sexta-feira, 31 de março de 2023

Levoir prepara-se para lançar mais uma adaptação para BD da obra de Júlio Verne!



A editora Levoir regressa com a publicação de mais um Clássico da Literatura em BD.

Desta vez, contamos com mais um livro baseado na obra de Júlio Verne. Depois de A Volta ao Mundo em 80 Dias, livro que abriu a primeira coleção dos Clássicos da Literatura em BD, e de 20.000 Léguas Submarinas, será publicado Viagem ao Centro da Terra.

Os autores desta adaptação para banda desenhada são Curd Ridel e Frédéric Garcia. 

O livro deverá estar disponível a partir do próximo dia 4 de Abril
Viagem ao Centro da Terra, de Curd Ridel e Frédéric Garcia

Depois de A Volta ao Mundo em 80 Dias e 20 000 Léguas Submarinas, a Levoir e a RTP apresentam mais uma obra de Júlio Verne na coleção Clássicos a Literatura em BD. A 4 de abril é editada, Viagem ao Centro da Terra uma aventura protagonizada por Otto Lidenbrock, o seu sobrinho Axel e o guia Hans Bjelke.

O professor Lidenbrock descobre um manuscrito do século XII e fica obcecado por descodificá-lo, mas é Axel, o seu sobrinho e assistente, quem acaba por conseguir descobrir a mensagem do pergaminho, que dá indicações de como chegar ao centro da terra. Lidenbrock fica entusiasmado e prepara imediatamente uma expedição, enquanto Axel o segue praticamente arrastado. Os dois partem para a Islândia onde conhecem Hans, que será o seu guia e também salvador nesta aventura.

A história é narrada por Axel, em forma de diário de viagem. O autor utiliza esse artifício para adicionar uma dose de humor.
Cheia de aventuras, Viagem ao Centro da Terra é, sem dúvida, uma obra para ser lida repetidas vezes ao longo de todas as idades.

Júlio Verne, é conhecido como o precursor da literatura de ficção científica no século XIX. O conceito de ficção científica surgiu em 1920 e foi utilizado para caracterizar obras que projetavam visões do futuro. A sua carreira literária começou a destacar-se quando ele conheceu o editor Hetzel, que se interessou pelos seus textos e publicou Cinco Semanas em Um Balão (1863), a sua primeira grande obra. Júlio Verne antecipou na literatura uma série de descobertas que aconteceriam anos mais tarde (como, por exemplo, a ida do homem ao espaço e a construção de submarinos) e a sua escrita contagiou especialmente jovens e adolescentes ao longo dos anos.

A adaptação da obra é da autoria de Curd Ridel e a ilustração de Frédéric Garcia. O dossier tem a colaboração de Françoise Bayle e Agrippine Virgoulon.

-/-

Ficha técnica
Viagem ao Centro da Terra
Autores: Curd Ridel e Frédéric Garcia
Adaptado para BD a partir da obra original de Júlio Verne
Editora: Levoir
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 210 x 285 mm
PVP: 13,90€

Editora portuguesa vai publicar o novo livro de Jordi Lafebre!


Jordi Lafebre é um autor que depressa se tornou querido dos portugueses. (Ainda) não são muitas as obras do autor que por cá foram publicadas mas, quer o magnífico Apesar de Tudo, quer a belíssima série Verões Felizes - cujo argumento é de Zidrou - depressa conquistaram os leitores portugueses de banda desenhada. Eu incluído.

Ora, no dia de ontem, Jordi Lafebre anunciou que o seu próximo livro, intitulado Je Suis Leur Silence, deverá ser publicado no próximo mês de Outubro pela Dargaud. Não se conhece ainda uma sinopse da obra mas já se sabe que, tal como em Apesar de Tudo, o autor assina argumento e ilustração. Além disso, Lafebre partilhou algumas imagens para nos aguçar o apetite, que vos mostro neste artigo.

Posso também confirmar que, expetavelmente, será a Arte de Autor a publicar este livro por cá. Havendo possibilidade, até o fará em simultâneo com a edição original. Embora não haja, ainda, certeza sobre este último ponto.

É esperar mais uns meses por este livro que aguardo com muita expetativa!







quinta-feira, 30 de março de 2023

Edições FA regressam com novo livro!



As Edições FA acabam de anunciar o lançamento de um novo livro de banda desenhada, ainda nestes últimos dias de Março.

Falo de Nós na Tira, um livro de tiras humorísticas, da autoria do brasileiro Rodrigo Leão.

Mais abaixo, poderão encontrar a sinopse da obra e algumas imagens promocionais. 


Nós na Tira, de Rodrigo Leão

Em Nós na Tira, só mesmo se a revolução for trocada por quadradinhos engraçadas e realistas. Seja em Metatira, Fundo do Mar, Headbangers, Lino e Wino, Nox e Lux, Papo de Bicho, Revolucionário Ochê, Rugidos ou Questão de Fé!
Rodrigo Leão é natural de Campina Grande no Brasil, professor de profissão e quem faz as tiras para "Nós na Tira" ou "Nóis na Tira" no original em português do Brasil, e alguns para terceiros (e segundos, e quartos, e quintos... ).

Disponível em várias lojas e plataformas online.

-/-

Ficha técnica
Nós na Tira
Autor: Rodrigo Leão
Editora: FA
Páginas: 64, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 15,2 x 22,8 cm
PVP: 16,90€


quarta-feira, 29 de março de 2023

Análise: Dragomante 2 – Prova de Fogo

Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado - A Seita e Comic Heart

Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado - A Seita e Comic Heart
Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado

O segundo volume da saga Dragomante, criada por Filipe Faria e Manuel Morgado, já andava a ser preparado há bastante tempo, mas foi apenas no último Amadora BD que o livro viu a luz do dia para satisfação de um belo conjunto de seguidores que o primeiro livro, Dragomante – Fogo de Dragão, foi conquistando desde o seu lançamento em 2018.

