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quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Análise: Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2

Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2, de Aymond e Bollée - Gradiva


Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2, de Aymond e Bollée - Gradiva
Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2, de Aymond e Bollée 

A série Bruno Brazil é uma série de culto para muitos fãs de banda desenhada. Tendo sido originalmente lançada por Greg e Vance, ainda no final da década de 1960, conquistou muitos admiradores entre os anos 70 e 80. E, em 2019, a editora francesa Le Lombard anunciou o regresso d' As Novas Aventuras de Bruno Brazil, pelas mãos de Laurent-Frédéric Bollée e Philippe Aymond. Desta nova incursão surgiu o primeiro álbum, Black Program, que já aqui foi analisado

Neste segundo tomo desta aventura, voltamos a seguir as pegadas de Bruno Brazil, que procura, a todo o custo, descobrir quem foi o responsável pelo assassinato do maior inimigo de sempre de Bruno, bem como localizar o operacional da NASA que ficou desaparecido, e que relação terá tido, tudo isto, com a estranha fuga da sensual Rebelle da prisão. A Brigada Caimão, mesmo que privada de alguns elementos do passado, que entretanto pereceram, conta também com Whip, Nómada e Gaúcho. Quanto à ação, esta irá levar os nossos heróis a cenários de outras aventuras passadas, o que poderá ser um aperitivo para os fãs da série. 

Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2, de Aymond e Bollée - Gradiva
Em termos de ilustração, destaca-se uma arte bastante fiel à de Vance, tentando prestar um tributo à sua linha e grafismo, sem espaço para grandes (re)interpretações de estilo. O que será, para muitos, uma garantia de continuidade com as aventuras passadas de Bruno Brazil. E, se em Black Program Vol. 1 isso foi bem conseguido, neste segundo tomo, o trabalho de Aymond mantém-se na mesma linha. O autor cumpre muitíssimo bem as suas funções de ilustração. Há uma dinâmica e diversidade interessante nos vários tipos de desenho praticados, seja com o recurso a cenários que nos colocam na selva brasileira – muito bem ilustrada -, seja nos cenários mais dignos de um filme de ficção científica dos anos 70. Por vezes, pareceu-me, no entanto, que Aymond ficou um pouco abaixo em termos de resultado final, quando comparado com o seu trabalho no volume anterior. E digo isto com base em algumas cenas de ação, que me pareceram parcamente detalhadas e menos inspiradas e/ou feitas mais “à pressa”, com o autor a arriscar menos. Em termos de dinâmica de planificação das pranchas, este também é um álbum que arrisca ainda menos do que Black Program Vol. 1. E note-se que, já no volume anterior, não tinha sido um autor que arriscasse muito. Mesmo assim, não creio que seja por aqui, pelo campo dos desenhos, que este volume fique (muito) aquém do seu antecessor. 

Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2, de Aymond e Bollée - Gradiva
Ao invés, parece-me que é no argumento que este segundo volume consegue ser menos dinâmico em relação aos pressupostos e boas ideias levantadas no primeiro tomo. Julgo igualmente que o argumentista, Bollée, poderia ter sido mais bem sucedido se tivesse dedicado mais tempo (e vinhetas) ao desenvolvimento mais detalhado e profundo das personagens. Por exemplo, o clima de problemas familiares que envolve Bruno ou a perda de Billy são assuntos muito pobremente abordados neste segundo volume. Compreendo também que se procure aqueles plot twists rápidos e inesperados, ao jeito dos filmes de ação, mas, por vezes, pareceu-me que estas mudanças no enredo eram um pouco forçadas e sem grande fundamento. O argumento acaba por se assumir algo over the top, como diriam os ingleses. Bem sei que essa é uma característica algo presente nos números antigos da série. Mas, hoje em dia, acaba por me parecer datada esta forma de abordar o argumento. 

Logicamente, como disse na análise ao volume 1, continuo a achar que esta é uma série mais recomendada a um público mais velho e nostálgico, do que propriamente a um público com idade inferior a 35/40 anos. Além de que o tema das aventuras espaciais, tão utilizado durante os anos da Guerra Fria, é hoje em dia algo que até já soa kitsch e fora de sítio. Mas isso não invalida que a homenagem, envolta num trabalho de continuação, das Novas Aventuras de Bruno Brazil não seja interessante e levada a bom porto por Aymond e Bollée. E, se as vendas compensarem, creio que veremos muitas mais aventuras desta série. 

Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2, de Aymond e Bollée - Gradiva
E, nesse sentido, convém aliás relembrar ainda que, embora este segundo volume feche a história de Black Program, a verdade é que são tantas as coisas que ficam em aberto – mais do que aquelas que ficam fechadas, até – que novos livros deverão ser lançados com o propósito de responder às questões que ficaram por responder. Mesmo que não se chame Black Program 3, o próximo livro certamente continuará a história que aqui foi levantada. 

Quanto à edição da Gradiva, temos um trabalho impecável. Neste segundo volume, aquele problema dos N's invertidos e dos I's serifados do primeiro volume foram corrigidos e o restante trabalho da edição, ao nível da encadernação, da qualidade da capa e do papel, mantém-se bem conseguido. É notável também que, mesmo num ano ensombrado pela pandemia, a Gradiva tenha sido bastante célere entre o lançamento do primeiro e do segundo tomos. Apenas se passaram alguns meses entre os dois volumes, não ficando os leitores em standby durante muito tempo. 

Em conclusão, devo reiterar que o segundo volume ficou um pouco aquém das minhas expetativas, tendo em conta que o primeiro tomo levantou de forma (mais) coesa o véu para as novas aventuras deste herói esquecido e há muito reclamado pelos fãs da série. Quer na continuação do argumento, quer no desenho, ambos os autores me parecem menos inspirados e com menos fulgor neste segundo tomo. Ainda assim, é um livro que se lê bem e que, estou certo, fará as delícias dos fãs de Bruno Brazil. 


