda de crimes. Julgo que o argumento está bem transposto para banda desenhada, por parte de Brémaud. E, se tivermos em conta que é um livro que traz consigo quatro crimes - e respetivas investigações à volta desses mesmos crimes, até podemos dizer que conseguir colocar toda essa história num livro de 64 páginas, foi uma tarefa muito bem conseguida, embora o desafio não fosse fácil. 

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Porém, também é verdade que, por vezes, a leitura torna-se um bocado difícil, por ter balões com muito texto. Diria que, se o livro tivesse mais páginas, o autor teria tido mais espaço para deixar a história respirar. No entanto, também não se entenda, por este meu comentário, que o livro não se lê bem ou que é chato. Nada disso. Lê-se muito bem e é fácil acompanhar a história, mesmo relembrando que há muitas personagens ao barulho: as personagens assassinadas pelas mãos do ABC e os familiares das vítimas com quem, depois, Hercule Poirot, tenta obter informações que ajudem à resolução do caso. Talvez sejam personagens a mais para um livro de bd com 64 páginas mas, volto a frisar, o autor fez um bom trabalho. Neste caso, não seria possível abdicar de algumas personagens, sob pena de arruinar a lógica e sequência alfabética.

Não podendo ser considerada como uma história "pesada" é, ainda assim, a história mais pesada e mais adulta da coleção da Agatha Christie até agora. A personagem do ABC é sombria e maquiavélica e, por esse motivo, é incrível ver como um livro originalmente escrito em 1936, tem uma estrutura de thriller tão bem conseguida. Temos o suspense dos crimes serem anunciados e não conseguirem ser travados por Poirot e temos o mistério que envolve o vilão. E, mesmo assim, conseguimos ser surpreendidos. Uma autêntica masterclass de como fazer um bom thriller, por parte de Agatha Christie.

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Em termos de ilustrações, o trabalho é assegurado por Alberto Zanon. E posso dizer que os seus desenhos me conquistaram desde o primeiro momento! O autor é dono de um traço que junta o melhor do clássico com o moderno. Bastante franco-belga no género, mas a remeter para uma escola mais moderna, especialmente nas caras e expressões das personagens. Lembrou-me até, por vezes, o que Juan Cavia fez em Balada para Sophie

Nota ainda para a capacidade do autor em colocar as suas personagens em poses muito interessantes e dramáticas (como Jordi Lafebre em Verões Felizes, por exemplo) e com planos de câmara menos clássicos e mais modernos, com vários “picados” e “contra-picados”. Arrisca e fá-lo bem, tornando a leitura bastante aliciante. O trabalho de cores, que é assegurado por Fabien Alquier, também dá a ambiência e tom certo a toda a história. Tudo muito bem feito, diga-se.

A edição da Arte de Autor apresenta capa dura e envernizada, com papel baço, de boa qualidade. No fundo, segue aquilo que tem sido feito na restante coleção da editora, dedicada a Agatha Christie.

Concluo como comecei. A princípio a coleção dedicada a adaptações dos clássicos de Agatha Christie parecia-me uma série “fraquinha”. Mas depois de vários álbuns melhores do que Crime no Expresso no Oriente, a série tem-se afirmado como uma boa coleção de banda desenhada. Para isso também conta o facto de Agatha Christie ter sido verdadeiramente fantástica na invenção do policial. 

Quanto a este Os Crimes do ABC, com um argumento muito criativo e bem pensado, bem como aquela que considero ser a melhor arte ilustrativa de todos os livros desta coleção até agora, recomenda-se, sem dúvida! Aliás, se ainda não leram nenhum álbum desta série e estão curiosos, vão por mim e experimentem este Os Crimes do ABC!


NOTA FINAL (1/10):
8.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Ficha técnica
Hercule Poirot - Os Crimes do ABC
Autores: Frédéric Brémaud e Alberto Zanon
Editora: Arte de Autor
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2021

Chega ao fim a série, da Levoir, Clássicos da Literatura em BD!




Passado pouco mais de um ano desde o lançamento do primeiro livro, a Levoir e a RTP terminam a série Clássicos da Literatura em BD, com a publicação do 14º volume da coleção!

Desta feita, a obra em questão é Amor de Perdição, do autor português Camilo Castelo Branco. Assinale-se a particularidade de também a adaptação para banda desenhada ser, toda ela, uma adaptação made in Portugal, já que temos João Miguel Lameiras no argumento e adaptação do texto, e Miguel Jorge nas ilustrações.

Ainda não li o livro mas em Beja tive a oportunidade de conhecer algumas das pranchas desta obra e fiquei bastante agradado.

Abaixo, fiquem com a nota de imprensa da editora e algumas imagens promocionais.

Amor de Perdição, de João Miguel Lameiras e Miguel Jorge

Para fechar a coleção Clássicos da Literatura em BD, a 2 de novembro, a Levoir e a RTP escolheram a obra máxima de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, que se junta a Os Maias de Eça de Queirós.

A coleção é composta por 14 volumes, dois dos títulos são de autores portugueses. O argumento tem adaptação de João Miguel Lameiras, que considera ter sido um belo desafio. As ilustrações são da autoria de Miguel Jorge. Este volume é completamente português. O dossier tem a participação do Professor João Paulo Braga, nele encontra informação sobre o escritor, o romance e o contexto histórico em que foi escrito e para as imagens contámos com a colaboração da Casa de Camilo.