Sagas de fantasia com cavaleiros e dragões, tão bem desenhadas e, ainda por cima, de origem portuguesa não são algo comum, convenhamos. Foi, portanto, com satisfação que mergulhei neste segundo tomo de uma série que se espera que venha a terminar no terceiro volume. Em termos visuais, já tinha quase a certeza de que estaríamos perante um belo álbum, tendo em conta que ia acompanhando a feitura de algumas das pranchas que Manuel Morgado ia partilhando nas redes sociais.

A minha dúvida e maior expetativa residia, por isso, na capacidade – ou não – de Filipe Faria dotar esta história de uma boa narrativa e argumento. No primeiro volume, houve algumas lacunas a este nível – especialmente por se tratar de um livro que primeiramente foi desenhado e que o argumento foi posteriormente construído depois de feitas as ilustrações. Dragomante 2 - Prova de Fogo não consegue elevar o livro, em termos de argumento e narrativa, ao patamar que eu desejaria, mas, ainda assim, apresenta melhorias neste cômputo.

Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado - A Seita e Comic Heart
Continuamos a história de Nereila, a jovem domadora de Dragões que, neste segundo volume, procura ser menos impetuosa e ter mais autocontrolo sobre o seu forte poder que, mal usado, pode ser perigoso para todos os que a rodeiam. Estão a ver aquele momento em que Daenerys Targaryen, na Guerra dos Tronos, perde a cabeça e aniquila uma cidade inteira? Pois bem, é exatamente isso que, em Dragomante 2, Nereila sabe que não pode fazer.

E bem, falar de Dragomante sem mencionar A Guerra dos Tronos é-me quase impossível. Não porque haja aqui um açambarcamento narrativo-gráfico da série original, mas sim porque as influências e a proximidade do tema e ambiente me parecem evidentes. O que, para mim e para muita gente, creio, será uma coisa boa, já que a série original criada por George R. R. Martin tanta gente cativou. E continua a cativar.

Voltando à história de Dragomante e à necessidade que Nereila tem em controlar o seu fogo interior, também é verdade que, para toda a gente, “a paciência tem limites” e, nesse sentido, não é de admirar que face a pressões externas a ira de Nereila vá gradualmente crescendo. E tudo começa quando Karanto, também ele um dragomante, sem escudeiro, de outro reino, enceta desposar a jovem Nereila. Afinal de contas, o pai da jovem, Edégeon, tinha sido Paladino de Armitaunin e, aquele que casasse com Nereila seria, pois, considerado para suceder a esse título. Uma história entre casamentos reais à antiga - e à moderna? -, portanto.

Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado - A Seita e Comic Heart
Karanto monta então um esquema de forma a conquistar Nereila. E, embora esta pareça inicialmente sucumbir ao seu charme, o seu escudeiro, Ékion, parece antever que as intenções de Karanto não são tão nobres como aparentam ser. Por falar em Ékion, neste livro é brevemente explorado o passado da personagem, com especial ênfase na relação amorosa que teve com Caunia que acabou por perder.

Entretanto, e embora a mãe de Nereila a desaconselhe de se juntar a Karanto, a jovem, qual imberbe adulta empertigada, parece disposta a fazer aquilo que bem quer fazer. E os resultados poderão ser perigosos não só para ela, como para todos à sua volta. Mais não digo. Terão que ler o livro.

Diria que o argumento deste segundo volume está mais bem atado por Filipe Faria, embora me pareça que a história seja, por ventura, demasiado expetável. Quase como um déjà vu. Se bem que também não deixa de ser verdade que, no final do livro, a história fica em suspenso e que, por esse motivo, ainda haja espaço para surpreender no terceiro e último volume da série.

Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado - A Seita e Comic Heart
Em termos narrativos, continuam a pulular muitas legendas informativas – julgo que lhes posso chamar assim – que nos vão oferecendo informações relativas ao universo aqui construído. Surgem como texto quase de apoio e de cariz mais literário. É uma opção interessante e curiosa, mas julgo que há texto a mais, o que faz com que a leitura não se torne tão fluída. Mesmo assim, há que conceder que, nesta questão, houve uma mudança para melhor face ao volume anterior.

Manuel Morgado dá-nos mais um álbum verdadeiramente belo. O volume anterior de Dragomante já havia demonstrado ter ilustrações muito bonitas e vistosas, e este segundo volume até consegue elevar, em vários momentos, a arte de Manuel Morgado. O estilo de desenho, que parece apresentar uma boa mistura entre o género dos comics americanos e o franco-belga, é bastante moderno e estilizado por um traço detalhado e funcional, ao mesmo tempo. Como escrevi em relação ao álbum anterior, “o desenho das personagens é bem conseguido, tal como são as poses - quase sempre dramáticas - dessas mesmas personagens ao longo da narrativa. O desenho dos dragões também impressiona. A somar a isto tudo, ainda temos a introdução de uma generosa paleta de cores que funciona muito bem na obra, permitindo que a mesma adquira um aspeto moderno e atual.

Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado - A Seita e Comic Heart
Há várias páginas onde, em termos de planificação, o autor faz apostas audazes, que acabam por ser bem conseguidas, dotando o seu trabalho de magníficas ilustrações de página dupla ou de pranchas onde a disposição e arranjo das vinhetas apresentam soluções inovadoras e refrescantes.

