Top 10 - Bandas desenhadas incríveis que (ainda) não estão publicadas em Portugal
E sim, o “ainda” é mais um desejo meu do que uma certeza. Por isso está entre parêntesis. Se calhar alguns destes livros, pelas mais variadas razões, não serão nunca publicados em Portugal. Alguns deles, até já podem estar assegurados por algumas editoras portuguesas, em termos de compra de direitos de publicação para Portugal. Não o sei, nem posso comprovar.
Mas segundo o que sei – e corrijam-me se estiver enganado – nenhum dos títulos que apresento abaixo já foi publicado em Portugal. Ao contrário de séries fantásticas como Armazém Central, Peter Pan, Sambre que, embora descontinuadas, foram, pelo menos, publicadas em parte no nosso país – relembro o artigo que escrevi a propósito -, os seguintes livros nem sequer mereceram (para já, porque sou otimista) uma oportunidade por parte das editoras portuguesas.
Seja como for, esta é uma lista que reúne alguns dos livros de editoras estrangeiras que li, mais ou menos recentemente, e que, a meu ver, tinham tudo para singrar em Portugal, se fossem acompanhados por boas edições e uma promoção cuidada.
Note-se que tentei juntar duas coisas: os meus gostos pessoais, naturalmente, mas também o meu sentido de mercado que não será, por ventura, tão acutilante como o de um editor, mas que, ainda assim, tem em conta o potencial comercial que cada uma destas obras poderia ter. A verdade é que os leitores só compram aquilo que chega a eles. Se os livros não chegarem cá, apenas uma franja muito pequena dos leitores portugueses irá lá fora procurar por estas versões nas línguas inglesa, francesa, espanhola, italiana, etc. Mas se os livros forem cá lançados e promovidos nos locais adequados, julgo que têm fortes possibilidades de singrar.
Haveriam muitas outras séries ou livros que poderiam figurar nesta lista como A Skeleton Story (Andrea Scoppetta e Alessandro Rak), Bone (Jeff Smith), The Goon (Eric Powell), Barracuda (Jérémy e Dufaux), Pandora’s Box (Dupré e Alcante), Green Manor (Bodart e Vehlmann), Alone (Vehlmann e Bruno Gazzotti), O'Boys (Cuzor e Thirault), A Tale of Sand (Jim Henson), Golden Dogs (Desberg). Mas optei por aquelas que mais sinto que fazem mais falta em Portugal.
Feito o meu disclaimer para este artigo, avancemos então.
Esta é uma série constituída por 3 volumes, publicada entre 2004 e 2007, e que me remete, em parte, para o amor dramático, envolto numa história muito romântica, da igualmente fantástica série de bd Sambre. Só que neste caso, há alguns elementos mais sobrenaturais. Estamos na Bretanha em 1884. Um velho à beira da morte conta a um escritor parisiense, que necessitava de inspiração, a história de uma jovem que tinha sido assassinada misteriosamente. Aparentemente essa jovem parecia regressar do mundo dos mortos, de vez em quando, estando associada a vários assassinatos que, entretanto, decorreram. Uma banda desenhada viciante pelo argumento, bastante interessante, e pela fantástica arte das ilustrações que parecem autênticos frescos, de tão belas que são. Li a versão em espanhol, da Norma Editorial.
