sexta-feira, 29 de julho de 2022

O Vinheta 2020 vai de férias!



Caros leitores e amigos,

Durante as próximas duas semanas, o Vinheta 2020 estará de férias, em boa companhia, e a ler muita BD.

Não se prevêem, portanto, novas entradas no blog durante este período.

De qualquer maneira, serão muitas as leituras de bd a fazer nestes dias portanto, o regresso deverá ser marcado por muitas análises e artigos.

Até lá.

Hugo Pinto
Vinheta 2020

Análise: U-Boot – Série Completa

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA
U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte

Depois de alguns meses sem que a parceria da ASA e do Público nos trouxesse nova banda desenhada eis que, há cerca de um mês, nos chegou a série U-Boot, de cariz bélico (mas futurista, também), da autoria do belga Jean-Yves Delitte.

Posso dizer que a aposta me surpreendeu por ser algo - quer o autor, quer a série - que eu desconhecia totalmente. Depois de feita a leitura conjunta dos quatro volumes que compõem a série – e que foram lançados com o belo preço de 10,90€ cada volume - numa altura em que os preços dos livros em Portugal parecem estar a atingir máximos históricos - posso dizer que U-Boot, mesmo estando longe da qualidade das recentes séries da editora ASA Peter Pan, Long John Silver ou até Rio, é, ainda assim, uma bela aposta, que vale a pena conhecer, e que, acima de tudo, consegue surpreender o leitor. E, convenhamos, é muito melhor do que Operação Overlord, a mais recente série bélica que a ASA tinha lançado.

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA
Até porque, convenhamos, a premissa é bastante audaz e original, pois trata-se de uma série que é histórico-bélica, mas que, ao mesmo tempo, também é uma distopia futurista. E, como se isso já não fosse suficiente, o estilo da narração ainda nos é dado como se fosse um thriller, carregado de conspiração, mistério e segredos por desvendar. Proposta audaz, há que reconhecer!

Assim, a série passa-se em três tempos: o primeiro decorre em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, quando um submarino alemão faz uma viagem, não de guerra, mas de transporte, até à Argentina com o intuito de transportar um eminente oficial das SS, que se apresenta com o nome de Heinrich Himmel, e umas caixas com uma carga ultra-secreta. Mas, subitamente, a tripulação do submarino começa a aparecer assassinada. Por quem e porquê?

No segundo tempo da história, que decorre em 1951, acompanhamos uma expedição de cartógrafos ingleses na Amazónia, que acaba por descobrir um submarino alemão da Segunda Guerra Mundial abandonado mas que, incrivelmente, ainda contava com um sobrevivente no seu interior. Como terá o submarino ido parar a um sítio tão inusitado e remoto como a floresta amazónica?

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA
No terceiro tempo da história, que se passa no futuro, ente 2040 e 2059, em cidades como Veneza, Nova Iorque ou Zurique, uma onda de assassinatos, feitos por uma misteriosa mulher, Jude, está bastante ligada a vários crimes financeiros que uma gigante corporação vai praticando por esse mundo fora. O que terão estes factos a ver com o submarino?

Algo que rapidamente salta à vista em U-Boot é a dinâmica narrativa que Delitte nos traz, saltitando constantemente de uma época para outra, enquanto vai desvendando, aos poucos, a história. Chega a acontecer que o faça de prancha para prancha. Isto começa por funcionar bem, pois aumenta o clima de mistério e dá-nos inúmeras perguntas que ficam sem resposta, prendendo-nos à narrativa. Com efeito, acaba por ser algo desafiante para o leitor pois fará com que este tente começar a formular possíveis respostas para essas perguntas. Por outro lado, como é algo que o autor usa (e abusa), não refreando de o fazer até à última página do último volume, também faz com que a leitura seja demasiadamente "remendada" e não seja tão clara como muitos leitores certamente gostariam. Do meu ponto de vista, acho que o exercício é bem conseguido, mas, talvez a partir do terceiro volume, a história pudesse seguir um ritmo mais escorreito. Por outras palavras, gostei desta característica narrativa, mas acho que foi utilizada, por ventura, em demasia.

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA
A história reserva-nos várias surpresas que vão sendo dadas a conta-gotas e onde os temas a envolver os nazis são diversos: desde a forma como muitos oficiais alemães, prevendo o fim da guerra e consequente derrota da Alemanha, tentaram fugir para a América Latina – e não só – tentando apagar o rasto dos seus feitos; até à forma como obras de arte foram saqueadas pelos mesmos; e culminando em sonhos lunáticos de imortalidade por parte de algumas mentes retorcidas alemãs. Tudo isto está presente e ainda se lhe junta o comprometimento de várias empresas multinacionais que aparam e protegem interesses nefastos de antigos alemães proeminentes.

No final, o autor consegue fechar bem a história, dando as respostas necessárias à compreensão das inúmeras questões que estavam por resolver, mas não o faz de forma magistral. De facto, até fiquei com uma certa sensação de vazio no final da história. Sim, as repostas foram dadas, mas o que fazer com elas? 

