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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Análise: The New Deal




The New Deal, de Jonathan Case

The New Deal é a sexta novela gráfica da Coleção de novelas gráficas da Levoir e do Público, e assume-se como uma ótima escolha para esta coleção, que tantas obras e autores novos nos tem dado, globalmente, ao longo dos últimos 6 anos.

Este é um livro que nos mostra que é possível fazer as coisas de forma simples mas com um resultado muito interessante e abonatório. The New Deal, do autor americano Jonathan Case que vê assim a sua primeira obra a ser editada em Portugal, é uma história simples, direta, e sem grandes subterfúgios narrativos ou "bengalas" de argumento. Quase como se fosse uma tele-novela, de tão simples que é na sua premissa. Mas isso não tem necessariamente de ser negativo, pois mesmo não sendo uma história com grandes reflexões a fazer – embora a questão racial e a era do New Deal marquem presença de forma subtil –, esta é uma obra muito bem conseguida.

A história passa-se na Nova Iorque dos anos 30, exatamente pela altura em que o New Deal era implementado pelo Presidente Roosevelt, com o objetivo de levantar a economia americana, após o período de Grande Depressão que se vivera até então. A ação toma lugar, precisamente, e quase integralmente, no emblemático e prestigiado Hotel Waldorf Astoria. Os dois protagonistas da história são Frank e Theresa. Ambos são empregados no hotel nova-iorquino como paquete e como empregada da limpeza, respetivamente. Frank contraiu uma dívida ao jogo e Theresa é uma atriz amadora. Entretanto uma vaga de roubos misteriosos começa a acontecer no hotel e Frank e Theresa passam a ser alvos de investigação. Aparece ainda uma muito sensual Nina, que se assume como uma misteriosa personagem, e que em muito influenciará a aliança que Frank e Theresa se vêem forçados a fazer. 

A história demora um pouco a arrancar verdadeiramente, mas quando o faz, é em linha recta até ao final do livro. Reunindo uma boa dose de situações cómicas e de mistério, Jonathan Case oferece-nos uma obra ligeira e simples, em termos de argumento, mas que é o engodo perfeito para nos cativar perante as suas magníficas ilustrações.

E, de facto, a arte de The New Deal é maravilhosa, encaixando perfeitamente no período histórico dos anos 30, com o autor a demonstrar um grande virtuosismo técnico no desenho. Case oferece-nos um livro com uma ilustração com um traço elegante e fino que, por vezes, faz lembrar a obra do célebre Will Eisner, embora, no caso de Jonathan Case, haja um cuidado mais realista com as expressões das personagens. Nesse cômputo da caracterização das expressões faciais, Case assume-se como um verdadeiro mestre, oferecendo-nos um impressionante desfile de bem executadas e inconfundíveis expressões faciais, que aprofundam o estado emocional das personagens e, consequentemente, do leitor. Passamos facilmente a nutrir empatia pelas personagens deste livro.

Em termos de cor, The New Deal apresenta um "falso preto e branco" pois, ao longo de todo o livro, estão presentes tons azulados de cinza que transmitem charme e beleza às páginas onde habitam vinhetas de uma dimensão generosa que, inteligentemente, potenciam ainda mais a boa caracterização facial das personagens. Nesta componente do tratamento da cor, a obra lembrou-me bastante Harley Quinn: Através do Espelho, publicado também pela editora Levoir. Embora, naturalmente, ambas as obras, quer do ponto de vista do tema, quer do ponto de vista da história, nada mais tenham em comum.

No departamento da arte, faço ainda um destaque à forma como o autor desenha mulheres que aparentam uma beleza ímpar, muito agradável à vista do leitor. Quer Theresa, quer Nina, são mulheres lindíssimas, com fisionomias perfeitamente traçadas por Jonathan Case.

A edição da Levoir está em linha com os seus livros desta coleção de novelas gráficas: capa dura, papel fino e, no geral, uma boa edição para um preço tão simpático de 10,90€. Não foram notados erros ou problemas nesta edição, como aconteceu em O Neto do Homem mais Sábio ou em Rever Paris, portanto, podemos esperar que esses problemas tenham sido a exceção e não a regra.

Como crítica negativa a esta obra, talvez a história pudesse ser um pouco maior em dimensão, para melhor desenvolver e preparar o leitor para o final que, não sendo mal executado, é algo brusco. No final a sensação do leitor é: “já acabou?”. O que também não deixa de ser algo que tem o seu lado positivo, visto que o autor nos consegue prender à narrativa da obra.

Em suma, The New Deal faz-me lembrar aqueles músicos maravilhosos que, utilizando poucos acordes, conseguem fazer músicas simples, mas que são, igualmente, soberbas. O autor poder-se-ia ter perdido num argumento mais profundo, com questões político-sociais mais prementes, mas, ao invés, optou por fazer tudo de forma simples e direta. Esta é uma história policial bem straight e ligeira que convida a uma leitura sem pausas da obra. Uma aposta ganha da Levoir por ter escolhido aquela que é, a meu ver, e por enquanto, a melhor obra desta sexta edição da coleção de novelas gráficas. 
Recomendada, certamente.


NOTA FINAL (1/10):
8.7




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Ficha Técnica
The New Deal
Autor: Jonathan Case
Editora: Levoir
Páginas: 120, a cores
Encadernação: Capa dura
Lançamento: Setembro de 2020

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