A edição do livro, por parte das editoras A Seita e Comic Heart, está bastante bem conseguida. O livro abre logo com um breve apanhado, em forma de texto, daquilo que aconteceu no volume anterior. Isto é apenas um detalhe, mas que considero sempre relevante para melhor situar o leitor. Até porque se passou algum tempo (cerca de 4 anos) entre o lançamento de um volume e de outro. De resto, o livro apresenta capa dura baça, com papel brilhante de boa espessura. A impressão e a encadernação estão bem executadas.

Em suma, e apesar das melhorias face ao álbum anterior, ainda acho que, em termos de argumento, Dragomante tem algumas dificuldades. Já quanto à ilustração, o trabalho de Manuel Morgado é verdadeiramente impressionante e diferenciado. Não tenho dúvidas de que este foi um dos livros nacionais com melhores desenhos do ano passado.


NOTA FINAL (1/10):
8.4



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Dragomante 2 – Prova de Fogo, de Filipe Faria e Manuel Morgado - A Seita e Comic Heart

Ficha técnica
Dragomante 2 – Prova de Fogo
Autores: Filipe Faria e Manuel Morgado
Editoras: A Seita e Comic Heart
Páginas: 56, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 21 x 27 cm
Lançamento: Setembro de 2022

terça-feira, 28 de março de 2023

Editora Iguana está de volta... com um novo livro ilustrado



A editora Iguana, uma chancela da Penguin Random House que se apresentou como uma editora de banda desenhada, acaba de anunciar a sua nova aposta editorial!

Desta vez, trata-se de um livro ilustrado, à laia de cartoon, da autora portuguesa Filipa Beleza que já nos deu, recentemente a obra Somos uma Merda a Crescer.

O novo livro dá pelo nome de Entalados e deverá chegar às livrarias a partir do próximo dia 17 de Abril.

Por agora, deixo-vos com a sinopse da obra.


Entalados, de Filipa Beleza
Este é um livro sobre as nossas, muitas vezes boas, muitas vezes ineficazes, tentativas de contribuição para um futuro melhor e mais sustentável. É provável, no entanto, que falhemos. Não fique triste, a vida é mesmo assim, andamos há anos a fazer disparates.

Os dinossauros não fizeram nada de mal e, mesmo assim, foram à vida, pelo que não há razão para que a Natureza tenha piedade de nós. E agora que já está, muito possivelmente, deprimido, é a altura ideal para abrir este livro: Filipa Beleza tem tanto humor a ilustrar, como a escrever.

A sério: depois de ler, vai ficar tão bem disposto que nem se vai sentir culpado por comprar mais um saco de pano no supermercado porque se esqueceu de um dos 46 que tem pendurados na porta da despensa.


-/-

Ficha técnica
Entalados
Autora: Filipa Beleza
Editora: Iguana (Penguin Random House)
Páginas: 80, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 170 x 206 mm
PVP: 16,65€

Análise: Chu

Chu, de John Layman e Dan Boultwood - G. Floy Studio Portugal

Chu, de John Layman e Dan Boultwood - G. Floy Studio Portugal
Chu, de John Layman e Dan Boultwood

Chu é uma das primeiras apostas da G. Floy Studio para este ano de 2023. Trata-se de uma série que resulta de um spin-off da série original Tony Chu, cujos 12 volumes foram integralmente publicados por cá – também pela G. Floy Studio.

Estava com especial expetativa para ler este livro pois Tony Chu é uma das séries da G. Floy Studio de que eu gosto mais. Toda aquela história, aparentemente sem pés e sem cabeça, mas que, na verdade, nos deixa a chorar por mais, enquanto nos rimos à socapa perante as mirabolantes peripécias com que somos confrontados, conquistou-me totalmente. É, aliás, uma série que recomendo sem reservas.

Até porque, se o argumentista John Layman conseguiu pensar numa série verdadeiramente divertida, cheia de loucura e boas ideias ao nível do enredo, também o seu ilustrador, Rob Guillory nos dá um belíssimo trabalho que encaixa que nem uma luva na história sui generis de Tony Chu.

Nesse sentido, e para uma melhor compreensão deste universo de personagens que têm "super-poderes associados à comida", ou ao ato de comer, até recomendo uma (re)leitura da análise que fiz à série completa de Tony Chu.

Chu, de John Layman e Dan Boultwood - G. Floy Studio Portugal
Desta vez, e como já referi, temos o primeiro e único spin-off dedicado a este universo. Mas há algumas alterações em relação àquilo que já conhecíamos. Em primeiro lugar, trata-se de uma minissérie, composta por 10 números - e dividida em duas histórias - que esta edição publica de forma integral. Ou seja, este novo livro auto-conclusivo de Chu tem duas histórias e pode ser lido de forma independente em relação à série-mãe. A nível dos criadores também houve uma alteração. O argumentista, John Layman, é o mesmo, mas desta vez faz-se acompanhar por um novo ilustrador: Dan Boultwood.

Finalmente, a terceira grande mudança é que desta vez não acompanhamos as vivências de Tony Chu, mas sim da sua irmã, Saffron Chu. Tony Chu aparece na primeira história deste livro, sim, mas não é ele que protagoniza Chu

Como não podia deixar de ser, Saffron também tem poderes especiais que resultam do ato de comer. Enquanto que Tony Chu, sendo um "cibopata", é capaz de adquirir impressões psíquicas daquilo que come, Saffron é capaz de descobrir os segredos das pessoas que quem come. Desde que, ela e a outra pessoa estejam a comer ao lado um do outro e a mesma comida. Chama-se a isto ser-se "cibocomparte". Enfim, dito assim, pode parecer estranho – e é – mas deixem-me dizer-vos que estes poderes são causa e efeito no facto destas histórias serem divertidíssimas.