A meu ver – e isto é uma opinião muito pessoal – talvez a história tivesse funcionado melhor se o autor se tivesse concentrado apenas e só nos acontecimentos de 1945 e nos de 1951, descartando a parte futurista da obra. E não é que a mesma seja má, mas constitui a parte mais maçuda de ler, quanto a mim. Less is more, como dizem muitos. Mas, lá está, isso também tiraria a tal originalidade, de uma história que acontece no passado e no futuro, que sustenta este U-Boot. Aceita-se a escolha do autor, portanto.

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA
Em termos de ilustração, Delitte dá boas cartas na forma como consegue ilustrar de forma eficiente as diferentes épocas aqui retratadas. Tendo em conta que o autor é, também, o pintor oficial da Marinha Belga, não é surpresa que se sinta como "peixe na água" a ilustrar o mar, os submarinos, os navios e tudo o que tenha que ver com o universo marítimo. E fá-lo, portanto, muito bem e com belo rigor. Também em matéria do desenho das aeronaves, o trabalho do autor é muito bom. 

Não fiquei tão bem impressionado com o desenho das personagens, porém. É decente, claro, mas as personagens apresentam demasiadas parecenças entre si, levando-nos a confundi-las e, consequentemente, a não ter uma experiência tão fluída de leitura. Além de que, as expressões faciais e até alguma da anatomia das faces deixe, por vezes, algo a desejar. Não apreciei também a forma, demasiado “photoshopada” como o autor coloca os céus nos cenários. 

Mas, tirando estas nuances, que impedem a obra de chegar a um nível mais cimeiro em termos de qualidade, acho que é justo dizer que esta série apresenta boas ilustrações que, por vezes, até conseguem ser espetaculares. Estou a lembrar-me, especialmente, das ilustrações cujas vinhetas ocupam duas páginas e que demonstram, quase sempre, veículos (aviões, submarinos ou barcos) em grande estilo. Aí, nesses casos, Delitte brilha a sério.

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA
O processo de cores também está bem conseguido, especialmente se tivermos em conta que há três épocas diferentes a colorir, com cenários bastante díspares entre si. Nesse ponto, as coisas estão bastante bem feitas. 

Não percebo o porquê do autor ter optado por quatro capas em que não se vê mais nada além do submarino. Não é que as ilustrações - especialmente a do primeiro tomo - não sejam belas ou bem executadas. Mas acho que, do ponto de vista de apelo comercial, são uma má jogada por parte do autor. Até porque, olhando de relance para os livros numa loja ou livraria, é mais provável que um leitor incauto fique com a ideia de que se trata de uma coleção sobre submarinos do que, propriamente, uma banda desenhada. E havia tanto para pegar para possíveis capas: o oficial das SS, o lado futurista da história, a personagem feminina Jude, entre tantas outras coisas. Compreendo que o autor se sinta bem a ilustrar submarinos mas acho que a sua opção não foi a mais bem pensada.

A edição da ASA é boa, apresentando capas duras, bom papel - com a quantidade certa de brilho - boa encadernação e boa impressão. E não esqueçamos o bom preço de 10,90€ para cada um dos volumes. Não costumo falar em legendagem exceptuando os casos em que ela me faz confusão. E tenho que conceder que o tipo de letra escolhido para esta legendagem não foi o mais feliz pois, por vezes, é de difícil leitura, especialmente ao nível da acentuação e pelo facto das palavras ficarem algo “encavalitadas” umas nas outras. Não é, também, um caso extremo ou algo que estrague a leitura de forma abrupta. Simplesmente, poderia ter sido mais bem acautelado pela editora.

Em suma, esta é uma boa aposta da ASA. U-Boot convence e assume-se como uma proposta apelativa devido ao seu intrincado jogo de épocas – por vezes demasiado intrincado, reconheço - que acaba por nos proporcionar uma leitura original e, até certo, ponto, refrescante.


NOTA FINAL (1/10):
7.4


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U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA

Fichas técnicas
U-Boot #1 - Doutor Mengel
Autor: Jean-Yves Delitte
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 240 x 320 mm
Lançamento: Junho de 2022

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA

U-Boot #2 - Herr Himmel
Autor: Jean-Yves Delitte
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 240 x 320 mm
Lançamento: Julho de 2022

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA

U-Boot #3 - Jude
Autor: Jean-Yves Delitte
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 240 x 320 mm
Lançamento: Julho de 2022

U-Boot – Série Completa, de Jean-Yves Delitte - ASA

U-Boot #4 - Tio Harry
Autor: Jean-Yves Delitte
Editora: ASA
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 240 x 320 mm
Lançamento: Julho de 2022

Na terça-feira realiza-se mais uma Tertúlia BD!


Na próxima terça-feira realiza-se mais uma Tertúlia BD!

