Sendo uma edição de autor, imagino que não só a tiragem do livro não tenha sido muito grande, como a colocação em loja foi complexa. Era difícil encontrarmos este livro à venda. Como tal, a editora Ala dos Livros teve a excelente iniciativa de reeditar a obra, tornando-a acessível a tantos leitores que, infelizmente, e apesar do sucesso do livro, não puderam ler 7 Senhoras.
Como são duas edições bastante diferentes, parece-me legítimo um comparativo entre os dois lançamentos. Até porque mesmo aqueles que conseguiram comprar a primeira edição da obra, poderão encontrar nesta nova edições razões suficientes para uma nova compra.
Tendo ambos os livros lado a lado, a coisa que mais salta à vista é que a dimensão dos livros é bastante diferente. Enquanto a edição original da obra tinha 127 x 155 mm, a nova edição da Ala dos Livros apresenta o generoso formato de 210 x 270 mm. É quase o dobro em termos de tamanho! E convém dizer que não foi um aumento "só porque sim". A fluidez da leitura ganha com isto e as próprias pranchas respiram melhor, com a introdução de algumas ilustrações que, deste modo, até podem sair dos limites das vinhetas. Um aumento que é, portanto, muito bem-vindo.
Também em termos da própria capa, há claras diferenças entre as duas edições. A primeira edição da obra apresenta capa dura azul, em tecido, com o título e a ilustração a prata. Tem um aspeto notável, diga-se, especialmente se tivermos em conta que se trata de uma edição de autor.
Já a capa dura da edição da Ala dos Livros, tem fundo a branco, com a ilustração a cores e lombada a azul. A sua capa não é a tecido como a edição original, mas apresenta um material igualmente nobre e de textura agradável ao toque. A edição vem ainda acompanhada por uma manga promocional com referência à nova edição e ao prémio que a obra arrecadou no Amadora BD.
As lombadas dos dois livros são semelhantes, com a diferença óbvia de terem dimensões bastante diferentes, mas a versão da Ala dos Livros, com o nome da autora e da editora acaba por funcionar melhor e ser mais apelativa.
Logo que abrimos os dois livros, encontramos mais diferenças. A edição original apresenta guardas a castanho, enquanto que a nova edição da Ala dos Livros optou por utilizar esse espaço para a introdução do plano de páginas/storyboard da autora Margarida Madeira. O que funciona bem em termos estéticos.
Salta igualmente à vista a introdução de uma fita de tecido marcadora. Pessoalmente, gosto sempre muito que os livros sejam acompanhados por este extra, que torna logo a edição em algo mais aprimorado e elegante.
A nova edição também traz novos textos de apoio que não constavam na primeira edição.
Logo de início, há um prefácio de Nicoletta Mandolini, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, e, no final, há um posfácio da própria Margarida Madeira que nos fala de como surgiu a ideia e conceção da obra.
Também ao nível do papel utilizado, há diferenças. O papel da edição original da obra é baço e de um tom ligeiramente amarelado. Já o papel utilizado pela Ala dos Livros, tem brilho e é de um tom totalmente branco.
Se praticamente todas as mudanças da Ala dos Livros foram, quanto a mim, para melhor, dignificando esta bela obra, não sei se esta opção do papel totalmente branco funcionou tão bem. É indiscutível que o papel utilizado pela Ala dos Livros é de ótima qualidade, mas como eu já tinha lido a primeira versão da obra, devo dizer que gostei daqueles tons amarelados que davam uma certa mística e personalidade própria aos desenhos de Margarida Madeira. Mas admito que talvez seja uma questão demasiadamente pessoal para que lhe demos muita importância.
Uma das coisas que também muito apreciei nesta nova edição da Ala dos Livros, é que se trata verdadeiramente de uma versão revista pela autora. Um "director's cut", como chamaríamos no cinema. E um exemplo muito claro disso, é que há novas vinhetas que foram introduzidas na edição da Ala dos Livros, através da colocação de fotografias das personagens reais em quem a autora se inspirou para as histórias que compõem a obra, como demonstra a foto que coloco mais acima.
Acho que é um acrescento pertinente e que presta, mais uma vez, homenagem às mulheres que serviram de inspiração para este livro, aproximando-as do leitor.
Como já referi mais acima, o maior formato utilizado na edição da Ala dos Livros permite que as ilustrações possam respirar melhor.
As margens são maiores, deixando o espaço mais "clean", e certos pormenores do desenho, como demonstra o exemplo que coloco mais acima, podem ser expandidos para lá dos limites da vinheta, aumentando a dinâmica de leitura e melhorando a estética visual da obra.
Finalmente, falta ainda referir a joia da coroa da nova edição de 7 Senhoras, face à sua edição original, que é a inclusão de uma nova história adicional.
É uma história que sai um pouco do tema e estrutura das restantes histórias contidas no restante livro, mas que, ainda assim, é um bom complemento por nos permitir ver os primeiros passos que a autora deu na feitura de banda desenhada. Isto porque esta breve história de sete pranchas surgiu a propósito de uma oficina de banda desenhada em que Margarida Madeira participou. Há, portanto, nesta nova história adicional, um cariz iniciático e seminal para a restante obra.
Em suma, e embora seja verdade que a edição original de 7 Senhoras tenha uma qualidade de materiais muito acima daquilo que normalmente encontramos em edições de autor, a edição da Ala dos Livros é nobre em todos os parâmetros possíveis e, para além de tornar acessível a um maior público esta obra obrigatória da banda desenhada portuguesa, que vos convido a conhecer melhor aqui, ainda a consegue melhorar e alargar, melhorando todo o processo de leitura.
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