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segunda-feira, 3 de abril de 2023

Análise: Shedy

Shedy, de Pepedelrey - Escorpião Azul

Shedy, de Pepedelrey - Escorpião Azul
Shedy, de Pepedelrey

Shedy é o novo livro de Pepedelrey, um dos autores mais incontornáveis da banda desenhada nacional, que a editora Escorpião Azul lançou recentemente – no evento LouriBD, mais especificamente – fazendo desta obra o seu primeiro livro de 2023.

O autor regressa, portanto, à banda desenhada de ficção científica. E, lendo logo a nota introdutória com que este livro abre, ficamos a saber que, na verdade, a obra até já foi publicada no estrangeiro, em 2018, na revista italiana Ultima Frontera (Passenger Press). Todavia, é-nos igualmente revelado que a edição portuguesa recebeu mais quatro pranchas visto que a edição italiana tinha um limite técnico de 40 páginas.

Esta é, pois, uma obra bastante curta na dimensão e que se lê de um só fôlego.

A história passa-se maioritariamente a bordo de naves espaciais, por esse espaço fora. Depois de um ato de violência, com que este livro abre, o protagonista Shedy é colocado em isolamento, no chamado “purgatório”, onde, pilotando uma nave pelo espaço fora, tem como ocupação a recolha de lixo, do planeta Terra, que esvoaça, à deriva, pelos céus. E embora considere que não é uma grande ocupação, mas mais um castigo pelo crime que cometeu, Shedy parece encontrar redenção nesta sua forma de existência, uma vez que está longe das suas tristezas e desilusões passadas.

Shedy, de Pepedelrey - Escorpião Azul
A sua vida parece monótona e pacata até ao dia em que uma nave de guerra se começa a aproximar do planeta Terra. Como a nave de Shedy está na rota entre esta misteriosa nave de guerra e o planeta, a personagem tem como tarefa fazer uma missão de reconhecimento para que se reúnam mais informações sobre a misteriosa nave. E é então que Shedy acaba dentro da tal nave desconhecida, que representa um universo paralelo, controlado por seres alienígenas.

Este povo extraterrestre prepara-se para bombardear a Terra em resposta a uma bomba enviada pelos humanos. E é nesse momento que Shedy compreende que a bomba a que os aliens se referem é apenas e só Sputnik, o primeiro satélite artificial da Terra. Em conversa com o caricato alienígena, Shedy argumenta que o velho satélite soviético não era uma arma, mas sim um mero satélite. Porém, a verdade é que este satélite acabou por cair no território dos extraterrestres e matar milhões de vidas. Portanto, aos seus olhos, não passou de uma poderosa arma.

E é aqui que a premissa deste livro se torna muito interessante. Por vezes, os nossos atos têm consequências das quais nem nos damos conta. E, eventualmente, como dizem os ingleses, “what goes around, comes around”, e as consequências de ações que acharíamos irrelevantes e inocentes podem não ser nada agradáveis para nós. E Shedy acaba por sublinhar a relevância do universo enquanto uno, enquanto um só todo.

Shedy, de Pepedelrey - Escorpião Azul
No final, é dada uma nova oportunidade a Shedy de viver à semelhança da sua vida passada no planeta Terra. Mas será essa nova vida uma projeção apenas de algo que, na verdade, já não o é? Para o saberem terão que ler o livro, onde Pepedelrey preparou um interessante final.

O desenho do autor tem a sua imagem de marca, num traço a preto e branco, bastante caricatural e independente no género. Destacam-se pequenos pormenores nos planos utilizados ou nas perspetivas, que são muito agradáveis para a vista como, por exemplo, a mão de Shedy em grande plano, segurando os manípulos da nave espacial.

Os cinzas também têm bastante força nas ilustrações que nos são dadas. Quanto a mim, é especialmente nesses tons de cinza e, também, no estilo pouco detalhado das ilustrações, que os desenhos apresentados se tornam algo monótonos em termos visuais. Se bem que é o estilo do autor e, certamente, haverá um bom número de leitores que se entusiasma com as características que elenco. 

Não obstante, quanto a mim, é nos momentos em que o autor nos oferece desenhos mais detalhados e sombras menos monocromáticas – como acontece, em ambiente citadino, nas primeiras e nas últimas páginas de Shedy – que consegue que o seu trabalho se torne mais belo e revigorante para o leitor. Numa das últimas páginas do livro, numa vista aérea da cidade, o autor é especialmente bem-sucedido, dando-nos aqui a sua melhor prancha do álbum.

Shedy, de Pepedelrey - Escorpião Azul
Já quanto à planificação, Pepedelrey mantém-se fiel a apenas dois tipos de vinhetas: ou temos vinhetas de página inteira, ou temos vinhetas de meia página. Ou seja, ou as páginas têm uma vinheta ou têm duas vinhetas horizontais. Creio que é mais outra das causas que acrescentam monotonia à leitura de Shedy. Mesmo sendo um curto livro, julgo que o mesmo teria saído bem mais beneficiado se tivesse havido uma planificação mais dinâmica. 

NOTA POSTERIOR: Já depois de eu publicar este artigo, Pepedelrey teve a gentileza de me informar acerca desta questão da planificação. Foi a própria revista Ultima Frontera que exigiu que a planificação fosse feita desta forma. Ou seja, a opção por página única e duas vinhetas por página foi exigência técnica da revista italiana. 

A edição da Escorpião Azul é semelhante aos outros livros do seu catálogo: capa dura com badanas, com papel de qualidade aceitável. Tendo em conta que Shedy é uma obra previamente publicada no estrangeiro, a editora merece as minhas vénias por ter trazido para Portugal mais um livro de um autor relevante da banda desenhada nacional.

Concluindo, Shedy traz-nos uma bela reflexão, com uma moral que não se coíbe de ser explícita, num curto livro que, com um maior aprumo visual e dinâmica na planificação, poderia ser mais marcante e chegar a mais pessoas.


NOTA FINAL (1/10):
6.8



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Shedy, de Pepedelrey - Escorpião Azul

Ficha técnica
Shedy
Autor: Pepedelrey
Editora: Escorpião Azul
Páginas: 54, a preto e branco
Encadernação: Capa mole
Formato: 16 x 23 cm
Lançamento: Fevereiro de 2023

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