Desta vez, a convidada especial é Angie Antunes

Mais um evento a não perder para todos os que puderem comparecer.

Mais abaixo, deixo-vos a informação enviada pelo organizador.


Tertúlia BD de Lisboa 440º Encontro - 2 de Agosto de 2022

A próxima Tertúlia BD ocorrerá já para a semana a 2 de Agosto, pelas 20h, no restaurante Maracanã, Av. Fontes Pereira de Melo, 45.

A convidada especial será a Angie Antunes.

Apareçam.

Ah, sim. Se puderem, agradecíamos que confirmassem as vossas presenças.
Não é obrigatório, mas convém termos uma noção do número de convivas.

Email de contacto:

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Análise: Harrow County – Série Completa

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal
Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook

Da próxima vez que alguém me vier perguntar acerca de uma banda desenhada que seja soberbamente ilustrada, mas que tenha um argumento “fraquinho” – para não dizer pior! – falar-lhe-ei de Harrow County. Porque se há séries de bd que considero desequilibradas entre o que o argumento e a ilustração nos proporcionam, Harrow County será um excelente exemplo.

Esta é uma série integralmente publicada em Portugal, em oito volumes, pela G. Floy Studio, que começou a publicação em 2016 e terminou-a em 2020. Ótimo ritmo de publicação, portanto. 

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal
Esta saga de southern horror conta-nos a história da jovem Emmy que habita na pequena vila de Harrow County, no sul dos Estados Unidos da América. O ambiente é soturno (embora belo) e coloca-nos numa paisagem campestre onde começam a acontecer coisas do foro sobrenatural. Nomeadamente a estranha ligação que Emmy aparenta ter em relação a figuras do universo fantástico e, em particular, à bruxa Hester Beck, que tinha sido assassinada pela população local alguns anos antes do próprio nascimento de Emmy.

Depois, à medida que a história avança, começam a aparecer variadas criaturas fantásticas como espectros, um corpo sem pele, uma pele sem corpo, serpentes maléficas, goblins, entre outros. Junta-se ainda a Emmy uma amiga, Berenice, que a ajudará – embora de forma espaçada – na sua luta contra o mal.

Emmy começa então a perceber que tem poderes sobrenaturais e que consegue convocar e controlar essas criaturas a seu bel prazer. Mas poderão esses poderes ser usados para o bem ou terão, forçosamente, que ser utilizados para o mal? Esta e a procura pelo conhecimento acerca do seu passado são as questões centrais de Harrow County.

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal
Depois, o autor vai introduzindo várias personagens que aparecem com um belo fulgor inicial, mas que, rapidamente, acabam por ser, pelo menos quanto a mim, insuficientemente exploradas. Primeiro aparece uma irmã gémea que parece ser a antítese de Emmy. Depois aparece toda uma enorme família – a suposta real família de Emmy – que nunca é minimamente bem explorada.

Onde reside, pois, a minha grande queixa é que o argumento de Harrow County me parece tudo menos bem oleado, onde as ideias não são verdadeiramente bem estruturadas por parte do argumentista Cullen Bunn. Ao invés, à medida que vamos lendo a história – e isso torna-se, quiçá, mais percetível quando fazemos uma leitura completa e seguida dos oito volumes – percebemos o quão aleatórias são as ideias do autor e os eventos que o mesmo vai inserindo na história. Ao contrário daquelas séries em que se vê que há um caminho e uma história traçados previamente, e que depois serão desenvolvidas ao longo dos vários números da série, Harrow County parece uma história em que as ideias vão sendo encaixadas (enfiadas?) sem grande nexo. É verdade que o autor traz (algumas) boas ideias, mas poucas vezes as desenvolve bem.

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal
Um exemplo claro desta vertente é que há personagens que são mortas para depois voltarem à vida, só porque “dá jeito” em termos narrativos e/ou porque o autor não tem uma ideia melhor. E isso, meus caros, é um tiro no pé da própria série. É óbvio que se a premissa da série fosse o regresso à vida e a imortalidade, eu não estaria certamente a tecer esta crítica. Mas o que se passa aqui é que subitamente – porque “dá jeito”, insisto – algumas personagens regressam à vida. Chega a parecer uma certa “batotice” na arte de contar a história, por parte do autor. Porque dá a ideia que se procura continuar a espremer a mesma ideia. E isso é uma total desilusão, quanto a mim.

E isto já para não falar das inúmeras ideias que são trazidas para cima da mesa, mas que, depois, pouco ou nada são aproveitadas. Vamos ser sinceros: até a própria entrada em cena da família de demónios da protagonista é uma verdadeira atitude de “enrolanço”. De enchimento narrativo, que acaba por ser mal explorada. Para quê tantos membros da família se nenhum deles é verdadeiramente bem explorado? E que dizer da relação entre Emmy e o seu pai que promete muito mas nos oferece pouco? 