Camilo Castelo Branco foi um dos maiores escritores portugueses do século XIX e o primeiro escritor profissional em Portugal. Os seus romances passionais fazem do escritor o representante típico do Romantismo em Portugal. A sua vida atribulada foi tema de inspiração para os seus romances. A sua produção literária é extensa, contando com mais de uma centena de obras. Escreveu poesia, teatro, historiografia, contos, romances e novelas históricas, de aventuras e passionais.

Amor de Perdição, é uma novela composta em 1861, durante o tempo em que o autor esteve preso por adultério na cadeia da Relação do Porto.

Baseada num episódio real da vida de um tio seu, Simão Botelho, que lhe teria sido contado por uma tia, e cujo registo o autor teria encontrado nos livros de assentamentos da cadeia.

No entanto, a manipulação e a ficção, por parte de Camilo, são de tal forma livres, que o converteu na novela sentimental mais famosa do Romantismo português.

É uma narrativa passional e trágica, onde o amor, o ódio e a vingança, nos seus múltiplos cambiantes surgem extremados.

Simão e Teresa, são filhos de duas famílias inimigas de Viseu, os Botelhos e os Albuquerques, que se apaixonam. A conselho de Baltasar Coutinho, primo e prometido da jovem, despeitado pelo ciúme, Tadeu de Albuquerque decide encerrar a filha no convento de Monchique, no Porto. Simão espera-os à saída de Viseu, trava-se de razões com Baltasar e mata-o a tiro, entregando-se logo à justiça. Preso na cadeia da Relação do Porto, é condenado ao degredo.

Miguel de Unamuno, filósofo e escritor espanhol, diz sobre Amor de Perdição: “a novela de paixão amorosa mais intensa e profunda que alguma vez se escreveu na península ibérica.”

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Ficha técnica
Amor de Perdição
Autores: João Miguel Lameiras e Miguel Jorge
Adaptado a partir da obra original de: Camilo Castelo Branco
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 10,90€

Lançamento: Long John Silver #3 - Labirinto de Esmeralda




O tomo 3, intitulado Labirinto de Esmeralda, da mini-série Long John Silver, que é constituída por 4 volumes, chegou esta quarta-feira às bancas! 

Esta é uma série fantástica e altamente recomendável, da autoria de Xavier Dorison e Matthieu Lauffray, e que é editada pela ASA, em parceria com o jornal Público.

Abaixo, fiquem com algumas imagens promocionais e sinopse da obra.


Long John Silver #3 - Labirinto de Esmeralda, de Xavier Dorison e Matthieu Lauffray
Com a costa da América do Sul à vista, a tripulação do Neptuno vai finalmente poder respirar de alívio após a aterradora e perigosa travessia do Atlântico. 

Mas a tranquilidade é sol de pouca dura: Long John Silver, lady Vivian Hastings, o Índio Moc, o Doutor Livesey e aqueles que restam da tripulação vão ter de penetrar numa imensa floresta, sombria e hostil, em busca da mítica cidade de Huayna Capac e do seu tesouro…

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Ficha técnica
Long John Silver #3 - Labirinto de Esmeralda
Autores: Xavier Dorison e Matthieu Lauffray
Editora: ASA
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 10,90€ 


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Lançamento: O Fogo Sagrado





Já está disponível há uns dias o novo álbum do autor português Derradé que, a esse propósito, até já concedeu uma entrevista ao Vinheta 2020.

A obra chama-se O Fogo Sagrado e a sua edição é feita pela Escorpião Azul e este é o livro que marca o regresso do autor depois de publicar, pela Polvo, em 2019, o álbum A Loja.

Abaixo, fiquem com algumas imagens promocionais e com a sinopse da obra.


O Fogo Sagrado, de Derradé

Porque gosto de BD? Porque gosto de fazer BD? Será que a Banda desenhada faz falta?

Num mundo cada vez mais individualista e

ignorante por opção, só um cataclismo global poderia mostrar à

humanidade a utilidade da cultura e de quem a produz. Ou talvez não.

Uma autobiografia fictícia pós-apocalíptica viral.

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Ficha técnica
O Fogo Sagrado
Autor: Derradé
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 72, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
PVP: 12,50€

Cavalo de Ferro lança "Fome: Novela Gráfica"!




Já está disponível a nova aposta da editora Cavalo de Ferro (do grupo Editora 20|20), que dá pelo nome de Fome: Novela Gráfica

O livro é baseado no romance original de Knut Hamsun (vencedor do prémio Nobel da literatura) e a adaptação para banda desenhada ficou a cargo de Martin Ernstsen. Saliente-se que esta adaptação ganhou o Prémio Brague, em 2019.

Estou curioso com este livro porque nunca li a obra original.

Abaixo, fiquem com a sinopse da obra e algumas imagens promocionais.


Fome: Novela Gráfica, de Martin Ernstsen

Obra inaugural da grande literatura moderna, Fome, do prémio Nobel de Literatura Knut Hamsun, foi publicado há mais de um século.

Numa abordagem tão fiel quanto original ao romance de Hamsun, o artista norueguês Martin Ernstsen adapta para novela gráfica esta história protagonizada por um jovem escritor que deambula faminto e delirante pela cidade de Kristiania, oferecendo ao leitor uma experiência estética e literária singular. 

Um romance marcante, considerado o início da grande literatura do século xx, que antecipou e influenciou a obra de nomes como Franz Kafka, Albert Camus ou John Fante.