NOTA FINAL (1/10): 
7.7 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Bruno Brazil – Black Program – Vol. 2, de Aymond e Bollée - Gradiva
Ficha técnica 

Bruno Brazil - Black Program - Vol. 2 

Autores: Laurent-Frédéric Bollée e Philippe Aymond 

Editora: Gradiva 

Páginas: 60, a cores 

Lançamento: Novembro de 2020

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Análise: Crónicas da Birmânia

Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle - Devir


Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle - Devir
Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle 

Da autoria do canadiano Guy Delisle, a editora Devir brindou os leitores portugueses com este Crónicas da Brimânia. Do mesmo autor, a editora já havia lançado Pyongyang - Uma Viagem à Coreia do Norte (que também recebeu recentemente uma segunda edição da Devir) e Shenzhen – Uma Viagem à China. Dentro deste estilo, de crónica política de viagem, fica, deste modo, a faltar apenas a versão portuguesa de Crónicas de Jerusalém. Quem sabe, não estará para breve esse lançamento. 

Por agora, cabe-me um olhar atento a este Crónicas da Birmânia. Tal como nos outros trabalhos de Delisle, estamos perante um livro de pequenas rábulas e apontamentos narrativos, que nos são dados através de breves histórias, com cerca de uma ou duas páginas, em que o autor nos conta as suas passagens do dia-a-dia. Como a mulher de Guy Delisle, Nadège, trabalha na Organização Médicos Sem Fronteiras, isso faz com que Nadège seja alocada em várias Missões dessa Organização, em locais bem distantes do mundo ocidental. O que permite a Guy Delisle que, através das longas estadias de trabalho da sua mulher, possa encontrar nelas o(s) tema(s) e o(s) ambiente(s) exótico(s) e alternativo(s) adequado(s) para a construção das suas histórias, vistas enquanto outsider. Também foi assim nas suas outras obras. E, desta vez, o destino do casal e do filho de ambos, é a Birmânia, também conhecida como Myanmar. 

Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle - Devir
E este livro, assim como os outros trabalhos do autor, acaba por funcionar mais como um diário de viagem - ou de estadia, vá – do que como um conjunto de crónicas. É que, mais do que fazer uma dissertação sobre os problemas políticos do país, Delisle dá-nos um conjunto de histórias que mais não são do que retalhos do seu dia-a-dia. Como é a vida na Birmânia, como é difícil ultrapassar o calor que sempre se faz sentir, como funcionam as pequenas e as grandes características do povo e da sociedade locais; e que abismo separa esse quotidiano birmanês da realidade do mundo ocidental. 

E, desse ponto de vista, parece-me óbvio que a obra de Delisle seja de grande relevância. E não apenas para leitores de banda desenhada. Se alguém vai fazer uma viagem à Birmânia/Myanmar, ou se estuda relações internacionais e/ou políticas; ou se simplesmente tem vontade de saber mais sobre o país da célebre Prémio Nobel da Paz em 1991, Aung San Suu Kyi, terá nesta obra um importante contributo para a sua sede de conhecimento. No entanto, permitam-me não criar falsas expetativas: não pensem que Crónicas da Birmânia é um ensaio muito detalhado sobre o país. É apenas uma fonte de (algum) conhecimento. Permite-nos um breve vislumbre à temática. Isto porque o autor não parece focado em tornar a sua obra em algo meramente didático. E, por isso, acrescenta-lhe algum do seu humor. 

Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle - Devir
Diria que é um humor ultra suave que, na melhor das hipóteses, me arrancou um sorriso da cara e não uma gargalhada. Tento não cair muito neste tipo de comparações porque, normalmente, acabam por ser injustas, mas olhando, por exemplo, para a série O Árabe do Futuro, de Riad Sattouf que, à semelhança das obras de Delisle, também nos revela uma história real e que põe em oposição o mundo ocidental com o oriental, diria que, quer o humor, quer as situações sérias e dramáticas retratadas, são bem mais "mornas" no trabalho do autor canadiano, do que na série da autoria de Riad Sattouf. Mas, claro, trata-se de uma questão subjetiva. O humor de Guy Delisle é temperado com perspicácia mas, muitas vezes, por não procurar ter uma punchline, fica um pouco a marinar na mente do leitor, tornando a piada em algo “seco”. A meu ver, até é na narração mais séria das situações que o autor testemunha, nomeadamente quando se desloca com as equipas dos Médicos Sem Fronteiras, que o livro se torna em algo mais marcante e interessante, revelando, sem grandes dramatizações, as reais condições de vida de certas populações que (ainda) sucumbem ao vírus da SIDA ou ao vício da toxicodependência. Ou, em muitos casos, de ambos. 

Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle - Devir
Há algo importante que também me merece comentário. A obra original foi lançada em 2008 e, portanto, esta versão portuguesa da obra, que em boa hora chega ao nosso país, reconheço, aparece com um atraso de lançamento de 12 anos que acaba por ficar datado numa questão central: a de Aung San Suu Kyi. É que, se em 2008, a política birmanesa ainda era vista como um ícone da liberdade e uma mártir das mãos totalitárias do aparelho de Estado, com o passar dos anos, viu a sua situação alterar-se drasticamente. Desde 2016, que passou a integrar o Governo birmanês enquanto Ministra dos Negócios Estrangeiros. E, desde então, especialmente quando, em 2017, o Exército Nacional chacinou milhares de mortos em Rakhine, passou de mártir a vilã, gerando muita controvérsia e tendo levado a que muita gente tenha pedido a Aung San Suu para renunciar ao seu Prémio Nobel da Paz. Ora, não é que a leitura de Crónicas da Birmânia saia beliscada como estes acontecimentos mais recentes. Porém, julgo que a persona da política da Birmânia ainda é aqui tratada no seu antigo estado de graça. E isso torna a leitura algo datada. Nesse sentido, penso que uma breve introdução - e atualização - ao tema, poderia ter sido benéfica para os leitores portugueses com menos informação sobre este assunto. 

Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle - Devir
Em termos de arte, e mesmo sendo verdade que as capas das suas obras são sempre bem sugestivas e bem executadas do ponto de vista do grafismo e ilustração, diria que Guy Delisle apresenta um estilo simples. Seria perfeito para o cartoon americano de onde, aparentemente, faz beber as suas inspirações mas, para um estilo que procura ser mais de novela gráfica, de crónica, por vezes pareceu-me algo pobre e demasiado despido, em termos técnico-gráficos. No entanto, honra seja feita ao autor por não nos dar um conjunto de crónicas em que a parte cénica é sempre igual. E isso é algo que por vezes acontece neste tipo de banda desenhada. Com efeito, ao ilustrar as viagens que faz durante a sua estadia na Birmânia, vê-se que há um esforço em passar para o leitor as paisagens que visitou. E aí, o livro ganha em importância gráfica, além da importância do texto. 