A história base das bruxas em que o argumentista coloca a "bruxa boa" contra a "bruxa má" é, sinceramente, algo batida. Mas, pelo menos, ainda é impactante o suficiente. Até porque Hester Beck é, sem sombra de dúvidas, a personagem mais malvada e assustadora da série e, por conseguinte, merecia mais “tempo de antena” ao longo da série, pois é com a sua presença que os momentos e a sensação de horror ficam mais prementes. Mas, infelizmente, houve muitos outros momentos, mais efémeros e irrelevantes que ocuparam demasiado espaço e que acabaram por encaixar na trama principal de uma forma algo forçada e aleatória. E tanto assim o é que me surpreende a boa soma de prémios que a série acabou por vencer. Pelo menos aqueles que disseram respeito ao argumento. 

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal
Porque, em termos de ilustração, o caso muda totalmente de figura!

Tyler Crook desenha de maneira magistral e com um estilo demasiado próprio, que lhe confere muita identidade e o tal signature style que tantos autores perseguem, sem sucesso. É difícil descrever o estilo de ilustração de Crook. Por vezes, parece oriundo da escola franco-belga, noutras vezes é demarcadamente americano e sucedâneo dos comics americanos. Mas, mais que isso, é um estilo muito dinâmico, eficiente e versátil.

As personagens assumem um estilo de ilustração algo “abonecado” numas vezes, mas expressam emoções de forma bastante expressiva e humana noutras situações. Os planos de câmara utilizados são cinematográficos e a construção dos ambientes cénicos e de (não todas, mas de algumas) criaturas é majestosa. Como se não bastasse, o autor pinta em aguarela os seus desenhos, o que atribui a todo o conjunto uma aura mais clássica, séria e artística. Tudo junto, faz com que nos seja dada uma proposta verdadeiramente sui generis e que, não raras vezes, nos tira o fôlego. Ora simples, ora complexas, as ilustrações de Crook surpreendem-nos ao longo da leitura destes oito volumes.

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal
Outra coisa que acho muito bem feita é o bom equilíbrio entre cenas que horrorizam e entre cenas que são de uma beleza quase poética. Se as cores amareladas e verdes do bosque nos parecem transportar para um ambiente leve de um sonho, as cores escuras e os tons avermelhados de sangue das cenas de terror, parecem transportar-nos para um pesadelo.

Destaque ainda para a criatividade com que o autor nos brinda quando abre um novo capítulo da série, com belíssimas ilustrações, em página dupla, que são adornadas com as palavras “Harrow County” através do recurso à utilização dos mais variados elementos do cenário: nuvens, ramos, efeitos de luz, entre várias ideias criativas e originais. Estas palavras aparecem tão bem escondidas que, por vezes, até se torna divertido tentarmos decifrar onde é que o autor escondeu as palavras "Harrow County".

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal
A meio da história, no terceiro e quinto volumes, Hannah Christenson e Carla Speed McNeil ilustram capítulos em que Tyler Crook não participa. E vê-se que a qualidade destas duas colaborações, não sendo propriamente má, fica muito aquém da grandeza ilustrativa com que Crook nos habitua.

Em termos de edição, este é um trabalho excelente por parte da G. Floy Studio. Os livros têm capa dura, bom papel brilhante e uma boa encadernação e impressão. O grafismo da série é também muito bonito, com belas capas, contracapas e lombadas, num trabalho de design muito bem conseguido. O destaque maior merece ser dado aos extras que são muito generosos em quantidade e qualidade. Cada livro possui um caderno de extras com esboços do autor, estudos das personagens, processo de criação de capas, entre outros conteúdos relevantes. E tudo com anotações e explicações do autor. Verdadeiramente apetecível!

Em suma, Harrow County é uma série que me traz sentimentos mistos. Por um lado, é maravilhosamente ilustrada e colorida por Tyler Crook e tem uma boa premissa inicial enquanto argumento para uma boa série de terror. Contudo, a maneira como o argumento se desenvolve depois, de uma forma aleatória e manifestamente desinspirada, que até incumpre regras básicas do bom storytelling, faz-me achar que toda esta série é uma oportunidade perdida pois poderia ser (tãããão!) melhor.


NOTA FINAL (1/10):
7.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Fichas técnicas
Harrow County #1 – Assombrações sem Fim
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 136, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2016

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County #2 – Duas Vezes Contado
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 120, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Junho de 2017

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County #3 – A Encantadora de Serpentes
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 136, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2018

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County #4 – Laços de Família
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 120, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Junho de 2018

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County #5 – Abandonado
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 120, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Fevereiro de 2019

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County #6 – Magia de Raízes
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 120, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Outubro de 2019

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County #7 – As Trevas Aproximam-se
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 112, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Junho de 2020

Harrow County – Série Completa, de Cullen Bunn e Tyler Crook - G. Floy Studio Portugal

Harrow County #8 – Um Último Regresso
Autores: Cullen Bunn e Tyler Crook
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 110, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Agosto de 2020