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Ficha técnica
Fome: Novela Gráfica
Autor: Martin Ernstsen
Adaptado a partir da obra original de: Knut Hamsun
Editora: 20|20 Editora (Cavalo de Ferro)
Páginas: 232, a cores
Encadernação: Capa dura
PVP: 24,99€

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Entrevista a André Diniz - "Foi com espanto que vi o Brasil de 1904 repetir-se em 2020"




Hoje é dia de publicar mais uma entrevista! 

Desta feita, tive o privilégio de estar à conversa com o autor brasileiro André Diniz, que já tem as suas mais recentes obras, Revolta da Vacina e Matei o meu Pai e foi estranho, disponíveis para compra no stand da editora Polvo, no Amadora BD.

O autor estará presente no próximo sábado, dia 30, e na segunda-feira, dia 1, no Festival da Amadora, com a apresentação das obras a ocorrer no sábado e as sessões de autógrafos a acontecerem no sábado e na segunda-feira.

Deixo-vos com esta interessante entrevista que tive com o André.





Entrevista


1. A Polvo prepara-se para editar "Revolta da Vacina", livro já lançado no Brasil. Como está a ser a recepção a esta nova obra no Brasil?
A resposta à edição brasileira vem sendo acima do que eu esperava, confesso. Curiosamente, esta BD não é inédita: havia sido publicada antes no Brasil, mais precisamente em 2013, com o título de “Z de Zelito”. A arte era diferente também, a cores e com outro acabamento. Eu nunca ficara realmente satisfeito com esta primeira edição, principalmente por decisões minhas no visual e no título, mas também porque ela não foi editada de maneira satisfatória. Com isso, poucos viram o livro e eu realmente queria retrabalhar nela de novo, num outro momento. O que eu jamais imaginaria é que os temas da BD, que fala de epidemias, o descaso e uso político dela e a ignorância do povo pudessem voltar a ser temas atuais anos depois da primeira versão da BD pronta, quando eu julgava escrever apenas sobre fatos passados.


2. Já são mais do que uma mão cheia os livros que editaste em Portugal. É Portugal um país com especial carinho pelo teu trabalho? Como sentes a aceitação da tua obra por parte dos portugueses? Já te sentes “meio português”?
A minha conexão definitiva a Portugal (vim cá viver com minha família em 2016, após alguns títulos já cá publicados) começou justamente pelas BDs. Conheci Paulo Monteiro no Brasil, a quem reencontrei aqui. Foi quando ele me apresentou ao editor Rui Brito e daí começou a sucessão de novos amigos e novos títulos publicados. Em todos os graus e de todas as formas possíveis, este país maravilhoso me acolheu de forma comovente desde o começo. Vim como turista em 2013 pela primeira vez, e em janeiro de 2016 eu e minha família já éramos cá residentes... Desde então, não só sinto-me muito honrado por ter leitores queridos aqui em Portugal, mas tenho grande prazer, sempre que posso, em ajudar nesse intercâmbio das Bds dos dois países, apresentando autores portugueses aos autores e editores brasileiros e o mesmo com autores brasileiros aos autores e editores portugueses.



3. E como tem sido a relação com a editora Polvo?
A Polvo foi a primeira a se interessar pelo meu trabalho e a publicar a grande maioria deles em Portugal. Vários deles, inclusive, publicados por cá pela Polvo antes mesmo de serem publicados no Brasil! Além disso, a Polvo também se tornou a porta de entrada das BDs brasileiras em Portugal. Creio que não haja mesmo no Brasil uma editora única com uma colecção tão extensa e tão seleta de quadrinhos brasileiros como a da Polvo. Por fim, depois de tantos trabalhos conjuntos desde 2013, eu e Rui seguimos cada vez mais como dois grandes amigos pessoais, daqueles que juntam as duas famílias para viajar. Acho que isso prova mais do que tudo a harmonia do nosso trabalho em parceria!


4. Este livro retrata a crise sanitária que o Brasil viveu em 1904 e como a vacina compulsória (a solução para a epidemia de então) causou revolta junto das gentes brasileiras. Já tinhas a ideia para esta história antes do início da pandemia de Covid-19 ou foi este novo vírus que te remeteu para o Brasil de 1904?
Como citei mais acima, a primeira versão da BD foi lançada em 2013, sendo que eu havia escrito esse roteiro ainda alguns anos antes, creio que em 2007 ou 2008. Num momento que eu não poderia prever a pandemia. Eu também não poderia prever que estaríamos, em um futuro próximo, discutindo se a Terra é ou não é redonda. Muito menos que teríamos um movimento mundial na direção da extrema-direita, de fanatismo religioso, da negação à ciência. Sabia desde já que a história se repete, mas sabia disso na teoria apenas. Foi assustador testemunhar isso na prática com consequências tão trágicas. Jamais imaginaria que aquela história passada em 1904 e escrita em 2008 seria um tema atual em 2020.



5. Como surgiu a ideia de avançar com esta história?
O tema, na verdade, foi-me sugerido pelo amigo Alexandre Linares, meu editor na época, de forma até meio informal. O projeto não vingou na época, mas aí eu já estava fascinado pelo tema, e acabei prosseguindo com as pesquisas e com a criação da BD por conta própria. Como outros argumentos meus, este junta cenário e contexto reais com personagens fictícios e sua própria história pessoal jogadas em tal momento histórico. As pesquisas pelo tema e as ideias para Zelito, o protagonista, vinham surgindo de forma que não era mais uma escolha para mim fazer ou não fazer a história, ela já nascia ali à minha revelia.