Este é um livro diferente de todos aqueles que estão nesta lista. Até porque reinventa o próprio estilo de banda desenhada. Se a banda desenhada está fortemente associada ao cinema devido a toda a planificação e uso de "pontos de vista" que utiliza para contar uma história; então este 13 Devil Street pode facilmente ser associado ao teatro. Sempre que temos o livro aberto, é-nos apresentado um prédio inteiro – o número 13 de Devil Street – e várias ações tomam lugar ao mesmo tempo. Como se estivéssemos a assistir a uma peça teatro. Ou a um daqueles circos em 3 pistas. Ao início a leitura é exigente pois implica adaptação do leitor, mas, depois, mergulhamos de cabeça na trama. As personagens convergem entre si, há drama e comédia numa fantástica e genial banda desenhada que todos os leitores do género deveriam conhecer. E que, naturalmente, deveria ser publicada em português. No total são dois volumes – 1888 e 1940. Ainda só consegui ler o primeiro volume, publicado pelas Editions Filidalo em 2015, que conta com mais de 300 páginas. A autoria desta obra com um conceito tão original, e cujos desenhos têm um aspeto clássico do franco-belga, é de Benoît Vieillard. Reconheço que apresentando uma forma e uma premissa tão diferente, talvez seja, desta minha lista, a sugestão que maior risco implicaria para uma editora portuguesa. No entanto, também é verdade que, por vezes, até são as obras mais disruptivas que acabam por ter sucesso. Veremos.
Esta é uma série fantástica a todos os níveis. Bem escrita, bem desenhada, adulta, maravilhosa. O próprio título remete-nos para o célebre Once Upon a Time in America, o clássico do cinema de Sergio Leone, e são várias as comparações a fazer, pois também este Era Uma Vez em França nos conta uma história assente no crime. A história verídica é baseada na vida de Joseph Joanovici, um judeu romeno que imigrou para França em 1920 e se tornou num dos homens mais ricos da Europa. Durante a Segunda Guerra Mundial, colaborou com a Alemanha e, ao mesmo tempo, também apoiou secretamente a resistência francesa. A série é constituída por seis álbuns e foi editada entre 2007 e 2012, pela editora Glénat. Magnífica. Li a versão em espanhol da Norma Editorial.
Quando, no ano passado, estive em Bruxelas pela última vez, este livro estava em todos os escaparates possíveis e imaginários. A qualquer sítio que fosse – supermercados, papelarias, bombas de gasolina e, claro, livrarias e lojas de bd – o livro estava em grande destaque. Embora a capa, sem ser má, não fosse extraordinária, não resisti a não comprar este livro depois de o folhear. Apresentando uma arte muito em linha com a Escola Spirou, este é um álbum muito bem desenhado e colorido, com o seu inconfundível estilo franco-belga e que, sendo ambientado durante o período da Segunda Guerra Mundial, conta-nos a história de como o Conde de Champignac, um jovem cientista, consegue decifrar a máquina Enigma, que havia sido construída pelos alemães para enviarem mensagens secretas entre si. Algo que me remeteu para o filme O Jogo da Imitação, de Alan Turing, com o ator Benedict Cumberbatch. Um livro que tendo uma abordagem leve, mas muito interessante e inteligente, é claramente para o “grande público” – aquele que lê e compra séries como Astérix, Lucky Luke, Tintin e Blake e Mortimer - e poderia, portanto, ser um sucesso em Portugal. Li a versão em francês da Dupuis.
Il Faut Flinguer Ramirez é um daqueles livros que tem tudo para ser um sucesso. Com personagens carismáticas, uma história original, assente num argumento que poderia muito bem figurar na filmografia de Quentin Tarantino, e com uma ilustração fantástica e moderna - que me remete bastante para as ilustrações de Juan Cavia – e um incrível trabalho de cores, parece misturar de forma sublime os estilos franco-belga, comics e manga. O autor é Nicolas Petrimaux e o livro que li foi a versão francesa, editada pela editora Glénat. Conta-nos a história de Ramirez, um funcionário mudo(?) de uma empresa de eletrodomésticos que é exímio na sua função de arranjar aspiradores. Mas tudo muda quando dois membros de um cartel o reconhecem como sendo o homem que traiu a organização no passado. Será a empresa dos aspiradores uma máscara para encobrir o maior assassino que o México já conheceu? Acho que este seria um tiro em cheio por parte da editora que nele apostasse.
