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domingo, 26 de abril de 2020

Análise: Marvels: Através da Objectiva


Marvels: Através da Objectiva, de Kurt Busiek e Jay Anacleto

Marvels: Através da Objectiva foi lançado pela Levoir na sua coleção Poderosos Heróis Marvel, em 2015. Este número é como que uma continuação do livro Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross, - também lançado pela Levoir, na coleção dedicada à Marvel do ano anterior - e é considerado como uma obra-prima da banda desenhada norte-americana, que catapultou as carreiras dos autores. Neste regresso à história do protagonista Phil Sheldon, Kurt Busiek faz-se acompanhar por Jay Anacleto nas ilustrações. 

A história coloca-nos num ponto de vista que é raras vezes consentido no universo dos super-heróis. É-nos dada a perspetiva de um fotógrafo-jornalista, cujo trabalho é fotografar os super-heróis em ação, provendo os jornais de imagens espectaculares que possam acompanhar as notícias destinadas aos feitos dos heróis. Acaba por ser uma visão refrescante e nova porque, coloca os super-heróis como ponto fulcral na história mas, de forma passiva, já que vivemos a história de Phil Sheldon, uma "pessoa normal", e como a mesma se relaciona com um mundo carregado de super-heróis. Esta obra assume-se pois, como um trabalho de extrema qualidade, que reflete sobre um mundo habitado por super-heróis e seus demais problemas e que, nesse sentido, não fica atrás de uma obra gigante dos comics como é Watchmen, por exemplo, e que merece ser lida por todos os amantes de banda desenhada. Para aqueles que gostam de comics e super-heróis então, diria que é obrigatória.

Este álbum talvez não tenha a capacidade de espantar e de impressionar tanto os leitores como o primeiro álbum Marvels - talvez por já não haver o efeito surpresa - mas a verdade é que Marvels: Através da Objectiva não fica a dever muito à primeira obra-prima. Já que mantém o mesmo tom introspectivo do primeiro álbum, colocando muitas questões e fazendo-nos refletir, de forma verdadeiramente real, como seria um mundo habitado por indivíduos com super-poderes. Consegue levantar muito bem as questões éticas inerentes e apresenta-nos uma pergunta fundamental que é a seguinte: que linha ténue separa o bem do mal? Se um super-herói persegue um vilão para o anular mas, na sua luta contra o mal, destrói prédios inteiros, deixando pessoas sem lar, onde está o bem e onde está o mal? Qual é o custo? Quais são os danos colaterais para um mundo povoado por super-heróis?

Também na arte, Jay Anacleto que tinha a tarefa algo ingrata de substituir Alex Ross, que em Marvels fez das artes mais espetaculares que já vi num livro de comics, consegue estar à altura. Talvez a arte de Anacleto não consiga ser tão impressionante como a de Alex Ross, mas consegue estar ao nível, fazendo deste Marvels: Através da Objectiva um livro carregado de uma arte fulgorante. 

Uma coisa que não considerei tão positiva é que, o facto de quase sempre haver uma televisão ligada em quase todas as páginas, faz com que haja sempre um certo "ruído de fundo" neste livro, materializado pelo discurso apresentado na balonagem da televisão. Os media acabam por ser uma personagem sempre constante. Naturalmente, parece-me que não foi algo feito ao acaso pelos autores, já que também se procura mostrar como os meios de comunicação, através da televisão e dos jornais, têm tamanha importância para condicionar a opinião pública em relação aos eventos decorridos e aos próprios super-heróis. Percebendo portanto a escolha em ter os media sempre tão presentes, que é mais que legítima, sublinho, fez-me, ainda assim, uma certa confusão tê-los tão presentes, levando-me, não raras vezes, a distrair-me da ação principal e dos dramas vividos pelo Phil Sheldon.

Outra coisa que acho que poderia ter beneficiado a narrativa era se a mesma se focasse em ações mais concretas e mais centradas, tendo menos heróis a aparecer ao longo do livro. Por vezes, a situação de ter tantas coisas a acontecer ao mesmo tempo, parece que faz com que nem o protagonista, nem nós, enquanto leitores, mergulhemos tanto na história. Diria que menos heróis e menos ações, talvez corrigissem isso. Mas, mais uma vez, também reconheço que provavelmente foi mesmo essa a intenção dos autores, em criar este assoberbamento num mundo assim. É que, muito provavelmente, um mundo com super-heróis seria exatamente assim. E nesse ponto, por muito que considere que torne o livro mais difícil de ler... também o torna mais real. Portanto, não posso classificar isto como "erros" ou "imperfeições". São mais escolhas dos autores que podem (ou não) ter beneficiado a história.

Este Marvels: Através da Objectiva é um bom livro que se recomenda pela sua leigitimidade na reflexão que faz sobre um mundo com super-heróis. Leva-se a sério e é isso que nós, leitores, o devemos fazer também: levá-lo a sério. Bem pensado, bem escrito e bem desenhado. Se não leram Marvels, vão lê-lo antes de lerem este Marvels: Através da Objectiva. Se leram o primeiro, não deixem de ler esta continuação da história. Não ficarão desiludidos. Um livro de qualidade superior no universo dos comics americanos.


NOTA FINAL (1/10):
8.5

Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020

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Ficha técnica
Marvels: Através da Objectiva
Autores: Kurt Busiek e Jay Anacleto
Editora: Levoir
Páginas: 152, a cores
Encadernação: Capa dura

1 comentário:

  1. Nao chega ao pé do 1o volume,so serve para responder o que aconteceu a algumas personagens e mostrar a amargura do Phil Sheldon.

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