6. Há uma procura da tua parte em estabelecer um paralelismo entre a epidemia de 1904 e a pandemia de Covid-19? E a forma como ambas foram (ou estão a ser) vividas no Brasil? Os tempos mudaram, mas continuamos iguais?
Foi com espanto que vi o Brasil de 1904 repetir-se em 2020. Mas depois que um presidente como o atual é eleito pelo povo, nada mais me espanta.



7. Com a enorme quantidade de informação disponível que existe hoje em dia faz-te confusão a enorme onda de negacionismo que o Brasil (e tantos outros países) tem experienciado relativamente à Covid-19? Ou será essa mesma facilidade de informação – assente nas redes sociais - a causa maior do avanço da corrente de negacionismo?
É tudo ainda mais absurdo do que isso. Em 1904, falar de uma vacinação em massa ao povo brasileiro era algo no mínimo estranho mesmo às pessoas mais informadas. O Brasil de hoje é um país que já foi, a até pouquíssimos anos atrás, referência mundial em vacinação em massa, levada a sério por dirigentes e pelo povo. Então, o que houve foi algo mais grave do que falta de informação. Foi negacionismo oportuno e vil e por parte do poder somado ao fanatismo do povo, acima de tudo.


8. Podemos admitir que há também uma mensagem política nesta obra ou será meramente sociológica?
Sim, fortemente política. Já víamos lá a ambição pelo poder colocado acima de tudo e a ignorância e boa fé popular usados com esse propósito. Houve mesmo a tentativa de aproveitar o caos político, social e económico para depor o presidente da época. Impossível separar a política de todo aquele contexto.


9. Depois deste Revolta da Vacina, já tens projetos para o futuro, relativamente a novos livros de banda desenhada? Queres partilhar alguma novidade com os leitores do Vinheta 2020?
Os projetos futuros são a minha maldição: enquanto trabalho em uma BD, vêm-me as ideias para outras cinco!... A pandemia freou-me um pouco nesse fluxo, confesso, mas voltei já a trabalhar em novas ideias que ainda estão cedo demais para serem comentadas. Mas fico feliz pela Polvo lançar em simultâneo com A Revolta da Vacina outra BD minha ainda inédita por aqui: “Matei Meu Pai e Foi Estranho”, uma das Bds que mais gostei de fazer. Isso deve compensar um pouco o hiato criativo, creio.

Um olhar sobre Amadora BD 2021



Estive no Amadora BD, durante a inauguração e o primeiro fim de semana, e acho que, mesmo estando o evento ainda a decorrer, enquanto escrevo estas palavras, já é possível opinar sobre o mesmo. Faço aqui o meu apanhado geral sobre aquele que ainda é o maior evento dedicado à banda desenhada em Portugal. 

Há um novo espaço e uma nova equipa na organização. A nova direção já organizou o festival em formato digital no ano passado e, agora, pela primeira vez, preparou um evento presencial. Portanto, por estes dois motivos, o novo local e a nova direção, considero este o "ano zero" do Amadora BD. E, por "ano zero", quero dizer que estamos num período de novidade, de transição. E há que ver, desde o início, se estamos a caminhar para o sítio certo ou não. E acho, honestamente, que estamos a caminhar para um bom porto. A nova equipa é jovial, acessível e parece-me ter vontade de fazer mais e melhor. Além de que - e isso talvez seja o melhor elogio que posso fazer à nova direção - esta nova equipa não parece ser teimosa e obtusa mas, antes, está de olhos e ouvidos abertos para saber o que não está tão bem para, depois, poder corrigir. A questão do problema das senhas nos autógrafos de sábado, é apenas um exemplo da disponibilidade da direção para melhorar o que não está bem, como falarei mais abaixo. 

Portanto, e repetindo que considero este o "ano zero" do evento, estou bastante satisfeito com a globalidade do novo Amadora BD. Há algumas coisas menos positivas, em que estou a tentar ser um pouco mais benevolente. Não é sê-lo só porque sim. É sê-lo porque quando mudamos algo nas nossas vidas, também é natural que existam, depois, certas coisas a limar melhor. E deve haver, na minha opinião, alguma benevolência em relação aos primeiros passos. Geralmente, algo cambaleantes.

Portanto, mais abaixo, dou-vos a conhecer a minha opinião sobre o Amadora BD nos seus mais diversos vetores. Tento também, além disso, sugerir alternativas/ideias/dicas em relação àquilo que, em edições futuras, poderia ser melhor. As críticas são construtivas, naturalmente. Não o sei fazer de outro modo.


Sobre a nova localização do evento

Sim, isto é aquilo que salta mais à vista de todos. Depois de largos anos a vermos o Amadora BD a ocorrer no Fórum Luís de Camões, este ano decidiu-se que o festival de BD passaria a ser no antigo Ski Skate Parque, situado algures entre a Damaia e a Amadora.

Posso dizer que, de um modo geral, a mudança foi para melhor. Os acessos de carro são bastante fáceis (logo à saída do IC-19) e o estacionamento também é bem mais fácil do que no antigo espaço. 

Em termos de transporte público, chegar ao Amadora BD não é tão simples como ir por transporte próprio, embora a organização tenha disponibilizado autocarros que saem a partir da estação de comboios da Reboleira. Coisa que aplaudo. 

Acho que, em termos da nova localização, estamos bastante bem. Foi para melhor!