Este álbum já mereceu uma análise cuidada aqui no Vinheta 2020 e portanto, melhor do que me alongar muito na apresentação deste álbum majestoso – o segundo mais bem classificado, até agora, do Vinheta 2020 – o que devo fazer é convidar os meus leitores a (re)lerem essa análise. Mickey Horrifikland – Une Térrifiante Aventure de Mickey Mouse é uma obra perfeita, maravilhosa, que apresenta cores e desenhos lindíssimos e um argumento bem construído, fazendo com que esta obra tenha forte potencial para conquistar muitos leitores portugueses de bd. Mas não é caso único, pois este livro está inserido numa coleção da editora francesa Glénat que, de há uns anos para cá, tem vindo a apostar em originais Disney. E a qualidade destas obras, cada uma à sua maneira, é tudo aquilo que um fã de banda desenhada – e em particular um fã da Disney – pode esperar. Os autores que já trabalharam nestes originais disney são de renome internacional tendo saído desta coleção títulos como Mickey's Craziest Adventures, de Lewis Trondheim e Keramidas; Une mystérieuse mélodie, de Cosey; La Jeunesse de Mickey, de Tebo; Café Zombo, de Régis Loisel; Mickey et l'océan perdu, de Denis-Pierre Filippi e Silvio Camboni; Donald's Happiest Adventures, de Lewis Trondheim e Keramidas; Mickey à travers les siècles, de Dab's e Fabrizio Petrossi; Super Mickey, de Pieter de Poortere; Minnie et le secret de Tante Miranda, de Cosey; Mickey et la terre des anciens, de Denis-Pierre Filippi, Sara Spano e Silvio Camboni e este Mickey Horrifikland da dupla Lewis Trondheim e Alexis Nesme. O público português merece ler esta coleção na língua de Camões!
Leo Pulp é uma banda desenhada criada por Claudio Nizzi e Massimo Bonfatti e pertencente à Editora Sergio Bonelli. Se há coisas que me fazem confusão é que, quando se fala da banda desenhada italiana, e particularmente das séries e heróis da Sergio Bonelli, Leo Pulp nunca – ou praticamente nunca – é mencionado. E isso faz-me especial confusão por se tratar, na minha opinião, de uma das melhores bandas desenhadas – talvez, a meu ver, só atrás de Dylan Dog - da editora italiana. Esta é uma série que nos coloca no ambiente noir da Hollywood dos anos 40 e Leo Pulp é um detetive particular que trabalha por 25 dólares por dia, solitário e politicamente incorreto, e que procura desvendar os casos a que é chamado. Os temas que giram nesta fantástica série andam à volta das Divas de hollywood, atores famosos e gangsters ordinários. Há um misto de mistério e de humor nesta personagem, fazendo lembrar por vezes a também fantástica personagem de Torpedo, embora Leo Pulp seja, no geral, menos sério e mais cómico, mostrando um tipo de humor mordaz e fortemente irónico. A série é brilhantemente ilustrada e é pequena em dimensão, com apenas três volumes, que tive a oportunidade de ler num único livro integral, em inglês, publicado pela IDW. Sei que, à semelhança de muitas outras séries da Sergio Bonelli, esta série também foi lançada a preto e branco, contudo, na versão que li, o livro era a cores, o que muito ajuda a que seja um livro tão bem ilustrado e tão apetecível. Verdadeiramente viciante. Daqueles livros que, volta e meia, tenho necessidade de pegar novamente nele, para uma nova leitura. Tendo em conta que a editora A Seita, na sua coleção Aleph tem publicado livros da Sergio Bonelli, julgo que este Leo Pulp – se possível na edição integral, a cores, com as 3 histórias – encaixaria que nem uma luva no seu catálogo. Mas também uma editora Polvo, que já edita o Tex, poderia ter interesse nesta obra.
