sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Análise: Hercule Poirot - Os Crimes do ABC

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon

Julgo já o ter dito aqui, numa outra análise a um dos livros que compõem a Coleção Agatha Christie, publicada pela Arte de Autor, mas vou-me repetir: quando, há uns anos, conheci esta série com o volume Crime no Expresso no Oriente, não fiquei muito bem impressionado. Não que tivesse achado que se tratava de uma má obra mas sim porque tinha ficado vários furos abaixo das minhas expetativas. Todavia, à medida que fui lendo os outros volumes (Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca, Os Beresford – Mister Brown, e Hercule Poirot - Morte no Nilo e O Misterioso Caso de Styles) a minha opinião sobre a série foi-se alterando e hoje até acho que posso dizer que fiquei fã. Saliente-se que cada volume é feito por autores diferentes. E talvez isso justifique que a qualidade da adaptação e das ilustrações, embora relativamente nivelada entre os vários livros, vai recebendo, ainda assim, alterações. E olhando para este Os Crimes do ABC, até posso dizer que a série nunca me agradou tanto! É o melhor, até agora, a meu ver. A par do Morte no Nilo, de que gostei muito, também.

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

A história deste Hercule Poirot - Os Crimes do ABC coloca Hercule Poirot, a personagem principal perante um vilão verdadeiramente curioso e original. Dá pelo nome de ABC porque associa os seus crimes às letras do abecedário num estranho e macabro modus operandi. Começa por assassinar uma vítima cujo nome começa pela letra “A” e numa cidade inglesa com o nome a começar, também, pela letra “A”. A seguir, faz o mesmo com a letra “B”. Depois, com a letra “C”. E por aí diante. Os crimes têm todos uma assinatura em comum: ao lado de cada cadáver é sempre deixado um livro-guia de transportes denominado “ABC”. Como se isto já não fosse macabro o suficiente, este assassino ainda trata de escrever uma carta dirigida a Hercule Poirot, desafiando-o e comunicando onde será feito o próximo crime, antes que o mesmo seja praticado. Uma ideia excelente em termos de argumento, diga-se.

Caberá depois, a Poirot, tentar descobrir o mistério que envolve esta senda de crimes. Julgo que o argumento está bem transposto para banda desenhada, por parte de Brémaud. E, se tivermos em conta que é um livro que traz consigo quatro crimes - e respetivas investigações à volta desses mesmos crimes, até podemos dizer que conseguir colocar toda essa história num livro de 64 páginas, foi uma tarefa muito bem conseguida, embora o desafio não fosse fácil. 

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Porém, também é verdade que, por vezes, a leitura torna-se um bocado difícil, por ter balões com muito texto. Diria que, se o livro tivesse mais páginas, o autor teria tido mais espaço para deixar a história respirar. No entanto, também não se entenda, por este meu comentário, que o livro não se lê bem ou que é chato. Nada disso. Lê-se muito bem e é fácil acompanhar a história, mesmo relembrando que há muitas personagens ao barulho: as personagens assassinadas pelas mãos do ABC e os familiares das vítimas com quem, depois, Hercule Poirot, tenta obter informações que ajudem à resolução do caso. Talvez sejam personagens a mais para um livro de bd com 64 páginas mas, volto a frisar, o autor fez um bom trabalho. Neste caso, não seria possível abdicar de algumas personagens, sob pena de arruinar a lógica e sequência alfabética.

Não podendo ser considerada como uma história "pesada" é, ainda assim, a história mais pesada e mais adulta da coleção da Agatha Christie até agora. A personagem do ABC é sombria e maquiavélica e, por esse motivo, é incrível ver como um livro originalmente escrito em 1936, tem uma estrutura de thriller tão bem conseguida. Temos o suspense dos crimes serem anunciados e não conseguirem ser travados por Poirot e temos o mistério que envolve o vilão. E, mesmo assim, conseguimos ser surpreendidos. Uma autêntica masterclass de como fazer um bom thriller, por parte de Agatha Christie.

Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Em termos de ilustrações, o trabalho é assegurado por Alberto Zanon. E posso dizer que os seus desenhos me conquistaram desde o primeiro momento! O autor é dono de um traço que junta o melhor do clássico com o moderno. Bastante franco-belga no género, mas a remeter para uma escola mais moderna, especialmente nas caras e expressões das personagens. Lembrou-me até, por vezes, o que Juan Cavia fez em Balada para Sophie

Nota ainda para a capacidade do autor em colocar as suas personagens em poses muito interessantes e dramáticas (como Jordi Lafebre em Verões Felizes, por exemplo) e com planos de câmara menos clássicos e mais modernos, com vários “picados” e “contra-picados”. Arrisca e fá-lo bem, tornando a leitura bastante aliciante. O trabalho de cores, que é assegurado por Fabien Alquier, também dá a ambiência e tom certo a toda a história. Tudo muito bem feito, diga-se.

A edição da Arte de Autor apresenta capa dura e envernizada, com papel baço, de boa qualidade. No fundo, segue aquilo que tem sido feito na restante coleção da editora, dedicada a Agatha Christie.

Concluo como comecei. A princípio a coleção dedicada a adaptações dos clássicos de Agatha Christie parecia-me uma série “fraquinha”. Mas depois de vários álbuns melhores do que Crime no Expresso no Oriente, a série tem-se afirmado como uma boa coleção de banda desenhada. Para isso também conta o facto de Agatha Christie ter sido verdadeiramente fantástica na invenção do policial. 

Quanto a este Os Crimes do ABC, com um argumento muito criativo e bem pensado, bem como aquela que considero ser a melhor arte ilustrativa de todos os livros desta coleção até agora, recomenda-se, sem dúvida! Aliás, se ainda não leram nenhum álbum desta série e estão curiosos, vão por mim e experimentem este Os Crimes do ABC!


NOTA FINAL (1/10):
8.9


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Hercule Poirot - Os Crimes do ABC, de Frédéric Brémaud e Alberto Zanon - Arte de Autor

Ficha técnica
Hercule Poirot - Os Crimes do ABC
Autores: Frédéric Brémaud e Alberto Zanon
Editora: Arte de Autor
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2021

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