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quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Análise aos 7 livros publicados ao abrigo do programa BD PALOP

Análise aos 7 livros publicados ao abrigo do programa BD PALOP - A Seita

BD Palop
Se, no que à banda desenhada diz respeito, houve coisas que marcaram positivamente o ano de 2023, não tenho dúvidas de que a iniciativa BD Palop foi uma delas! E acredito e espero que, no futuro, este belo projeto d' A Seita e dos seus parceiros africanos continue a ter uma repercussão positiva ao serviço da banda desenhada dos países envolvidos.

Ajudando e financiando a criação de banda desenhada de autores angolanos, caboverdianos e moçambicanos, este foi, aliás, o primeiro concurso de banda desenhada dos PALOP que procurou aproximar e unir Portugal aos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa através da banda desenhada e, só por isso, já merecia todo o tipo de louvores da minha parte.

Além de que, tão ou mais importante do que isso, depois de ler os sete livros que esta iniciativa ajudou a fazer nascer nesta primeira edição do programa, estou confiante que o primeiro passo deste projeto - que, espera-se, dure pelo menos mais duas edições - dê origem a passos ainda melhores nas duas próximas edições.

Sendo um projeto multilateral, é importante dizer que, se do lado português temos A Seita a capitanear este navio, a editora portuguesa não está, porém, sozinha. Do lado de Angola, Cabo Verde e Moçambique temos, respetivamente, os parceiros Bomcomix Estúdios, Jovemtudo e Anima a promover a iniciativa.

Para que possam conhecer melhor os sete livros lançados, falo-vos portanto, mais abaixo, um pouco sobre eles.


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As histórias

Sendo sete os argumentistas para estas sete histórias e havendo autores de três nacionalidades, era expectável que as temáticas abordadas fossem bastante diversas entre si. E, de facto, são-no. 

No entanto, é curioso verificar que grande parte dos livros se apoia nas lendas e mitos locais para nos oferecer uma história que faz a ponte entre a realidade e a força e magia desses mitos aplicada à existência mais terrena, por assim dizer. O que acaba, por tanto, por trazer uma interessante harmonia ao nível das temáticas abordadas.

As duas histórias mais diferentes das demais serão Torre Nova - O Último Prédio da Tawen, com argumento de Eliana N' Zualo, e A Turma de Cabralinho e as Bruxas de Monte Vermelho, com argumento de Domingos Luísa. 

Nestas duas histórias somos remetidos mais para os tempos de criança. Em Torre Nova é-nos dada uma certa preocupação social ao nível das condições de vida dos moçambicanos e das alterações urbanísticas da cidade de Maputo, que me pareceu bastante interessante.

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Enquanto que em A Turma de Cabralinho somos remetidos para as brincadeiras de criança e para as bruxas - reais ou inventadas pelo imaginário infantil - que habitavam as brincadeiras de criança.

É óbvio e natural que, em termos de construção de argumento, de ritmo narrativo, de diálogos, de gestão das vinhetas, cada uma das obras apresente algumas coisas que poderiam ter sido feitas de uma forma mais profissional mas, mesmo assim, parece-me que, de modo geral, o trabalho dos autores neste cômputo é bastante aceitável.

Em termos de argumento, gostei especialmente da história criada por Luís Mateus para Panzu - A Máscara dos Deuses, que nos leva para os tempos das guerras e quezílias entre os guerreiros das tribos locais, com um toque de fantasia.



As ilustrações

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Quanto às ilustrações, a diversidade de estilos de desenho e cores, ainda é mais notória do que ao nível de argumento. As bandas desenhadas norte-americana, aisática ou europeia parecem servir como influência para as várias obras.

E, também por esse enorme punhado de influências, é natural que encontremos nestes sete livros, ilustrações providas de traços mais adultos, enquanto que outras apresentam um desenho mais simplista e imberbe. Alguns desenhos têm um cariz bastante mais comercial, enquanto que outros oferecem um estilo mais independente. Há, pois, desenhos para todos os gostos! 

O que também, diria eu, é positivo para que o projeto não acabe refém de um estilo demasiado característico ao nível da linguagem visual. Parece-me que este tipo de projetos ganha com a diversidade. E é isso que aqui temos.