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Análise: Le Petit Frère

Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp - Casterman

Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp - Casterman
Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp

Há um conjunto de momentos na perda de alguém próximo que são de uma força enorme, devastadora e angustiante, e que não mais nos largam ao longo da nossa vida. E depois, já mesmo quando passaram muitos anos desde essa morte, ainda conseguimos vivenciar todos os momentos que compuseram esse trágico acontecimento, tal como se apenas tivessem passado dois ou três dias: a forma como soubemos que alguém estava à beira da morte, a forma como soubemos que esse alguém tinha mesmo morrido, o que sentimos na altura, quem estava lá a partilhar esse momento connosco, o funeral, as mensagens, as flores, os dias seguintes. Tudo aquilo que compõe, portanto, aquele momento em que o “tapete” nos é tirado e acabamos por ter uma enorme queda emocional. Que se arrasta por meses. Por anos.

Le Petit Frère dá-nos, num relato autobiográfico, tudo isso, mas com uma agravante: estamos perante a história real de uma criança de 11 anos, o membro mais novo de uma família, cuja vida é ceifada por um violento acidente automóvel. Conseguem imaginar? Já há muito tempo que um livro não me partia o coração desta maneira. Foram várias as vezes, ao longo destas mais de 300 páginas, que o nó na garganta se me instalou e as lágrimas acabaram por me inundar os olhos.

Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp - Casterman
Jean-Louis Tripp, autor, juntamente com Régis Loisel, de Armazém Central, uma das séries da minha vida, conta-nos a história biográfica sobre a forma como perdeu o seu irmão mais novo, Gilles. E posso dizer-vos: a leitura deste livro é de uma força e de uma tristeza tal, que senti que o meu coração foi arrancado do seu lugar, pontapeado e esmurrado e depois devolvido ao seu local original. O Relatório de Brodeck, de Manu Larcenet, essa magnífica e pesada obra-prima da bd, parece uma história dos Ursinhos Carinhosos, quando comparada, pelo menos em termos de intensidade dramática, com este Le Petit Frère. É preciso estômago para ler este livro, aviso já.

Le Petit Frère começa praticamente com a morte do pequeno Gilles. Era o verão de 1976 e Jean-Louis, de 18 anos, encontrava-se de férias na Bretanha, com a sua família. Sem que Jean-Louis – ou alguém - o pudesse prever, ao soltar a mão do seu irmão mais novo, este acaba por ser violentamente atropelado por um carro que, lamentavelmente, opta por fugir após o embate. Ora, nos anos 70 não tínhamos telemóveis e, tendo em conta que a família se deslocava em caravanas puxadas a cavalo, bem como que este acidente aconteceu no meio do nada, o pequeno Gilles perdeu muito sangue enquanto aguardava pela assistência médica. Todos tiveram que esperar por uma ambulância num longo período de tempo que parece ter demorado horas. Eventualmente, e já no hospital, a família é confrontada com o dramático anúncio: Gilles perdera a vida. Esse pequeno momento de soltar a mão do seu irmão, que acabou por ser fatídico para Gilles, acabou por perseguir Jean-Louis Tripp ao longo de toda a sua vida.

Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp - Casterman
Tripp vai ao pormenor, cobrindo cada um dos pequenos momentos vividos ao longo dos dias que circundam a morte do seu irmão, Gilles. Aliás, prova disso é que o momento do acidente que envolve o seu irmão se dá na página 17 e é só na página 150 que tem lugar o funeral do seu irmão. Portanto, são inúmeras as pranchas onde vemos personagens a chorar fortemente, abraçadas umas às outras ou em pleno choque emocional. São desenhos que falam por si e que trazem uma forte aura de drama e tristeza à obra.

O autor narra-nos com minúcia os anos que se seguem: a raiva, a sensação de injustiça, o luto. Tudo muito difícil de ultrapassar. Como encontrar algum sentido após a morte de uma criança e de uma forma tão violenta, ainda por cima? E, claro, o sentimento de culpa também parece perseguir o narrador. Se ele não tivesse largado a mão do seu irmão, a tragédia não teria acontecido? Também o processo judicial face ao motorista culpado - que fora rapidamente descoberto pelas autoridades - ou o início de carreira de Jean-Louis enquanto artista de banda desenhada, na revista Métal Hurlant, estão documentados pelo autor.

Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp - Casterman
Se há algo que posso criticar de forma menos positiva é que, enquanto lia a obra, fiquei com a ideia que a mesma poderia ser contada em 200 páginas, em vez de 344 páginas. Com efeito, até me pareceu que Jean-Louis Tripp estava a “puxar a barra” dramática em demasia. Às tantas eu já sentia: “homem, pára de me deprimir com esta história”! Mas isso foi uma injustiça da minha parte. Porque ao ler este livro na íntegra, também eu tive que regressar à maior perda que tive nesta vida – a do meu pai – para relembrar que o drama não é exagerado. O drama é real e vive-se durante uma vida, até. E então percebi que o próprio Jean-Louis Tripp há-de ter tido com esta obra uma certa redenção para a sua vida. Com um resultado quiçá terapêutico. Uma forma de sarar – se tal for possível – esta enorme ferida.