Chu, de John Layman e Dan Boultwood - G. Floy Studio Portugal
Saffron também é totalmente diferente de Tony devido ao lado da justiça em que se encontra. Se Tony Chu é polícia, Saffron é uma criminosa. E isso faz com que, na primeira história, denominada Entrada, as duas personagens entrem em rota de colisão. Saffron faz escolhas erradas, rodeia-se de más companhias e acaba sempre do lado dos vilões. Na primeira história, a narrativa é mais em tom policial clássico. Os caminhos dos crimes de Saffron levam-na ao encontro de Tony Chu e algum deles terá que sair vitorioso. 

Na segunda história, intitulada Mau Vinho, temos uma narrativa totalmente centrada em Saffron - sem que nenhum dos membros da sua família participe no enredo - que nos leva a uma viagem no tempo à França do séc. XIX. Funciona bem e tem qualidades interessantes ao nível da narrativa, mas pareceu-me que a resolução da história poderia ter sido melhor.

Curiosamente, e embora, como já referi, tenha havido uma alteração ao nível da dupla criativa responsável por esta BD, não é o estreante na série Dan Boultwood que me desapontou, mas sim - imagine-se! - o próprio John Layman. Bem, falar em “desapontamento” talvez seja exagerado da minha parte. A história mantém-se divertida e com um ritmo narrativo bastante rápido. Ou seja, vai ao encontro do que Tony Chu já nos havia dado. Todavia, na parte de "ser divertida", pareceu-me que o humor destas duas histórias, tendo bons momentos, claro, fica bastante aquém do humor louco, sem regras e estonteante do humor da série original. Se Tony Chu faz rir à gargalhada, Chu faz sorrir, vá. É divertido, mas mais consciente de si mesmo (o que em humor, geralmente, é uma má ideia). Não diria, pois, que Layman apareça desinspirado porque, afinal de contas, este livro funciona bastante bem e deverá agradar aos muitos fãs da série original, mas é inegável que a inspiração do autor não está tão em altas. Quer ao nível do argumento quer, especialmente, ao nível do humor.

Chu, de John Layman e Dan Boultwood - G. Floy Studio Portugal
Quanto ao novo ilustrador Dan Boultwood, devo dizer que me conseguiu impressionar com a sua belíssima arte. Ainda por cima, há que ter em conta, que o legado deixado por Guillory tinha bastante relevância. Boultwood consegue o feito de conseguir estar em linha com o universo visual criado por Guillory, mas, ao mesmo tempo, acrescentar a sua personalidade visual. Dito por outras palavras, Chu é fiel a Tony Chu sem ser uma cópia barata e conseguindo ter ideias próprias. 

O traço de Dan Boultwood é extremamente dinâmico, moderno e com um elevado sentido de cartoon. De facto, por vezes até lembra alguns dos desenhos-animados mais modernos e bem conseguidos que se podem encontrar em canais como o Cartoon Network ou o Nickelodeon. Excelente nas expressões, nas poses estilizadas das personagens e nas fantásticas cenas de ação, nas planificações arrojadas e nas belíssimas cores, o autor revela estar bem à altura de Rob Guillory. Talvez só na questão dos desenhos com cariz mais humorístico, Boultwood fique um pouco abaixo do seu antecessor. Mas, mais uma vez, também há que lembrar que o próprio argumento de Layman não é tão hilariante neste Chu, portanto é natural que os desenhos também não sejam tão caricatos.

Chu, de John Layman e Dan Boultwood - G. Floy Studio Portugal
E merece ainda nota o facto de, na segunda história, o autor alterar um pouco a sua maneira de desenhar, oferecendo-nos uma proposta visual ainda mais audaz do que na primeira história onde, expetavelmente, talvez o autor tenha tentado aproximar o seu desenho ao de Guillory. Na segunda história, os desenhos são ainda mais “cartoonescos”, com cores mais suaves e detalhes (ainda) mais estilizados, que remetem para uma ilustração mais juvenil. Sem que isso belisque em nada a sua criatividade e bela execução. Chu é um livro magnífico ao nível da ilustração e Layman encontrou em Boultwood um sucessor completamente à altura de Guillory.

A edição da G. Floy Studio está bastante bem conseguida como, aliás, já é natural em outros trabalhos da editora. A capa é dura e baça, o papel é brilhante e de boa qualidade e a encadernação e impressão estão bem conseguidas, também. Mesmo ao nível do grafismo, o livro é bem executado. Nota ainda, muito positiva, para o generoso dossier de extras, com 20 páginas, que conta com ilustrações para capas alternativas, esboços das personagens e ainda algumas páginas que nos demonstram o processo de criação desta BD, desde as páginas do guião, passando pelos primeiros storyboards e culminando nas artes finais.

Em conclusão, mesmo sendo verdade que Chu fica uns furos abaixo da fantástica série Tony Chu, continua a ser uma proposta demais apetecível! Com efeito, não é por este Chu não ser competente que a série principal Tony Chu consegue ser melhor. Nada disso! Simplesmente, diria, o valor de referência deixado pela série principal era difícil de alcançar. Divertida, mas menos hilariante, esta nova história consegue entreter-nos com um sorriso quase constante, enquanto apreciamos um fantástico trabalho, ao nível de ilustração, por parte de Dan Boultwood. Recomendado!


NOTA FINAL (1/10):
8.7



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Chu, de John Layman e Dan Boultwood - G. Floy Studio Portugal

Ficha técnica
Chu
Autores: John Layman e Dan Boultwood
Editora: G. Floy Studio
Páginas: 256, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 177 x 268 mm
Lançamento: Fevereiro de 2023

Escorpião Azul lança primeiro livro de 2023!