Em termos de edição, é um trabalho muito bem realizado pela editora Devir. Uma encadernação de boa qualidade, uma capa bem dura e um papel de boa gramagem fazem deste Crónicas da Birmânia um excelente “objeto-livro”. É igualmente assinalável que a Devir, que tem pautado os seus últimos lançamentos com obras do universo mangá, tenha, com esta obra, regressado ao lançamento de novela gráfica, mais direcionada para um público mais maduro. 

Em conclusão, a Devir está de parabéns por ter lançado a terceira obra deste autor canadiano, tão relevante e tão apreciado no mundo inteiro. Crónicas da Birmânia, não sendo perfeita, é uma obra que merece ser lida pelos amantes de uma bd mais adulta e com um cariz mais político-social. E que tenha uma leve – levíssima! - pitada de humor. Welcome back, Guy Delisle. 


NOTA FINAL (1/10): 
7.9 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020




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Crónicas da Birmânia, de Guy Delisle - Devir
Ficha técnica 
Crónicas da Birmânia 
Autor: Guy Delisle 
Editora: Devir 
Páginas: 268, a preto e branco 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Novembro de 2020

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

VINHETAS D'OURO! Está fechado o Painel de Jurados!




Os mais atentos já deverão ter dado conta que o painel de jurados do VINHETAS D'OURO 2020 se encontra fechado.

Faço aqui uma apanhado geral da constituição do painel.


JURADOS:


Carla Ribeiro, do As Leituras do Corvo

Carlos Cunha, do Juve Bêdê

Cristina Alves, do Rascunhos

Fábio Gonçalves, do Station Comics

Nuno Amado, do Leituras de BD

Nuno Neves, do Notas Bedéfilas

Patrícia Caetano, do Bookaholic Kingdom

Paulo Viegas, do Colecionador de BD

Pedro Cleto, do As Leituras do Pedro

Ricardo Trindade, do Zombi TV

e a minha pessoa, Hugo Pinto, criador do Vinheta 2020

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Guia de Compras de Natal – 3 livros por editora


Guia de Compras de Natal – 3 livros por editora 

Com o natal mesmo à porta, e atendendo a vários pedidos que me foram feitos àcerca das minhas sugestões para compras natalícias, faço este guia de compras em que escolho 3 livros das principais editoras de banda desenhada em Portugal. 

Sim, eu sei. Por esta altura já todos deverão ter feito as suas compras de natal. Mas, para os que ainda não as fizeram e, hoje ou amanhã, irão numa correria (com máscara) aos shoppings, ficam algumas sugestões. 

E, claro, para os que já fizeram as suas compras de natal, poderão sempre aproveitar para comprar mais alguns livros depois do natal, pois é frequente que nesse período até apareçam boas promoções. 

A saber: não quer dizer que os livros que apresento sejam aqueles que considero os melhores livros de cada editora. São apenas 3 livros que considero excelentes compras por serem, a meu ver, obrigatórios numa boa biblioteca de banda desenhada. Simplesmente, impus-me a regra de 3 livros por editora. E em alguns casos, foi difícil deixar de fora algumas obras. 

Dito por outras palavras, se me perguntassem que bandas desenhadas poderiam comprar, estas seriam, à data de hoje, as minhas sugestões. 

Boas Festas a Todos e... leiam BD! 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

VINHETAS D'OURO - O júri fica fechado com a minha participação


E agora sim, podemos considerar fechado o painel de jurados que irá definir quais foram as melhores bandas desenhadas lançadas em Portugal no ano de 2020, naquela que será a primeira edição dos prémios VINHETAS D'OURO.

Como não poderia deixar de ser, também eu serei um dos jurados.

Abaixo, e à semelhança do que foi sido feito com os outros jurados, deixo um pequeno parágrafo sobre a minha pessoa.

Embora só tenha lançado o seu blog Vinheta 2020 no início do ano 2020, Hugo Pinto está rodeado de livros de banda desenhada desde que se conhece. Na verdade, ainda não sabia ler e já gostava de observar atentamente os livros de bd do seu irmão mais velho. E hoje, com 36 anos, considera-se um leitor com alguma experiência no género. O seu blog não só publica as novidades relativas à banda desenhada como costuma fazer análises assíduas às obras lidas pelo autor.

Nas próximas semanas, o painel de jurados elegerá 4 nomeados para cada categoria a concurso. 

E, sensivelmente a meio de Janeiro, serão atribuídos os prémios.

Fiquem atentos!



VINHETAS D'OURO - O Site Bandas Desenhadas também é jurado



Aproximamo-nos do fim do anúncio dos membros do júri dos prémios VINHETAS D'OURO mas ainda há um nome de peso a partilhar! Trata-se do site Bandas Desenhadas, um dos espaços web mais importantes de Portugal, sobre a banda desenhada, que também disse SIM ao meu convite para figurar como membro dos prémios VINHETAS D'OURO 2020!

E desta vez, temos uma participação um pouco diferente. Em vez de se fazer representar por um dos 4 elementos da equipa nuclear do site (Carla Ramos, Nuno Pereira de Sousa, Rodrigo Ramos e Susana Figueiredo), o Bandas Desenhadas decidiu partcipar como um todo, assegurando que os seus votos serão escolhidos pela equipa nuclear do site. No entanto, e para que haja total imparcialidade na composição do painel de jurados do VINHETAS D'OURO, o Bandas Desenhadas apenas contribui com uma votação nas várias categorias, tal como acontecerá, aliás, com todos os outros jurados. 