Assim, e por essa razão, não me parece ser justo afirmar que o autor faz “render o peixe” ou que explora em demasia este evento da sua vida. Há, aliás, um sentido de profundidade e sinceridade que nos toca no nosso âmago. Ao leitor acaba por ser dada a possibilidade de experienciar algo real e tremendamente trágico que o próprio Tripp viveu durante a sua vida e que, estou certo, continua a atormentá-lo. E a feitura deste livro é, afinal, uma forma de tornar eterno o pequeno Gilles que, com apenas 11 anos, teve o azar de estar no sítio errado, à hora errada e com isso destruir o universo de toda a sua família. 

Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp - Casterman
Tenho que afirmar que, tirando o brilhante Armazém Central, eu não tinha lido mais nada deste autor. E digo-vos: que fantástico autor-completo é Jean-Louis Tripp! Está, segundo os meus padrões, confirmado como um autor brilhante. Depois deste Le Petit Frère, tenho que dizer que estou muito curioso por ler Extases, onde o autor se despe de preconceitos acerca de temas relacionados com a sexualidade numa autobiografia.

Mas, voltando a Le Petit Frère, visualmente, o autor oferece-nos um livro com desenhos que, mesmo ilustrando situações terríveis como a dor, o luto e a tristeza infindável, conseguem ser muito bonitos e visualmente apelativos. Os leitores que conhecem Armazém Central encontrarão, aqui e ali, algumas semelhanças com os desenhos dessa série – especialmente nos cortes de cabelo de algumas personagens e em algumas expressões faciais – mas, tal como já disse noutros artigos, Armazém Central parece ter sido desenhado por uma outra pessoa que não Loisel e não Tripp. As semelhanças com os desenhos de ambos os autores estão lá, obviamente, mas numa mistura diferente ainda assim. Como se ambos os autores tivessem criado, por fusão, um novo autor.

Le Petit Frère, de Jean-Louis Tripp - Casterman
Posto isto, e voltando novamente a Le Petit Frère, posso dizer que os desenhos expressam de forma inequívoca a dor, a devastação emocional e a deformação do momento que a própria história nos oferece. As cores são quase sempre em tons de sépia embora sejam entrecortadas por algumas cenas em cores mais vivas que tentam apontar a história e o autor no sentido da luz. Da bonança após a tempestade. Do otimismo e da redenção.

A edição da Casterman é em capa mole e em papel baço, com boa gramagem. Tenho que dizer que, sendo o livro bastante grosso, por mais que seja o cuidado que temos no manuseamento do livro, a lombada do mesmo acaba por estar sempre um pouco danificada quando chegamos ao final da leitura. Com aquele habitual vinco na lombada. É uma pena e acho que o livro merecia capa dura. Porém, também é verdade que, pela tal razão de ser em capa mole, o preço do livro em França, de 28€, é bastante simpático para uma obra a cores e com mais de 300 páginas. Opções editoriais, portanto.

No fim, o meu pensamento é apenas este: quanto tempo passará até que uma editora portuguesa aposte neste livro maravilhoso? Esta obra traz consigo uma das leituras mais comoventes e emocionantes que fiz nos últimos anos e que, indubitavelmente, merece ser publicada por cá. Sei que o tamanho do livro é grande, o que poderá trazer consigo custos avultados e consequentes receios das editoras portuguesas. Mas é um livro demasiado bom para que a aposta não seja feita. Formidável!


NOTA FINAL (1/10):
9.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ficha técnica
Le Petit Frère
Autor: Jean-Louis Tripp
Editora: Casterman (edição francesa, original)
Páginas: 344, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 20 x 26,3 cms
Lançamento: Maio de 2022

Análise: Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!

Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!, de M. Choquet, Y. Coulon, J. Erbin, J. Bastide e P. Fenech - ASA

Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!, de M. Choquet, Y. Coulon, J. Erbin, J. Bastide e P. Fenech - ASA
Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!, de M. Choquet, Y. Coulon, J. Erbin, J. Bastide e P. Fenech

Recentemente, há poucas semanas, a ASA publicou por cá um livro dedicado a Ideiafix, o incontornável cão de Astérix e Obélix que, pela primeira vez na sua história, recebe um livro de banda desenhada inteiramente dedicado a si. A série chama-se Ideiafix e os Irredutíveis e em França até já vai no segundo álbum, portanto é expetável que esse segundo livro seja editado também por cá, caso este primeiro livro se comporte bem em termos de vendas. A ver vamos.

