Hercule Poirot - Morte no Nilo e O Misterioso Caso de Styles, de Isabelle Bottier, Callixte, Jean-François Vivier e Romuald Gleyse
Recentemente, a editora Arte de Autor publicou mais um livro da sua Coleção Agatha Christie, que conta agora com 4 livros. Depois de Hercule Poirot – Crime no Expresso do Oriente, Os Beresford – Mister Brown e Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca, chega-nos agora este quarto álbum que tem a particularidade de ser um álbum duplo, e que reúne as duas histórias de Hercule Poirot Morte no Nilo e O Misterioso Caso de Styles. Acaba por ser uma lançamento simbólico pois o primeiro livro escrito por Agatha Christie, O Misterioso Caso de Styles, comemora este ano o seu 100º aniversário.
Por sua vez, Morte no Nilo recebeu uma nova versão cinematográfica, com estreia prevista para o próximo dia 17 de Dezembro. O ano de 2020 é, portanto, um ano emblemático para estas duas obras da autora inglesa e a Arte de Autor, com um excelente sentido de oportunidade, lança agora as duas adaptações para banda desenhada, aproveitando este momentum especial.
E este é, pelo menos até à data - e tendo, também, em conta que ainda não tive a oportunidade de ler Miss Marple – Um Cadáver na Biblioteca embora já o tenha na minha pilha de livros para ler – o melhor livro da coleção! Devo confessar que o primeiro dos livros desta coleção, Hercule Poirot – Crime no Expresso do Oriente, não me deixou muito convencido pois considerei que a trama, tal como o enredo bem intricado que é célebre nas histórias construídas por Agatha Christe, não teve uma adaptação muito feliz para banda desenhada por Benjamin von Echarksberg e Chaiko. Não é que fosse um mau livro. Pareceu-me apenas algo desinspirado. Na altura até me fez achar que talvez esta série não fosse para mim. Mas depois li Os Beresford – Mister Brown e a minha opinião mudou drasticamente. E agora, com este álbum duplo, posso dizer que já estou fã da série.
O estilo de escrita de Agatha Christie é tão célebre que praticamente dispensa apresentações. As suas histórias quase sempre têm assassinatos misteriosos em que cabe aos protagonistas da história desvender os verdadeiros culpados. Quase sempre, também, as aparências iludem e o leitor é confrontado com uma surpresa antes de lhe ser revelada a identidade do autor do crime. É um estilo de narrativa simples mas intricado no desenvolvimento da trama e que entretem de forma inteligente. E nestas duas histórias também é assim.
Morte no Nilo será, por ventura, e talvez a par de Crime no Expresso do Oriente, o romance mais famoso da autora inglesa. Conta-nos a história da sensual Linnet Ridgeway que, a propósito da sua lua de mel, viaja para o Egipto para uma viagem de cruzeiro pelo rio Nilo. Mas passa pouco tempo até que Linnet apareça assassinada. Quem terá sido? E qual o motivo de tal acto? As personagens com quem a vítima travou conhecimento durante e antes da viagem são bastantes, o que aumenta o número de suspeitos e as possibilidades em cima da mesa da investigação.
Relativamente a O Misterioso Caso de Styles, cuja história eu não conhecia até à leitura deste livro, é-nos dada a visão do capitão Hastings, um soldado que, depois de ferido em combate, vai convalescer para Styles Court, a mansão onde vive o seu amigo John Cavendish, juntamente com a mãe, o padrasto, o irmão, a esposa deste e mais algumas personalidades interessantes. Mas entretanto, a mãe de John, Emily, é mortalmente envenenada e logo todas as suspeitas são levantadas. Quem terá sido? E de que forma? Como foi engendrado este crime aparentemente perfeito? É por essa altura que Hercule Poirot surge em cena para ajudar o capitão Hastings a desvendar mais um mistério, de forma perspicaz.
