Congo – No Caminho das Trevas – Volume II, de Duarte e Henrique Gandum
Dos casos de que me lembro de algo que tinha potencial ao início e, na segunda leva, melhorou muito em qualidade, Congo – No Caminho das Trevas – Volume II, dos irmãos portugueses Duarte e Henrique Gandum, será um dos melhores exemplos. Congo I, apesar de alguns problemas, tinha boas ideias. Mas Congo II é verdadeiramente espetacular.
Possivelmente, numa ocasião futura, farei aqui no Vinheta 2020 uma análise ao primeiro volume da série, Congo - Um Mundo Esquecido mas, mesmo pretendendo que o enfoque seja no 2º volume da série, é-me quase impossível falar do mesmo sem falar do primeiro volume. Até porque a história continua a partir do fim do primeiro volume.
Fazendo portanto, um pequeno comentário a Congo I, devo dizer que Henrique Gandum demonstrou ter potencial para fazer uma boa banda desenhada. Quando na altura terminei a leitura desse livro, considerei que haviam algumas boas ideias narrativas e de ilustração que, infelizmente, tinham ficado subaproveitadas: a ilustração - a fazer-me lembrar, por vezes, o trabalho de David Rubín em Beowulf, como na altura referi, aparentava, no entanto, e por vezes, ser demasiado crua e pouco desenvolvida, como se tivesse sido feita com alguma pressa ou ansiedade por parte do autor. Também os cenários pareciam algo pobres e os diálogos pouco verossímeis. Sinceramente, e olhando agora para o Volume II, dá para perceber que o potencial já lá estava no volume I mas que o output final, ficou um pouco aquém do espetável.
A história remete-nos para uma expedição efetuada, em 1880, pelos portugueses ao Congo, a região mais inexplorada de África. Mas a selva africana parece esconder mais do que aparenta. E a comitiva portuguesa, liderada pelo protagonista Afonso Ferreira, começa a avistar muitas criaturas que parecem saídas dos tempos dos dinossauros e que estão prontas para devorar qualquer humano que se atravesse no seu caminho. E assim, este ambiente cheio de perigos, vai acabar por vitimizar vários personagens e aumentar o clima de tensão entre os mesmos.
A história desenrola-se quase sempre no ambiente da selva verdejante do Congo. Por vezes, devido à presença de uma missão portuguesa em território africano, fez-me recordar Vampiros, de Filipe Melo e Juan Cavía – embora a narrativa do último seja sobejamente diferente da de Congo. Se pensarmos em videojogos, Congo remete-nos claramente para duas séries de enorme sucesso: Uncharted e Tomb Raider. Já em termos de cinema, diria que um admirador da célebre personagem de Indiana Jones tem em Congo, um livro obrigatório de ler. Embora deva dizer que também fui remetido para Jurassic Park, várias vezes. Não só pelas criaturas (dinossauros) que aparecem na história e pelo ambiente de selva luxuriante onde se desenrola a ação, como também, por certos planos utilizados, que me pareceram claras homenagens ao clássico de Steven Spielberg como, por exemplo, o plano da pegada da criatura com as vibrações na água, demonstrando que a aparição do predador está iminente.
A arte em Congo II está deveras bem conseguida. O traço ficou mais fino e mais cuidado, as cores ficaram imensamente mais bem estilizadas, permitindo uma maior profundidade e, de forma geral, Congo passou a ter uma arte bonita de se observar. Com uma boa capacidade de caracterização das expressões faciais das personagens e com algumas vinhetas que são lindas de se observar, Henrique Gandum assume-se agora como um ilustrador notável e que deve ser tido em conta por todos os leitores de banda desenhada em Portugal.
Também em termos de argumento, Duarte Gandum dá cartas. Congo II tem uma história bem delineada, com uma trama simples mas bem conseguida, com várias reviravoltas na narrativa que a tornam memorável para o leitor. As personagens têm personalidades bem vincadas o que acentua a verossimilhança do todo. Uma nota positiva para as muito bem conseguidas cenas de ação no final deste volume. Não só pela qualidade do desenho, como pelo peso da ação que consegue encaminhar-nos para a apoteose narrativa deste tomo.
Quanto à edição do livro, é feita através da Mudnag, criada pelos autores. Lamento que o livro tenha capa mole. Acho que merecia uma capa rija. Não obstante, é de assinalar que Congo II vem carregado de extras super apetecíveis, que aumentam ainda mais o nosso interesse não só na história do livro, como também em todo o processo criativo da obra. Fica claro que os irmãos Gandum têm um enorme amor por aquilo que fazem. E isso acaba por transparecer para o produto final. Mesmo o facto de Congo ter dado origem a um curta-metragem revela-nos que esta dupla criativa está convicta daquilo que nos tem para oferecer.
Em termos de banda desenhada, os Irmãos Gandum fazem-me lembrar os Greta Van Fleet em termos de rock n roll: parecem ter um enorme respeito pela arte que praticam e pelas suas influências mas, ao mesmo tempo, conseguem criar algo novo, refrescante e afirmarem-se como potenciais porta-estandartes do género.
Congo – No Caminho das Trevas – Volume II é uma obra magnífica, que melhorou gritantemente do tomo I para o tomo II e que merece ser (re)conhecida por qualquer amante de banda desenhada. Da minha parte, apreciei o primeiro livro de Congo mas foi com o segundo livro que fiquei realmente fã desta série e dos seus criadores. Espero que tenham sucesso (merecem-no) e que a série continue por muitos mais volumes. Irei estar certamente na primeira fila quando o Volume 3 nos chegar.
NOTA FINAL (1/10):
8.9
-/-
Ficha Técnica
Congo – No Caminho das Trevas – Volume II
Autores: Duarte & Henrique Gandum
Editora: Mudnag
Páginas: 112, a cores.
Encadernação: Capa mole
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