Sobre o espaço do Ski Skate Parque

O espaço divide-se agora em dois pavilhões: um pavilhão "fixo", que já lá estava, que é dedicado às exposições de banda desenhada, e um pavilhão móvel - uma grande tenda - onde podemos encontrar o auditório; um espaço para as sessões de autógrafos; e o espaço comercial.



Sobre o Pavilhão de Exposições

Quanto ao espaço das exposições, acho que a opinião unânime será que houve uma extrema e fantástica melhoria nesta edição. Ao contrário das edições anteriores, onde as exposições eram feitas num parque de estacionamento(!) sombrio e sem luz natural, este ano as exposições receberam o destaque e respeito que merecem. Se queremos que a banda desenhada seja tratada como uma forma de arte respeitável, também temos, todos nós, que começar por dar o exemplo. E foi isso que a Organização do Amadora BD fez, e muito bem. Este novo pavilhão comporta as 10 exposições e é um espaço bastante agradável. Ficamos com a ideia que estamos dentro de um museu dedicado à 9ª arte e não num mísero parque de estacionamento propenso à prática de atividades ilícitas.


Falando deste novo espaço de exposição, tenho apenas uma pequena observação menos positiva a fazer: acho que cada uma das salas deveria ter uma saída/entrada que daria para o corredor central para, desta forma, se ter uma melhor circulação. Assim, como está, parece um circuito Ikea: entramos na sala da Comic Heart e quase só conseguimos sair através da sala de Verões Felizes. Nada contra esse circuito implícito. Até gosto de seguir o percurso previamente pensado. Mas também é bom - e até por uma questão de segurança, em caso de evacuação - que cada sala da exposição permita facilmente o acesso ao corredor central. Não é nada de "grave" mas é um pormenor que pode ser melhorado.


Falando, agora, das exposições, concretamente, posso dizer que, de um modo geral, estavam todas bem conseguidas. Naturalmente, umas mais inspiradas, e onde o detalhe era maior, do que noutras, mas não posso dizer que tenha sentido que havia uma exposição manifestamente má. Todas tinham coisas interessantes. Destaco as minhas preferidas que foram as exposições Lucky Luke, Verões Velizes, O Corvo e Mulher Maravilha.

Sobre as exposições, assinale-se ainda que decorrem, à margem do evento no Ski Skate Parque, 3 outras exposições: uma, dedicada à obra Desvio, de Ana Pessoa e Bernardo P. Carvalho, na Bedeteca da Amadora, e outras duas, dedicadas aos autores Jorge Miguel e a Marcello Quintanilha, no Auditório Artur Bual. Percebo a ideia da organização de tentar que se respire banda desenhada em vários pontos diversos da cidade e não apenas num só espaço. E também aplaudo o facto de se ter disponibilizado transporte gratuito entre estes 3 lugares. Mas, sinceramente, acho este um esforço inglório, sem grandes proveitos na prática, e que acaba por ser uma maneira de gastar energias e recursos, sem grande vantagem porque tenho sempre a sensação que 95% dos visitantes do certame (para não dizer 100%) não visita (e, por ventura, nem sabe que existem) estes espaços adicionais. 


Nem de propósito: enquanto escrevo estas palavras, neste exato momento, recebi uma mensagem de um leitor que diz que, este ano, quer, pela primeira vez, ir ao Amadora BD porque adora a nova banda desenhada Umbigo do Mundo, de Penim Loureiro e Carlos Silva, mas está confuso com a questão dos 3 espaços de exposição. Ora, penso que, tendo em conta a dimensão do nosso mercado, faz mais sentido concentrar tudo num só espaço. Menos trabalho em simultâneo para a organização e menos confusão para o público. E mesmo que a Câmara queira utilizar o Auditório Artur Bual e a Bedeteca para a promoção da banda desenhada poderá - e deverá - fazê-lo fora do calendário do Amadora BD, promovendo exposições de bd ao longo do ano nesses espaços. Fica a sugestão.


Sobre o Pavilhão do Auditório, Autógrafos e Espaço Comercial

No segundo pavilhão do Ski Skate Parque foi montada uma tenda que engloba todos estes espaços: o auditório, a zona de autógrafos e as lojas de bd.

Antes de tudo, compreendo e defendo que estas três vertentes devam coexistir no mesmo espaço. Porque, se separássemos o auditório da área comercial e da área dos autógrafos, teríamos, certamente, a plateia do auditório muito vazia em várias ocasiões. A organização decidiu então manter estas 3 áreas num só espaço e considero que foi uma boa ideia. O pavilhão tem uma parede com um "balcão" onde temos os autores a autografar e as outras 3 paredes são ocupadas por lojas de bd. No centro, em formato de ilha oval, temos um pequeno auditório com a capacidade para 20/30 cadeiras. É verdade que, por vezes, o ruído do espaço era um pouco mais elevado do que o esperado, complicando a possibilidade de ouvir aquilo que os autores, que estavam em palco, iam dizendo mas, entre ter um auditório barulhento que, desta forma, pelo menos, consegue captar muito mais gente do que aquela que captaria caso estivesse num local à parte, ou ter um auditório mais sereno, em que se ouve tudo muito bem, mas está "às moscas", prefiro a primeira opção. Aquela que a organização tomou. E bem. Talvez se possa melhorar as condições de som e colocação de colunas na próxima edição mas gostei. 


Em relação às lojas, há uma boa seleção de livros com praticamente todos os títulos lançados em Portugal a marcarem presença, bem como algumas edições mais independentes ou de origem espanhola, francesa e inglesa. Não falta nada! 