Em termos de ilustrações, gostei particularmente do trabalho a preto e branco de Simão Kusanica em Panzu - A Máscara dos Deuses e do desenho moderno - embora um pouco despido em demasia a nível cénico, reconheço - de Nico Agostinho em Electus - A Supremacia.

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Mesmo assim, ao nível de desenho, a obra que mais sobressai é, sem sombra de dúvidas, Tunuka, onde fica claro que o ilustrador Wilson Lopes (Tozé) tem outro tipo de estofo e, diria, experiência ao nível da ilustração, de forma geral, e ao nível da banda desenhada, de forma particular. 

Isto porque as expressões das personagens, onde parecem existir influências dos filmes de animação da Disney, são muito bem feitas e criam facilmente uma relação com o leitor. Também em termos da linguagem corporal das personagens, apreciei bastante o trabalho do ilustrador.

E mesmo ao nível da planificação e da aplicação de cores, Tunuka revela-se a obra mais coesa e bem conseguida das sete. Apenas tive pena que a história e argumento de Kitty Blunt não tenham estado, na minha opinião, ao mesmo nível das belíssimas ilustrações de Wilson Lopes.



A edição dos livros

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Os livros têm uma edição bastante competente, com capa mole com badanas e bom papel baço. Lamento que as lombadas não tenham o nome das obras. Mesmo sendo livros finos em espessura, julgo que era algo bastante fazível. De qualquer maneira, é inegável o bom aspeto e boa sensação ao toque destes livros que também apresentam um trabalho competente a nível da impressão e encadernação.

É de assinalar que todos os livros tenham em comum o grafismo da edição que é chamativo e apresenta uma personalidade gráfica bastante vincada. Quanto a mim, talvez haja elementos a mais que causam algum ruído na estética dos livros. Cada livro tem, apenas na capa, para além da própria ilustração, o nome da obra, o nome dos autores, a menção ao número de páginas, a bandeira do país de origem, o nome do programa, o número da coleção, o logótipo do programa, o ano da edição e ainda uma espécie de selo redondo do projeto... é muita informação, meus caros! E imagino que tenha sido uma verdadeira dor de cabeça para o designer responsável por fazer um template gráfico para a coleção! Tendo em conta toda a informação que tinha para colocar nas capas, até acho que fez um trabalho meritório! É claro que também compreendo que, especialmente tendo em conta que se trata de uma primeira edição para algo nunca antes feito, havia a necessidade de diferenciar os livros de forma a chamar a atenção. Era necessário fazer "barulho" e, talvez por isso, compreende-se o "ruído" imagético.



Conclusão


Esta é uma iniciativa fantástica e que tem um potencial enorme para que possamos descobrir a banda desenhada dos países que falam a língua de Camões. Abre portas aos autores, mas também abre portas à própria 9ª arte nos países envolvidos. Até porque, às tantas, pode alavancar autores de banda desenhada destes países que nem sequer concorreram ao projeto. O simples facto de colocar a banda desenhada dos Palop no mapa, já é algo verdadeiramente meritório. 

Em suma, é uma coleção a descobrir, que se recomenda, e que ainda pode melhorar nas próximas edições! Que continue a existir por muitos anos!

Abaixo, deixo-vos com mais informações para cada uma das sete obras:





BD Palop
Ventage - Angola na Era dos Mutantes
Autores: Florinda Sakamanda e Helder Simões
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa mole 
Formato: 178 x 240
PVP: 7,00€

Sinopse:
Com a queda de um meteorito em Angola no ano de 2018, surge o vent, uma energia misteriosa que confere habilidades extraordinárias a alguns dos habitantes. Quase 200 anos depois, mutantes, super-heróis, monstros e super-vilões tornaram-se numa realidade mundial, e para restaurar a ordem e o equilíbrio, é criada a Ventage, uma organização que forma mutantes para proteger a sociedade. Depois de salvo de um ataque, Leo descobre que ele pode também ser um mutante e que os seus poderes estão somente adormecidos.





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Electus - A Supremacia
Autores: Danilson Rodrigues e Nick Agostinho
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa mole 
Formato: 178 x 240
PVP: 7,00€

Sinopse: 
Em Angola, após a independência, um interrogatório numa base militar é interrompido por uma dupla misteriosa. A pedra que eles descobrem pode ser o gatilho para um terrível acontecimento que eles querem a todo o custo evitar. Na floresta onde se abrigam, uma visita inesperada revela novos desafios para os protagonistas.