O Bandas Desenhadas é um site especializado em banda desenhada e outros meios de expressão artística frequentemente relacionados com estes, tendo como missão: 
a) a promoção da leitura; 
b) a divulgação de obras e autores de banda desenhada; 
c) a divulgação de obras e autores de livros ilustrados e da literatura de ficção científica e fantasia; 
d) a promoção da reflexão, crítica e investigação em banda desenhada; 
e) a divulgação de eventos e projetos relacionados; 
e f) a divulgação e reflexão sobre a transposição de obras ilustradas ou de BD para outros meios e vice-versa (literatura, televisão, cinema, rádio, videojogos, colecionáveis…). 

No que toca à BD, para além da divulgação, tem vindo a trabalhar outras áreas de interesse como a didática, a investigação e a crítica, bem como a fotorreportagem de eventos e a publicação de diversas séries e one-shots de webcomics

Entre os seus diversos projetos, encontra-se em elaboração a BD² – Base de Dados de Banda Desenhada

Paralelamente, para além da organização dos Prémios Bandas Desenhadas, tem vindo a realizar diversas atividades extras ao site, como a curadoria de várias exposições de autores estrangeiros, moderação de mesas-redondas em diversos eventos, promoção da realização de portfolio reviews por um editor estrangeiro e organização de workshop para argumentistas e desenhadores de BD nacionais, bem como a colaboração com o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja com a presença de diversos autores estrangeiros. 

O site foi ainda um parceiro do programa Bandas, transmitido na Rádio Zero durante 3 anos, e organizou os Prémios BD Disney durante  3 anos consecutivos.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

VINHETAS D'OURO - Ricardo Trindade também se junta aos jurados



Ricardo Trindade também se junta aos jurados dos prémios VINHETAS D'OURO 2020!

Ricardo Trindade é o criador da plataforma Zombi TV.

A Zombi TV começou com um NERD, mas tal como os Zombies, multiplicaram-se, e hoje são um grupo de amigos que fala sobre gosta, Cultura Geek.

Desde Cinema, Séries de Tv, Banda-Desenhada, Literatura, Jogos de Tabuleiro e Retro Gaming...tudo com uma dose generosa de loucura e um pouco de seriedade. Juntem-se à horda!

Já quase todos os membros do júri foram apresentados mas ainda há mais alguns membros do júri para apresentar. Serão todos conhecidos amanhã. 

Fiquem atentos.

Análise: Pulp

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio


Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips 

Antes que o ano de 2020 terminasse, a G. Floy Studio presenteou-nos com o lançamento de alguns livros. Entre eles, este Pulp, que volta a unir a dupla criativa de Ed Brubaker e Sean Phillips, que já nos tinha dado obras como Criminal, Fatale, Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados ou The Fade Out

Não há como não me focar no seguinte ponto: a escrita de Ed Brubaker, para este tipo de histórias urbanas hard-boiled, é do melhor que há. Digo até mais: se agarrássemos no texto que Brubaker nos oferece em Pulp e o lançássemos apenas enquanto um livro de contos, em prosa, sem qualquer ilustração, seria, ainda assim, um fantástico livro de ler e acompanhar. Uma escrita bem feita, com aqueles comentários em voz off, extremamente inspirados, que nos dão, vinheta após vinheta, frases marcantes, num material altamente quotable. Brubaker é exímio nisto, portanto não será uma surpresa para quem já o conhece. Já o fez noutras vezes, em séries como Criminal ou The Fade Out, por exemplo. Em Pulp, volta a oferecer-nos uma personagem marcada pela vida, carregada de negritude e de um passado fraturante, que procura um silver lining na sua vida. Algo que possa funcionar como um ponto final positivo. Um legado esperançoso.

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
E não se enganem com a capa do livro! Esta é uma história completamente urbana, ambientada em Nova Iorque, que nos dá (mais) uma história da grande cidade. Se o tempo em que ocorre fosse mais recente, diria que poderia perfeitamente ser uma história da série Criminal. Mas é claro que, nesta obra, a grande diferença é que o protagonista, Max Winter, em tempos foi um cowboy, uma fora-da-lei, que viveu entre a vida e a morte, em numerosos tiroteios. Mas apesar da vida que levava, Winter conseguiu chegar a velho e, na América dos anos 30, em que as agitações políticas na Europa, mais concretamente na Alemanha, com a ascenção da relevância de Hitler, fazem prever crimes de ódio e guerras à escala global, o protagonista tenta manter uma vida pacata com a sua mulher, Rosa, enquanto escreve para revistas pulp, histórias de cowboys que são secretamente baseadas nas suas próprias vivências do passado. Agora, velho, doente e empobrecido, Winter vai tentar um último golpe, um último acto à margem da lei. 

Para além da escrita inspirada de Brubaker, há que reconhecer que a maneira como a história se vai desenrolando aos olhos do leitor é muito bem conseguida. Várias são as vezes em que começamos a perspetivar que o rumo dos acontecimentos irá por um caminho para, logo depois, sermos surpreendidos. E isso, naturalmente, acaba por tornar a leitura em algo gratificante. 

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
Penso que se o livro tivesse mais páginas, poder-se-ia ter explorado melhor algumas personagens – como o irmão ou a filha de Max Winter - que mal aparecem no livro e que, infelizmente, são personagens que acabam subaproveitadas. Não obstante, também é verdade que vale mais uma história pequena e bem montada, do que uma história grande mas que enrola sem grande interesse. Pulp é uma obra fantástica da primeira à última página. 

Em termos de arte, Sean Phillips aparece fiel a ele próprio, uma vez mais. Quem já gosta, continuará a gostar. Quem não gosta, continuará a não gostar. As sombras são fortes e bem contrastadas com os efeitos de luz e o estilo de ilustração é, todo ele, fiel ao que Phillips já nos deu em obras passadas. Por vezes, pareceu-me que, em Pulp, o seu traço estava algo mais apressado do que o costume mas, repito, tudo dentro dos moldes do autor. 

