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terça-feira, 20 de agosto de 2024

Análise: Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido

Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, de Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig - ASA - LeYa

Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, de Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig - ASA - LeYa
Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, de Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig

A editora ASA lançou há algumas semanas o livro Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, que é uma antologia de banda desenhada composta por cinco histórias sobre raparigas que, de algum modo, em contextos diferentes, mostraram ser capazes de enfrentar enormes desafios, sendo agentes ativos não só pela mudança no mundo, como na mudança de como olhamos para o papel que as mulheres podem desempenhar na atualidade.

As histórias versam sobre Malala Yousafzai, Greta Thunberg, Yusra Mardini, Emma González e as irmãs Melati e Isabel Wijsen. Destas seis raparigas, aquelas de quem houve mais eco - pelo menos nos media portugueses - foram as três primeiras raparigas que refiro. No entanto, todas elas desempenharam papéis importantes junto das suas respetivas comunidades que importa conhecer.

Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, de Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig - ASA - LeYa
Greta Thunberg, possivelmente a mais célebre de todas elas, tornou-se uma das figuras mais mediáticas na luta contra as alterações climáticas, tendo a sua influência começado localmente, na Suécia, numa primeira instância, mas tendo, posteriormente, sendo catapultada para o domínio internacional. Se a luta de Greta foi pela preservação do ambiente, a luta da paquistanesa Malala Yousafzai, foi pelo direito à educação. Não só para si própria, como para todas as meninas do seu país que, numa sociedade ultra paternalista e machista como a do Paquistão, veem o seu papel ser relegado para um segundo plano, com as aspirações de vida a serem única e exclusivamente tomar conta das crianças e não ousar auferir qualquer tipo de instrução escolar. Tendo já lido o seu livro, era uma história que conhecia bem. Yusra Mardini é a célebre nadadora olímpica da Síria que, em busca de uma melhor vida que lhe permitisse viver em segurança e sonhar com a competição profissional, se viu, juntamente com a sua irmã e com um primo, na situação de refugiada a atravessar o Mar Mediterrâneo em condições sub-humanas. Nessa perigosa jornada, ainda teve tempo de nadar de forma a salvar outros refugiados. Depois do sucesso desta travessia, Mardini haveria de integrar a equipa de Refugiados dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

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De Emma González e das irmãs Melati e Isabel Wijsen eu não sabia grande coisa, tenho que admitir. Mas fiquei bem impressionado com as suas histórias depois de ler este Nascidas Rebeldes. Especialmente com a de Emma González, que foi uma das crianças que sobreviveu a um massacre numa escola dos Estados Unidos da América. Depois disso, e consciente do disparate que é a liberalização do acesso às armas de fogo nos EUA, Emma González uniu-se a um grupo de outros jovens ativistas de forma a lutar contra um dos maiores lobbies do mundo: o das armas de fogo nos Estados Unidos. Por fim, as irmãs Wijsen tinham apenas 7 e 5 anos quando, na sua terra, Bali, na Indonésia, começaram a tomar consciência do problema do plástico e do lixo não reciclado, que assola o local em questão e, basicamente, todo o mundo. A partir daí, através de projetos escolares e da presença em conferências sobre o ambiente, as irmãs foram ganhando notoriedade e atenção  relativamente à importância da consciencialização da população para uma redução no consumo de plásticos, por um lado, e de um maior cuidado na reciclagem do mesmo, por outro.  

Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, de Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig - ASA - LeYa
Todas estas crianças são, está claro, um exemplo e uma fonte de inspiração para todos nós, pois revelam-nos que, independentemente da idade ou do género, cada pessoa pode ser ativista por um mundo melhor. Cada história dá-nos um relato biográfico sobre cada uma destas raparigas, de um modo informativo, que procura ser factual e sintético. As histórias são assinadas por Fabien Morin, Julien Derain e Laurent Hopman (este último, autor de As Guerras de Lucas, editado por cá pela Ala dos Livros). Achei curioso o facto de o livro não especificar, por história, quem foi o argumentista da mesma, ficando no ar, por omissão de informação mais concreta, a ideia de que os três trabalharam nas cinco histórias.

