segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Análise: Pulp

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio


Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips 

Antes que o ano de 2020 terminasse, a G. Floy Studio presenteou-nos com o lançamento de alguns livros. Entre eles, este Pulp, que volta a unir a dupla criativa de Ed Brubaker e Sean Phillips, que já nos tinha dado obras como Criminal, Fatale, Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados ou The Fade Out

Não há como não me focar no seguinte ponto: a escrita de Ed Brubaker, para este tipo de histórias urbanas hard-boiled, é do melhor que há. Digo até mais: se agarrássemos no texto que Brubaker nos oferece em Pulp e o lançássemos apenas enquanto um livro de contos, em prosa, sem qualquer ilustração, seria, ainda assim, um fantástico livro de ler e acompanhar. Uma escrita bem feita, com aqueles comentários em voz off, extremamente inspirados, que nos dão, vinheta após vinheta, frases marcantes, num material altamente quotable. Brubaker é exímio nisto, portanto não será uma surpresa para quem já o conhece. Já o fez noutras vezes, em séries como Criminal ou The Fade Out, por exemplo. Em Pulp, volta a oferecer-nos uma personagem marcada pela vida, carregada de negritude e de um passado fraturante, que procura um silver lining na sua vida. Algo que possa funcionar como um ponto final positivo. Um legado esperançoso.

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
E não se enganem com a capa do livro! Esta é uma história completamente urbana, ambientada em Nova Iorque, que nos dá (mais) uma história da grande cidade. Se o tempo em que ocorre fosse mais recente, diria que poderia perfeitamente ser uma história da série Criminal. Mas é claro que, nesta obra, a grande diferença é que o protagonista, Max Winter, em tempos foi um cowboy, uma fora-da-lei, que viveu entre a vida e a morte, em numerosos tiroteios. Mas apesar da vida que levava, Winter conseguiu chegar a velho e, na América dos anos 30, em que as agitações políticas na Europa, mais concretamente na Alemanha, com a ascenção da relevância de Hitler, fazem prever crimes de ódio e guerras à escala global, o protagonista tenta manter uma vida pacata com a sua mulher, Rosa, enquanto escreve para revistas pulp, histórias de cowboys que são secretamente baseadas nas suas próprias vivências do passado. Agora, velho, doente e empobrecido, Winter vai tentar um último golpe, um último acto à margem da lei. 

Para além da escrita inspirada de Brubaker, há que reconhecer que a maneira como a história se vai desenrolando aos olhos do leitor é muito bem conseguida. Várias são as vezes em que começamos a perspetivar que o rumo dos acontecimentos irá por um caminho para, logo depois, sermos surpreendidos. E isso, naturalmente, acaba por tornar a leitura em algo gratificante. 

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
Penso que se o livro tivesse mais páginas, poder-se-ia ter explorado melhor algumas personagens – como o irmão ou a filha de Max Winter - que mal aparecem no livro e que, infelizmente, são personagens que acabam subaproveitadas. Não obstante, também é verdade que vale mais uma história pequena e bem montada, do que uma história grande mas que enrola sem grande interesse. Pulp é uma obra fantástica da primeira à última página. 

Em termos de arte, Sean Phillips aparece fiel a ele próprio, uma vez mais. Quem já gosta, continuará a gostar. Quem não gosta, continuará a não gostar. As sombras são fortes e bem contrastadas com os efeitos de luz e o estilo de ilustração é, todo ele, fiel ao que Phillips já nos deu em obras passadas. Por vezes, pareceu-me que, em Pulp, o seu traço estava algo mais apressado do que o costume mas, repito, tudo dentro dos moldes do autor. 

Onde acaba por haver mais elementos diferenciadores em relação a outras obras da dupla criativa é na aplicação de cores, por parte do filho de Sean Phillips, Jacob Phillips, que até já tinha feito um trabalho muito interessante em Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados. Provavelmente por, aparentemente, ser um autor mais experimental em matéria de cores, o seu trabalho acaba por parecer refrescante e muito bem conseguido nuns casos, enquanto que, noutras situações, as coisas não correm tão bem. E aqui isso é bastante veificável nos flashbacks em que nos é dado o passado de Max Winter enquanto cowboy. Por vezes estas ilustrações aparecem com autênticos borrões de cor a colori-las, oferecendo um resultado original, reconheço, mas que não me agradou muito. Nestes casos, considero que a cor em vez de puxar pela ilustração de forma positiva, fá-lo no sentido oposto, levando a que as ilustrações de Sean Phillips saiam prejudicadas. Contudo, nas partes que se desenrolam em Nova Iorque, as cores de Jacob, sendo mais sóbrias, já me deixaram mais satisfeito com o resultado. 

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
Tendo em conta que Pulp saiu originalmente em 2020, a G. Floy merece uma palavra de apreço por rapidamente ter fornecido o mercado português com mais uma obra da dupla Brubaker-Phillips. A qualidade da edição é boa, como vai sendo hábito. Capa dura e espessa, papel grosso baço que, a meu ver, funciona bem para a história em questão. Uma pequena correção ao lapso da editora na última página: a série Velvet é da autoria de Ed Brubaker mas não de Sean Phillips. O ilustrador a cargo dessa série foi Steve Epting. 

Em conclusão, Pulp é uma fantástica obra, que nos traz um Ed Brubaker muito inspirado na escrita e que justifica, só por isso, a leitura deste livro espetacular. Uma história com cowboys e nazis poderia parecer arriscada mas Brubaker junta os pontos de forma muito eficaz, tornando Pulp numa delícia de acompanhar. Sean Phillips mantém-se fiel a si mesmo, tentando algo diferente, embora menos bem sucedido, nos flashbacks que nos levam para o faroeste americano. Esta é uma excelente obra e (mais) uma agradável surpresa para fechar bem o ano editorial de 2020. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.9 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020 



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Ficha técnica 
Pulp 
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips 
Editora: G. Floy 
Páginas: 72, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Novembro de 2020

3 comentários:

  1. Excelente. Como quem não quer a coisa, acabei por descobrir que este tb é prenda de Natal 🤩 Nunca mais é Natal de facto.

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    1. Eheheh! Que ótimo natal que haverá por aí, estou a ver! :) Um abraço e boas festas!

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  2. Excelente. Como quem não quer a coisa, acabei por descobrir que este tb é prenda de Natal 🤩 Nunca mais é Natal de facto.

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