Onde acaba por haver mais elementos diferenciadores em relação a outras obras da dupla criativa é na aplicação de cores, por parte do filho de Sean Phillips, Jacob Phillips, que até já tinha feito um trabalho muito interessante em Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados. Provavelmente por, aparentemente, ser um autor mais experimental em matéria de cores, o seu trabalho acaba por parecer refrescante e muito bem conseguido nuns casos, enquanto que, noutras situações, as coisas não correm tão bem. E aqui isso é bastante veificável nos flashbacks em que nos é dado o passado de Max Winter enquanto cowboy. Por vezes estas ilustrações aparecem com autênticos borrões de cor a colori-las, oferecendo um resultado original, reconheço, mas que não me agradou muito. Nestes casos, considero que a cor em vez de puxar pela ilustração de forma positiva, fá-lo no sentido oposto, levando a que as ilustrações de Sean Phillips saiam prejudicadas. Contudo, nas partes que se desenrolam em Nova Iorque, as cores de Jacob, sendo mais sóbrias, já me deixaram mais satisfeito com o resultado. 

Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips - G. Floy Studio
Tendo em conta que Pulp saiu originalmente em 2020, a G. Floy merece uma palavra de apreço por rapidamente ter fornecido o mercado português com mais uma obra da dupla Brubaker-Phillips. A qualidade da edição é boa, como vai sendo hábito. Capa dura e espessa, papel grosso baço que, a meu ver, funciona bem para a história em questão. Uma pequena correção ao lapso da editora na última página: a série Velvet é da autoria de Ed Brubaker mas não de Sean Phillips. O ilustrador a cargo dessa série foi Steve Epting. 

Em conclusão, Pulp é uma fantástica obra, que nos traz um Ed Brubaker muito inspirado na escrita e que justifica, só por isso, a leitura deste livro espetacular. Uma história com cowboys e nazis poderia parecer arriscada mas Brubaker junta os pontos de forma muito eficaz, tornando Pulp numa delícia de acompanhar. Sean Phillips mantém-se fiel a si mesmo, tentando algo diferente, embora menos bem sucedido, nos flashbacks que nos levam para o faroeste americano. Esta é uma excelente obra e (mais) uma agradável surpresa para fechar bem o ano editorial de 2020. 


NOTA FINAL (1/10): 
8.9 



Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020 



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Ficha técnica 
Pulp 
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips 
Editora: G. Floy 
Páginas: 72, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Novembro de 2020

VINHETAS D'OURO - Fábio Gonçalves também é júri



Fábio Gonçalves também faz parte do painel de jurados dos prémios VINHETAS D'OURO 2020!

Fábio Gonçalves é o criador da Station Comics. O vlog que, em poucos meses, conquistou os leitores portugueses de banda desenhada.

Criada com o objetivo de divulgar e analisar a banda desenhada que chega às bancas portuguesas, a Station Comics apresenta-se como "A paragem obrigatória para os interessados em banda desenhada.

Fiquem atentos à divulgação de novos membros do júri nos próximos dias.

domingo, 20 de dezembro de 2020

VINHETAS D'OURO - Paulo Viegas também se junta ao painel de jurados



Paulo Viegas também figura como membro do painel de jurados dos prémios VINHETAS D'OURO 2020!

Paulo Viegas começou a ler banda desenhada na segunda metade da década de 70 do século passado, sendo as suas leituras mais marcantes o Mundo de Aventuras e o Tintin

Outros interesses levaram a uma interrupção entre os finais dos anos 80 e o início da década seguinte. 

Há cerca de 25 anos voltou a ligar-se à BD, colecionando revistas antigas e lendo os trabalhos mais recentes.

Colecionador de BD é o blogue onde vai fazendo alguma divulgação desta arte.

Fiquem atentos à divulgação de novos membros do júri nos próximos dias.

Análise: Shanghai Dream - Edição Integral

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor


Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel
 

Se eu tivesse que falar a alguém sobre Shanghai Dream em apenas uma frase, diria algo deste género: “é uma banda desenhada franco-belga, ambientada no período da Segunda Guerra Mundial e maravilhosamente ilustrada por um português. Muito boa. Tens de ler”. 

E de facto, Shanghai Dream é tudo isso. E até mais. Mas vamos por partes. 

Shanghai Dream começa logo por ser bastante original pela forma como aborda o tema histórico em que a narrativa é ambientada. Já todos nós vimos o tema da Segunda Guerra Mundial a ser abordado milhentas vezes, quer em livros de banda desenhada, quer em filmes, quer em livros. No entanto, a questão central do êxodo de judeus para a China, em busca de refúgio e fuga às garras dos alemães, é um tema que, até agora, permanecia inédito para mim. E essa é uma das boas cartadas que este livro nos dá. Conhecemos o ambiente histórico que envolve as personagens mas acabamos por ter nesta obra uma abordagem diferente e nova à temática. E isso, claro, é sempre de louvar, pois faz a história ser refrescante sem que seja “mais do mesmo”. 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Depois falemos no mais óbvio, quando olhamos para a ficha técnica do livro. Shanghai Dream é ilustrado por um português. Trata-se de Jorge Miguel que, já há uns largos anos, até teve duas obras editadas em português Fado IlustradoCamões - De vós não conhecido nem sonhado?, uma biografia de Luís de Camões. Já quanto ao mercado estrangeiro, é um autor bastante consagrado, tendo a editora Humanoïdes Associés lançado um considerável número de obras de Jorge Miguel, que contemplam vários estilos de narrativa. E embora seja, por isso, um autor com créditos firmados no estrangeiro, e, ainda por cima, num mercado tão concorrencial como o franco-belga, a verdade em que em Portugal, é um autor praticamente desconhecido. Pelo menos, por aqueles leitores que acompanham banda desenhada mas sem estarem tanto por dentro do que se faz lá fora. E, assim sendo, tenho que dar uma palavra de apreço às editoras A Seita e Arte de Autor que, juntas, co-editam este Shanghai Dream

Analisando, então, as ilustrações de Jorge Miguel neste álbum, posso dizer que o seu trabalho é deveras impressionante. É um álbum brilhantemente ilustrado da primeira à última página. O seu estilo é aqui demarcadamente clássico no tipo de ilustração, com um traço hábil que alterna entre uma espessura mais fina e outra semi-grossa. A utilização de planos de câmara é muito bem feita, a construção das personagens e suas expressões também apresenta muita qualidade. Não há aqui muito espaço para apontar falhas ao trabalho espantoso do autor. Posso dizer que, neste livro, prefiro as vinhetas em que o traço é mais fino. Nas vinhetas em que o traço é mais grosso, ainda que também funcionem bem, as ilustrações não são tão espetaculares, quanto a mim. São “apenas” muito boas. Nas ilustrações de traço mais fino, o trabalho de Jorge Miguel é apaixonante! 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Há duas coisas onde o autor me impressionou sobejamente: a primeira é no desenho de expressões. Esta é uma história emocional e, portanto, seria fulcral que os desenhos nos tocassem perante a forma como as personagens reagem aos acontecimentos. E Jorge Miguel é exímio neste cômputo. O modo como ilustra as expressões faciais, ou mesmo em termos da caracterização da linguagem corporal das personagens, é brilhante. 