O que falta é algum espaço. Nas alturas em que havia mais gente neste pavilhão, a circulação ficava muito congestionada e as lojas ficavam facilmente cheias o que levou, certamente, a que vários stands tivessem perdido a oportunidade de fazer mais vendas a potenciais interessados. Sei de muita gente que optou por nem sequer comprar nada devido à enchente.

Sei que as limitações do espaço eram algumas - já lá irei - mas acho que seria benéfico se os stands fossem um pouco maiores. Como fazê-lo? Aumentando o tamanho da tenda.


Faço também uma outra sugestão, desta vez, aos editores/lojas: parecem-me muito mais viáveis - e com melhores possibilidades comerciais - os stands que optaram por estar configurados de forma a que o público possa entrar dentro do stand. Espaços como os da Kingpin, da Dr. Kartoon, da ASA, da Comic Heart (são os maiores, eu sei) mas também o da Arte de Autor ou o da Polvo, ao permitirem que as pessoas entrem dentro do espaço, fazem com que as mesmas possam mexer nos livros. Isso é bom para a) os interessados, que assim podem folhear os livros e, possivelmente, acabar por comprar mais títulos e, naturalmente, b) para as próprias lojas/editoras que vêm as suas probabilidades de fazer negócio a aumentarem. Falando por mim, enquanto consumidor, há probabilidades muito superiores de eu comprar um livro de bd, caso o possa manusear e folhear. Houve outras lojas/editoras, como a Ala dos Livros, a Devir, a Escorpião Azul, a Cult, e mais umas quantas, que optaram por ter uma "montra"/balcão" que mostrava muitos livros, é certo, mas que não permitia, com facilidade, a entrada dos visitantes no seu espaço comercial. São opções, naturalmente, mas acredito que será benéfico para todos que o espaço permita a entrada dos interessados. Não obstante, e apesar de eu ter formação superior em gestão de marketing e especialização em publicidade, reconheço que os editores/lojas saberão mais da sua poda do que eu. Portanto, no fim de contas, a escolha é deles e não minha.


Por fim, neste pavilhão, existe o "balcão" reservado aos autógrafos. Ainda que eu tenha saído do evento no sábado à tarde, por volta das 15h30, antes de se gerar mais confusão, foi-me dito depois que no sábado houve bastante caos e desorganização relativamente à gestão dos autógrafos. 

E aqui tenho que dar uma palavra de apreço à organização que teve o bom senso de ouvir os editores e demais intervenientes sobre como deveria alterar a situação no dia seguinte. E, sem surpresas, diga-se, no domingo a questão dos autógrafos decorreu com muito mais rigor e serenidade. Há um sistema de senhas - que me parece justo - que procura não sobrecarregar em demasia nenhum dos autores. Há alguma confusão, sim, mas parece-me ser esta a forma correta de fazer isto. Não será perfeito mas é, parece-me, o melhor possível. Bem jogado, organização.


A única coisa que me parece que deve ser revista nesta tenda é tentar, na próxima edição, aumentá-la, em área, até aos limites físicos possíveis. Não sei se o terreno tem forma de ter ali uma tenda um pouco maior (mas acho que sim) ou que custos adicionais isso acarretará para a organização. Mas, mesmo que sejam apenas alguns metros a mais, poderão fazer a diferença entre ter um espaço mais airoso, em que se circula melhor, em que as filas para os autógrafos não deixam o espaço tão congestionado e em que os stands possam ter mais espaço para colocarem os seus livros à venda. Exemplo concreto: se, no próximo ano, abdicassem daquele deck/varanda atrás da zona de autógrafos que, sempre que lá fui, estava deserto, poderiam ter alguns metros adicionais a mais para o espaço indoor da tenda.

Ah, e já agora, dupliquem ou tripliquem o número de casas de banho. 


Sobre os autores

Acho que a programação deste ano me parece bem conseguida. Esta edição conta com nomes relevantes da banda desenhada internacional como Achdé (Lucky Luke), Marcello Quintanilha, Juanjo Guarnido (Blacksad), Philippe Thirault (Shanghai Dream), Mawil (Lucky Luke), Georges Bess (Drácula, O Lama Branco, Juan Solo), Lucio Oliveira (Edibar), Frank Pé (A Fera), Alain Ayrolles (O Burlão nas Índias), Marc Bourgne e Benjamin Benéteau (Michel Vaillant), entre outros. E mais um bom número de autores portugueses relevantes como Luís Louro, Jorge Miguel, Derradé, Penim Loureiro, Pedro Brito, João Fazenda, Osvaldo Medina, André Oliveira, Paulo Monteiro, entre muitos outros.

Se calhar já houve anos com um conjunto de nomes mais célebres mas acho que não podemos ser injustos dizendo que, neste cômputo, este foi um mau ano. Porque não o foi. Bom trabalho, intervenientes.