Sendo uma série que se foca em Ideiafix e nos seus companheiros de quatro patas (ou de duas asas!), não contem, por isso, com a presença da célebre dupla de gauleses. Na melhor das hipóteses aparecem, em pano de fundo e sem grande implicação no enredo, algumas personagens mais secundárias da série principal como o chefe Matasétix ou como o jovem Atrevidix. Este último com maior relevância para a história. Aqui o foco é, por isso, Ideiafix e os seus animais companheiros Turbina, Glutonix, Ladina, Noturnix e Bronquitix. Dois cães, uma gata e dois pássaros.

Este é um livro que reúne três histórias de 20 páginas. São breves, simples e lineares. São pautadas por um leve humor, ancorado em situações cómicas e onde há espaço para alguma ação, já que este conjunto de heróis tudo fará para levar a cabo os seus intentos.

Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!, de M. Choquet, Y. Coulon, J. Erbin, J. Bastide e P. Fenech - ASA
Na primeira história, A Bola da Borrasca, os heróis terão que perseguir uma bola emblemática, de forte relevância histórica. Na segunda história, Fluctuat N-Hic! Mergitur!, os animais e habitantes de Lutécia – local onde decorrem todas estas aventuras – terão que lidar com um estranho vírus que, propositadamente ou não, nos remeterá, certamente, para os tempos que experienciámos recentemente com a pandemia de covid-19. Finalmente, na terceira história, Labieno, Não Passarás!, lidamos com a revolta de Atrevidix que questiona a presença e ação dos romanos, particularmente do General Labieno.

Ao todo, participam neste pequeno livro cinco(!) autores diferentes. Para cada uma das três histórias temos um argumentista diferente: Jérome Erbin, Matthieu Choquet e Yves Coulon. E temos ainda dois ilustradores: Jean Bastide e Philippe Fenech. Apenas este último colabora em duas histórias, desenhando A Bola de Borrasca e Labieno, Não Passarás!.

Achei particularmente positivo o paralelismo e homenagem feitos aos álbuns originais de Astérix com aquela célebre introdução do “Toda a Gália está ocupada pelos Romanos… Toda a Gália? Não!(...)”. Aqui apenas se substituiu Gália por Lutécia. Também a habitual página com a apresentação de cada uma das personagens principais marca presença. São pequenas coisas, mas que são bem-vindas pelo piscar de olhos óbvio aos clássicos livros de Astérix e Companhia.

As histórias não são hilariantes nem tão pouco nos dão grandes argumentos. Servem mais como pretextos para colocar a mascote Ideiafix e os seus amigos em aventuras. Como tal, é uma leitura mais direcionada para um público mais infantil. Lê-se bem, mas não encanta.

Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!, de M. Choquet, Y. Coulon, J. Erbin, J. Bastide e P. Fenech - ASA
Em termos de desenho, creio ser justo dizer que nada de errado acontece neste livro. Temos as personagens desenhadas à boa maneira de Uderzo, assegurando todas as características e dinâmicas gráficas que poderíamos esperar do mestre original. Um autêntico decalque da obra de Uderzo em Astérix mas, convém deixar bem expresso, um decalque bem feito. Não será, portanto, na vertente visual que nos poderemos queixar de algo neste livro de Ideiafix.

Em termos de edição, devo confessar ter sido surpreendido por uma edição curta em formato, pouco maior do que um A5, e em capa mole, em detrimento do grande formato dos livros de Astérix, com capa dura, a que todos nós já nos habituámos. Talvez, até por isso, esta seja uma aposta diferente e para um público mais infantil. Mas pior do que o formato do livro ser pequeno e com encadernação em capa mole, não gostei especialmente que a mancha impressa do livro deixe margens em branco tão grandes. Se o livro já não era muito grande, ao menos as pranchas deveriam ter ocupado o maior espaço possível, não? Desta forma, as vinhetas acabam por se tornar demasiado pequenas, com algumas partes com má legibilidade. Não percebo a escolha. Direi ainda que me parece que a ASA se limitou a editar o livro tal como o mesmo vem sendo editado noutros países. Portanto, esta "má escolha", se é que assim a posso denominar, não se deve ao lado português.

Nota negativa, ainda, para a enorme confusão que é esta capa. Temos o logótipo dedicado a Ideiafix e os Irredutíveis, temos o logótipo de Astérix, temos os nomes de Goscinny e Uderzo a grande, temos os nomes dos autores, que fazem mesmo este livro (e que são cinco!), a pequeno e temos o título do livro que é Neste Bairro, Latino Não Entra!. E tudo isto acontece na parte de cima da capa que, relembro, não é minimamente grande. No fundo, temos uma masterclass de como não fazer uma capa.