A novidade editorial mais recente da Escorpião Azul foi oficialmente lançada no LouriBD e já se encontra disponível em livraria.

Falo de Shedy, da autoria de Pepedelrey, a nova proposta de um autor já com várias obras editadas pela mesma editora como Futuro Proibido, Apontamentos de Terror, Pepederey ou A Viagem de Virgem.

Mais abaixo, deixo-vos com a sinopse da obra e com algumas imagens promocionais.


Shedy, de Pepedelrey

Uma decisão inconsciente, um puro acto de violência que leva à morte de um agente da autoridade, tem como consequência futura, um lugar no purgatório. 

Quando Shedy acreditava estar longe do seu passado recente, um acontecimento vem alterar o seu conforto no isolamento. 

Noutro plano existencial, onde as nossas decisões são determinadas por entidades que não entendemos nem aceitamos racionalmente, Shedy encontrará novas perguntas e nenhuma resposta a anteriores dúvidas. 

Sendo a mais complexa: estará vivo?

-/-

Ficha técnica
Shedy
Autor: Pepedelrey
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 54, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 16 x 23 cm
PVP: 13,50€

segunda-feira, 27 de março de 2023

Já há imagem e programa do IlustraBD 2023!



Já é conhecido o Programa do IlustraBD 2023 que, este ano, tem várias novidades!

Arranca já no próximo dia 15 de Abril a 4ª Edição do IlustraBD - Mostra de Banda Desenhada e Ilustração do Barreiro.

O evento contará com exposições, conversas com autores, feira do livro, workshops, visitas guiadas, sessões de autógrafos e sessões de cinema.

No dia 16 e Abril vou estar presente no evento onde, acompanhado por um ilustre conjunto de criadores de conteúdos sobre banda desenhada, falarei sobre as atividades do Vinheta 2020. Apareçam para dois dedos de conversa.

Mais abaixo, deixo-vos com a nota de imprensa do certame.


4a EDIÇÃO IlustraBD | 2023

Nesta 4a edição, a Câmara Municipal do Barreiro apresenta um novo formato de programação apostando mais em exposições individuais, em vez de coletivas. Também apostará em novos estilos, diversificando do tema fantástico, predominante nas edições anteriores. Através de uma parceria com a Penguin Books. teremos as pranchas originais de Balada Para Sophie, do premiado e candidato aos óscares Filipe Melo e do desenhador argentino Juan Cavia. O versátil António Jorge Gonçalves apresenta-nos a sua nova obra Desenhar Do Escuro e Marco Mendes, traz-nos o seu Biopic, ao estilo da BD panorâmica italiano. Em termos de exposição coletiva, a Editora Ala dos Livros apresenta-nos a sua ALA Portuguesa, com a participação de autores como Luís Louro, Marcos Calhorda, Daniel Maia, Diogo Campos e Hugo Teixeira, havendo uma secção para as lendas da BD Jorge Magalhães e Augusto Trigo.

Mais uma vez, levaremos o IlustraBD para fora de portas através da exposição individual de Henrique Pirote, na Galeria da Biblioteca Municipal do Barreiro, um jovem aluno da Faculdade de Belas Artes que se está a lançar no mundo da 9a arte. Paralelamente, a iniciativa incluirá feira de livro com sessões de autógrafos e desenho ao vivo, ciclo de conversas, workshops e sessões de cinema.

Em cada edição é convidado um autor para fazer a imagem gráfica. Esta 4a edição do IlustraBD, terá o cunho do artista barreirense Ricardo Reis, que participou enquanto autor nas edições anteriores e realizou duas exposições individuais, em parceria com o Município do Barreiro.

Esta edição pretende ainda homenagear o desenhador barreirense e grande lenda da Banda Desenhada em Portugal, que faleceu no último dia do ano de 2022, o grande Eugénio Silva.



PROGRAMA


15 Abril (Auditório Municipal Augusto Cabrita)

14h00 às 19h00 – Feira de Livro de BD

16H00 – Conversa com autores/editoras sobre as exposições patentes:
Participantes: João Miguel Lameiras (sobre “Balda para Sophie”, de Filipe Melo e Juan Cavia), Ricardo
Magalhães (sobre a “Ala Portuguesa”), Marco Mendes (sobre “Juventude”).

17h30 – Visita Guiada às exposições


16 Abril (Auditório Municipal Augusto Cabrita)

10h00 às 19h00 – Feira de Livro de BD

11h00 – Exibição do Filme “Corto Maltese: A Balada do Mar Salgado”

16h00 – Conversa sobre a Divulgação da BD em Portugal
Participantes: Pedro Cleto (Jornal de Notícias + Blog As Leituras de Pedro); Hugo Pinto (Blog Vinheta 2020); Rui Alves de Sousa (programa Pranchas&Balões da RTP/Antena 1); Rodrigo Ramos (Blog Bandas Desenhadas) – moderação João Raz


22 Abril (Biblioteca)
16h00 – Inauguração da exposição de Henrique Pirote


23 abril (Auditório Municipal Augusto Cabrita)
16h00 – Sessão de Cinema: Os Strunfs: A Aldeia Perdida


29 Abril (Biblioteca)
11h00 – Workshop de BD para crianças com Henrique Pirote


7 Maio (Auditório Municipal Augusto Cabrita)
10h00 – Apresentação do Livro “O Mistério de Cepheus” e workshop de desenho com Liliana
Gaito e Carlos Rafael


28 maio (Auditório Municipal Augusto Cabrita)
Masterclass com António Jorge Gonçalves (Desenhar do Escuro)



