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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Análise: O Peixe-Palhaço – Tomo 1 – Happy




O Peixe-Palhaço – Tomo 1 – Happy, de David Chauvel e Fred Simon

O Peixe-Palhaço é uma série de banda desenhada policial desenhada por Fred Simon e escrita por David Chauvel – autor que, curiosamente, vê agora a sua adaptação a bd do clássico de Lewis Caroll, Alice no País das Maravilhas, ser publicada em Portugal pela Levoir, na coleção Clássicos da Literatura em BD, que acaba de chegar ao mercado. 

Constituída por 4 tomos, cujos títulos são os nomes de algumas personagens da série – Happy, Christina, Aidan e Chas – e que foram publicados originalmente entre 1997 e 2001, pela Delacourt, esta série recebeu uma edição integral em 2014, pela mesma editora. Em Portugal, a obra teve edição pelas mãos da extinta Meribérica/Liber. Infelizmente, só o primeiro tomo, Happy, foi publicado em Portugal.

Naturalmente, e tendo em conta que apenas um tomo de 48 páginas apareceu nas livrarias portuguesas, esta é uma série que, lamentavelmente, passou ao lado de muitos leitores. E claro, chega a ser anedótico que hoje em dia, este livro possa seja adquirido por 3€(!). Mas também é uma oportunidade para conhecer uma boa banda desenhada por um preço irrisório. Compreende-se que o apelo de negócio pode não ser muito, tendo em conta que ninguém gosta de investir dinheiro – mesmo que seja pouco – numa série que não foi continuada. E dessa forma, restam duas hipóteses aos leitores portugueses: ou ficam a meio da história, ou se vêem forçados a comprar uma edição estrangeira para terminar a série.


Ou ainda, podem esperar, desejar ou sonhar que esta série seja adquirida por uma editora portuguesa e (re)lançada no nosso país. Olhando para o catálogo franco-belga de uma Ala dos Livros, de uma A Seita ou de uma Arte de Autor, diria que o lançamento desta obra, preferencialmente em edição integral, com 192 páginas, seria uma excelente novidade para os muitos adeptos do franco-belga a quem, repito, esta série há-de ter passado ao lado. Bem promovida, acredito que possa ser uma publicação com sucesso em Portugal.

Esta série foi editada na chancela Biblioteca Novos Rumos, da Meribérica/Liber. Diga-se em abono da verdade, o tratamento gráfico dos livros dessa chancela, hoje em dia, parece medíocre, com aquelas enormes margens verdes a retirar destaque à capa original. Mas não foi isso que me demoveu, quando o livro me apareceu nas mãos, há umas semanas. Após folheá-lo, dicidi dar-lhe uma oportunidade. E que boa decisão!

Com um estilo de ilustração típico da banda desenhada franco-belga, que pede emprestado um pouco do género de linha clara, tão ao jeito de Tintim, que assenta no uso de linhas fortes, com a mesma espessura e importância entre si e, posteriormente, colorido com cores fortes; e, ao mesmo tempo, piscando o olho à escola Spirou, Fred Simon oferece-nos um trabalho convincente, quer na ilustração de personagens, quer nos ambientes e/ou veículos que aparecem na história. É um livro que mesmo não arriscando muito em termos gráficos e permanecendo fiel ao franco-belga clássico, é muito bem ilustrado. Os cenários citadinos da cidade de Denver estão muito bem ilustrados e a representação das personagens, algures entre o desenho "cartoonizado" e o realismo, é uma mais valia.


Quanto ao argumento, O Peixe-Palhaço foca-se na história de Happy Wimbush, que oriundo de um meio agrícola dos Estados Unidos, chega a Denver com a melhor das intenções para começar uma nova viva, numa cidade por demais cheia de oportunidades. No entanto, Happy começa a ter surpresas mal chega a Denver. Primeiro, descobre que o seu irmão mais velho, que seria o seu contacto para este recomeço, não passa de um capanga da mafia local, que vive com muitos luxos mas com uma atividade profissional bastante dúbia e perigosa. Entretanto um polícia astuto faz-se passar por amigo de Happy para conseguir desmascarar o bando do qual Chas, o irmão do protagonista, faz parte. Como se este clima de tenção não fosse já suficiente, o ingénuo Happy ainda é recrutado para ser o motorista num assalto de alto risco. 

A história está muito bem montada, e é narrada na primeira pessoa, através das cartas que Happy escreve ao seu avô, que ainda vive nos subúrbios agrícolas de Oklahoma. O texto é bom e através das cartas ao avô, o leitor consegue perceber muitos presságios do que virá a acontecer na história mas sempre, sem revelar concretamente para onde a história vai, conseguindo manter o leitor sempre agarrado à narrativa. 


O argumento é pois comum a uma típica história de gangsters, ao jeito de Tudo Bons Rapazes, de Martin Scorsese, de Era Uma Vez na América, de Serio Leone ou, claro, de O Padrinho, de Francis Ford Coppola. Embora a temática seja adulta, não é retratada com o recurso a muita violência gráfica. Mas não é isso que nos deixa menos envolvidos na história. De facto, sendo Happy uma personagem movida, aparentemente, por boas intenções e arrastado para uma teia de crime, estamos sempre a torcer pelo seu sucesso, embora saibamos, de antemão, que algo vai correr mal. 

Só tenho pena que a minha leitura tenha ficado por um tomo apenas. Ainda para mais, quando o final deste primeiro livro é um cliffhanger maravilhoso, daqueles à antiga, que nos levam a exclamar um valente "oh não! E agora?", quando chegamos à última pagina.

Em suma, este é um excelente livro, muito bem equilibrado, que mesmo sendo simples na execução, cumpre tão bem os seus objetivos. Uma série que merecia, verdadeiramente, ser editada na íntegra em Portugal.


NOTA FINAL (1/10):
8.9


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Ficha Técnica
O Peixe-Palhaço – Tomo 1 – Happy
Autores: David Chauvel e Fred Simon
Editora: Meribérica/Liber
Páginas: 48, a cores
Encadernação: Capa mole (também disponível em capa rija)
Lançamento: Março de 1999

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