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quinta-feira, 6 de junho de 2024

Comparativo: O Vento nos Salgueiros pela Arte de Autor e pela Witloof

 

A editora Arte de Autor lançou há poucas semanas a obra integral de Michel Plessix que adapta para banda desenhada O Vento nos Salgueiros, esse clássico da literatura de Kenneth Grahame.

Em primeiro lugar, deixem-me começar por dizer que fiquei extremamente feliz com este lançamento. É uma história muito bonita, que deve ser lida por crianças e por adultos e que é ilustrada de forma sublime por Michel Plessix. Este é um daqueles álbuns que, quanto a mim, deve constar numa boa biblioteca de banda desenhada. Absolutamente imprescindível!

Convido-vos até a lerem a análise que fiz a esta obra aqui no Vinheta 2020, em 2021.

E deixo no ar o meu desejo de que a Arte de Autor venha a publicar a obra O Vento nas Areias em que Plessix continuou a desenvolver as personagens de O Vento nos Salgueiros mas, desta feita, com argumento seu, já que a obra original de Kenneth Grahame fica fechada neste volume integral que a Arte de Autor caba de publicar.

Mas bem, este artigo procura ser um comparativo, portanto, avancemos para ele.

O Vento nos Salgueiros já havia sido integralmente publicado em Portugal, em quatro volumes, pela agora extinta editora Witloof.

No entanto, essa edição tem mais de 20 anos e, lamentavelmente, com a passagem do tempo, foi sendo cada vez mais difícil de encontrar à venda. Dou-vos até o meu exemplo pessoal: tendo em conta que o primeiro volume publicado pela Witloof teve, na altura, uma tiragem mais pequena do que as dos outros volumes, esse primeiro tomo foi um daqueles livros que se tornou virtualmente impossível de encontrar. Como o meu amigo Nuno Neves, do blog Notas Bedéfilas, diz, foi um livro que se tornou "um unicórnio". Toda a gente sabia que existia, mas eram poucos aqueles que realmente o tinham. Como tal, vi-me forçado a ter que comprar o primeiro tomo na sua edição americana da editora NBM.

Ora, tudo isto serve para dizer taxativamente que era necessário que alguma editora voltasse a tornar disponível uma obra como esta. Já defendi várias vezes que certas obras merecem estar sempre disponíveis em loja. Este O Vento nos Salgueiros é uma dessas obras.

Portanto, como primeiro ponto, acho que só a aposta da Arte de Autor edição nesta obra já merece os meus louvores.

Mas esta não é meramente uma republicação, pois há coisas que a diferenciam da edição da Witloof.

Para já, é uma edição integral que reúne num único só volume os quatro tomos que compõem a edição original. E quer isto dizer que se torna num volume mais compacto, de mais fácil arrumação e que é mais fácil ler. 

Avançando no comparativo, e começando pela capa, a edição da Arte de Autor apresenta capa dura baça, com textura aveludada e detalhes a verniz. Acaba por ter um acabamento mais nobre do que a edição da Witloof que, mesmo sendo boa, com capa dura a verniz, era menos diferenciada.

O aspeto visual da capa, no que ao grafismo diz respeito, também é diferente da edição original. E tenho sentido, por essas redes sociais, que isto tem suscitado algumas críticas à edição da Arte de Autor. 

Bem, começo por dizer que mesmo achando que a capa da edição da Arte de Autor poderia ser melhor, a verdade é que certas críticas que lhe têm sido apontadas, também me parecem demasiado duras. Nomeadamente, a ideia de que a capa deveria ser igual à do primeiro tomo da série. Ora, se assim fosse, isso não faria tanto sentido, pois era necessário diferenciar e dizer, a priori, ao mercado que esta é uma edição integral. Claro que se poderia colocar a inscrição de "Edição Integral" na ilustração do primeiro tomo - como também acabou por ser feito numa das edições integrais francesas, mas quanto a mim, isso não diferenciaria convenientemente esta edição. 

Não obstante, também é verdade que até já existia uma edição francesa integral cuja capa a Arte de Autor acabou por não reproduzir. A este propósito, a editora Vanda Rodrigues informou, no Maia BD, que considerou que a capa, tendo tons acastanhados, era algo sorumbática e pouco em linha com a leveza que se pretende de um livro infantil. Concordo com a Vanda, mas em parte.