Sobre os prémios PGDA

Caso ainda não saibam, os vencedores dos PBDA (Prémios Nacionais de Banda Desenhada da Amadora) foram: 

- Melhor Obra de BD de autor português: Balada para Sophie, de Filipe Melo e Juan Cavia

- Melhor Obra Estrangeira de BD: O Burlão nas Índias, de Ayroles e Guarnido

- Melhor fanzine/publicação independente: Bestiário de Isa, de Joana Afonso

- Prémio Revelação: Planeta Psicose, de Ricardo Santo

- Melhor Edição portuguesa de BD: Procura-se Lucky Luke, de Matthieu Bonhomme, pela editora A Seita


Ora, quanto aos vencedores, não farei nenhum tipo de comentário, além de dar os parabéns aos mesmos. Posso dizer que nenhuma destas atribuições me choca particularmente e até concordo com quase todas. Não posso dizer o mesmo, porém, em relação à seleção de nomeados. Houve, desde o momento em que os nomeados foram anunciados, uma estupefacção geral (e que eu partilho) sobre a inclusão d' A Vida de Adulta, de Raquel Sem Interesse, nesta categoria. Ora, mesmo admitindo que o Regulamento não consegue ser claro o suficiente - e isso também é algo que devia ser revisto e melhorado - não consigo compreender, por mais que me esforce, como é que este A Vida de Adulta consegue entrar nesta categoria que procura premiar o bom trabalho de edição. É uma obra interessante, que até teve um parecer positivo da minha parte quando lhe fiz uma análise, relembro. No entanto, não traz consigo nada de assinável relativamente à qualidade da edição. Mais! Consigo pensar em 10 ou 20 obras com um trabalho de edição superior ao deste livro. Soube também que a obra Bottoms Up tinha sido incluída, por erro, na categoria de fanzine. Errar é humano, bem sei. Mas não se compreendem as ausências de certas obras em várias nomeações. Se querem que os prémios sejam levados a sério, têm que mudar algo na próxima edição. Mesmo. Porque não aumentar o número de jurados?


Não obstante o que já referi, há algo de extrema importância, e que é totalmente positivo, que também tem que ser referido. Pela primeira vez, há um prémio monetário (de 5.000€!) para a categoria Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português. Penso que isto merece bastante destaque pois permite um apoio direto (e generoso) aos autores vencedores. 

Acho que seria positivo que outras categorias - especialmente as de obra revelação e as de fanzine - obtivessem, também, algum tipo de prémio, mesmo que fossem prémios com valores mais baixos. Mas, lá está, é melhor esta iniciativa do que aquilo que tínhamos no passado - que era zero! - e, nesse sentido, acho que foi a grande surpresa positiva dos prémios desta edição. Não sei quem se mexeu para que isto acontecesse mas acho que foi uma excelente ação e merece mil vénias por tal.

Sobre a "cerimónia" dos prémios


Se houve uma iniciativa que foi, claramente, o "patinho feio" deste Amadora BD, foi a "cerimónia" (sim, tenho que usar aspas na palavra "cerimónia") de atribuição dos prémios. Embora eu tenha ido a mais de 20 edições do Amadora BD ao longo dos anos, esta foi a primeira vez em que assisti a esta "cerimónia". Algumas das pessoas com quem falei - e que sabem mais do assunto do que eu - disseram-me que esta "cerimónia" era sempre algo fraquinho. Mas "fraquinho" é dizer pouco. Um understatement. Eu senti vergonha alheia enquanto ali estive. 

Esta "cerimónia" decorre no auditório dos Recreios da Amadora. Mais uma acontecimento à margem do Ski Skate Parque. O que faz, naturalmente (obviamente! expetavelmente! indubitavelmente!) com que o auditório esteja vazio para assistir a esta "cerimónia", que devia ser um dos pontos altos do evento. Acho que é fácil de compreender que não faz qualquer sentido ter-se o Ski Skate Parque no seu horário nobre, a um domingo, cheio de gente, com apresentações a acontecerem, e promover-se, à mesma hora, num outro lugar, que pressupõe a utilização de um transporte, uma "cerimónia" de entrega de prémios. Seria o mesmo se a SIC transmitisse os seus Globos de Ouro na mesma altura em que decorria a cerimónia dos Oscars. Incompreensível por mais compreensivo que eu tente ser. 


Mas não ficamos por aqui! As poucas pessoas que estavam na sala para assistir a esta "cerimónia" eram alguns dos editores nomeados (mas não todos) e alguns dos autores nomeados (mas não todos). Julgo que não havia nenhum elemento da imprensa ou algum blogger, à exceção da minha pessoa. A culpa é dos ausentes? Claro que não! Não se pode cantar e assobiar ao mesmo tempo! Já muito glório foi, a meu ver, o esforço dos presentes que lá foram. 

O apresentador da "cerimónia", coitado, entre vários erros que deu (nomeadamente em nomes mal pronunciados ou em troca de autores de obras) lá repetia as mesmas piadas secas sobre o facto da sala estar vazia, sublinhando, ainda mais, o momento constrangedor. O próprio vereador andava ali para a frente e para trás sem muita noção do que estava ali a fazer. Mas há mais! O autor vencedor do concurso de BD não estava presente quando o seu nome foi anunciado porque estava a trabalhar... (imagine-se!) no Ski Skate Parque! A culpa não é do rapaz. É da organização. Só pode ser. Não faz qualquer sentido organizar esta "cerimónia" de uma forma tão pouco profissional, que em nada dignifica a banda desenhada ou o Município. Se é para isto, mais vale anunciar os vencedores dos prémios através de uma nota de imprensa e não fazer qualquer "cerimónia"! Senti-me num filme dos Monty Python ou num sketch dos Gato Fedorento. Parte de mim queria rebentar em risos enquanto a outra parte estava em estado de choque. Acredito que a associação de estudantes de uma escola preparatória organize melhores "cerimónias" do que esta.


