Rubricas

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Análise: Kick-Ass: A Miúda Nova



Kick-Ass: A Miúda Nova, de Mark Millar e John Romita Jr

Quando, em 2010, Mark Millar e John Romita Jr. criaram a série Kick-Ass, conseguiram, a meu ver, abanar e muito os comics norte-americanos. Porque, de facto, essa série - que era uma carta de amor ao universo dos super-heróis, mostrando-nos, ao mesmo tempo, que dificuldades e desafios existiriam se uma pessoa "normal" decidisse vestir um fato e uma máscara e começasse a combater o crime nos dias de hoje - soube criar algo verdadeiramente refrescante no género dos comics americanos como, já há umas semanas, tive oportunidade de escrever na análise feita a Kick-Ass.

E se Kick-Ass: A Miúda Nova faz parte da série Kick-Ass, a verdade é que esta é uma obra bastante diferente do título original. Talvez não na componente da arte, do ritmo ou da história contada na primeira pessoa pela protagonista, mas sim, na própria premissa do livro. Aqui, não temos as peripécias do adolescente Dave Lizewski, com todas as suas crises existenciais da adolescência. 

Não. Em Kick-Ass: A Miúda Nova, a história foca-se na protagonista Patience Lee, uma soldado norte-americana que está de regresso a casa, após missão no Afeganistão. Quando volta à sua terra natal, o Novo México, Patience Lee encontra uma crescente criminalidade a envolver todos os habitantes da região, incluindo alguns familiares. E depois do seu marido a abandonar, deixando-a sozinha com os seus dois filhos, a nossa protagonista decide então trabalhar num café durante o dia enquanto que, durante a noite, passa a combater o crime, vestindo o famoso fato verde de mergulho. Fazendo jus à fama de Robin dos Bosques, Lee passa a roubar ao rei do crime da sua cidade, doando parte desses roubos aos mais necessitados e equilibrando o seu orçamento familiar, conforme consegue.

Entretanto o enredo vai-se adensando e as coisas começam a ficar mais complicadas para Lee por muitos e diversos motivos. Tal como em Kick-Ass, também este título mantém a violência já característica da série. Podem ser esperadas inúmeras cenas de ação brutal e violenta, bem ritmada, ao longo de um livro que prende a atenção do leitor da primeira à última página.

Já por várias vezes defendi que um dos problemas de Mark Millar que consegue ter muitas boas (e novas) ideias para bandas desenhadas, é que, algures a meio da história, parece perder as rédeas das suas próprias ideias. Mas este não é o caso. Aqui, Millar teve muita noção de para onde a história estava a ir e agarrou-a muito bem, não deixando muitas pontas soltas e aproveitando bem as personagens. É um livro que me convenceu do início ao fim. É simples na premissa, mas também tem uma honestidade narrativa que surpreende pela positiva. 

Outra coisa que merece ser referida é que esta obra pode muito bem ser lida sem se conhecer a história de Kick-Ass original. E mesmo tendo em conta, que este Kick-Ass: A Miúda Nova é o primeiro de 3 possíveis livros protagonizados por Patience Lee, pode-se dizer que o final deste primeiro livro é muito satisfatório, deixando a história do volume bem resolvida – embora com uma porta aberta para eventuais acontecimentos futuros.

É um pouco menos over the top do que o original Kick-Ass. O que para alguns leitores poderá parecer demasiado normal ou terra-a-terra. Para outros, no entanto, talvez isso até seja algo mais apreciável numa história que acaba por ser mais madura do que a original.

Seja como for, é um livro bem conseguido. Penso que até poderia mesmo nem sequer chamar-se "Kick-Ass". Claro que a protagonista assume a personagem heroína mas como o faz de uma forma completamente diferente daquela feita por Dave Lizewski no livro original, acho legítimo afirmar que esta obra em análise, poderia funcionar igualmente bem, se em vez de se chamar "Kick-Ass", se chamasse uma outra coisa qualquer e a protagonista em vez de vestir o famoso fato da neve verde, vestisse uma outra roupa.

Quanto à arte de Romina Jr., não há muito a acrescentar, já que segue os passos dados no primeiro livro da série e, tal como aí, encaixa extremamente bem no teor e ritmo da história de Mark Millar. Como referi na altura, “os desenhos são dinâmicos, cartoonished, com um estilo bastante personalizado no traço, que apresentam uma modernidade muito contemporânea que é tudo o que Kick-Ass, sendo uma personagem dos nossos dias, precisava. As violentas cenas de ação também são uma mais valia em termos de arte, com o artista a sabê-las desenhar com a dinâmica e velocidade que eram requisitadas.“ 

Quanto à edição, é uma edição de qualidade superior, muito em linha com aquilo a que a G. Floy Studio já nos tem habituado. Boa encadernação com capa bem dura, bom papel, e ainda alguns extras interessantes como as biografias dos autores envolvidos e algumas capas alternativas.

Kick-Ass: A Miúda Nova é uma obra agradável de ler. Millar e Romita Jr. oferecem-nos uma história coesa, bem construída, possivelmente mais madura do que o livro original de Kick-Ass, e que, acima de tudo, procura entreter-nos. E, nesse ponto, é um trabalho recomendável e que não desilude.


NOTA FINAL (1/10):
8.8


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



-/-

Ficha técnica
Kick-Ass: A Miúda Nova
Autores: Mark Millar e John Romita Jr
Editora: G. Floy
Páginas: 160, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Abril de 2020

Sem comentários:

Enviar um comentário