A segunda coisa onde o autor nos deixa literalmente de boca aberta é na caracterização dos cenários. Quer sejam cenários interiores, quer sejam cenários exteriores, com a utilização de paisagens incríveis, o trabalho de Jorge Miguel é de mestre. São desenhos com muitos detalhes, com muito perfeccionismo no traço e que dão gosto de observar. Refira-se um exemplo que me intrigou pela positiva: na página 31 do livro, no canto inferior direito, há uma pequena vinheta em que se vê o combóio que transporta os protagonistas da história. E é impressionante a quantidade de detalhe que o autor aplicou a uma vinheta tão pequena em dimensão. Muitas vezes reparo que certos autores são capazes de nos presentear com uma ilustração magnífica para uma vinheta grande em dimensão mas que, depois, quando se tratam de vinhetas pequenas, o seu traço é, compreensivelmente, menos cuidado e detalhado porque, à partida, o olhar dos leitores não se demorará tanto numa vinheta pequena em dimensão. Jorge Miguel parece não estar para aí virado. E isso leva a que mesmo vinhetas pequenas possam estar cheias de detalhe e mereçam uma atenção especial por parte dos leitores. Incrível! 

Quanto à história aqui tratada, acompanhamos as vivências de Bernhard e Illo, um jovem casal judeu, apaixonado um pelo outro e pelo cinema, que sonha conseguir filmar a comédia romântica que Illo escreveu. Mas, com o desenrolar dos movimentos anti-semitas, o casal vê-se forçado a fugir de Berlim, em direção à China, o local do Oriente onde mais se apostava no cinema, durante estes anos. 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Se, para nós portugueses, o nome de Jorge Miguel é motivo de atenção especial e orgulho por termos um português a dar cartas de nível na produção de banda desenhada de estilo franco-belga, devo dizer que Philippe Thirault, o argumentista, também me surpreendeu bastante, pela positiva. De facto, não é apenas a original abordagem ao tema da Segunda Guerra Mundial que funciona. A construção do argumento, o desenvolvimento das personagens, o desfile de situações com que o protagonista da história, Bernhard, se depara... tudo isso é muito bem montado e orquestrado por Thirault. Shanghai Dream é, acima de tudo, uma história de amor em temos difíceis. Um autêntico romance em banda desenhada. E, a meu ver, apresenta um tipo de história a que nem sempre é dada a devida importância na banda desenhada. Na 9ª arte há – e deve haver – espaço para o western, para a comédia, para a ficção científica, para a ação, para o terror, para o thriller, para todos os géneros... e, nesse sentido, logicamente também deve haver sempre espaço para o romance. E, felizmente, é bom verificar que, cada vez mais, se vêem bandas desenhadas que aplicam esse tipo de histórias ao género. 

Depois há ainda uma coisa interessante nesta história. É que o guião do filme de Bernhard e Illo vai-nos sendo dado aos poucos – e com um grafismo em tons de cinza, que difere da restante história – e isso é um exercício narrativo muito interessante. Até porque vamos percebendo como as consequências dos acontecimentos que envolvem as personagens principais condicionam, elas mesmas, a história do guião de cinema do filme que está a ser produzido. E isso transparece de forma fluída e muito bem conseguida. Um exercício de contar a história do guião que funciona muito bem e que representa também uma clara homenagem ao cinema. É mais um ponto a favor deste Shanghai Dream

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Relembrando que se trata de um álbum duplo, que em França foi editado em dois livros separados, Êxodo: 1938 e Em Memória de Illo, respetivamente, confesso que a primeira parte da história, isto é, o primeiro volume me pareceu mais bem conseguido em termos de argumento, pois as situações aí retratadas são emocionalmente mais intensas fazendo com que a história seja pesada, madura e impactante para o leitor. No segundo tomo, a história mantém-se interessante, pois permite-nos desvendar o que sucedeu ao Guião do filme elaborado por Bernhard e Illo, mas o ritmo dos acontecimentos abranda e passa a focar-se mais na elaboração do filme, por parte do protagonista. Não é que fique entediante, mas parece que o filme passa a ser o verdadeiro protagonista da história, em detrimento de Bernhard. Será o filme alguma vez rodado? Com que resultados? E como será superada a perda de Bernhard, se é que alguma vez será superada? Sob pena de poder arruinar a leitura desta obra incrível, fico-me por aqui, convidando o meu leitor a desvendar por si, esta história tão plena de humanidade e tão bem executada. 

Quanto à edição, que, pela primeira vez, junta duas das principais editoras de banda desenhada em Portugal, A Seita e a Arte de Autor, é uma maravilha e apresenta uma qualidade de nível superior. A conceção gráfica do livro é muito bonita e a qualidade da encadernação, numa elegante capa dura e baça, dá um toque de classe ao objeto-livro. No interior temos papel brilhante de boa gramagem e, no final do volume, temos um caderno gráfico com vários esboços de Jorge Miguel. Se estes esboços já acrescentariam algo interessante ao álbum, considero que o facto de serem esboços com comentários do autor, faz com que a experiência de leitura seja ainda melhor. Cadernos com esboços de autor como extra são bons. Mas cadernos com esboços e comentários do autor elevam ainda mais a fasquia. E já para não falar que a capa deste livro é soberba e, na minha opinião, uma das mais belas nos lançamentos de bd de 2020, em Portugal. Mas, a isso, deve-se, especialmente, a qualidade incrível das ilustrações de Jorge Miguel. 

Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Em conclusão, esta é uma obra majestosa e fundamental para uma boa coleção de bd. Tudo parece funcionar extremamente bem neste livro: a história, a arte, a edição. Fantástico e mais um dos lançamentos deste ano editorial. Não é só Jorge Miguel, um dos melhores ilustradores de banda desenhada de Portugal, que merece ter TODOS os seus livros publicados em português... os leitores de banda desenhada também o merecem. Como não, se a sua arte é tão especial? E este Shanghai Dream é o primeiro passo nesse sentido. Parabéns às editoras A Seita e Arte de Autor. Outro tiro na mouche! 


NOTA FINAL (1/10): 
9.5 


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020


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Shanghai Dream – Edição Integral, de Philippe Thirault e Jorge Miguel - A Seita e Arte de Autor
Ficha técnica
 
Shanghai Dream - Edição Integral 
Autores: Philippe Thirault e Jorge Miguel 
Editora: A Seita e Arte de Autor 
Páginas: 120, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020

VINHETAS D'OURO - Carlos Cunha também é júri



Carlos Cunha também é júri no painel de jurados dos prémios VINHETAS D'OURO 2020!

Apaixonado pela banda desenhada, cartoons e ilustrações desde criança, está ligado ao Juvebêdê desde o n.º 1, publicado em Abril de 1997. 

Em Julho do ano seguinte passou a coordenar o projecto a partir do n.º 7 e assim permanece desde essa data.

O Juvebêdê é uma revista/fanzine com 23 anos de existência, que está também presente num blogue com publicações diárias e nas redes sociais (Facebook e Instagram) com as novidades da nona arte, cartoon, ilustração, cinema de animação e muito mais.

Fiquem atentos à divulgação de novos membros do júri nos próximos dias.

sábado, 19 de dezembro de 2020

VINHETAS D'OURO - Patrícia Caetano também se junta ao painel de jurados

 



Patrícia Caetano também se junta ao painel de jurados dos prémios VINHETAS D'OURO 2020!

Patrícia Caetano nasceu em Torres Vedras em 1996. Assim que aprendeu a ler e a desenhar nunca mais parou. 

Pelo caminho decidiu estudar Estudos Europeus e é mestre em Ciência Política e Relações Internacionais mas preferia ser Mestre Jedi. 

Durante os seus anos de licenciatura abriu um blog literário chamado Bookaholic Kingdom, o qual fez a sua pilha de livros por ler aumentar exponencialmente, e com muito gosto. 

Também é copywriter e faz uns rabiscos a que alguns chamam arte. A fantasia, a FC e a Banda Desenhada têm um lugar especial no seu coração e sempre que pode aproveita para pregar sobre essa trindade.

Em Hogwarts ruge pelos Gryffindor e em Westeros dobra o joelho para a Casa Tyrell.



Notícia: Os Vigilantes voltarão em 2021



A banda desenhada portuguesa de super-heróis, Os Vigilantes, que teve a sua primeira aparição em 2017, estará de regresso em 2021, no formato webcomic. O projeto é da autoria de Flávio C. Almeida, autor e editor responsável pela recente edição de obras como Pepper e Carrot ou Homem-Grilo.

Fiquem com a nota do editor.

Os Vigilantes voltarão em Janeiro de 2021, e ainda com mais força!

Os Vigilantes são uma equipa portuguesa de Super-Heróis que unem forças sempre que o perigo e as ameaças surgem de todos os lados, até dos mais inesperados!

A história passa-se num Universo estendido em quatro dimensões, conhecido como Universo PT, onde vários corpos estranhos de uma Entidade Celeste desconhecida dirigem-se a um Planeta Terra diferente. Esta Terra é muito parecida com a que todos conhecemos, a Terra Original. Excepto que nesta Terra Principal, como ficará conhecida, foi onde colidiram os fragmentos da Entidade Celeste vindos do espaço e que trouxe um novo rumo a este Universo. Provocando pela sua ação o aparecimento de super-humanos, um evento que ficou conhecido como "O ACONTECIMENTO".

Este projeto viu a luz do dia em 2017, esteve em stand-by durante algum tempo, mas finalmente regressa ainda com mais força em Janeiro de 2021!

A ideia de juntar estes super-heróis portugueses já criados numa equipa portuguesa de super-heróis foi surgindo, e como fazê-lo? Optando por um estilo comic clássico, a partir daqui foi criar um conceito e um Universo próprio!

Além do relançamento da Webcomic, será também lançada uma novela gráfica durante o decorrer do ano de 2021, através do financiamento por crowdfunding.

Aqui ficam os links onde podem encontrar Os Vigilantes:

Um projeto de Flávio C. Almeida, um autor e editor português de banda desenhada. Com formação em artes gráficas e marketing, conta com várias participações em concursos, eventos e publicações de banda desenhada a nível nacional e internacional, tendo como destaque três prémios para melhor autor. Além dos livros em nome próprio, o autor já editou outros e participou em diferentes antologias em formato impresso ou digital.

Tudo pronto para o regresso da Equipa Lusa de Super-Heróis: OS VIGILANTES!

VINHETAS D'OURO - Nuno Neves faz parte do painel de jurados



Nuno Neves junta-se ao magnífico painel de jurados dos prémios VINHETAS D'OURO 2020!

Nuno Neves cresceu rodeado de Banda Desenhada. 

O seu imaginário encontra-se povoado de mil e uma aventuras em quadradinhos com uma forte influência franco-belga.

Ávido leitor e colecionador de BD, em 2005 junta-se o divulgador quando cria o blogue Notas Bedéfilas.

É aqui que, nas horas vagas e de forma intermitente, vai publicando as suas notas. 

Nas redes sociais é também administrador do Grupo Banda Desenhada Portugal.

Fiquem atentos à divulgação de novos membros do júri nos próximos dias.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Análise: Airborne 44 - Volumes 7 e 8 - Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas

Airborne 44 - Volumes 7 e 8 -  Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas


Airborne 44 - Volumes 7 e 8 -  Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas
Airborne 44 - Volumes 7 e 8 - Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas, de Philippe Jarbinet 

A série Airborne 44 coloca-nos no período da Segunda Guerra Mundial, explorando este enorme conflito político-militar, a partir de vários pontos de vista, oferecendo-nos diferentes leituras dos acontecimentos, por vezes antagónicas, desse período da História. Os seus primeiros 6 volumes já tinham sido editados em Portugal pela editora ASA em 2017. E recentemente, a mesma editora portuguesa resgatou os volumes 7 e 8, Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas, respetivamente, que, juntos, nos dão mais uma (boa) história baseada na Segunda Guerra Mundial e que completam esta série em Portugal. O que é sempre algo que mereça ser assinalado. 