Já os ilustradores, recebem mais destaque, incluindo uma breve biografia de cada um, e todos nos dão um trabalho extremamente bem feito. São cinco géneros diferentes de ilustração, mas todos me agradaram bastante. Pela experiência que tenho neste tipo de leituras de BD com cariz mais informativo e em forma de antologia, até vos digo que não é muito frequente que encontremos um trabalho tão bem executado e aprimorado ao nível de ilustrações. Mas em Nascidas Rebeldes as ilustrações são de topo. 

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Os desenhos "cartoonescos" de Vittoria Macioci na história de Malala e os de Jocelyn Joret na história de Joret, conquistaram-me pela sua eficiência narrativa e modernidade. Os desenhos expressivos de Rebecca Traunig, com belas cores, na história dedicada às irmãs Wijsen também me agradaram muito. Mas foram os desenhos de Brett Parson em Emma & The Parkland Kids, num registo muito oriundo dos comics americanos, e, especialmente, as magníficas ilustrações, super estilizadas, com personagens carregadas de expressividade e com uma paleta de cores lindíssima, de Gijé, na história dedicada a Greta, que me deixaram mais rendido! Não há, de facto, aqui um ilustrador que não nos apresente um belíssimo trabalho!

As histórias alteram entre as 22 e as 28 pranchas, o que é suficiente para não estarmos perante histórias demasiado curtas, embora também não sejam muito longas, o que atesta o cariz documental e didático desta publicação, tornando-a um bom livro para crianças e jovens. Quanto a mim, leitor adulto, admito que teria desejado que estas histórias fossem mais longas para que as individualidades retratadas pudessem ser mais bem explanadas e para que o registo visual pudesse respirar melhor. Não é que haja uma sensação de claustrofobia visual, nem nada que se pareça, mas com ilustrações tão belas, talvez tivesse sido benéfico se essa componente fosse mais e melhor explorada.

Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, de Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig - ASA - LeYa

Ainda assim, este Nascidas Rebeldes é uma boa aposta da ASA e que cumpre bem os seus vários pressupostos: é de leitura fácil, é apelativo, é informativo sem ser sensaborão, é indicado para uma franja de mercada alargada - até mesmo aquela que não tem por hábito a leitura de banda desenhada - e, em cima disso tudo, ainda tem um fantástico conjunto de ilustradores que dificilmente não agradará ao mais intransigente leitor.

A edição é em capa mole, com badanas. Quase sempre considero que a opção pela edição em capa dura é preferível, mas, no caso em questão, e tendo em conta a franja de público mais vasta que o livro almeja conquistar, talvez esta opção em capa mole seja adequada, uma vez que confere mais portabilidade ao livro. De resto, a edição dá-nos bom papel brilhante no miolo do livro e um bom trabalho ao nível da encadernação e da impressão. Depois de cada história, há sempre uma página com os links para os websites e redes sociais das raparigas ativistas e, também, uma breve biografia sobre o desenhador de cada história.

Em suma, Nascidas Rebeldes é mais uma prova da boa forma editorial da ASA que parece estar, cada vez mais, a acertar nas suas escolhas. Com um claro objetivo de informar sobre as vidas e exemplos destas jovens ativistas, esta é uma banda desenhada extremamente bem ilustrada e, ainda que as histórias curtam possam, de algum modo, limitar a profundidade com que os temas são explorados, a verdade é que cada uma destas cinco histórias consegue transmitir poderosas mensagens em poucas páginas.  


NOTA FINAL (1/10):
8.4


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido, de Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig - ASA - LeYa

Ficha técnica
Nascidas Rebeldes - Miúdas de Punho Erguido
Autores: Morin, Hopman, Derain, Gijé, Parson, Joret, Macioci e Traunig
Editora: ASA
Páginas: 144, a cores
Encadernação: Capa mole
Formato: 268 x 204 mm
Lançamento: Julho de 2024

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