EXPOSIÇÕES


Exposição BALADA PARA SOPHIE, de Filipe Melo (texto) e Juan Cavia (ilustração), em parceria com a Penguin Books

Balada para Sophie é uma novela gráfica portuguesa. Com argumento de Filipe Melo e desenhos de Juan Cavia, é a sétima colaboração da dupla, e encontra-se actualmente na sétima edição em Portugal. Julien Dubois, um velho pianista de sucesso, vive em reclusão numa mansão na companhia de Marguerite, a sua governanta, e do seu gato Maurice. A rotina é interrompida pela visita de uma jornalista, que, depois de enfrentar alguma resistência do entrevistado, é levada numa viagem que atravessa várias décadas da nossa história. Publicado pela Companhia das Letras, o livro recebeu o prémio de livro do ano da Bertrand e o troféu da Amadora BD. Pouco tempo depois, tornou-se um sucesso internacional: está editado no Brasil, na Polónia, Repíublica Checa, Alemanha, Itália, França, Espanha e nos EUA, onde foi nomeado para quatro prémios Eisner, o mais alto galardão da banda desenhada norte-americana. Os direitos de adaptação ao cinema foram então comprados pela Universal Pictures, estando atualmente em desenvolvimento.

Esta exposição mostra os trabalhos originais, feitos a lápis em papel A4.

Auditório Municipal Augusto Cabrita | Piso 0 – Galeria Azul
Entrada Livre



Exposição JUVENTUDE, de Marco Mendes

Uma imagem por página. Imagem após imagem (de uma beleza estonteante), página após página, sem texto, numa narrativa sequencial totalmente muda, Marco Mendes conta-nos uma história da sua Juventude. Uma bela história de banda desenhada.

Desta vez, a novidade que Marco Mendes nos traz é o silêncio. Deixar-nos desfrutar desta história recorrendo apenas à imagem ao longo de uma centena de páginas, que apetece voltar atrás e reler (sim, reler!), com mais calma, apreciando, com mais detalhe, a excelência das imagens que a contam.

Auditório Municipal Augusto Cabrita | Piso 0 – Galeria Azul
Entrada Livre



Exposição DESENHAR DO ESCURO, de António Jorge Gonçalves

DESENHAR DO ESCURO é um livro que reproduz 82 dos cerca de 300 desenhos que António Jorge Gonçalves fez a lápis branco sobre cadernos pretos em 2020-2021. Aplicando um processo de inversão – usado na xilogravura, por exemplo – no qual se desenha aquilo que está a branco em vez daquilo que está a preto, o artista registou paisagens urbanas, clausuras domésticas, deambulações pela natureza, uma seleção atenta de fragmentos na vida quotidiana. Na exploração desta linguagem gráfica que lhe é inédita, AJG acaba por perceber que aquelas páginas pretas são como salas às escuras que precisam do lápis branco para revelar o que lá está dentro.

Auditório Municipal Augusto Cabrita | Piso 1 – Galeria Branca
Entrada Livre


22 de Abril, às 16h
Inauguração da Exposição de Henrique Pirote

A exposição consiste num conjunto de obras e pranchas que os artista produziu ao longo de 2022/2023, contendo diversas pranchas de trabalhos em colaboração e também do seu primeiro livro colaborativo “Taruje” #1 onde o mesmo organizou a edição e participou com a história "Môscáranha" . Conta também com outras pranchas de obras independentes e outras por publicar. Em data a anunciar posteriormente, haverá espaço para um workshop onde o artista irá propor diversas atividades para todas as idades, onde se explorará a arte sequencial e como esta é acessível para todos.

Biblioteca Municipal do Barreiro
Entrada Livre

Análise: Quero Voar

Quero Voar, de Kachisou - A Seita e Comic Heart

Quero Voar, de Kachisou - A Seita e Comic Heart
Quero Voar, de Kachisou

Quero Voar foi lançado durante o último Amadora BD e é especialmente assinalável por ser a primeira obra de maior fôlego da autora portuguesa Kachisou.

Depois de Weak, que reunia duas curtas da autora, devo dizer que tinha bastantes expetativas para este Quero Voar. E a verdade é que, sendo certo que, com mais ajustes e maturação da narrativa e das personagens, Quero Voar poderia ser uma obra ainda mais impactante e inesquecível, não deixa de ser claro que estamos perante uma autora com um enorme potencial.

Até porque a sua obra se assume como bastante original e, até, algo "fora da caixa", diria. Pelo menos para o que é comum na banda desenhada portuguesa. O estilo de desenho tem forte influência do mangá, mas, não obstante, parece haver uma forte influência da banda desenhada mais ocidental, em termos narrativos e não só. O que faz com que a junção destes dois mundos nos dê algo original ao nível da banda desenhada nacional. É verdade que há outros autores portugueses com um estilo demarcadamente oriundo da escola do mangá, mas, parece-me, a sua criação procura aproximar-se (ou prestar homenagem?) ao próprio mangá. Kachisou parece navegar a um ritmo diferente e mais independente.

Quero Voar, de Kachisou - A Seita e Comic Heart
Esta é uma história sobre a juventude que acompanha a vivência de Kyle, cujo pai é demasiadamente severo, controlador e punitivo em relação ao protagonista. As altas e dificilmente alcançáveis expetativas que o pai coloca em cima do filho, bem como toda a ambiência de uma família religiosa e demasiado fechada em si mesma – e de si para o mundo – fazem com que a vida de Kyle seja tudo menos aquilo que um adolescente da sua idade desejaria. Não há espaço para que o jovem se sinta ele próprio e procure voar para as paragens a que procura almejar.