Em termos de histórias, temos duas narrativas que são semelhantes em tom e forma, e que se montam e desmontam de forma inteligente, mantendo vivo o interesse do leitor. Quanto à forma como a história nos é narrada, só mesmo no facto de O Misterioso Caso de Styles ter um narrador participante – o capitão Hastings - é que há uma ligeira diferença entre a forma como é contada a história. Mas o tom e ritmo da narrativa é em tudo semelhante.
Já quanto à arte é que temos algumas diferenças. Ambos os estilos são da escola franco-belga mas a primeira história apresenta um traço muito elegante, com um excelente trabalho de cores e luz, que dão um toque de classe a Morte no Nilo. O autor Callixte apresenta uma arte visual muito bem concebida e vistosa. Foi uma surpresa pela positiva.
A segunda história está ilustrada de forma um pouco diferente. Mais simplista no traço e nas cores, remeteu-me um pouco para o tipo de ilustração da famosa série Blake e Mortimer. Dizer que a arte de Romual Gleyse é mais simples do que a arte de Callixte não deve ser visto como algo negativo. São estilos! Eu prefiro o estilo da primeira história mas a verdade é que também gosto bastante do estilo da segunda história. E ambos os tipos de ilustração encaixam bem na ambiência das histórias de Agatha Christie.
E também convém dizer que, embora hajam as expetáveis diferenças no estilo de ilustração, que poderiam fazer alguns céticos ficarem de pé atrás relativamente à aposta da Arte de Autor em reunir duas histórias, de autores diferentes, num só álbum, devo dizer que, na minha opinião, esse foi um passo bem dado e uma aposta ganha. Os estilos de ilustração são diferentes mas encaixam bem um no outro. Há uma diferença harmoniosa, vá.
Onde as coisas não funcionaram tão bem foi na excução da capa. Devo dizer que a editora portuguesa não tinha aqui uma tarefa fácil. Se as duas histórias fossem dos mesmos autores, seria fácil. Usava-se apenas uma das duas capas aqui presentes. Algo como a Arte de Autor fez no brilhante Armazém Central, por exemplo. Agora, tratando-se de autores diferentes, compreendo que a editora tenha querido honrar o trabalho dos autores da segunda história. E então, decidiu oferecer cerca de um terço da capa à segunda história. Mas, o resultado visual não foi muito bom. Mesmo sublinhando novamente que o desafio de paginação de capa era grande, talvez(?) tivesse funcionado melhor utilizar a contracapa para a capa da segunda história – embora isso também fizesse com que se perdesse alguma uniformização com os outros livros da coleção da editora, reconheço. Ou então, poderia ter sido feita uma menção diferente à segunda história, com um género de sticker arredondado, que ocuparia menos espaço útil da capa mas que conseguiria ter uma chamada de atenção para a segunda página. É como digo: a tarefa não era fácil mas talvez existissem outras formas de conseguir uma melhor capa. A meu ver, é uma capa que não funciona bem. E é uma pena pois as ilustrações deste livro mereciam-no.
Mas claro, todo o restante trabalho da Arte de Autor mantém os altos padrões de qualidade. Desta vez, com capa brilhante e dura e um livro com papel baço de boa gramagem. Nada a apontar nesse cômputo.
Em conclusão, o mais recente álbum duplo da coleção da Agatha Christie, da editora Arte de Autor, é mesmo o melhor que já li desta coleção. A arte em Morte no Nilo é dotada de uma grande classe e virtuosimo por parte de Callixte. E quanto a O Misterioso Caso de Styles, mesmo não tendo uma arte tão fantástica como a primeira história, é, ainda assim, um excelente livro. Ambas as histórias estão muito bem adaptadas para a banda desenhada. Preparem-se, por isso, para misteriosas confissões e descobertas e mergulhem no mundo de Agatha Christie aos quadradinhos.
NOTA FINAL (1/10):
8.9
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Hercule Poirot - Morte no Nilo e O Misterioso Caso de Styles
Autores: Isabelle Bottier e Callixte (Morte no Nilo) e Jean-François Vivier e Romuald Gleyse (O Misterioso Caso de Styles)
Editora: Arte de Autor
Páginas: 136, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2020
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