Acho que, acima de tudo, este é um daqueles livros cuja apreciação crítica tem forçosamente de mudar consoante o público a que a obra disser respeito. Assim, para um acérrimo fã adulto de Astérix, que acompanhou as aventuras do herói gaulês ao longo dos anos, é bem provável que este Ideiafix seja uma triste e olvidável ideia. As histórias são demasiado curtas e irrelevantes. Todavia, se pensarmos este livro como um certo “batismo à banda desenhada” para um público mais infantil, então a aposta torna-se mais relevante e bem-vinda. Claro que poderemos sempre objetar: “porque é que hei-de comprar este livro para dar ao meu sobrinho, se posso oferecer-lhe um verdadeiro álbum de Astérix, assinado por Uderzo e Goscinny? Pois bem, isso (também) será verdade. Contudo, acho que o Ideiafix pode conquistar um lugar de simpatia junto dos mais novos. A escolha ficará sempre a cargo do comprador, claro está.


NOTA FINAL (1/10):
6.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!, de M. Choquet, Y. Coulon, J. Erbin, J. Bastide e P. Fenech - ASA

Ficha técnica
Ideiafix e os Irredutíveis - Nº 1 – Neste Bairro, Latino Não Entra!
Autores: M. Choquet, Y. Coulon, J. Erbin, J. Bastide e P. Fenech
Editora: ASA
Páginas: 72, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 16 x 20 cm
Lançamento: Julho de 2022

terça-feira, 26 de julho de 2022

Já há data e imagem para o Amadora BD 2022!



Acaba de ser publicado um artigo na página oficial do Amadora BD, que nos dá as primeiras informações sobre a próxima edição do evento!

O evento ocorrerá de 20 a 30 de Outubro no mesmo espaço do ano passado, o Ski Skate Parque. Para mim esta é uma boa notícia, pois considero que o local tem um bom potencial mas, ainda assim, espero que hajam melhorias face à primeira edição como, aliás, tive oportunidade de sugerir na análise que fiz ao evento passado.

Para já, a grande novidade desta edição é que terá uma nova zona de gaming (videojogos) e uma nova área de street food. Além disso, não se sabe muito mais para já.

A bela imagem do cartaz, da autoria de Juan Cavia, autor de A Balada para Sophie, também já é conhecida.

Aguardemos por mais informações.

Eis a nota publicada pelo Amadora BD:

O 33º Amadora BD está de REGRESSO e traz novidades!
De 20 a 30 de outubro, o maior Festival Internacional de Banda Desenhada em Portugal volta à cidade da Amadora, com o núcleo central com uma área alargada, com uma zona de GAMING e uma nova área de street food.

O maior evento de Banda Desenhada espera por ti!

sexta-feira, 22 de julho de 2022

Levoir prepara-se para publicar a adaptação de Madame Bovary



No próximo dia 26 de Julho, a Levoir e a RTP editarão a terceira obra da sua coleção Clássicos da Literatura em BD.

Desta feita, trata-se da adaptação do clássico de Gustave Flaubert, Madame Bovary, que é adaptado para banda desenhada por Daniel Bardet e Michel Janvier.

Mais abaixo, deixo-vos com algumas imagens promocionais e com a nota de imprensa da editora.

Madame Bovary, de Daniel Bardet e Michel Janvier

Depois de 20 000 Léguas Submarinas e Sandokan e o Tigre de Mompracem, a 26 de julho a Levoir e a RTP editam o volume 17 da coleção Clássicos da Literatura em BD, Madame Bovary, um clássico do romance mundial da autoria de Gustave Flaubert.

Publicado em 1857, é considerado o marco do realismo.

Gustave Flaubert nasceu na cidade francesa de Rouen no ano de 1821. Distraído e desinteressado não gostava de estudar, preferia devorar romances. O seu grande romance Madame Bovary é uma obra polémica, publicado em folhetins na Revue de Paris em 1857. Esta obra, que lhe custou cinco anos de trabalho, iria também levá-lo à barra do tribunal, em 1858, por atentado contra os bons costumes. Apesar do escândalo, a crítica consagra a obra pela novidade, perfeição e equilíbrio, e as tendências realistas.

Madame Bovary conta a história de Emma Bovary, uma jovem criada no campo e educada num convento. Leitora ávida e com grandes sonhos burgueses, Emma vive a imaginar uma vida mais apaixonada e agitada que a sua. Para sair do campo, casa-se com um médico sem ambições.

Porém, pouco tempo depois do casamento, percebe que a vida de casada não era tão encantadora quanto o que era retratado nos livros que lia. Nem mesmo o nascimento da sua filha a deixa menos frustrada com a escolha que fez.

Cada dia mais angustiada, a jovem camponesa encontra no adultério a liberdade e excentricidade que tanto buscava. Assim, Emma Bovary passa a envolver-se secretamente com outros homens.

Além da história sobre uma mulher adúltera, sonhadora e insatisfeita com o próprio casamento, Madame Bovary é uma obra que também faz críticas ao clero e à sociedade burguesa, temas intoleráveis na década de 1850.

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Ficha técnica
Madame Bovary
Autores: Daniel Bardet e Michel Janvier
Adaptado a partir da obra original de: Gustave Flaubert
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
PVP: 13,90€