E é então que se dá o ponto de rutura e Kyle decide sair de casa com os poucos trocos que conseguiu amealhar. A sua vida parece melhorar então, especialmente quando este reencontra um dos seus amigos de infância, Jack. Juntos vão mergulhar no mundo das drogas, enquanto traficantes. Mas, passado algum tempo, também esta nova vida deixa Kyle insatisfeito, levando-o a passar a consumir as drogas que, supostamente, estavam destinadas apenas à venda. Infelizmente, as drogas nunca foram bom augúrio para ninguém. Como, aliás, a história nos demonstra. 

O texto é bom e a ideia, de alguém que está cansado da vida familiar e vai viver fora de casa, num mundo repleto de drogas e delinquência, até pode não ser especialmente original, mas está bem atada entre si e funciona bem. A única coisa que lamento neste álbum é que a história e vários momentos da mesma parecem acontecer de forma demasiado abrupta e não tão bem explanada como seria benéfico. 

Quero Voar, de Kachisou - A Seita e Comic Heart
Se tivesse havido um maior desenvolvimento das personagens e uma maior contenção na forma como Kyle toma algumas ações – e já descontando o facto de ser um jovem e, por norma, os jovens tomarem algumas decisões sem grandes reflexões -, julgo que o grau de imersão da história e a ligação que criamos com as personagens seriam maiores. E note-se que, neste caso, até não me parece que um livro de 124 páginas não dê bem para um bom character building. Acho que até havia espaço para isso. Mas a questão é que, se é verdade que a autora utiliza várias páginas para um só diálogo – o que dá vivacidade e realismo ao mesmo – por outro lado, desperdiça a tal oportunidade de nos fazer compreender melhor Kyle e Jack, criando empatia com os mesmos. E até quando chegamos ao final – que me parece bem conseguido – o mesmo é-nos dado de forma muito repentina, como se a autora aparentasse ter urgência para fechar a história.

Mas, se parece que me estou a focar em demasia nas coisas menos boas deste livro, deixem-me dizer-vos que a razão para tal é mesmo a de que Quero Voar tinha tudo para ser um livro mais impactante ainda. A história, triste e dramática, está bem conseguida, a reflexão que a mesma levanta é pertinente, a arte de Kachisou é muito bela, especialmente nas pranchas mais oníricas, resultantes dos efeitos das drogas a que Kyle sucumbe. O próprio final é um bom final. É, portanto, nas pequenas nuances que Quero Voar consegue um certo voo, sim, mas que poderia ser mais grandioso e menos rasante.

Quero Voar, de Kachisou - A Seita e Comic Heart
Também em termos de ilustrações, a preto e branco, o trabalho de Kachisou se revela com um enorme potencial. Com um estilo, já referido, bem ao jeito do mangá, a autora é especialmente exímia na forma como tão bem ilustra as expressões das personagens. O seu traço aparenta ser rápido, nervoso e confiante, dotando a componente visual do seu trabalho de uma eficácia e beleza muito orgânica. 

Considero que se algumas ilustrações tivessem recebido uma maior quantidade de pormenores, ficariam ainda mais belas. Mesmo assim, é justo dizer que Kachisou já é dona de uma técnica e de uma personalidade gráfica bastante elevada. Não admira que a mesma já tenha vencido prémios de criação mangá no Japão. Nota ainda, positiva, para a forma como a autora aplica os cinzentos, em trama, que acrescentam beleza e um cariz artístico aos desenhos.

Apreciei bastante a diversidade de planos e perspetivas utilizados pela autora, sempre com uma sensação bastante cinematográfica que perpassa ao longo de cada vinheta. A planificação é bastante dinâmica e muito em linha com o estilo mangá. Os limites de cada vinheta serão, por ventura, mais grossos do que aquilo que deveriam ser, o que torna as páginas menos airosas. E a inexistência de margens laterais também contribuiu para uma certa sensação de claustrofobia visual das páginas. Não é nada de muito negativo, mas creio que, feito de outra maneira, faria com que o aspeto visual da obra fosse ainda melhor.

Em termos de edição, o trabalho d’A Seita e da Comic Heart está bem conseguido. A capa é dura e baça, o papel, também baço, tem uma boa espessura. A encadernação e a impressão são igualmente boas. Nota para a inclusão de um pequeno caderno gráfico com alguns esboços e estudos preliminares das personagens.

Em suma, Quero Voar é a confirmação de que, sim, Kachisou pode voar enquanto autora de banda desenhada em Portugal. Este livro é, pois, a confirmação de todo o potencial da autora que, estou certo, ainda poderá dar-nos melhores obras no futuro. Um livro e uma autora a conhecer!


NOTA FINAL (1/10):
8.2


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

Quero Voar, de Kachisou - A Seita e Comic Heart

Ficha técnica
Quero Voar
Autora: Kachisou
Editoras: A Seita e Comic Heart
Páginas: 124, a preto e branco
Encadernação: Capa dura
Formato: 16,5 x 24 cm
Lançamento: Agosto de 2022

sexta-feira, 24 de março de 2023

Análise: O Mundo de Sofia - Novela Gráfica

O Mundo de Sofia - Novela Gráfica, de Nicoby e Vincent Zabus - Elsinore - Penguin Random House

O Mundo de Sofia - Novela Gráfica, de Nicoby e Vincent Zabus - Elsinore - Penguin Random House
O Mundo de Sofia - Novela Gráfica, de Nicoby e Vincent Zabus

Foi já no final do ano 2022 que a Elsinore (mais uma chancela do Grupo Editorial Penguin Random House) lançou este (primeiro) grande volume de banda desenhada, com 264 páginas, da autoria de Nicoby e Vincent Zabus. Estamos perante uma adaptação do célebre livro homónimo de Jostein Gaarder que, desde o seu lançamento original, há cerca de 30 anos, tem marcado muitos leitores. Especialmente os jovens.