Chico e Rita é um dos mais belos romances alguma vez escritos e a sua versão em banda desenhada, também é obrigatória para qualquer leitor de bd que se preze. A obra, da autoria de Fernando Trueba e Javier Mariscal, foi originalmente lançada enquanto filme de animação em 2010, tendo este sido nomeado para Oscar e tendo vencido o prémio Goya. A história de Chico e Rita passa-se em Havana, Nova York, Las Vegas, Los Angeles e Paris, entre os anos 40 e 50, e encanta-nos com o romance entre Chico, um jovem pianista, e Rita, uma bela cantora com uma voz extraordinária. A música jazz e um forte desejo ardente envolve-os num romance inesquecível. Mas a vida – e a política? –parece ter outros desígnios para ambos e eventualmente viverão uma vida de encontros e desencontros. Mas terminará alguma vez o amor deles? O filme é maravilhoso e a banda desenhada consegue fazer justiça ao mesmo. O desenho de Javier Mariscal é simples e linear, mas encaixa perfeitamente bem nesta história magnífica e envolvente. No meu caso, li a versão em inglês da editora Self Made Hero. Lamento pelos leitores de banda desenhada (ou de cinema) que ainda não conhecem esta história majestosamente linda.
Com as editoras portuguesas como A Seita, Ala dos Livros ou Arte de Autor a liderarem, repartidamente, a publicação em qualidade de coleções de banda desenhada franco-belga, este Long John Silver, de Mathieu Lauffray e Xavier Dorison seria - quase que ponho as mãos no fogo! - uma aposta ganha. Com um desenho fantástico e um argumento bem construído e interessante, é uma série já terminada, com 4 volumes, que nos coloca na pele do célebre pirata Long John Silver, inspirado na personagem criada por Robert Stevenson, no seu icónico romance A Ilha do Tesouro. Uma banda desenhada soberba! Como não é uma obra muito grande em termos de volumes, noutros países já foram publicadas várias edições integrais. Julgo que isso poderia funcionar em Portugal pois são cada vez mais abundantes os livros grandes em dimensão, com edições cuidadas e um preço um pouco mais elevado mas que, na verdade, acaba por justificar o investimento monetário dos leitores. De qualquer maneira, seja num volume integral, seja em dois álbuns duplos ou com a publicação de cada um dos 4 volumes isoladamente, o importante era que esta série fosse publicada em Portugal. Quase que aposto que a editora que o fizer, será feliz nesta aposta.
Esta é uma novela gráfica gigante, com 496 páginas, maravilhosamente ilustrada por Scott McCloud, que foi publicada em 2015 e me faz lembrar, por vezes, a igualmente fantástica obra Blankets, de Craig Thompson. The Sculptor possui uma história épica que nos apresenta o protagonista David Smith, um artista plástico falido, a quem a personagem da Morte dá 200 dias para viver, em troca do poder, conferido pela mesma Morte, de conseguir esculpir qualquer coisa. Qualquer coisa, mesmo! A vida começa a parecer correr bem a David Smith que, naturalmente, se transforma no mais fantástico artista do mundo. No entanto, a sua relação amorosa com Meg, fará com que David – e o leitor – comecem a colocar certas coisas em perspetiva como, por exemplo, a importância do legado para um artista que sabe que vai morrer brevemente, em paradoxo à “vida vivida”, mais mundana, que, ao trabalhar na sua arte, abdica de viver. Uma premissa muito interessante que certamente também daria um fantástico filme. Os desenhos são muito bonitos, mostrando um autor em grande forma. Daquelas novelas gráficas que não deixa ninguém indiferente. Uma pena que (ainda) não esteja publicada em Portugal. Faria bastante sentido que editoras como a Devir ou mesmo uma Levoir, Asa ou G. Floy pegassem nesta obra. Ou outra qualquer editora que arriscasse.
Escolhas interessantes,eu nao ira por ai mas sao gostos,
ResponderEliminarObrigado pelo comentário. Sim, estes são apenas alguns dos livros que seria bom que saíssem em Portugal. Mas sim, há muitos outros que também deveriam ter uma oportunidade.
Eliminar