quarta-feira, 15 de março de 2023

Análise: As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia

As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte - Gradiva

As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte - Gradiva
As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte

Jutlândia é o primeiro número de uma nova série que a editora Gradiva lançou em 2023. Intitulada As Grandes Batalhas Navais esta série é constituída por 20(!) álbuns, auto-conclusivos, que nos colocam, tal como o próprio nome assim o indica, em algumas das batalhas navais mais célebres da história. Na verdade, este Jutlândia até foi originalmente lançado como o segundo volume da série francesa, mas, por algum motivo, possivelmente comercial, a Gradiva optou por começar a série com este volume.

É Jean-Yves Delitte, do qual a ASA lançou, recentemente, a minissérie U-Boot, o autor responsável pelo argumento e ilustração deste álbum. E, embora o autor não assine as ilustrações de todos os álbuns da série, é responsável pelos argumentos de todos os livros da mesma, o que nos permite verificar que esta série resulta de um projeto muito pessoal do autor. Ou não fosse Delitte, relembre-se, o pintor oficial da marinha Belga.

As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte - Gradiva
Sendo Jutlândia um álbum competente sobre este conflito bélico que assolou a costa dinamarquesa da Jutlândia e, portanto, daí advir uma relevância educativa em termos históricos, também não se pode dizer que seja um álbum espetacular em qualquer um dos seus cômputos.

Estamos em 1916, no exato momento em que, depois de uma espera e de um estudo do adversário, levado a cabo por cada uma das partes, a Royal Navy inglesa e a Kaiserliche Marine alemã estão prontas para se defrontar numa batalha no Mar do Norte, na costa da Jutlândia.

Hoje em dia, é conhecido por muitos que esta foi uma das batalhas marítimas de maiores proporções na história da humanidade. Mas as personagens em que Delitte centra a história, quer do lado inglês, quer do lado alemão, não sabiam disso.

E é, aliás, a introdução dessas personagens que dá um cariz mais humano à história, fazendo com que o leitor crie uma certa empatia pelas personagens. E digo “certa” porque, dadas as poucas páginas (48) que compõem a banda desenhada, não há espaço nem tempo para que se crie uma grande relação com as personagens. Acredito que o livro precisaria de mais páginas para que as personagens pudessem ter sido mais bem desenvolvidas e, com isso, conseguirem ficar na nossa mente durante mais tempo.

As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte - Gradiva
Parece-me, também, que o livro passa muito tempo a preparar o leitor para a enorme batalha que há-de chegar, mas que, depois, quando acaba mesmo por chegar, não é tão emocionante ou grandiosa como aquilo que era prometido. E não digo isto pelo facto de a ilustração da batalha não estar bem conseguida ou não nos dar a noção da grandiosidade da mesma. Digo isto porque, afinal de contas, aquilo que nos é permitido ver numa batalha desta envergadura é “apenas” um conjunto de alguns navios a bombardearem-se mutuamente. O lado humano do conflito acaba por perder força, o que faz com que aquela tentativa de criar empatia com as personagens, fique aquém do esperado. É certo que vemos algumas reações das personagens face ao combate bélico, mas parece que essas mesmas personagens estão muito estáticas e expectantes perante a batalha que se desenrola à sua frente. Admito que será algo plausível pois o que somos nós face a um conflito de proporções tão grandes? Mas acho que, mesmo assim, o autor poderia ter criado um sentido de urgência, pânico, tristeza, loucura nas personagens. Acabam por ser reações muito “mornas” o que passa, indubitavelmente, para a experiência de leitura, também ela "morna".

As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte - Gradiva
Em termos de ilustração, se é verdade que a representação dos navios é verdadeiramente impressionante, especialmente nas ilustrações de página dupla, a verdade é que, no trato e representação das personagens, o autor deixa um pouco a desejar. E não o afirmo por serem desenhos mal conseguidos, mas parece-me que todas as personagens são muito semelhantes entre si, o que faz com que o leitor não perceba, muitas vezes, quem é quem, o que causa uma perda de fluidez no normal acompanhamento e compreensão da história. Delitte faz-se valer de pequenas diferenças, como uma farda diferente, a cor do cabelo ou existência de um bigode para diferenciar as personagens, mas a verdade é que, não obstante, se torna complexo de compreender quem são as personagens.

E o seu traço nervoso, com muitos rabiscos, faz com que os desenhos se tornem algo sujos. Isso não será problema, pois é uma opção artística e de estilo de Dellitte, mas, por outro lado, também contribui ainda mais para o facto de todas as personagens parecerem ser iguais e terem a mesma idade. O próprio jovem francês que, estando a habitar com a sua família no lado ocupado pelos alemães, se vê forçado a representar o exército alemão, visualmente aparenta ser um homem de mais de 40 anos quando, segundo a história que nos é dada, se trata de um jovem recém-adulto. E isto é apenas um dos exemplos que poderíamos encontrar.

As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte - Gradiva
Gosto bastante da planificação do autor que é bastante pessoal e que se faz valer de opções bastante diversas: temos ilustrações grandes em dimensão, que ocupam duas páginas, mas também temos pequenas vinhetas quadradas onde mal cabe a balonagem de um diálogo. As vinhetas apresentam, portanto, uma grande variedade de dimensões e escala. Nas cenas noturnas, as margens das páginas deixam de ser brancas e passam a ser pretas. São pequenas mudanças, mas que acabam por ser bem-vindas, em nome de uma leitura dinâmica.

A edição da Gradiva está bem executada. O livro tem a habitual capa dura brilhante, bom papel brilhante e uma impressão e encadernação de boa qualidade. Destaque para o dossier histórico, com 8 páginas, que aprofunda, e bem, os números e os eventos associados a esta grande batalha. A tradução do livro para português coube a oficiais da Marinha Portuguesa, o que, certamente, contribuiu para uma tradução cuidadosa na terminologia e linguagem marítima utilizada. Ponto que merece os meus parabéns.

Portanto, em suma, Jutlândia é um álbum de cariz didático-histórico bem-vindo. Não consegue ser propriamente excecional, mas é, sem dúvida, uma banda desenhada que cumpre bem os seus intentos de nos transportar a uma das maiores Batalhas Navais na história da humanidade. É e specialmente recomendado aos adeptos do género bélico em banda desenhada.


NOTA FINAL (1/10):
7.0



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia, de Jean-Yves Delitte - Gradiva

Ficha técnica
As Grandes Batalhas Navais - Jutlândia
Autor: Jean-Yves Delitte
Editora: Gradiva
Páginas: 64, a cores
Encadernação: Capa dura
Formato: 23,30 x 31,30 cm
Lançamento: Janeiro de 2023

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