Crueler Than Dead é mais um dos mangás que chegaram recentemente ao mercado editorial português. Se a proposta me parecia algo diferenciada em relação às diferentes obras presentes no mercado nacional, o resultado deste mangá de zombies ficou bastante aquém do esperado.
Crueler Than Dead resulta dos esforços dos autores Tsukasa Saimura e Kozo Takahashi para a criação de uma minissérie que traga o apelo dos mortos-vivos. Esse tema que, de há uns anos para cá, tem sido tão comercialmente apelativo ou não fosse, por exemplo, a série de banda desenhada do americano Robert Kirkman, Walking Dead, um autêntico sucesso de vendas, por esse mundo fora, que depois até deu origem a uma igualmente bem-sucedida série de televisão.
Agarrando nesse conceito de uma sociedade dizimada por um qualquer vírus que transforma grande parte da população em zombie, Crueler Than Dead procura ser essa versão mangá de uma história apocalítica que coloca um conjunto de humanos a tentar sobreviver a um mundo infestado de zombies.
A história tem lugar em Tóquio e começa com a protagonista, Maki Akagi a acordar num laboratório cheio de cadáveres. É um dos soldados que ali se encontra, já bem moribundo, que conta a Maki que esta foi sujeita a uma última experiência com o intuito de curar os seres humanos infetados por um vírus que os transforma em zombies.
Ali perto, conhece um rapaz que acaba por acompanhá-la ao longo da sua jornada que tem como objetivo chegar ao estádio Tokyo Dome, onde está instalada uma grande colónia de seres humanos que têm feito frente ao vírus. Este espaço funciona, pois, como uma fortaleza para que os humanos sobreviventes se possam abrigar e proteger das hordas de zombies que vagueiam por toda a cidade. A esperança humana reside numa vacina milagrosa que, aparentemente, salva da doença todos os que estão infetados.
Mas, para chegar ao Tokyo Dome, Maki e o pequeno Shota têm que percorrer um longo caminho onde os perigos são muitos: não só os zombies que estão à espreita em cada esquina, como alguns pequenos grupos de humanos que procuram encontrar mulheres e fazer delas autênticas escravas sexuais.
Entretanto, depois de alguns sustos pelo caminho, Maki passa a ser a transportadora das últimas doses de vacina e, eventualmente, consegue chegar ao Tokyo Dome.
Ora, devo dizer que Crueler Than Dead até apresenta algumas ideias interessantes, nomeadamente o facto do Tokyo Dome funcionar como uma micro sociedade, com alguns milhares de habitantes, onde, naturalmente, há um jogo e uma luta pelo poder por parte de um grupo dominante de privilegiados. Pensem no que seria se Portugal ficasse com praticamente toda a população infetada por um qualquer vírus e o último reduto de sobrevivência fosse um estádio de futebol, onde os sobreviventes passariam a viver e a criar uma micro sociedade. Do ponto de vista antropológico, parece-me uma ideia interessante.
Porém, infelizmente, é mais uma ideia meio dispersa e completamente subaproveitada que este Crueler Than Dead nos oferece. Em termos de argumento, as ideias parecem algo aleatórias. E encontram-se ainda mais problemas na narrativa que nos vai sendo dada, meio aos tropeções, que parece revelar um argumentista que não sabia bem para que lado "remar" com a sua história. As próprias personagens que vão aparecendo ao longo dos dois livros parecem-me extremamente pouco exploradas e que entram só para encher a história. Valeria mais "pouco e bom" do que "muito e sem nexo". Teria valido mais que o argumentista se concentrasse em desenvolver melhor Maki e Shota, do que ir adicionando mais personagens à medida que a história avança.
A história vai-se tornando mais confusa ao longo da leitura e piora no segundo volume. É pena porque até me parece que haveria bom potencial em algumas das ideias que nos são apresentadas.
Mas se o argumento desilude, os desenhos de Kozo Takahashi são bastante bem executados. Apresentando um estilo de traço semi-realista clássico do mangá, o autor dá-nos personagens com belas expressões, uma boa e dinâmica planificação das diferentes vinhetas e brilha, especialmente, quando nos oferece ilustrações de ambientes em página dupla. Que permitem que a história respire um pouco e que o leitor possa apreciar, com mais calma, o cenário que envolve as personagens.
A recriação visual dos zombies também está bastante bem conseguida, o que é outra das mais valias do trabalho do autor.
Em termos de desenho de cenas de ação, fiquei menos agradado, já que são muitos os exemplos em que o leitor se perde e não sabe o que está a acontecer e a quem está a acontecer. Acho que, para isso, também contribui o facto da narrativa ser muito rápida e desconexa, não ligando bem um momento ao outro. Numa página estamos a ver a luta de uma personagem e na página seguinte podemos já estar a visualizar outra personagem, numa outra luta. O fio condutor perde-se muitas vezes ao longo da leitura.
A edição da Gradiva, num formato maior do que aquilo que mais costumamos encontrar em mangá, o que torna mais fácil a leitura e manuseamento do livro, tem uma qualidade aceitável para este tipo de livro: capa mole, brilhante, com boa encadernação e impressão. A aposta da editora no mangá parece séria pois esta já é a quarta obra que, em pouco tempo, a editora lançou.
Portanto, concluindo, Crueler Than Dead poderia ser muito melhor se tivesse sabido aproveitar algumas boas ideias. Algumas das críticas negativas que tenho visto em relação à obra assentam no facto da obra ser muito clichet, relembrando Walking Dead, 28 Days After ou The Last of Us. Sendo isso verdade, é o menor dos problemas de Crueler Than Dead porque, se o argumento, a narrativa e o enredo fossem bem construídos, esta seria uma proposta bem mais interessante. O que salva o livro são as ilustrações que têm vários bons momentos.
NOTA FINAL (1/10):
5.0
Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020
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Crueler Than Dead - Vol. 1 (de 2)
Autores: Tsukasa Saimura e Kozo Takahashi
Editora: Gradiva
Páginas: 208, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 14,50 x 21,00 cms
Lançamento: Novembro de 2022
Autor: Tsukasa Saimura e Kozo Takahashi
Editora: Gradiva
Páginas: 224, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 14,50 x 21 cm
Lançamento: Fevereiro de 2023
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