Acho que a ideia é boa mas tem mesmo que ser alterada. Como não me considero uma daquelas pessoas que só sabe apontar o dedo, deixo algumas sugestões que, mesmo sendo, acho eu, de common sense, talvez tenham escapado à organização:

Em primeiro lugar, esta cerimónia não pode acontecer durante a tarde de um domingo!!! Não pode, não funciona, esqueçam! Se a Organização quer manter o espaço do auditório, que é simpático, admito, tem forçosamente de organizar este evento numa outra altura. Quando? É muito fácil. Um dia antes do arranque oficial do festival. Em vez de se fazer aquele tri-evento de inauguração às 18h no Auditório Artur Bual, seguido de um evento às 19h, com jantar, na Bedeteca, e o evento de inauguração no Ski Skate Parque às 21h, porque não fazer, na véspera da inauguração do Ski Skate Parque, um evento direcionado a um público profissional? E em que a parte da Inauguração do Ski Skate Parque era substituída pela cerimónia de prémios?


Eu explico melhor: fazia-se à mesma o evento de inauguração do Ski Skate Parque - que, já agora merece um comentário positivo meu, por todo o espetáculo que os Custom Circus deram, embora nada tivesse a ver com banda desenhada - mas, em vez de ser na quinta-feira, às 21h, como foi, era na sexta-feira à mesma hora. E, na quinta-feira, os convidados do evento eram profissionais e não público em geral (falo de expositores, autores, bloggers, comunicação social, etc). A presença da Presidente da Câmara Municipal da Amadora e, até mesmo (porque não?) da Ministra da Cultura ou do Secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media seria relevante. Até mesmo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que é conhecido por dizer "sim" a muitos eventos culturais, poderia ter estado neste evento. Será que a organização o convidou, sequer? É que se queremos que a televisão, a rádio, os sites falem do evento também é bom que a organização saiba (como) cativá-los. 


Assim, voltando à minha sugestão, nessa dia reservado ao público profissional, para além das inaugurações das exposições do Auditório Bual e da Bedeteca, organizar-se-ia, de forma decente, uma cerimónia de prémios em que já estariam presentes todos os players que importam do sector. O próprio jantar volante até poderia ser no piso de cima do auditório dos Recreios da Amadora, em vez de ser naquele espaço ao lado da Bedeteca. Estarei a ter alucinações ou isto é uma coisa relativamente simples de fazer, que até nem traz custos acrescidos e que daria a esta "cerimónia" o peso e o valor que a mesma merece? Por favor, organização, se alguém me está a ler, mudem alguma coisa em 2022 relativamente à "cerimónia". Invistam algum tempo e planeamento e façam com que a "cerimónia" perca as aspas e se torne na iniciativa que merece ser. É possível e faz falta. Mas façam-no em condições. Não sei se Juanjo Guarnido, um autor consagrado, já alguma vez esteve numa "cerimónia" de prémios mais deprimente do que esta... mas custa-me a crer que sim.

Dois pontos positivos: gostei do trio de jazz que deu à "cerimónia" alguns momentos musicais interessantes e a sala também é acolhedora. Pouco mais de positivo há a dizer desta iniciativa, desculpem a sinceridade.


Sobre o site


Sim, eu sei que as informações relativamente às exposições, ao programa, aos convidados e aos workshops só começaram a ser carregadas para o site mais em cima da hora do evento e isto é algo patológico na organização do Amadora BD que pode e deve ser alterado para melhor. 

A organização deste evento precisa de saber que quanto mais depressa conseguir anunciar e publicar o evento, bem como os autores presentes e o respetivo programa, mais potenciais interessados conseguirá atingir e, consequentemente, terá mais visitantes no evento.

De qualquer maneira, tenho que dizer que, possivelmente, este é o melhor website de que me lembro do Amadora BD. Está simples, apelativo, intuitivo, de fácil utilização e consegue reunir a informação que interessa, de forma bastante clara. Por favor, repliquem este site em edições futuras. Está ótimo!


Uma última nota


Este ano o Amadora BD tem sido anunciado como um evento que decorre no Ski Skate Parque da Amadora. E isso faz, certamente, sentido porque era para isso - para o ski(!) e para o skate - que o espaço foi originalmente concebido. E tendo em conta que é a primeira vez que o Amadora BD ali se desenrola, faz sentido que se comunique que o evento decorre no Ski Skate Parque

No entanto, surgiu-me uma ideia que, julgo, fará todo o sentido. Acho que era positivo se a partir de agora, o espaço fosse rebatizado como BD Parque de Amadora (ou outra coisa qualquer, que remeta para a BD), em detrimento de Ski Skate Parque. É que, se já não se faz ali ski, nem skate, e se o espaço é utilizado para o Amadora BD, é isto que faz sentido, certo? Desde que esta ideia me surgiu, já a partilhei com várias pessoas que prontamente concordaram comigo. Partilho-a aqui para, depois, mais tarde, quem sabe, poder dizer: "Vêem, fui eu o primeiro a falar nisto!". Eheheh. Piadolas à parte, acho que faz todo o sentido.

Por fim, e o meu texto já vai longo, gostaria de dar os parabéns à nova direção do evento que demonstra a predisposição para ouvir sugestões e melhorar o seu trabalho. Como "ano zero", acho que podem estar orgulhosos do seu trabalho. Há coisas a melhorar (especialmente a "cerimónia" dos prémios) mas acho que, de forma global, este é um evento bem conseguido.

Quem ainda não foi lá, tem até ao dia 1 de Novembro para o fazer. E olhem que, para quem gosta de banda desenhada, é mais que obrigatório!