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Panzu - A Máscara dos Deuses
Autores: Luís Mateus e Simão Kusanica
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa mole 
Formato: 178 x 240
PVP: 7,00€

Sinopse: 
Nos tempos idos dos reinos africanos, Panzu sonha ser um grande guerreiro, tal como fora o seu ascendente, o antigo rei Kuna Nkaji. A princesa Vita, herdeira da atual dinastia, vai até à aldeia de Panzu para aprender mais sobre os espíritos ancestrais com o velho sábio. Durante o ataque de um leopardo feroz, Panzu sente o chamamento da máscara ancestral dos Nkajis, e acaba salvando a aldeia, chamando a atenção da princesa. À medida que eles ficam mais próximos, Panzu descobre mais sobre a sua missão de encarnar o espírito de Kuna Nkaji, o que poderá significar destronar o rei.




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A Turma de Cabralinho e as Bruxas de Monte Vermelho
Autores: Domingos Luísa e Coralie Silva
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa mole 
Formato: 178 x 240
PVP: 7,00€
Sinopse: 
É verão na Cidade da Praia, e Cabralinho passa a maior parte das férias com os seus amigos. O pai de Cabralinho adora contar histórias, e aproveita as férias para passar mais tempo com as crianças. É então que decide contar a história das bruxas de Monte Vermelho, mas a imaginação das crianças leva-as a um lugar entre a ficção e a realidade, onde se veem envolvidas numa agitada aventura. Após muitas peripécias, os nossos heróis vão aprender a utilizar melhor o búzio mágico, um artefacto com poderes mágicos que descobriram numa aventura passada. Pode ser que nem todas as bruxas sejam más.



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Tunuka
Autores: Kitty Blunt e Wilson Lopes (Tozé)
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa mole 
Formato: 178 x 240
PVP: 7,00€

Sinopse: 
Em Kawashi, uma vila pacata, os habitantes sentem a harmonia em que vivem perturbada pelos Vizi, um conhecido grupo de criminosos da cidade. É ao investigar uma movimentação dos criminosos que Tunuka, uma guerreira de Kawashi que vive com os seus irmãos mais novos, desvenda uma conspiração para derrubar o líder ancião e instaurar um sistema tirânico na vila e, num confronto inesperado, é-lhe revelado que há mais detalhes do seu passado que ainda tem que descobrir.




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Torre Nova - O Último Prédio de Tawen
Autores: Eliana N' Zualo e Ique Langa
Páginas: 44, a cores
Encadernação: Capa mole 
Formato: 178 x 240
PVP: 7,00€

Sinopse: 
Ta.wen: substantivo feminino; do inglês town; urbe; aglomerado de pessoas que, situado numa área geograficamente definida, possui muitas casas, anexos; parte central de uma cidade.
A cidade de Maputo está em transformação, mas o prédio Torres Novas permanece intacto. Paíto, Maninha e Zita vivem nesse prédio antigo, e embora habitem flats diferentes, partilham os mesmos dilemas e frustrações. O seu olhar inocente mas perspicaz, dá-nos a conhecer a vida urbana das pessoas que ainda habitam a tawen.



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Bonga
Autoras: Darling Catar e Trisha Mamba
Páginas: 44, a cores
Encadernação: Capa mole 
Formato: 178 x 240
PVP: 7,00€

Sinopse: 
"Nascidos de ovos, a sua união despertará o poder ancestral para o bem de todos." Maputo, 2069. A cidade passa por uma onda de crime, em que as vítimas vêem a sua vitalidade separada dos seus corpos. Bonga, um jovem curandeiro e engenhocas, vive constantemente acusado de ser ele o sugador de energia, por ter um olho de cada cor. Ele quer desenvolver as suas capacidades de curandeiro para ajudar as pessoas, mas acredita que Thulani, o seu irmão gémeo, é melhor do que ele em tudo. Ao tentar salvar uma criança, os irmãos chamam a atenção de Mambo Zulu, um poderoso vilão com um passado sinistro.


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