O Mundo de Sofia é, pois, uma obra de cariz didático que procura ser duas coisas: por um lado, uma história da filosofia enquanto disciplina de estudo e forma de vida. Por outro lado, fazer o próprio leitor colocar as suas questões pessoais sobre essa coisa grandiosa que é a existência. Quem somos nós? O que andamos aqui a fazer? Qual o objetivo e sentido da vida? O que é que deu origem a tudo isto?

Bem, convenhamos que, para um livro que se assume como direcionado aos jovens, O Mundo de Sofia até levanta questões a que muitos adultos (todos?) não sabem responder de forma convicta. Ou, pelo menos, de forma comprovada.

O Mundo de Sofia - Novela Gráfica, de Nicoby e Vincent Zabus - Elsinore - Penguin Random House
Nesta adaptação para banda desenhada, que terá um segundo volume, e que até contou com a colaboração do próprio autor da obra original, Jostein Gaarder, há uma louvável tentativa de recriar a obra original, não se limitando os autores, Nicoby e Vincent Zabus, a transpô-la simplesmente para a banda desenhada, mas sim, tentando adaptá-la à nossa realidade. Será por isso que, em vez de parecer ter sido escrita há 30 anos, parece ter sido escrita há 3 meses.

É lógico que a parte histórica do livro, que começa no pensamento da Antiguidade Clássica e que vai até aos tempos de Galileu Galilei, é estanque. No entanto, as pontes de raciocínio que se fazem entre as ideias dos grandes pensadores da história do mundo e os conceitos, noções e formas de pensarmos no mundo atual, estão bem adaptados ao tempo do presente. Temas como as alterações climáticas ou a igualdade de género estão presentes no livro. E isso é, quanto a mim, uma valência positiva deste livro.

A história é centrada numa adolescente de 14 anos, Sofia, que começa a receber cartas de um misterioso filósofo com questões abertas e universais como “quem és tu?” ou “de onde vem o mundo”? Isto faz com que a jovem embarque numa viagem à história do conhecimento e à forma como a humanidade tem vindo a pensar e a refletir sobre o seu lugar no mundo. Há até uma certa aura de mistério – sobre quem será este filósofo anónimo que vai enviando cartas a Sofia – que, infelizmente, lá mais para o meio do livro, se perde, deixando cair uma boa ideia que centrava o interesse do leitor.

O Mundo de Sofia - Novela Gráfica, de Nicoby e Vincent Zabus - Elsinore - Penguin Random House
Eu sou daqueles que, na minha infância/adolescência, passei ao lado deste livro na sua versão original. Como tal, poder ler este livro agora, adaptado à banda desenhada, fez-me ficar bastante interessado sobre o tema e ir procurar mais informações e passagens do livro original de Gaarder.

Não considero que esta adaptação para BD seja um portento da banda desenhada, mas acho que é um livro que funciona bastante bem e que merece ser lido. Diria que os autores utilizam a banda desenhada como meio para simplificar o objeto de estudo e análise e, deste modo, chegar a um outro tipo de público que, provavelmente, (já) não leria a obra original.

Faz lembrar bastante a série de banda desenhada Sapiens, também lançada pela Elsinore, embora este O Mundo de Sofia fique, a meu ver, uns furos abaixo do excelente Sapiens, que já conta com dois volumes. Seja como for, O Mundo de Sofia cumpre de forma plena os seus intentos.

O Mundo de Sofia - Novela Gráfica, de Nicoby e Vincent Zabus - Elsinore - Penguin Random House
Quanto às ilustrações, da autoria de Nicoby, temos um trabalho bastante simples, mas bastante eficaz também. O traço é rápido, bastante “cartoonizado” e com poucos detalhes. São muitas as vinhetas onde só temos as personagens em conversa entre si, à frente de um fundo totalmente vazio, a uma cor. 

Diria que é algo expetável neste tipo de livros que, volto a dizer, estão mais interessados em utilizar a BD como meio narrativo, de forma a serem um livro mais educativo do que, propriamente, artístico. E nada de mal há nisso, refira-se. Não obstante, é verdade que, de quando a quando, há ilustrações de maior dimensão, que por vezes chegam a ocupar uma página inteira, onde ficam bem patentes as boas capacidades ilustrativas de Nicoby. São boas ilustrações que me fizeram desejar que existissem em mais quantidade ao longo do livro, tendo em conta o facto de trazerem frescura e uma pausa narrativa bem-vinda, face à quantidade de informação que vai sendo dada ao leitor.

Em termos de edição, a Elsinore tem aqui um bom trabalho. O livro é bastante robusto, com capa dura baça, bom papel baço e uma boa encadernação e impressão.

Em suma, O Mundo de Sofia é uma boa adaptação, bem ao jeito da adaptação para BD de Sapiens, embora um pouco inferior, que procura dar conhecimento universal de uma forma simples, clara e ao alcance de todos. É uma abordagem lúdica à filosofia. Merece estar nas bibliotecas de TODAS as escolas do país e, claro, em muitas bibliotecas das nossas casas, amantes de banda desenhada. Recomendado especialmente para todos os que têm interesse no tema e, em especial, para crianças e jovens. Que venha o segundo volume!


NOTA (1/10):
8.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


-/-

O Mundo de Sofia - Novela Gráfica, de Nicoby e Vincent Zabus - Elsinore - Penguin Random House

Ficha técnica
O Mundo de Sofia - Novela Gráfica - Vol. 1
Autores: Nicoby e Vincent Zabus
Editora: Elsinore (Penguin Random House)
Páginas: 264, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Novembro de 2022