A adaptação para banda desenhada de Odisseia, o clássico de Homero, é o terceiro álbum da coleção Clássicos da Literatura em BD, que a Levoir lança em conjunto com a RTP.
Bem diferente da adaptação anteior, Alice no País das Maravilhas, este Odisseia apresenta uma adaptação que procura sintetizar os principais momentos do grandioso épico de Homero – e concede suceder de forma aceitável nesse objetivo, diga-se – mas graficamente é um álbum bastante pobre.
Relativamente, à obra, certamente já conhecida por muitos, conta-nos a jornada do herói Ulisses que, no final da guerra de Tróia, e depois da engenhosa ideia da utilização do célebre cavalo de Tróia para ludibriar os adversários, decide regressar a casa, a Ítaca, mas o caminho não é fácil. Confrontado com a cólera dos deuses do Olimpo, terá que enfrentar variadas ameaças como a ninfa Calipso, a princesa Nausícaa, os ciclopes, a feiticeira Circe ou as sereias. E quando consegue, por fim, alcançar a sua terra, terá ainda que castigar aqueles que, durante a sua ausência, assediaram constantemente a sua amada, Penélope.
Há que dizer que uma narrativa, tão grande em dimensão e em episódios que sucedem a Ulisses, acabou por estar bem compilada nesta banda desenhada. É óbvio que todos estes episódios são pouco explorados e podemos ficar com a ideia que estamos a assistir a um desfile das aventuras genéricas de Ulisses, assim meio, a “despachar”. Mas, insisto que, ainda assim, o argumentista Christophe Lemoine conseguiu fazer um trabalho interessante neste cômputo. Quem não conhece a obra original, ficará com uma ideia global sobre a obra. E, por esse prisma, considero que esta bd consegue esse pressuposto básico.
Todavia, é um álbum que não me deixou muito convencido e isso deveu-se especialmente à arte do ilustrador Miguel de Lalor Imbiriba. Mesmo para o nível da qualidade média das ilustrações desta coleção que, expetavelmente, não será nada de muito grandioso, a arte visual neste Odisseia parece-me francamente desinspirada, com falta de rigor e bastante pobre nos detalhes. Aqui e ali, encontram-se ilustrações bonitas mas são a exceção à regra, pois o mais frequente é que o autor não revele as aptidões que, na minha opinião, seriam necessárias para esta obra. Muitos desenhos acusam falta de profundidade nos cenários e algumas cenas de ação revelam mesmo algum amadorismo. O trabalho de cores também me pareceu pouco inspirado com vinhetas a terem pouca profundidade. No final, não são desenhos “horríveis”, naturalmente, mas é um trabalho que deixa bastante a desejar.
Quanto à edição da obra, a Levoir dá-nos mais um livro com uma encadernação em capa dura, papel de boa qualidade e um dossier de extras muito bem-vindo, que acrescenta à história de banda desenhada, relevantes informações adicionais sobre o clássico da literatura original. A bd em si já permite que as crianças e jovens fiquem com uma ideia, bastante clara, da obra maior de Homero, mas estes extas permitem que essa ideia seja ainda mais bem formada.
Há no entanto um erro nesta edição ao qual me é impossível fazer “vista grossa”. Antes de o referir, permitam-me dizer que todas as pessoas cometem erros. Em todos os quadrantes das suas vidas. Errar é humano, afinal de contas. Portanto, não sou, nem nunca fui, um “caça-erros” nas edições de banda desenhada. Qual é a graça de pegar num livro de bd e focar a nossa atenção nos erros em vez de se dar a primazia da nossa atenção à história e ilustrações? No entanto, há erros e erros! Diria que, errar no nome da própria obra será o erro mais crasso mas errar no nome dos autores será, concerteza, o segundo erro mais inadmissível que uma editora pode fazer. E, neste caso, nem estou a dizer que houve um erro ortográfico na colocação do nome dos autores. Não. Foi mais grave que isso. Na contracapa do livro a editora enganou-se em quem eram os autores da obra! E deixou os nomes dos autores do álbum anterior, Alice no País das Maravilhas, David Chauvel e Xavier Collette como se fossem, igualmente, os autores deste Odisseia! Não sei se isto me dá vontade de rir ou de chorar. E é difícil digerir isto, não? E também nem sei até que ponto não é algo que viola as leis do autor uma vez que a obra está a indicar que os autores daquela obra são outros, que não a fizeram. E, tanto quanto sei, a editora não se pronunciou sobre este erro crasso. Para que se possa corrigir este problema, será produzida uma manga para a obra? Um autocolante? Será emitido pela editora um pedido de desculpas aos autores da obra e público? Será feita uma nova edição, corrigida, que será oferecida aos leitores que compraram a obra? Infelizmente, algo me diz que nada será feito. E, quando assim é, a situação torna-se mais lamentável ainda. É que, errar é humano, claro. Mas também há erros e erros. Neste caso, vem-me à memória a expressão inglesa: “you only had one job”. Algo está muito mau nos procedimentos duma editora que se engana a colocar os nomes dos autores de uma obra que edita e que, nada faz para remediar essa situação.
Em conclusão, esta é uma obra interessante, em que o trabalho do argumentista é bem conseguido mas que demonstra uma ilustração que acusa algumas fragilidades e incapacidades. O mais importante é que o cariz didático da obra, como em outras, consegue dar uma visão direta, simplificada e bem compilada dos principais acontecimentos que marcam a obra original de Homero, Odisseia.
NOTA FINAL (1/10):
6.5
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Odisseia
Autores: Christophe Lemoine e Miguel de Lalor Imbiriba
Adaptado a partir da obra original de: HomeroEditora: Levoir
Páginas: 64 páginas, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2020
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