Hoje trago-vos um comparativo entre as edições da Levoir e da Astiberri, relativamente à obra Regresso ao Éden, de Paco Roca.
E, antes de avançar com a comparação entre a edição portuguesa e a espanhola, permitam-me dizer-vos, desde já, que este Regresso ao Éden é um livro magnífico, verdadeiramente marcante e, quanto a mim, a melhor obra de Paco Roca até à data. E tenham em conta que não afirmo isto de ânimo leve, pois as obras Rugas e A Casa conquistaram um lugar muito importante no meu coração. Não obstante, em Regresso ao Éden, o autor conseguiu dar-nos uma obra ainda mais bem conseguida.
Portanto, não deixem de a ler, seja em que edição o escolherem fazer. Dou os parabéns e agradecimentos à Levoir por ter lançado este livro. Foi uma das melhores bandas desenhadas lançadas por cá, em 2022, e, com alguma pena minha, tem passado um pouco ao lado da crítica e dos leitores.
Convido-vos, por isso, a (re)lerem a minha análise a este livro soberbo, que recomendo totalmente.
Olhando agora para a edição da Levoir e tentando compará-la com a versão da editora espanhola Astiberri, há que dizer, com frontalidade que, infelizmente, a edição portuguesa fica bastante aquém da edição de nuestros hermanos.
O formato é o mesmo mas as alterações são visíveis assim que olhamos para as duas capas.
A capa da Levoir assume o mesmo tipo de design das suas novelas gráficas, com aquela barra lateral preta, com a denominação "Novela Gráfica", e que acompanha a lombada. Sobre esta opção não faço mais comentários além de dizer que não acho particularmente bela, em termos visuais, mas compreendo que é a editora a tentar criar unidade e homogeneidade entre os seus livros. Aceita-se.
Menos compreensível é a opção por fazer a capa com brilho quando os livros da Coleção Novelas Gráficas da editora - onde estão publicados os restantes livros do Paco Roca, relembre-se - apresentam capa baça. Aqui a editora já está a ser incoerente com aquela questão que eu tinha mencionado no parágrafo acima de se criar homogeneidade entre livros. E, a isso, ainda acresce o formato da lombada que, desta vez, em vez de ser arredondado, como nos restantes livros da coleção Novelas Gráficas, ou no próprio livro original da Astiberri, é plano. Não são coisas gritantemente más ou que estraguem a edição mas são pequenas "desatenções editoriais" que poderiam - e deveriam - ter sido acauteladas pela Levoir.
A editora também optou por colocar um círculo informativo, elencando os diversos prémios que a obra já ganhou. Ora, compreendo perfeitamente que a editora queira, por uma questão de appeal comercial, dizer ao potencial público que a obra é multi-premiada. É óbvio que faz sentido. Mas o que não faz tanto sentido é que a editora tenha optado por imprimir na própria ilustração da capa esta informação. Penso que teria sido mais recomendável a produção de um autocolante que, posteriormente, o comprador do livro poderia, ou não, retirar, conforme a sua preferência.
Outra coisa, ainda na capa, que poderia estar mais bem ajustada, era a utilização da margem preta. A ilustração é utilizada como foi concebida na capa original mas depois é-lhe introduzida a margem preta no lado esquerdo do livro, como se ali tivesse caído de pára-quedas. Isto, meus caros, é um erro ao nível do arranjo gráfico da capa. Se se coloca uma margem preta no lado esquerdo do livro, tem que se ajustar automaticamente a ilustração da capa de uma de duas formas: ou se chega a ilustração para o lado direito, fazendo com que o título fique centrado na mancha de impressão da capa, ou se reduz a ilustração da capa. Lição número 1 de qualquer cadeira de paginação gráfica.
Aproveito até para dizer que este erro não é apenas feito pela Levoir neste livro. A mesma editora tem-no feito noutros livros da sua coleção Novelas Gráficas e, na verdade, outras editoras portuguesas também costumam cometer este erro. Poderão dizer-me: "ah, também não é nada assim tão grave". Se calhar não é assim tão grave, não, mas lá que retira a beleza original da ilustração e torna o objeto menos belo, lá isso faz. E, convenhamos, acho que é relativamente fácil fazer isto bem.
Avançando na comparação entre as edições da Levoir e da Astiberri, é notória a diferença no papel utilizado. O papel da edição portuguesa é bem mais fino e frágil do que o papel da edição espanhola. E isso é facilmente verificável quando olhamos para a espessura dos dois livros que ainda é algo significativa.
Já em termos de cores e qualidade de impressão, não me parece que haja uma diferença entre as duas edições que me mereça um comentário. Creio que a edição da Levoir faz bem jus a esta questão.