Concedo que o tom azul para o fundo funciona melhor do que o castanho. E até aceito que o efeito a verniz das folhas dos salgueiros é um complemento bonito. Apenas acho que a ilustração completa do primeiro tomo inserido no canto inferior direito desta capa não fica tão apelativa como uma faixa de uma ilustração que, ainda por cima, e bem, é diferente da ilustração da capa do primeiro tomo, como acontece com a edição francesa integral em capa castanha, que vos mostro aqui ao lado. Portanto, a meu ver, perfeito seria uma capa igual a esta capa da edição francesa integral, com a única exceção da cor do fundo (poder) ser em tons de azul, em vez de tons acastanhados.

Mas, enfim, também me parece que se está a dar demasiada importância a um tema menor. Parece-me que a capa desta edição da Arte de Autor não é tão má como tenho lido por aí. Remete para aqueles livros de contos infantis e, nesse ponto, e tendo em conta o cariz narrativo de O Vento nos Salgueiros, até acaba por fazer sentido. E, não esqueçamos, se a editora detentora dos direitos da obra, validou esta capa, não pode estar assim tão má.



Se a capa poderá não agradar a alguns, penso que na contracapa não deverá haver qualquer tipo de críticas, uma vez que a edição da Arte de Autor é muito semelhante à da Witloof. A font para o texto da sinopse é a mesma e o aspeto, com uma pequena ilustração emoldurada de uma personagem, é igual.




Em termos de lombada, a edição da Arte de Autor também consegue melhorar a experiência, com um aspeto mais bonito.

Além de que, e isto é uma razão suficientemente relevante para aqueles que, como eu, são colecionadores e já têm muita banda desenhada, é incrível como a nova edição da Arte de Autor permite poupar espaço na estante, não abdicando, claro está, da integridade da obra. Basta olhar para a diferença de um livro face a quatro, quando colocados lado a lado. Esta nova edição acaba por ocupar cerca de metade do que ocupam os quatro livros.




Uma coisa que também importa referir é que o formato da obra foi alterado. A edição da Arte de Autor é ligeiramente mais larga, mas menos comprida. 

Se isso pode ser (mais) uma questão de gosto, uma coisa é mais concreta: é que a edição da Arte de Autor aproveita melhor a área de impressão, tendo margens um pouco mais curtas, o que possibilita que, na prática, cada uma das suas vinhetas/pranchas seja maior em dimensão do que na edição da Witloof. O que faz com que seja um ponto da edição da Arte de Autor.




Em termos de papel e de impressão, não considero que existam grandes diferenças entre as duas edições. A edição da Arte de Autor apresenta, como é hábito, um papel ligeiramente brilhante de excelente qualidade, bem como uma boa impressão, mas não é menos verdade de que a edição da Witloof também já era boa ao nível destes dois cômputos.




font utilizada nos balões é diferente entre ambas as edições, sendo que, mesmo assim, são bastante semelhantes, pelo que não posso dizer que prefira uma em detrimento da outra. Ambas funcionam muito bem.




Quando se abre o livro, as guardas também são um pouco diferentes. Na edição da Arte de Autor há duas guardas com o desenho dos salgueiros, enquanto que os livros publicados pela Witloof aproveitavam a guarda para aí inserir o título do livro. 

O livro da Arte de Autor é acaba, portanto, por ser mais elegante assim que o abrimos.


Resumindo e concluindo, acima de tudo este lançamento de O Vento nos Salgueiros pela Arte de Autor tem dois atributos principais que, quanto a mim, fazem muito sentido:

1) Em primeiro lugar volta a estar disponíve para o mercado nacional uma obra de banda desenhada de qualidade superior que deve ser lida por crianças e adultos e que, infelizmente, encontrava-se extina das livrarias portuguesas;

2) Em segundo lugar, ao ser de uma edição integral, este livro congrega "mais por menos", diminuindo o espaço que a obra ocupa na prateleira e dando-nos um livro com ótimos acabamentos.

E isto, claro, já para não falar que acaba por ser uma edição bastante económica. O seu PVP é de 29.95€ mas, lá está, se o dividirmos pelos quatro tomos que aqui estão contidos, teremos cada um deles a custar cerca de 7,5€. Ora, sabemos como seria impossível que cada um dos tomos, se lançado de forma independente, fosse publicado a esse preço. É, portanto, de aproveitar.

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