Interessa referir também que, embora a temática da Segunda Guerra Mundial esteja presente em todos os álbuns, cada dois volumes correspondem a uma história isolada das demais. Que é como dizer que estes dois novos volumes, 7 e 8, que foram recentemente lançados, correspondem à quarta história da série. 

Airborne 44 - Volumes 7 e 8 -  Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas
E, tal como nos tomos anteriores, estamos perante uma história madura, séria e com um argumento bem desenvolvido, a que se junta uma excelente qualidade na ilustração. Diria que Jarbinet consegue ser competente em todas as áreas. 

Nestes volumes acompanhamos a história de Aurelius K., um soldado alemão que acaba por desertar do exército. Ao mesmo tempo, acompanhamos a fuga de dois irmãos de um campo de concentração que o destino junta ao protagonista, Aurelius K.. A ele junta-se ainda um outro soldado desertor e a bela Solveig, numa missão encomendada para que, antes que a Guerra acabe, se consigam desviar várias barras de ouro pertencentes ao Reich. Estando já na fase final da Segunda Guerra Mundial, e sendo cada vez mais claro que os alemães iriam perder a guerra, vários soldados alemães começaram a preparar a sua fuga, reunindo o maior espólio possível de riquezas. 

A história leva-se bastante a sério e dá-nos personagens bem desenvolvidas, com personalidades carismáticas. Especialmente o protagonista. Tudo é bastante real. Mesmo sendo uma história ficcional, bem poderia ser o relato real do que se passou.

E se os acontecimentos que são passados na Alemanha são bons e bem orquestrados por Jarbinet, devo dizer que a parte que se passa nos Estados Unidos também é marcante e bem conseguida. Como aliás, o autor já tinha feito em tomos anteriores desta mesma série. 

Airborne 44 - Volumes 7 e 8 -  Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas
Geração Perdida
abre com uma cena muito cinematográfica que acontece na Flórida, em 1969, e que nos remete para uma clássica vingança por algo que aconteceu no passado. Essa ideia fica a amainar nas nossas cabeças enquanto somos remetidos, então, ao período da guerra. Só no segundo livro, Sobre as Nossas Ruínas, o autor volta a mexer no tempo mais futuro levando-nos a compreender, finalmente, que ajuste de contas era aquele das primeiras páginas do primeiro livro. Acho que o autor soube proteger muito bem a sua história, pois esta não é uma daquelas narrativas em que o final é facilmente detetável antes do fim do livro. Diria que a maioria dos leitores terá uma surpresa no final do segundo livro, o que é sempre algo de valor, pois quantas não são as vezes em que o final começa a ser óbvio antes de ser oficialmente dado ao leitor? Bem conseguido. 

E há também algo que gosto nesta série Airborne 44 e que é comum a todos os livros. O autor sabe bem colocar-nos na Segunda Guerra Mundial mas também sabe retirar-nos da mesma, com graciosidade. Porque mesmo sendo uma série sobre guerra, diria que é mais do que isso. É sobre as pessoas e todas as vicissitudes e privações que as mesmas tiveram que superar para viver este, que foi um dos períodos mais conturbados da história humanidade. E isso é muito bem feito. E a maneira como, nesta história, é introduzido o tema da ida do homem à lua aparece de forma refrescante e não forçada. Muito bem feito. 

Airborne 44 - Volumes 7 e 8 -  Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas
Em termos de ilustração, o trabalho de Jarbinet é mais do que entusiasmante. Ideal para os adeptos do franco-belga clássico, diria que a sua arte me faz lembrar – em parte – a arte de Gibrat. Talvez eu prefira as ilustrações deste último mas, as de Jarbinet não ficam muito atrás. O seu traço é elegante, as personagens muito realistas na sua conceção e o autor apresenta um total domínio técnico na ilustração de cenários, do mais variado possível. O trabalho de cor também é gratificante, com Jarbinet a demonstrar que, também nesse cômputo, é multifacetado. Destaque ainda para a ilustração de veículos – terrestres ou aéreos – que é magnífica. Sinceramente, acho difícil encontrar defeitos na arte deste autor. Pode-se gostar mais ou menos do seu estilo… mas diria que Jarbinet domina inteiramente o estilo que aplica às suas obras. 

Somente nas capas que – não sendo minimamente más, entenda-se! – acho que o autor talvez conseguisse fazer algo melhor. Penso que as capas poderiam ser mais apelativas e, por ventura, menos focadas na guerra. Porque, como já disse, Airborne 44 não é apenas sobre a guerra. 

Em termos de edição, são dois livros em capa dura e encadernação de qualidade. O segundo livro ainda nos traz, como extra, alguns esboços de capas pelo autor. O que é sempre pertinente. 

Em conclusão, esta é uma das melhores séries de banda desenhada ambientadas na Segunda Guerra Mundial. A história é séria e competente e a arte visual de Jarbinet é excelente. A ASA está de parabéns por não ter abandonado esta série que, com estes dois livros, e juntando aos 6 volumes anteriormente lançados em parceria com o jornal Público, fica inteiramente editada em português. Merece ocupar lugar numa boa estante de banda desenhada. 


NOTA FINAL (1/10): 
9.0 


Convite: Passem na página de instagram do Vinheta 2020 para verem mais imagens do álbum. www.instagram.com/vinheta_2020



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Airborne 44 - Volumes 7 e 8 -  Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas
Fichas técnicas 
Airborne 44 - Geração Perdida - Vol. 7 
Autor: Philippe Jarbinet 
Editora: ASA 
Páginas: 64, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020 

Airborne 44 - Volumes 7 e 8 -  Geração Perdida e Sobre as Nossas Ruínas
Airborne 44 - Sobre as Nossas Ruínas - Vol. 8 
Autor: Philippe Jarbinet 
Editora: ASA 
Páginas: 72, a cores 
Encadernação: Capa dura 
Lançamento: Outubro de 2020