Finalmente, um ponto negativo é que me parece que a tradução - e posterior revisão da mesma - foi feita algo à pressa, visto que há mais erros no texto do que aquilo que deveria acontecer, bem como algumas expressões foram mantidas, por esquecimento, em espanhol.
Portanto, e concluindo, depois de tudo o que apontei acima, é claro que a Levoir poderia - e deveria - ter feito um trabalho melhor na edição de uma obra tão boa como esta. Não diria que seja uma edição "horrível" mas a mesma merecia ser melhor.
Assim sendo, que edição comprar? Ora, meus caros, como em tudo na vida, a decisão caberá sempre ao comprador. Da minha parte, posso dizer que prefiro (quase) sempre as edições em português. É verdade que a edição espanhola se lê muito bem (e é fácil de compreender, pois o texto de Paco Roca nunca é muito técnico ou difícil) e que o texto original até foi escrito nesse idioma. E que a edição espanhola está mais bem feita a todos os níveis. Não obstante, prefiro sempre dar a hipótese ao texto português, pois acredito que, por melhor que dominemos uma língua estrangeira, ela será sempre isso, estrangeira, e, portanto, nunca conseguiremos ter uma profundidade tão grande de compreensão dos vocábulos, como se fosse a nossa língua materna. É uma opinião que levanta sobrancelhas, eu sei, mas é a minha opinião.
É verdade que a Levoir fez as coisas com algum descuido e alguma negligência e que, por pouco, quase me faria preferir ter na minha coleção a versão espanhola. Mas, mesmo no limite, e depois de engolir em seco, prefiro a versão portuguesa da Levoir, sim.
Seja como for, versão portuguesa, espanhola ou de outra língua qualquer, o importante é que comprem e leiam este fantástico livro de Paco Roca. Na minha opinião, é o melhor da rica e bela carreira do autor!
Resumo, péssimo trabalho da Levoir. Para editar mal seria preferível não o fazer. Infelizmente este "modus operandi" já vem de trás e informa, com raras excepções, toda a coleção Novela Gráfica. Gostaria de acreditar que este seria o ano em a Levoir arrepia caminho, mas tenho grandes dúvidas...
ResponderEliminarAntónio, só concordaria com essa afirmação de "para editar mal seria preferível não o fazer" se estivéssemos perante uma edição horrível que desvirtuasse a obra original. Não é uma edição perfeita e tem erros lamentáveis, sim, mas creio que, apesar de tudo, é uma edição digna de uma obra absolutamente obrigatória.
EliminarViva Hugo. A questão não está na obra em si (e eu sou admirador da obra de Paco Roca) mas no sistemática nivelação por baixo que a Levoir faz no que toca á qualidade das suas edições. A questão não é recente e tem-se arrastado ao longo do anos. É obvio que todos os editores procuram (ou deveriam procurar) quem lhes ofereça a melhor qualidade com os menores custos de produção mas a Levoir, por diversas razões, sistematicamente, apresenta produtos de baixa qualidade ou, no máximo, "sofríveis" com preços de capa elevados. Com a minha experiência de quase 30 anos na área do Design e produção gráfica afirmo que se poderia e deveria fazer muito melhor. De resto reconheço á Levoir o mérito de ter trazido para Portugal um conjunto de autores e obras que, de outra forma, dificilmente chegariam cá, mas é preciso dar um passo em frente. Abraço.
EliminarEstamos de acordo, António. Um abraço
EliminarSe de certa forma posso aceitar a utilização de um papel de menor qualidade (apanágio de um modo geral de todas as novelas gráficas e lançmenots feitos pela Levoir) sendo que depois cobra como uma edição de luxo.... Mais difícil de compreender são as decisões gráficas que tomou...provavelmente fez a paginação no paint... 🤷🏼♂️
ResponderEliminarPois... estou de acordo. O papel de menor qualidade aceita-se melhor do que alguns "pequenos" erros cometidos.
EliminarLamento discordar. O papel de menor qualidade não se aceita numa edição de preço elevado. O tipo e qualidade de papel são parte integral de uma obra editada em formato físico, definem a sua "personalidade" e a obra num todo. Quem não compreende isto não pode nem deve ser editor.
EliminarPois... percebo que o papel é relevante. O que quero dizer é que, nesta edição e concreto, é o menos dos problemas.
EliminarE a questão é que voltam sempre a cair nos mesmos erros... Não querem cair na tentação de fazer bem...
ResponderEliminarPois... é pena.
EliminarDesculpem o desabafo, mas aproveito para referir o caso de meu exemplar: A capa estava tão mal colada às páginas de guarda que, da primeira vez que abri o livro, descolou-se tudo quase completamente. Tive que colar tudo para poder ler o livro. Talvez deva agradecer à Levoir a lição de encadarnação...
ResponderEliminarEncadernação. Desculpem a gralha.
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